Sempre serão nossos filhos

Declaração do Comitê de Bispos para o Matrimônio e a Família da Conferência Episcopal dos Estados Unidos

Prefácio

Esta mensagem pastoral tem como propósito chegar àqueles pais que estão tratando de compreender o fato de que um filho, adolescente ou adulto, é homossexual. É uma súplica às famílias para que recorram às fontes da fé, a esperança e o amor ao encarar-se um futuro incerto. Pede-lhes que reconheçam que a Igreja lhes ofereça grandes recursos espirituais para dar-lhes força e apoiá-los nesse momento da sua vida familiar e no futuro.

Esta mensagem deriva do Catecismo da Igreja Católica, dos ensinamentos do Papa São João Paulo II e das declarações da Congregação para Doutrina da Fé e da nossa Conferência episcopal. Esta mensagem não é um tratado sobre a homossexualidade. Não é uma apresentação sistemática do ensinamento moral da Igreja. Não abre novos horizontes na teologia que apresenta. Na verdade, baseados no ensinamento da Igreja, e também nossa experiência pastoral, tratamos de expressar-nos com palavras de fé, esperança e amor aos pais que necessitam a amorosa presença da Igreja num momento que bem poderia ser um dos mais difíceis da sua vida. Também temos a esperança de que esta mensagem ajude a sacerdotes e agentes pastorais que frequentemente são os primeiros aos quais pais e filhos recorrem com suas lutas e ansiedades.

Nos anos recentes temos tratado de aproximar-nos das famílias que atravessam circunstâncias difíceis. Nossas iniciativas tomaram a forma de declarações curtas, como esta, dirigida às pessoas que talvez pensavam que não havia lugar para elas no círculo de interesse da Igreja. Sempre Serão Nossos Filhos seguem a mesma tradição dessas outras declarações pastorais. Esta mensagem não é para interceder nem está a serviço de nenhuma agenda. Tão pouco se deve interpretar como uma aprovação do que alguns chamam “o estilo homossexual de viver”. Sempre Serão Nossos Filhos é dar uma mão aos pais e outros membros da família por parte do Comitê de Bispos sobre o Matrimônio e a Família, e oferece-lhe uma perspectiva diferente à graça presente na vida familiar e à invariável misericórdia de Cristo Nosso Senhor.

É necessário um empenho pastoral ainda mais generoso, inteligente e prudente, a exemplo do Bom Pastor, àquelas famílias que – com frequência e independentemente da própria vontade, ou forçados por outras exigências de distinta natureza – têm que enfrentar situações difíceis. (S. João Paulo II, Familiaris Consortio, 1981, n. 77)

Momento crítico, tempo de graça

Ao começar a ler esta mensagem você poderia sentir que a sua vida é um turbilhão. Você e sua família poderiam enfrentar-se a uma dessas situações difíceis às quais se refere o Santo Padre:

  • Pensa que seu filho ou filha adolescente está sentindo atração por pessoas do mesmo sexo e/ou tem observado atitudes e comportamentos que lhe parecem confusos ou lhe mortificam, ou com os que não está de acordo.
  • Seu filho ou filha comunicou-lhe de alguma maneira que tem uma inclinação à homossexualidade.
  • Sente uma tensão entre amar o seu filho como a criação valiosa de Deus que é e não aprovar nenhum comportamento que a Igreja ensina que é imoral.

Você não tem que enfrentar sozinho a este momento doloroso, sem ajuda humana ou sem a graça de Deus. A Igreja pode ser um instrumento de ajuda e cura. Esta é a razão pela qual os bispos, como pastores e mestres, escreveram esta carta para você em particular.

Nesta mensagem pastoral, recorremos ao dom da fé, e também aos sólidos ensinamentos e à prática pastoral da Igreja para oferecer ajuda amorosa, guia responsável e recomendações para os ministérios apropriados às suas necessidades e às dos seus filhos. Nossa mensagem trata sobre a sua aceitação de vocês mesmos, suas crenças e valores, suas interrogações e todas as suas lutas atuais; sobre sua aceitação e amor por seu filho por ser um dom de Deus; e da sua aceitação da completa revelação de Deus sobre a dignidade da pessoa e o significado da sexualidade humana. Dentro da visão moral católica não há nenhuma contradição entre estes graus de aceitação, já que a verdade e o amor não se opõem. Estão unidos inseparavelmente e arraigados numa pessoa, Jesus Cristo, quem nos revela que Deus é a verdade suprema e o amor salvífico.

Dirigimos nossa mensagem a toda a comunidade eclesial e especialmente aos sacerdotes e os outros agentes pastorais pedindo que nossas palavras se convertam em atitudes e ações segundo o caminho do amor que Cristo nos ensinou. É mediante a comunidade dos fiéis que Jesus nos oferece a sua esperança, ajuda e cura para que toda a família possa continuar crescendo e converter-se na comunidade íntima de vida e amor que Deus deseja.

Aceitar-se a si mesmo

Primeiro consideramos os sentimentos devido aos quais você possa sentir-se sobrecarregado por uma onda de emoções. Ainda que o dom da sexualidade humana possa aparecer às vezes como um grande mistério, a doutrina da Igreja sobre a homossexualidade é muito clara. No entanto, devido a que os termos desse ensinamento se tornaram muito pessoais no que toca ao seu filho ou filha, é possível que você sinta-se confuso e com conflitos internos. 

Poderia estar sentindo emoções muito diversas, e a diferentes níveis, tais como as seguintes:

Alívio: talvez já percebia a algum tempo que seu filho ou filha era diferente em alguns aspectos. Agora ele ou ela veio e confiou-lhe algo muito importante. É possível que seus irmãos tenham sabido antes e tiveram medo de contar. Mas, seja como seja, tirou-se um peso de cima. Reconheça a possibilidade de que seu filho o tenha comunicado essa notícia não para feri-lo nem para criar uma maior distância, mas por amor e confiança, com desejo de ser honesto, sentir-se próximo e ter uma melhor comunicação.

Irá: poderia sentir-se enganado e manipulado pelo seu filho ou filha. Poderia sentir-se irritado com o seu cônjuge, culpando-lhe de “ser a causa de que o seu filho ou filha seja assim” – especialmente se houve dificuldade na relação entre pai e filho. Poderia sentir-se irritado consigo mesmo por não ter reconhecido os sinais da homossexualidade. Junto à ira, poderia sentir decepção, se outros membros da família, ou outros filhos, rejeitaram seu irmão ou irmã homossexual. Também é possível estar irritado se os membros da família ou os amigos parecem aceitar e até consentir a homossexualidade. Também – e não se pode ignorar – é possível sentir-se irritado com Deus por permitir o que está acontecendo

Aflição: pode sentir que o seu filho não é exatamente o mesmo indivíduo que conhecia anteriormente. Pode sentir que o seu filho ou filha nunca lhe dará netos. A perda desses ideais, como também a consciência de que os homossexuais sofrem discriminação e muita hostilidade, pode causar grande tristeza.

Temor: pode temer que a vida e o bem-estar do seu filho ou filha estão em perigo por conta do preconceito que existe contra os homossexuais. Particularmente, pode temer que a comunidade comece a excluir o seu filho ou a tratar a sua família com desprezo. O temor de que o seu filho contraia DST’s/AIDS e outras enfermidades transmitidas sexualmente é uma ameaça séria e constante. Se seu filho se sente deprimido, você poderia temer a possibilidade de um suicídio.

Culpa, vergonha e solidão: “se tivéssemos feito…ou se não tivéssemos feito…”, são frases que podem torturar os pais nesses momentos. Pesares e decepções levantam-se como fantasmas do passado. Sentir que fracassou pode levar a um vale de vergonha que por sua vez pode isolá-lo dos seus filhos, da sua família e de outras comunidades de apoio.

Sentido protetor de pai e orgulho: as pessoas homossexuais, às vezes, tem a experiência da discriminação e os atos de violência em nossa sociedade. Como pai ou mãe é natural que queira proteger ao seu herdeiro do perigo, sem importar a sua idade. Você poderia insistir: “Sempre serás meu filho ou minha filha; nada mudará isso. Também és um filho de Deus, com talentos e chamado a cumprir o seu propósito nos planos divinos“. 

Mantenha presente duas coisas importantes quando trate de compreender todos esses sentimentos. Primeiro, deve escutá-los. Pode ser que lhe dêem a chave que leve a descobrir mais plenamente a vontade de Deus para você. Segundo, devido a que muitos sentimentos podem ser confusos ou conflictivos, não é necessário tratar de controlá-los todos ao mesmo tempo. Reconhecê-los poderia ser suficiente, mas também poderia necessitar falar sobre esses sentimentos. Não deduza que todas as tensões poderão se resolver. A vida cristã é um caminho marcado pela perseverança e a oração. É também um caminho que nos leva desde onde estamos até onde sabemos que Deus nos chama.

Aceitação do seu filho

Qual é a melhor maneira de expressar o seu amor, que é em si um reflexo do amor incondicional de Deus, ao seu filho? Pelo menos duas coisas são necessárias.

Primeiro, não rompa comunicação; não rejeite ao seu filho. Um número surpreendente de jovens homossexuais termina na rua pela rejeição da sua família. Isto e outras pressões externas, podem colocar os jovens em um maior risco de comportar-se de maneira auto-destrutiva com o abuso de drogas ou suicídio.

Seu filho pode necessitar de você e da sua família agora mais do que nunca. Ele ou ela é ainda a mesma pessoa. Esse filho, que sempre foi um presente de Deus para você, pode ser que agora seja a causa de outro presente: que a sua família se torne mais honesta, respeitosa e compreensiva. Sim, o seu amor enfrenta uma prova diante desta realidade, mas também pode ser fortalecido mediante a sua luta para responder amorosamente.

A segunda maneira de comunicar amor é buscando ajuda apropriada para o seu filho e para você mesmo. Se o seu filho ou filha é um adolescente, é possível que dê mostras de características que lhe preocupem, tais como o que o jovem lê ou vê por meios de comunicação, amizades intensas e outros sinais e tendências visíveis. O que os pais necessitam fazer é não assumir que o seu filho já desenvolveu uma orientação homossexual, e cultivar uma atitude que o ajude a manter uma relação carinhosa que proporcione ao seu filho apoio, informação, ânimo e guia moral. Os pais deverão sempre estar alertas sobre a conduta dos seus filhos em intervir de maneira responsável quando seja necessário.

Em muitos casos, pode ser apropriado e necessário que seu filho receba ajuda profissional, incluindo direção espiritual e aconselhamento. É importante, claro, que esteja disposto a fazê-lo voluntariamente. Busque um terapeuta que aprecie os valores religiosos e que entenda a natureza complexa da sexualidade. Uma pessoa assim, terá a experiência necessária para ajudar outros a discernir o significado do primeiro comportamento sexual, das atrações e fantasias sexuais de maneira que levem a uma maior clareza e auto-identidade. Durante esse processo, no entanto, é essencial que você permaneça aberto à possibilidade de que seu filho ou filha esteja lutando para entender e aceitar uma orientação homossexual básica.

O significado e as implicações do termo “orientação homossexual” não são aceitados de maneira generalizada. A doutrina da Igreja reconhece que há uma distinção entre uma “tendência” homossexual que termina sendo “transitória”, e os “homossexuais que são definitivamente assim devido a algum tipo de instinto inato” (Congregação para Doutrina da Fé, Declaração sobre certas perguntas da ética sexual, 1975, n. 8).

Portanto, em vista dessa possibilidade, é apropriado entender a orientação sexual (heterossexual ou homossexual) como uma dimensão com raízes profundas da personalidade de cada um e reconhecer sua estabilidade relativa na pessoa. Uma orientação homossexual produz uma atração emocional e sexual maior para indivíduos do mesmo sexo, em vez daqueles do sexo oposto. Não exclui inteiramente o interesse, a atenção e a atração por membros do sexo oposto. Ter uma orientação homossexual não significa necessariamente que uma pessoa participe em atividades homossexuais.

Não parece haver uma causa simples para a orientação homossexual. Uma opção comum dos estudiosos é que há fatores múltiplos – genéticos, hormonais, psicológicos – que podem causá-la. Geralmente, a orientação homossexual se vive como algo dado, não algo que se escolhe. Portanto, per se, a orientação homossexual não pode considerar-se como pecaminosa, já que a moralidade supõe a liberdade de escolha. [O Catecismo da Igreja Católica diz: “esta inclinação, que é objetivamente desordenada, constitui para maioria (pessoas com orientação homossexual) uma provação” (n. 2358)].

Algumas pessoas homossexuais querem ser reconhecidas publicamente como lésbicas ou “gays”. Esses termos frequentemente expressam o grau de autorrealização e autoaceitação pessoal dentro da sociedade. Ainda que você possa sentir que esses termos são ofensivos pelas suas conotações políticas ou sociais, é necessário ser sensível a como o seu filho ou sua filha os usa. A linguagem não deve ser uma barreira para a edificação de uma comunicação confiante e aberta.

Você pode ajudar a uma pessoa homossexual de duas maneiras em geral. Primeiro, anime-a a cooperar com a graça de Deus para que viva uma vida de castidade. Segundo, concentre-se na pessoa, não na sua orientação homossexual. Isso implica respeitar a liberdade de uma pessoa de escolher ou recusar terapia que seja dirigida a mudar a sua orientação sexual. Com o presente estado das ciências médicas e sociológicas, não há garantia de que essa terapia funcione. Por isso, não há obrigação de participar nela ainda que alguns a consideram inútil.

Sobretudo, é essencial recordar uma verdade fundamental. Deus ama a cada pessoa como um indivíduo único. A identidade sexual ajuda a definir as pessoas únicas que somos e um componente da nossa identidade sexual é nossa orientação sexual. Por conseguinte, nossa personalidade total vai além da nossa orientação sexual. Os seres humanos vêem as aparências, mas o Senhor vê o coração (cf. 1 Sm 16,7).

Deus não ama menos alguém porque é homossexual. O amor de Deus sempre e em todas as partes é oferecido aos que estão abertos para recebê-lo. As palavras de São Paulo são de grande esperança:

Estou seguro de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os poderes espirituais, nem o presente, nem o futuro, nem as forças do universo, sejam dos céus, sejam dos abismos, nem criatura alguma, poderá separar-nos do amor de Deus, que encontramos em Cristo Jesus nosso Senhor” (Rm 8, 38-39).

Aceitação do plano de Deus e do ministério da Igreja

Para o cristão, a aceitação de si mesmo e de um filho homossexual deverá ocorrer dentro do contexto mais amplo da aceitação da verdade revelada sobre a dignidade e o destino de cada pessoa. A Igreja é responsável por professar e ensinar esta verdade, apresentando-a como uma vasta visão moral e aplicando-a às situações particulares mediante os seus ministérios pastorais. Apresentaremos aqui os pontos principais deste ensinamento moral.

Cada pessoa tem sua dignidade intrínseca porque foi criada a imagem de Deus. Um profundo respeito por toda pessoa leva a Igreja a ensinar que a sexualidade é um dom de Deus. Que uma pessoa seja homem ou mulher é parte essencial do plano divino, porque a sua sexualidade – uma mistura misteriosa de corpo e espírito – é o que permite aos seres humanos compartilhar o amor e a vida criadora de Deus.

Assim como todos os dons de Deus, o poder e a liberdade da sexualidade podem ser canalizados para o bem ou para o mal. Todos – os homossexuais ou heterossexuais – são chamados à maturidade pessoal e à responsabilidade. Com ajuda da graça de Deus, todos estão chamados a comportar-se segundo a virtude da castidade nas relações pessoais. A castidade significa integração de pensamentos, sentimentos e ações na dimensão da sexualidade humana, de maneira que se valorize e respeite a dignidade pessoal própria e a dos demais. É “o poder espiritual que liberta o amor do seu egoísmo e agressão” (Pontifício Conselho para a Família, Sexualidade humana: verdade e significado, 1996, n. 16).

Cristo chama todos os seus seguidores – sejam casados ou celibatários – a uma vida regida por uma norma superior de amar. Isso inclui não só a fidelidade, o perdão, a esperança e a perseverança e o sacrifício, mas também a castidade que se expressa na modéstia e o autocontrole. A vida de castidade é possível, ainda que nem sempre seja fácil, porque implica um esforço contínuo para avançar até Deus e afastar-se do pecado, especialmente com a força dos sacramentos da Penitência e da Eucaristia. Sem dúvida, Deus espera que todos busquem a perfeição do amor, mas que o consigam gradualmente passando pelas etapas do crescimento moral (cf. S. João Paulo II, Sobre a família, 1981, n. 34). Para mantermos firmes no caminho da conversão, temos ao nosso alcance a graça de Deus que é suficiente para todos os que estão dispostos a receber lá.

Além disso, quando as pessoas homossexuais “dedicarem suas vidas a entender a natureza do chamado pessoal que Deus lhes faz, poderão celebrar o sacramento da penitência com mais fidelidade e receber a graça do Senhor que tão livremente lhe é oferecida e para converter as suas vidas na plenitude do seu caminho” (Congregação para Doutrina da Fé, Carta sobre o cuidado pastoral de pessoas homossexuais, 1986, n. 12).

Para viver e amar com castidade deve-se entender que “só dentro do matrimônio o ato sexual simboliza plenamente o duplo desígnio do Criador, um ato de amor comprometido com o potencial de gerar uma nova vida humana” (United States Catholic Conference, Human Sexuality: A Catholic Perspective for Education and Lifelong Learning [La sexualidad humana: una perspectiva católica para la educación y la vida de continuo aprendizaje], 1991, p. 55). Esse é o ensinamento fundamental da nossa Igreja sobre a sexualidade, enraizada no relato bíblico do homem e a mulher criados à imagem de Deus e feitos para a união mútua (Gn 2-3). 

A isto seguem-se duas conclusões. Primeiro, o plano de Deus é que o ato sexual ocorra somente dentro do matrimônio entre um homem e uma mulher. Segundo, cada ato de intimidade sexual deve estar aberto à possível criação de uma vida humana. A relação sexual entre homossexuais não cumpre essas duas condições. Por isso, a Igreja ensina que o comportamento “homo-genital” é objetivamente imoral, mas ao mesmo tempo faz a distinção entre esse comportamento e a orientação homossexual que não é por si só, imoral. É importante reconhecer que nem a orientação homossexual nem a heterossexual, levam inevitavelmente à atividade sexual. A totalidade da pessoa não pode ser reduzida a sua orientação nem ao seu comportamento sexual.

O respeito pela dignidade que Deus concede a todos os seres humanos significa que se deve reconhecer os direitos e responsabilidades humanos. O ensinamento da Igreja expressa muito claramente que os direitos humanos das pessoas homossexuais devem ser defendidos e que todos temos a obrigação de lutar para eliminar qualquer forma de injustiça, opressão ou violência (cf. O cuidado pastoral de pessoas homossexuais, 1986, n. 10).

Não é suficiente evitar a discriminação injusta. As pessoas homossexuais “devem ser acolhidas com respeito, compaixão e delicadeza” (Catecismo da Igreja Católica, n. 2358). Como é próprio para todos os seres humanos, necessitam ser fortalecidos simultaneamente em diferentes níveis. Isso inclui a amizade, a qual é uma maneira de amar essencial ao desenvolvimento humano saudável, assim como também é uma das experiências humanas mais enriquecedoras. A amizade pode florescer, e de fato floresce, fora das relações sexuais genitais.

A comunidade deve oferecer aos seus irmãos e irmãs homossexuais compreensão e serviços pastorais. Há mais de vinte anos nós os bispos dissemos que “os homossexuais… deveriam ter um papel ativo na comunidade cristã” (National Conference of Catholic Bishops, To Live in Christ Jesus: A Pastoral Reflection on the Moral Life [Vivir en Cristo Jesús: Una reflexión pastoral sobre la vida moral], 1976, p. 19). O que isso na prática? Significa que as pessoas homossexuais tem o direito de sentir-se bem vindos na comunidade, e de ouvir a palavra de Deus e de receber serviços pastorais. As pessoas homossexuais que vivem castamente devem ter oportunidades para dirigir e servir a comunidade. No entanto, a Igreja tem direito a negar funções públicas de serviço e liderança a pessoas, já sejam homossexuais ou heterossexuais, cujo comportamento público viole abertamente os seus ensinamentos.

A Igreja também reconhece a importância e a urgência de servir as pessoas com DST/AIDS Ainda que os DST’s/AIDS sejam uma epidemia que afeta a toda a raça humana, não só aos homossexuais, vem tendo um efeito devastador entre eles e enchido de angústia muitos pais, famílias amizades.

Pessoas afetadas pela AIDS não são pessoas distantes, estranhas, objeto de uma mistura de piedade e aversão. Devemos tê-los presentes em nossa consciência como indivíduos e comunidade, e abraçá-los com amor incondicional. A compaixão e o amor para com as pessoas afetadas pelo HIV são a única resposta autenticamente bíblica (National Conference of Catholic Bishops, Called to Compassion and Responsibility: A Response to the HIV/SIDA Crisis, [Llamados a la compasión y la responsabilidad: Una respuesta a la crisis del VIH/SIDA], 1989). 

Não há nada na Bíblia nem na doutrina católica que possa ser usado para justificar atitudes e comportamentos preconceituosos e discriminatórios [Em matérias em que a orientação sexual tem clara relevância, o bem comum justifica que seja levada em conta, como observa a congregação para a doutrina da fé em algumas considerações sobre a resposta às propostas legislativas sobre a não discriminação de pessoas homossexuais, 1992, n. 11.]. Reiteramos aqui o que dissemos anteriormente em outra declaração:

“Chamamos a todos os cristãos e cidadãos de boa vontade a confrontar seus próprios temores sobre a homossexualidade e impedir as piadas e discriminação que ofendam aos homossexuais. Sabemos que uma orientação sexual traz consigo suficiente ansiedade, dor e inquietações relacionadas a auto-aceitação como para que a sociedade acrescente mais preconceitos (Human Sexuality: A Catholic Perspective for Education and Lifelong Learning, 1991, p. 55).

Recomendações Pastorais

Com a meta clara de vencer o isolamento que você, seu filho ou sua filha, estão vivendo oferecemos-lhe estas recomendações; também vão dirigidas aos sacerdotes e ministros pastorais .

Aos pais:

  1. Aceitem-se e amem-se a vocês mesmos como pais para poder aceitar e amar ao seu filho ou sua filha. Não se culpem pela sua orientação sexual.
  1. Façam todo o possível para continuar demonstrando amor pelo seu filho. No entanto, a aceitação da orientação homossexual não tem que incluir a aprovação de tudo relacionado com as atitudes e o comportamento que escolha. De fato, vocês podem questionar certos aspectos do seu estilo de vida que considerem objetáveis.
  1. Insista com o seu filho ou a sua filha para que permaneça dentro da comunidade de fé católica. Se deixou a igreja, estimule a voltar e a reconciliar-se com a comunidade, especialmente mediante o sacramento da penitência.
  1. Recomende ao seu filho ou a sua filha que busque um diretor espiritual/mentor que lhe ofereça conselhos na oração e em como viver uma vida casta e virtuosa.
  1. Busque ajuda para você também, talvez na forma de aconselhamento ou direção espiritual, enquanto trata de encontrar entendimento, aceitação e paz interior. Também considere unir-se a um grupo de apoio ou participe num retiro dirigido a pais católicos com filhos homossexuais. Outras pessoas tiveram que andar por esse mesmo caminho, mas pode ser que tenha avançado mais na jornada. Podem compartilhar maneiras eficazes de lidar com as situações familiares delicadas tais como uma forma de falar sobre o seu filho a outros membros da família e amizade, como explicar a homossexualidade a crianças menores e como tratar de forma cristã as amizades do seu filho ou filha.
  1. Recorram com espírito de amor e serviço a outros pais que também lutam com a homossexualidade de um filho ou uma filha. Contactem sua paróquia sobre a possibilidade de organizar um grupo de apoio para pais. Sua oficina diocesana para o ministério familiar, Caridades Católicas ou um ministério diocesano especial para pessoas homossexuais podem ajudá-lo.
  1. Ao fazer uso das oportunidades para educação e apoio, recorde que só você pode mudar; só você pode ser responsável pelas suas próprias crenças e ações, não pelas dos seus filhos adultos.
  1. Coloquem toda sua fé em Deus que é mais poderoso, mais compassivo e mais misericordioso do que nós somos ou podemos ser.

Aos ministros da Igreja:

  1. Coloquem-se à disposição dos pais e das famílias que lhes peçam sua ajuda pastoral, aconselhamento espiritual e oração.
  1. Recebam as pessoas homossexuais na comunidade de fé e busquem os que estão marginalizados. Evitem os estereótipos e as condenações. Tratem primeiro de escutar. Não pensem que todas as pessoas homossexuais estão sexualmente ativas.
  2. Aprendam mais sobre a homossexualidade e a doutrina da igreja para que a sua pregação, ensinamento e aconselhamento sejam bem informadas e efetivas.
  1. Quando falar em público use as palavras “homossexual”, “gay” e “lésbica” com honestidade e corretamente.
  1. Mantenham uma lista de agências, grupos comunitários, conselheiros e outros especialistas que possam apresentar às pessoas homossexuais ou aos seus pais e familiares quando eles lhe peçam assistência especializada. Recomendem agências que concordam com a doutrina católica.
  1. Ajudem a estabelecer ou promover grupos de apoio para pais e membros da família.
  1. Informe-se sobre as DST’s/AIDS para ter mais conhecimento e ser mais compassivo no seu ministério. Inclua orações na liturgia para os que vivem com DST’s/AIDS, os que cuidam deles, os que faleceram e suas famílias, seus companheiros e amizades. Uma missão especial para cura e a unção dos enfermos pode celebrar-se pelo motivo do Dia Mundial da AIDS (1° de dezembro) ou com um programa local para informar-se da AIDS.

Conclusão

Para São Paulo o amor é o principal dom espiritual. São João considera que o amor é o sinal seguro da presença de Deus. Jesus propôs que é a base dos principais mandamentos que compõem toda a lei e os profetas.

O amor, também, é a contínua história da vida de cada família. O amor pode se compartilhar, nutrir, rejeitar e, algumas vezes, perder. Seguir o caminho do amor de Cristo é o desafio ao qual se enfrenta cada família hoje. Sua família agora tem uma oportunidade para compartilhar e aceitar o amor. Nossas comunidades eclesiais estão também chamadas a comportar-se com grau exemplar de amor e justiça. Nossos irmãos e irmãs homossexuais – na realidade, todos os humanos – são convidados a amar responsavelmente.

Aos nossos irmãos e irmãs homossexuais oferecemos uma palavra final. Essa mensagem é uma mão estendida aos seus pais e familiares que os convida a aceitar a graça de Deus presente em suas vidas agora e a confiar na misericórdia segura de Jesus nosso Senhor. Agora, estendemos-lhes a mão e convidamos-lhes a fazer o mesmo. Estamos chamados a converter-nos num só Corpo, um só espírito, em cristo.  Nós nls necessitamos uns aos outros posts que assim “cresçamos em todos os sentidos, naquele que é a Cabeça, Cristo. É por Ele que todo o corpo – coordenado e unido por conexões que estão ao seu dispor, trabalhando cada um conforme a atividade que lhe é própria – efetua esse crescimento, visando à sua plena edificação na caridade.” (Ef 4,15-16).

Ainda que às vezes se sintam desanimados, feridos ou irritados, não abandonem suas famílias, sua comunidade cristã nem aos que lhes amam. Em vocês se revela o amor de Deus. Vocês sempre serão nossos filhos. No amor não há temor.

O amor perfeito lança fora o temor” (1 Jo 4,18)

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