Ele vive! Aleluia!
Não faz muito tempo, um conhecido foi à China e contava, entre outras, essa experiência impressionante. Um grupo de cristãos chineses, todos da Igreja Católica clandestina e fiel ao Papa, depois de muito viajar para chegar a um lugar deserto onde se reuniria a liderança dos fiéis perseguidos ainda hoje pelo comunismo chinês, o organizador, com grande pesar, teve que comunicar aos participantes que no gélido inverno de -9ºC o sistema de aquecimento não estava funcionando e, portanto, estariam sem calefação e sem água quente. Ninguém protestou! Todos os que ali estavam, já acostumados a sofrer por Cristo, estavam dispostos a sofrer sem queixas o frio daquela noite. Para esses cristãos, Jesus Cristo está vivo e eles não desejam outra coisa que servi-lo fielmente. Eles sabem que a quem nos entregou a própria vida não existe outra resposta a não ser entregando a nossa própria vida.
No coração dos homens há um desejo de felicidade. Essa afirmação evidente nem sempre se evidencia na prática. O que acontece é que nos contentamos, frequentemente, em ir levando a vida e não pensamos em coisas mais profundas e que dizem respeito às nossas ânsias mais humanas. Esse desejo de felicidade é também uma espécie de nostalgia, de saudades do paraíso perdido acompanhadas de certa melancolia. Desde que o ser humano foi expulso do jardim do Éden, dedicou-se a vagar pelo mundo sem encontrar a paz e a segurança que só pode encontrar perto de Deus, jardim das nossas alegrias, ainda que em meio a tribulações.
Quantas vezes também nós visitamos sepulcros? Nenhuma! Pensemos melhor. Não me refiro somente àquelas vezes que nós acompanhamos o cortejo fúnebre de algum amigo, familiar ou conhecido. Refiro-me àquelas visitas pessoais nas quais chegamos até mesmo a retirar as lápidas pensando que encontraríamos algo. Já sabíamos o que estava lá dentro, mas mesmo assim quisemos abrir aqueles túmulos: ossos ressequidos, mal cheiro e vermes a alimentar-se. A descrição pode ser verdadeiramente tétrica, mas é real. Cada vez que nós fomos cavando atrás dos pecados, dos vícios e das paixões, acaso não encontramos exatamente isso: mau cheiro, prazer passageiro, decepção, dor de consciência e sentimento de ruina?
Também Pedro e o outro discípulo que o relato bíblico não nos diz o seu nome, mas pensamos que seja João, “foram ao sepulcro” (Jo 20,3). O interessante é que a história deles não foi semelhante à nossa. Eles não encontraram maus cheiros, nem dor de consciência ou coisas semelhantes. Não encontraram nada disso, mas também não encontraram o Senhor. Claro! Jesus já ressuscitara.
Jesus ressuscitou! Essa é a mensagem bimilenária da Igreja. Nós não precisamos mais ir vagando pelo mundo em busca do paraíso perdido. O nosso paraíso é o Senhor que faz da nossa alma o seu paraíso, é aí onde ele pode novamente passear tomando a brisa da tarde. Nós não podemos mais viver uma vida lúgubre, como se fôssemos pessoas que andam quais mortos vivos. Jesus nos ressuscitou com ele para que vivamos nele e para ele.
Nós, os cristãos, não seguimos a alguém que está morto. Como dizia aquela senhora de 45 anos, mãe de cinco filhos, numa discussão com algumas campesinas: “Jesus morreu por mim na cruz? O que Maomé fez por vocês?”. Asia Bibi, assim se chama essa valente confessora da fé, é do Paquistão, ela negou-se a converter-se ao islamismo em 2009, foi condenada a morte, mas, com grandes dificuldades, conseguiu a anistia. Para Bibi, Jesus está vivo!
A morte e a ressureição de Jesus é para nós garantia de pertença a uma nova raça, a raça dos filhos de Deus. Jesus morreu e ressuscitou por mim, por cada um de nós. Ninguém jamais imaginou um amor tão forte que nem a morte pôde derrotar. Como diz o Cântico dos Cânticos: “As torrentes não poderiam extinguir o amor, nem os rios o poderiam submergir. Se alguém desse toda a riqueza de sua casa em troca do amor, só obteria desprezo” (Ct 8,7).
Da parte de Deus é assim, nada nem ninguém pode extinguir o amor que ele tem por nós. Da nossa parte a coisa pode ser diferente. Poderíamos infelizmente seguir atrás de sepulcros, atrás do fedor e da feiura. Seria a nossa infelicidade. Paradoxalmente, pensamos que fazendo isso estamos sendo felizes. Às vezes podemos estar obcecados com uma quimera de felicidade. O Senhor ressuscitado nos dá a vida e nós, às vezes, buscamos a morte; ele nos dá as verdadeiras alegrias quais joias de ouro e nós vamos atrás de bijuterias; ele nos dá o céu e nós buscamos cair no inferno. Que absurdo! Ao menos a partir de hoje será diferente, pois Jesus ressuscitou para a nossa salvação. Aleluia, aleluia! Feliz Páscoa!
Pe. Françoá Costa