Paralisia-raiz
Jesus está em Cafarnaum. A multidão está pendente dos seus lábios. Cada uma das suas palavras ressoa no silêncio expectante do povo sedento da Palavra de Deus. De repente rompe-se o silêncio e se começa a ouvir um barulho estranho no teto. Incrível! Os primeiros raios de sol perpassam o pequeno buraco até que se vai fazendo maior e a casa fica totalmente iluminada, naturalmente iluminada. Mas, desde quando os tetos se abrem sozinhos? Há algo por trás.
Verdade é que algumas daquelas pessoas, acostumadas a andar com Jesus, não se assustariam tanto, pois sabiam que quando este novo Rabi fala algo acontece. Ordinária ou extraordinariamente, as suas palavras sempre se fazem críveis pelas obras. De todas as maneiras, seja para essas pessoas seja para aquelas que vieram ao encontro de Jesus pela primeira vez, é preciso dizer que nem todos os dias se vê uma cama descendo pelo telhado! É algo verdadeiramente estranho! Mas, como se não bastasse, extremamente estranhas ressoam aquelas palavras ditas com excelente dicção e força extraordinária: “Filho, perdoados te são os pecados” (Mc 2,5).
Imagino como estaria o pobre paralítico! Num momento se vê descoberto diante de Jesus de Nazaré. Bem que ele tinha dito aos seus quatro amigos que o deixassem quieto, que ele não queria ser incomodado nem queria incomodar o Rabi, que já fazia muitos anos que ele estava paralítico e que já estava conformado com a situação! A meu ver e segundo a minha fluente imaginação, foram os amigos que insistiram com ele para que fosse ao encontro de Jesus. Quando o paralítico lhes objetara que ele não podia andar, os amigos, em sua prudente teimosia, pegaram o leito do homem e, não sei se entre um querer e um não querer, o paralítico foi carregado ao encontro de Jesus.
Mas, nova dificuldade! Quando chegam à casa de Simão, onde Jesus estava, “não podiam encontrar lugar nem mesmo junto à porta” (Mc 2,2). Tal era a multidão! Mas, desistir agora? Depois de tantos esforços para convencer o paralítico e do suor para trazer-lhe no próprio leito… Desistir agora? Não. O que fazer? Simples, se não se pode entrar pela porta, vamos entrar pelo teto. É lógico! Mas não segundo a lógica humana!
Que trabalhão! Subir com uma cama contendo um enfermo pelo teto de uma casa! Ainda bem que eram quatro… mas, ainda assim! Aqueles caras eram amigos do paralítico, valiam diamantes, pois somente uma pessoa que se interessa pelos outros de verdade pode fazer tal coisa. Neste momento, cresce em mim a convicção de que devemos imitar os amigos do paralítico: não podemos deixar que os nossos amigos continuem paralíticos em seus pecados, em seus vícios e numa vida sem sentido, temos que levá-los ao encontro com Jesus. E se eles disserem que não querem e que os deixemos em paz, tenhamos uma santa teimosia e insistamos para que esse encontro se dê, pois Jesus é a verdadeira paz (cf. Ef 2,14). E se for preciso, subiremos aos telhados! É preciso que sejamos teimosamente apostólicos, evangelizadores aferrados, homens e mulheres que não desistem perante as dificuldades, pessoas dispostas a “comer o mundo” visto desde o amplo panorama do apostolado!
“Filho, perdoados te são os pecados!” O paralítico e seus amigos se interessavam pela cura corporal e escutam palavras que vão à raiz de todos os males, o pecado. Ainda que não exista uma conexão necessária entre paralisia e pecado, existe uma conexão necessária entre pecado e paralisia: todo pecado nos paralisa!
Diante do milagre, os que ali estavam “ficaram admirados e glorificaram a Deus” (Mc 2,12). Jesus surpreende: perdoa o pecado e manda ir para casa (cf. Mc 2,11). Somente os reconciliados podem viver em casa. Estar em casa, em família, é característica intrínseca daquelas pessoas que estão na graça de Deus, que vivem uma vida segundo Deus porque o Senhor fez delas templos sagrados.
Vamos ajudar os nossos amigos – caso alguns deles estejam fora de casa ou dela afastado pelo pecado mortal – a retornar, a morar em casa, em família, na Igreja. Aqui, sim, se é feliz! E, se algum dia nós mesmos estivermos paralisados, peçamos ao Senhor que nos conceda um amigo, uma pessoa que, carinhosa e teimosamente, nos conduza novamente ao coração de Deus, à sua casa.
Pe. Françoá Costa