EPÍSTOLA (1 Jo 4,7-10)
(Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
INTRODUÇÃO: Após uma introdução nos versículos 1 a 6 deste capítulo, em que distingue os que falam verdadeiramente em nome de Deus dos que mentem e são anticristos, o apóstolo retoma o tema do amor como a verdadeira raiz da união intelectual e moral com Deus. O amor provém de Deus e o ódio é do maligno. Deus é amor e somente quem ama O conhece. Porque Deus se manifestou como amor: Amou-nos e enviou seu Filho como vítima expiatória por nossos pecados (7). Aqui está a base do cristianismo. É a religião do amor de Deus e como consequência do amor fraterno entre os filhos de Deus. Quem não ama, não pode ser de Deus, nem o conhece como verdadeiro, mas adoraria um deus falso. Tal seria Satanás o deus do ódio e da mentira.
QUEM AMA É DE DEUS: Amados, amemo-nos uns aos outros porque o amor é de (o) Deus e todo aquele que ama é nascido de (o) Deus e conhece a(o) Deus (7). Carissimi diligamus invicem quoniam caritas ex Deo est et omnis qui diligit ex Deo natus est et cognoscit Deum. Propriamente o apóstolo declara que o amor [a busca do bem do amado] só pode vir de uma fonte boa como é Deus [o único bom segundo Mt 19, 17]. E é nesse Deus que encontramos o verdadeiro amor, aquele que dá sua vida pelo amigo (Jo 15, 13) que prefere o bem de seus amigos pelos quais entregou sua vida em expiação dos pecados deles (1 Jo 2, 2). E como o amor unicamente provém de Deus e não do maligno, daí conclui João que quem ama é nascido de Deus: ou seja, tem o germe, hoje diríamos os genes de Deus. E como tal é verdadeiro filho de Deus, como o mesmo apóstolo afirma nesta mesma carta em 3, 1: Vejam com que amor o Pai nos amou, a ponto de sermos chamados filhos de Deus! E somos seus filhos realmente! E João, fiel ao seu pensamento, dirá que, como filhos, conhecemos o nosso Pai, coisa que Mateus já escreveu no seu evangelho: Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar (11, 27). Isso, porque a essência do Pai é o amor que ele tem pelo filho como vemos na parábola do filho pródigo (Lc 15, 11+). Podemos comprovar isso ao comparar a ideia que os pagãos tinham de seus deuses: a vingança, a inveja, e até o ódio eram as virtudes dos mesmos. E foram incapazes de entender, até os mesmos judeus, que um Deus todo soberano pudesse entregar o Filho inocente para salvar os culpáveis. Um Deus amor que foi, até pelos cristãos em certas épocas, desconhecido e que hoje mesmo optamos mais por um Deus justiça.
QUEM NÃO AMA NÃO CONHECE DEUS: Quem não ama não conheceu (o) Deus porque (o) Deus é amor (8). Qui non diligit non novit Deum quoniam Deus caritas est. Temos colocado entre parêntesis o articulo determinante O, que o grego geralmente conserva quando se refere ao verdadeiro Deus, ou Deus vivo em oposição aos outros deuses dos pagãos. AMA [agapön<25 =diligit] em grego é um particípio presente do verbo agapaö que no AT é a tradução grega do bebraico ahab<0157>, como lemos em Pr 8, 17, e que a Vulgata traduz como diligere. CONHECEU [egnö<1097>=novit] é o aoristo do verbo givöskö que em anterior comentário temos optado por traduzir como compreender ou entender, como em Mc 4, 13: Não percebeis esta parábola? Como, pois, entendereis todas as parábolas? DEUS É AMOR é uma frase que resume uma essência ou natureza. Deus obra com sabedoria e poder, mas o motivo de suas ações ad extra, o leit motiv que implica toda ação trinitária nas criaturas é o amor. Deus ad extra obra para fazer o bem, ou seja, para mostrar seu amor, ou se quisermos, como é um amor a seres inferiores, a sua misericórdia. Jesus dirá estas palavras em Lc 6, 36: Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso, que em Mateus 5, 48 tem o distintivo de perfeição: Sede vós, pois, perfeitos como é perfeito o vosso Pai que está nos céus. Isto foi dito com respeito ao amor que devemos aos inimigos: Se amarem apenas aqueles que vos amam que recompensa poderão esperar? Não fazem também isso os cobradores de impostos? (Mt 5, 46). Deus, dirá a Teologia, não pode aumentar sua felicidade; mas pode aumentar o bem e a felicidade das criaturas e isso o faz querendo o melhor para elas, o que é efeito do amor que por elas manifesta. Por isso podemos afirmar que Deus é amor para nós. E veremos que o amor se dá entre amigos e que segundo Jesus ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos (Jo 15, 13). Esse amor, dirá o apóstolo, se manifestou na entrega do Filho (1 Jo 4, 13) como vemos no versículo seguinte.
MANIFESTAÇÃO DESSE AMOR: Nisto se manifestou o amor de (o) Deus em nós: que (o) Deus enviou o seu Filho o unigênito ao mundo para termos vida por Ele (9). In hoc apparuit caritas Dei in nobis quoniam Filium suum unigenitum misit Deus in mundum ut vivamus per eum. AMOR é o agapë <26>. Mas a sua manifestação era um fato insólito que nem homem algum em sua sabedoria aceitou e mesmo os anjos rebeldes o rejeitaram: salvar o mundo por meio do Filho feito homem e transformar a cruz [humilhação e sofrimento] em bandeira de salvação. De uma morte nasceu a vida para todos os que na CRUZ se refugiam e olham para o crucificado como salvador: Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus (Jo 3, 18). Pois a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome (Jo 1, 12). Ser filho implica ter a mesma vida do pai e nisso consiste [na sua manifestação] a eterna bemaventurança: agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos (1 Jo 3, 2).
ESSÊNCIA DO AMOR: Nisto é o amor: Não que nós tenhamos amado a (o) Deus; mas que Ele nos amou e enviou o seu Filho [como] propiciação por nossos pecados (10). In hoc est caritas non quasi nos dilexerimus Deum sed quoniam ipse dilexit nos et misit Filium suum propitiationem pro peccatis nostris. Diante de sua afirmação de que Deus é amor (4, 8) e de que o verdadeiro amor provém de Deus (4, 7) João agora afirma que isso tudo é provado com fatos vividos por ele como testemunha, que dá seu depoimento oficial, porque o experimentou em sua vida: antes de amar, nós fomos amados e de forma tal que não existe dúvida. Como diria Jesus ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos (Jo 15, 13). E é agora que esta frase de Jesus é trazida como prova do verdadeiro amor: Ele nos amou e enviou seu Filho como propiciação por nossos pecados. Não amou unicamente seus amigos, o que em certo modo parece natural e lógico, mas os inimigos, pagando um preço muito alto (1 Cor 6, 20) como expiação de nossos pecados. Paulo, nesta linha do apóstolo amado de Jesus, termina sua reflexão lógica, afirmando: quem nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor (Rm 8, 35 e 39).
EVANGELHO (Jo 15,9-17)
(Pe Ignácio, dos padres escolápios)
INTRODUÇÃO: Podemos explicar o evangelho de hoje como uma comparação entre as relações de Jesus com o Pai e as relações dos discípulos com Jesus. Esta comparação ou alegoria é uma continuação da alegoria da videira e os ramos. O tema é a permanência no amor [=predileção] com Jesus. Como consequência dessa permanência, os frutos serão abundantes porque tudo que se pede ao Pai, Ele o concederá.
O AMOR DE JESUS: Como o Pai me amou [êgapêsen <25>=dilexit], também eu vos amei. Permanecei no amor, no meu (9). Sicut dilexit me Pater et ego dilexi vos manete in dilectione mea. A palavra chave é amor ágapê. No grego distinguem-se três formas do que chamamos amor: Eros, philia e ágapë. Eros é o amor apaixonado entre esposos ou entre um homem e uma mulher que abrange o desejo sensual. Não é usada esta palavra no NT. Filia denota amizade, devoção, favor, e se emprega para o amigo ou parente. Temos uma outra palavra pouco usada astorgos, que indica a falta de amor e que indica a falta do que o verbo stergô significa, que é ternura, especialmente entre pais e filhos. Este verbo não aparece na Escritura a não ser em compostos astorgos [sem amor] (Rm 1, 31 e 2 Tm 3, 3) ou philostorgos [devotado] (Rm 12, 10). No grego clássico a palavra agapaö significa gostar de, tratar com respeito, estar contente com, ou dar boas vindas. No AT traduz a palavra hebraica aheb <0517>. No NT a vulgata prefere dilectio e diligere a amor e amare. Das 117 vezes que aparece ágape no NT, 75 pertencem a Paulo, 31 como verbo e 15 como nome. Em João aparece 60 vezes o verbo e 30 o nome. Também temos em grego a palavra FILIA que é o amor de amizade, entre amigos do mesmo nível. Mas com relação a Deus, tanto a amizade como a ternura filial, são designadas com a palavra ÁGAPÊ. É precisamente com esta palavra que João afirma a essência de Deus: Deus é amor (=agapë) (1 Jo 4, 8) e com a qual os sinóticos designam o Filho, o único ou unigênito (Agapetós, amado) (Lc 3, 22). O latim traduz ágapê frequentemente por caridade, derivado da palavra XARIS que em sua terceira acepção significa benevolência, e com a qual Paulo gosta de designar o amor com o qual Deus envolve o homem: Amor de benevolência e misericórdia. No NT o verbo agapaô e o nome ágapê são praticamente usados nas relações de Deus com os homens e vice-versa, sendo que Jesus é o Filho, ho agapêtós [o amado], que equivale a primogênito. A melhor definição do amor de Deus foi dada por Jesus a Nicodemos: Tanto amou Deus ao mundo que entregou o seu Filho único (Jo 3, 16) e a melhor definição do amor dentre os homens foi dado por ele mesmo em Jo 15, 13: Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos. Este amor Jesus o mostrou como diz João em 13, 1: Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim. Em todos os casos a raiz é ágapê. Jesus pede que permaneçam no seu amor, no dele. O grego pode ser um tanto dúbio quanto à origem do amor: é o amor de Jesus ou é o amor por parte dos discípulos? O texto grego parece indicar que o amor procede de Jesus, mas, o imperativo por outra parte e o versículo seguinte indicam que o amor é o que devem demonstrar os discípulos como devido ao Mestre. Deste versículo podemos concluir 1o) Que Ele (Jesus) escolheu os discípulos por amor. Exatamente como o Pai escolheu Jesus, o Filho-homem, e O distinguiu de todos os outros homens; Jesus escolheu os discípulos e os distinguiu de modo especial. 2o) Que Jesus quer que seus discípulos permaneçam nesse amor preferencial para com os escolhidos e que os chamou e os distingue por esse amor.
COMO PERMANECER NO AMOR: Se observásseis meus preceitos permanecereis em meu amor, assim como eu tenho observado os preceitos do meu Pai e permaneço no amor dele (10). Si praecepta mea servaveritis manebitis in dilectione mea sicut et ego Patris mei praecepta servavi et maneo in eius dilectione. Mas essa permanência está sujeita a que os discípulos cumpram os preceitos [Entolai]. É uma regra universal, pois também Jesus cumpriu os mandatos do Pai e por isso permaneceu no amor do mesmo, no seu agrado [nele me comprazo, Mt 3, 17]. Embora os preceitos sejam nomeados em plural, um deles é especial, recalcado por Jesus no versículo 12 como logo explicaremos. Outros preceitos, como é o de anunciar o evangelho a todas as nações (Mc 16, 15), na época em que foi escrito o 4º evangelho, não eram mais necessários por não existirem os protagonistas [os apóstolos], mas o preceito fundamental permanecia e permanecerá sempre atual: o preceito do amor, que o atual Papa afirma ser opus proprium [obra própria] da Igreja, de modo que está ao mesmo nível dos sacramentos. Sem eles, o labor da igreja não tem finalidade. Sem o amor, não tem base. Precisamente é o amor que dá a permanência com Jesus assim como o amor de Jesus o tornava complacência do Pai e permanente em sua dileção.
UM PARÊNTESE: Estas coisas vos tenho falado para que a alegria, a minha, permaneça em vós e a vossa alegria seja completa (11). Haec locutus sum vobis ut gaudium meum in vobis sit et gaudium vestrum impleatur. São palavras enigmáticas que terão uma explicação maior em 16, 20-24. A alegria tem como fundamento a ida de Jesus ao Pai como tinha declarado em 4, 28. Alegrar-se do bem do outro é uma forma de amor. Um amigo sente a dor do outro amigo. Isso é natural –diz um autor- mas se alegrar do êxito do amigo é quase um milagre. O Batista, como amigo do esposo, alegrou-se ao ouvir a voz do mesmo. A alegria dos discípulos tem como razão de ser a volta de Jesus ao Pai (Jo 14, 28). Essa volta é o início do triunfo, pois estaria à direita do mesmo como viu Estêvão (At 7, 56). Além disso, o Espírito seria o Mestre interior substituindo o Mestre externo que era Jesus e então compreenderiam a verdade que até o momento parecia estar oculta a seus olhos. Jesus esclareceria isto em 16, 13: O Espírito da Verdade vos conduzirá à verdade plena.
O PRECEITO: Este é o preceito, o meu: que vos ameis mutuamente como vos amei (12). Hoc est praeceptum meum ut diligatis invicem sicut dilexi vos. A barra que Jesus coloca para medir o amor mútuo entre os discípulos é a mais alta possível: o modelo não é o próprio sujeito como no AT [amarás o próximo como a ti mesmo], mas o amor que Jesus teve a seus discípulos. Ou seja, amar antes o outro que a si mesmo. Perder a própria vida para que o outro tenha vida e a mais abundante possível (Jo 10, 15 e 10, 10).
EXPLICAÇÃO: Maior do que este ninguém tem amor: que alguém doe a vida dele em favor dos seus amigos (13). Maiorem hac dilectionem nemo habet ut animam suam quis ponat pro amicis suis. Jesus explica qual foi seu amor e qual deve ser o amor dos discípulos entre si: doar a sua vida pelos outros. Maior amor do que este não pode ser encontrado. Por isso João no início do relato da última ceia dirá; como amasse os seus os amou até o extremo [eis telos, até a perfeição]. A tradução latina in finem foi tomada como temporal, quando deve ser o fim de uma série ou extremo da escala ou lista. É o amor da perfeição, até não haver maior amor.
OS AMIGOS: Vós sois meus amigos, se fazeis quantas coisas eu vos ordeno (14). Vos amici mei estis si feceritis quae ego praecipio vobis. Jesus explica aos apóstolos em que consiste a amizade entre eles e sua pessoa. O amigo cumpre as ordens de quem ama; nisso consiste a verdadeira amizade. Não é a fé, mas a obediência, a união de vontades, a preferência do outro. Nisso consiste a verdadeira amizade. Uma coisa é a fé pela qual nos incorporamos em Cristo e outra é a amizade em que a vontade do discípulo é substituída pela vontade do Mestre. Que não fará Jesus pelos tais a quem amou até o extremo? De modo algum vos chamo escravos, porque o escravo não conhece o que faz seu amo; porém a vós tenho chamado amigos porque todas as coisas que escutei de meu Pai vos dei a conhecer (15). Iam non dico vos servos quia servus nescit quid facit dominus eius vos autem dixi amicos quia omnia quaecumque audivi a Patre meo nota feci vobis. Contrariamente ao que encontramos no AT onde Israel era o servo de Jahvé, agora Jesus chama seus discípulos de amigos. Não encontramos no AT essa expressão tão íntima e igualitária. Israel será a esposa [uma escrava], mas nunca o amigo de Jahvé. E Jesus explica a diferença entre um escravo e um amigo. Aquele simplesmente obedece ordens sem saber porquê. Aos amigos se declara a razão do mandato e sabem por que obedecem. No At Moisés (Êx 33, 11) e Abraão (Is 41, 8) eram amigos de Jahvé. Deste, fala Isaías como sendo ohabi<0157>, meu amigo e de Moisés que falava com Deus como fala um homem com seu amigo, ad amicum suum, o hebraico usa rea`<07453>. De modo que chamar amigos, é um privilégio só concedido às duas grandes figuras do AT. Especialmente podemos tirar o exemplo de Moisés, íntimo do Senhor. Os apóstolos serão também os íntimos com os quais Jesus passou seus últimos anos conversando, explicando [a vós foi concedido conhecer os mistérios do Reino dos céus, mas a eles não (Mt 13, 11)] e vivendo com eles como convinha fazer um Mestre com seus discípulos. Até alguns inventarão o sentido esotérico do qual infelizmente a gnose fez um mau uso, como vemos em livros chamados de evangelhos de Madalena ou de Judas.
A ELEIÇÃO: Não me escolhestes vós, mas eu vós escolhi e vos instalei (ethëka) para que saiais [vos ponhais em caminho] e produzais fruto e o vosso fruto permaneça; de modo que se pedísseis alguma coisa ao Pai em meu nome, vos concedesse (16). Non vos me elegistis sed ego elegi vos et posui vos ut eatis et fructum adferatis et fructus vester maneat ut quodcumque petieritis Patrem in nomine meo det vobis. A tradução dos verbos indica que a obra dos discípulos é própria de Jesus e que em seu nome [por sua intermediação] o Pai fará tudo para que o fruto seja o adequado. A petição está unida a esse fruto que não é outro que o triunfo do Reino. Temos traduzido o verbo tithemi [ethëka] por instalar; outros traduzem por designar. No original o verbo significa colocar, pôr; mas pode ser traduzido por consagrar, ordenar, como aqui seria mais adequado. O saiais, subjuntivo do presente, é pôr-se a caminho; é o verbo usado por Jesus para enviar os 62 discípulos: Ide! [ypagete]. Eu vos envio como cordeiros entre lobos (Lc 10, 3). Não podemos, deste versículo, afirmar que tudo o que pedirmos nos será concedido. A petição está unida a duas questões básicas: o envio de Jesus e a difusão do reino. Por isso, quando enviou os 12, deu-lhes poder e autoridade sobre os demônios para curar doenças e proclamar o Reino de Deus e a curar (Lc 9, 1-2).
O PRECEITO FINAL: Estas coisas vos ordeno: que vos ameis reciprocamente (17). Haec mando vobis ut diligatis invicem. A frase é um resumo da petição de Jesus a seus apóstolos como base para que permaneçam no amor [entre eles] e no seu amor [de Jesus para eles]. Com esta frase compendia-se todo o evangelho na sua fase ética e humana. Jesus recomenda de novo esse amor que constitui a base de sua eleição e a permanência na mesma de seus discípulos. Amai-vos uns os outros (17).
PISTAS: 1) Vamos ficar com o essencial: O Amor. Primeiramente, ele procede de Cristo e do Pai. Aqueles que têm escutado Jesus e o querem seguir [=imitar] têm em comum que foram escolhidos amorosamente por Deus através de Jesus. Somos seus preferidos. Os comentários são do próprio João na sua primeira epístola. Olhai que amor nos deu o Pai (1 Jo 3, 1) porque o amor vem de Deus (idem 4, 7), porque Deus é amor (4, 8). E é nisto que consiste o verdadeiro amor; não que tenhamos amado Deus, mas que Deus nos amou e nos enviou seu Filho como vítima de expiação por nossos pecados (idem 4, 10).
2) A morte de Jesus foi a prova mais completa de seu amor: Nisto doravante conhecemos o amor: Ele (Jesus) deu a vida por nós (1 Jo 3, 10). Na vida, devemos ter como princípio fundamental que somos seres amados. Deus é nosso Pai e Ele nos ama, assim como Jesus nos amou e se entregou por nós (Gl 2, 20).
3) A 2a conclusão depende de nós: Também nós devemos dar a nossa vida por nossos irmãos (1 Jo 3, 10) e é desta maneira única que permaneceremos no amor, na predileção que Deus tem conosco. Temos que nos esforçar para guardar esse mandamento, resumo dos outros e único verdadeiramente importante: O amor ao próximo como Cristo o amou.
4) Esse amor consiste em sacrificar a nossa vida em favor dos outros, a começar por se alguém possui os bens deste mundo e vê seu irmão passar necessidade e se fecha a toda compaixão, como permaneceria nele o amor de Deus? (1 Jo 3, 17). Por esse amor total é que Jesus se tornou Cristo (Messias-Senhor) e nós nos tornaremos outros Cristos (amigos e senhores) com Ele, a participar da vida eterna. É a conclusão do próprio João: Sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos nossos irmãos: Quem não ama permanece na morte (1 Jo 3, 14).