Roteiro Homilético – XXVIII Domingo do Tempo Comum (Ano C)

TEMA

Dehonianos

(Província portuguesa dos sacerdotes do Coração de Jesus)

A liturgia deste domingo mostra-nos, com exemplos concretos, como Deus tem um projecto de salvação para oferecer a todos os homens, sem excepção; reconhecer o dom de Deus, acolhê-lo com amor e gratidão, é a condição para vencer a alienação, o sofrimento, o afastamento de Deus e dos irmãos e chegar à vida plena.

A primeira leitura apresenta-nos a história de um leproso (o sírio Naamã). O episódio revela que só Jahwéh oferece ao homem a vida e a salvação, sem limites nem excepções; ao homem resta acolher o dom de Deus, reconhecê-l’O como o único salvador e manifestar-Lhe gratidão.

O Evangelho apresenta-nos um grupo de leprosos que se encontram com Jesus e que através de Jesus descobrem a misericórdia e o amor de Deus. Eles representam toda a humanidade, envolvida pela miséria e pelo sofrimento, sobre quem Deus derrama a sua bondade, o seu amor, a sua salvação. Também aqui se chama a atenção para a resposta do homem ao dom de Deus: todos os que experimentam a salvação que Deus oferece devem reconhecer o dom, acolhê-lo e manifestar a Deus a sua gratidão.

A segunda leitura define a existência cristã como identificação com Cristo. Quem acolhe o dom de Deus torna-se discípulo: identifica-se com Cristo, vive no amor e na entrega aos irmãos e chega à vida nova da ressurreição.

LEITURA I – 2 Reis 5,14-17

Naqueles dias, o general sírio Naamã desceu ao Jordão e aí mergulhou sete vezes, como lhe mandara Eliseu, o homem de Deus. A sua carne tornou-se tenra como a de uma criança e ficou purificado da lepra. Naamã foi ter novamente com o homem de Deus, acompanhado de toda a sua comitiva. Ao chegar diante dele, exclamou: «Agora reconheço que em toda a terra não há outro Deus senão o de Israel. Peço-te que aceites um presente deste teu servo». Eliseu respondeu-lhe: «Pela vida do Senhor que eu sirvo, nada aceitarei». E apesar das insistências, ele recusou. Disse então Naamã: «Se não aceitas, permite ao menos que se dê a este teu servo uma porção de terra para um altar, tanto quanto possa carregar uma parelha de mulas, porque o teu servo nunca mais há-de oferecer holocausto ou sacrifício a quaisquer outros deuses, mas apenas ao Senhor, Deus de Israel».

AMBIENTE

A primeira leitura deste domingo situa-nos no reino do Norte (Israel), durante o reinado de Jorão (853-842 a.C.). Os reis de Israel – preocupados em fazer do seu país um estado moderno e em marcar o seu lugar no xadrez político do antigo Médio Oriente – mantêm, por esta altura, um intercâmbio muito vivo com os povos da zona. Em termos religiosos, essa política traduz-se numa invasão de deuses, de cultos e de valores estrangeiros, que ameaçam a integridade da fé jahwista. Apesar de Jorão ter tirado “as estátuas que seu pai tinha erigido a Baal” (2 Re 3,2), é uma época em que os deuses cananeus assumem um grande protagonismo e Baal substitui Jahwéh no coração e na vida de muitos israelitas.

Nesta fase, o profeta Eliseu assume-se como o grande defensor da fé jahwista continuando, aliás, a obra do seu antecessor Elias. Eliseu fazia parte de uma comunidade de “filhos dos profetas” (2 Re 2,3; 4,1)… Trata-se, provavelmente, de um círculo profético cujos membros eram os seguidores incondicionais de Jahwéh e aqueles em quem o Povo buscava apoio, face aos abusos dos poderosos.

No capítulo 5 do segundo Livro dos Reis, os autores deuteronomistas contam-nos a história do general sírio Naamã: considerado um dos heróis da Síria, era leproso; mas, informado por uma serva de que em Israel havia um profeta que podia curá-lo do seu mal, veio ao encontro de Eliseu, carregado de presentes. Eliseu mandou, apenas, que Naamã se banhasse sete vezes no rio Jordão (cf. 2 Re 5,1-13).

MENSAGEM

A leitura que nos é proposta descreve a cura do sírio Naamã e as reacções das várias personagens envolvidas; mas, mais do que apresentar uma reportagem do acontecimento, os autores deuteronomistas quiseram tecer algumas considerações de carácter teológico e catequético, que ajudassem os israelitas (seduzidos pelo culto de Baal) a redescobrir os fundamentos da sua fé.

Em primeiro lugar, os catequistas de Israel quiseram deixar claro que Jahwéh é o Senhor da vida, que Ele tem um projecto de salvação para o homem e que só Ele pode salvar aquele que parece condenado à morte. Deus até Se pode servir de homens para actuar no mundo; mas é d’Ele – e apenas d’Ele – que brotam a salvação e a vida; é preciso que os israelitas reconheçam isto, como o sírio Naamã o reconheceu.

Em segundo lugar, os catequistas de Israel quiseram mostrar que a intervenção salvadora de Jahwéh não é uma acção meramente circunstancial, que apenas resolve os problemas externos, mas é uma acção que actua a um nível profundo e que transforma radicalmente a vida do homem… Naamã não ficou só curado de uma doença física que punha em risco a sua vida; mas a intervenção de Deus saldou-se numa transformação espiritual que fez do sírio Naamã um homem novo e o levou a deixar os ídolos para servir o verdadeiro e único Deus… A expressão dessa mudança radical é a afirmação de Naamã de que “não há outro Deus em toda a terra senão o de Israel” (vers. 15) e que nunca mais irá “oferecer holocausto ou sacrifício a quaisquer outros deuses, mas apenas ao Senhor, Deus de Israel” (vers. 17).

Em terceiro lugar, a história deixa claro que a oferta da salvação não é um dom exclusivo, reservado a alguns privilegiados ou a uma raça especial: Naamã é sírio e, portanto, um inimigo tradicional do Povo de Deus… Mas Deus não faz distinção de pessoas e oferece a todos, sem excepção, a sua graça. O que é decisivo é o acolher o dom de Deus e aceitar deixar-se transformar por Ele.

Em quarto lugar, a catequese deuteronomista sublinha a “gratidão” de Naamã. Liberto dos males que o apoquentavam, ele quis agradecer a sua cura cumulando Eliseu de presentes; mas depressa percebeu (por acção de Eliseu, que o ajudou a ver claro) que não era a um homem que tinha de agradecer o dom da vida, mas sim a Deus… E a sua gratidão manifestou-se numa adesão total a Jahwéh. Os catequistas de Israel sugerem que é essa a resposta que Deus espera do homem.

Em quinto lugar, atente-se na atitude de Eliseu que nunca manifestou qualquer vontade de se aproveitar da intervenção de Deus em favor de Naamã para benefício próprio. Ao recusar aceitar qualquer presente das mãos de Naamã, Eliseu dá a entender que não é a ele mas a Jahwéh que o general sírio deve agradecer a cura. É provável que haja aqui uma denúncia irónica da atitude dos líderes religiosos da época, sempre preocupados em utilizar Deus em benefício dos seus esquemas egoístas…

ACTUALIZAÇÃO

A reflexão e partilha podem fazer-se considerando os seguintes dados:

  • A leitura convida-nos, antes de mais, a tomar consciência de que é de Deus – desse Deus que tem um projecto de salvação para o homem – que recebemos a vida plena. A constatação desse facto atinge uma importância primordial, numa época em que somos diariamente convidados a colocar a nossa esperança e a nossa segurança em ídolos de pés de barro (para alguns, podem ser o “poderoso médium” ou a “vidente/taróloga/espírita” que garantem a solução para o mau olhado, a inveja, os males de amor, o insucesso nos negócios, etc.; para a maioria, são o dinheiro, o poder, a moda, o comodismo, o êxito, a casa com piscina, o Ferrari ou o último programa de televisão que faz ganhar vinte mil contos e abrir a janela da fama…). É em Deus que eu coloco a minha esperança de vida plena, ou há outros deuses que me seduzem, que dirigem a minha vida e que são a minha esperança de realização e de felicidade?
  • Convém também não esquecer que a proposta de salvação que Deus faz se destina a todos os homens e mulheres, sem excepção. O nosso Deus não é um Deus dos “bonzinhos”, dos bem comportados, dos brancos, dos politicamente correctos ou dos que têm o nome no livro de registos da paróquia… O nosso Deus é o Deus que oferece a vida a todos e que a todos ama como filhos; o que é decisivo é aceitar a sua oferta de salvação e acolher o seu dom. Daqui resultam duas coisas importantes: a primeira é que não basta ser baptizado (e depois prescindir d’Ele e viver à margem das suas propostas); a segunda é que não podemos marginalizar ou excluir qualquer irmão nosso.
  • A história do sírio Naamã levanta, ainda, a questão da gratidão… É preciso que nos apercebamos que tudo é dom do amor de Deus e não uma conquista nossa ou a recompensa pelos nossos méritos ou pelas nossas boas obras. Estou consciente de que é de Deus que recebo tudo e manifesto-Lhe a minha gratidão pela sua presença, pelos seus dons, pelo seu amor?
  • Aqueles que recebem de Deus carismas para pôr ao serviço dos irmãos: sentem-se apenas instrumentos de Deus e procuram dirigir os olhares e a gratidão dos irmãos para Deus, ou estão preocupados em sublinhar os seus méritos e em concentrar em si próprios a gratidão que brota dos corações daqueles a quem servem?

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 97 (98)

Refrão 1: O Senhor manifestou a salvação a todos os povos.

Refrão 2: Diante dos povos manifestou Deus a salvação.

Cantai ao Senhor um cântico novo

pelas maravilhas que Ele operou.

A sua mão e o seu santo braço

Lhe deram a vitória.

O Senhor deu a conhecer a salvação,

revelou aos olhos das nações a sua justiça.

Recordou-Se da sua bondade e fidelidade

em favor da casa de Israel.

Os confins da terra puderam ver

a salvação do nosso Deus.

Aclamai o Senhor, terra inteira,

exultai de alegria e cantai.

LEITURA II – 2 Tim 2,8-13

Caríssimo: Lembra-te de que Jesus Cristo, descendente de David, ressuscitou dos mortos, segundo o meu Evangelho, pelo qual eu sofro, até ao ponto de estar preso a estas cadeias como um malfeitor. Mas a palavra de Deus não está encadeada. Por isso, tudo suporto por causa dos eleitos, para que obtenham a salvação que está em Cristo Jesus, com a glória eterna. É digna de fé esta palavra: Se morremos com Cristo, também com Ele viveremos; se sofremos com Cristo, também com ele reinaremos; se O negarmos, também Ele nos negará; se Lhe formos infiéis, Ele permanece fiel, porque não pode negar-Se a Si mesmo.

AMBIENTE

Continuamos a ler a segunda Carta a Timóteo… Para percebermos a mensagem que o texto nos propõe, convém recordar que esta carta (escrita por um autor desconhecido que, no entanto, se identifica com o apóstolo Paulo) nos coloca, provavelmente, no contexto dos finais do séc. I ou inícios do séc. II, numa altura em as comunidades cristãs sentiam arrefecido o entusiasmo dos inícios, conheciam a perseguição e estavam a ser perturbadas pelas heresias e pelas falsas doutrinas. O autor exorta Timóteo (e, na pessoa de Timóteo, todos os crentes, em geral) a perseverar na fé, a conservar a sã doutrina recebida de Jesus e a dedicar-se totalmente ao serviço do Evangelho.

MENSAGEM

Depois de exortar Timóteo a uma dedicação total ao ministério (cf. 2 Tim 2,1-7), o autor da carta apresenta o motivo supremo que justifica essa entrega: o exemplo de Cristo, que chegou à glória da ressurreição pelo caminho da cruz e do dom da vida… O próprio Paulo seguiu esse duro caminho e é por isso que está preso; mas não está preocupado, pois o essencial é que a Palavra de Deus continue a transformar o mundo. Aliás, é preciso que alguns entreguem a própria vida para que a proposta libertadora de Jesus chegue a todos os homens… Vale a pena sofrer, a fim de que este objectivo se concretize.

O parágrafo final (vers. 11-13) corrobora e clarifica as afirmações precedentes. O cristão é chamado a identificar-se com Cristo na entrega da vida e no serviço aos irmãos; essa entrega não termina no fracasso e no sem sentido, mas – a exemplo de Cristo – na ressurreição, na vida nova. O cristão não pode é recusar fazer da sua vida um dom de amor, se quiser identificar-se com Cristo.

ACTUALIZAÇÃO

Considerar os seguintes dados para a reflexão e partilha:

  • O autor da Segunda Carta a Timóteo recorda, aqui, algo de central para a experiência cristã: a essência do cristianismo é a identificação de cada crente com Cristo. Isto traduz-se, concretamente, no entregar a própria vida em favor dos irmãos, se necessário até ao dom total. Identifico-me de tal forma com Cristo que sou capaz de O seguir no caminho do amor e da entrega?
  • A opinião pública do nosso tempo está convencida de que uma vida gasta no serviço simples e humilde em favor dos irmãos é uma vida fracassada; mas o autor da Segunda Carta a Timóteo garante que uma vida de amor e de serviço é uma vida plenamente realizada, pois no final da caminhada espera-nos a ressurreição, a vida plena (são os efeitos da nossa identificação com Cristo). O que é que, para mim, faz mais sentido? No meu dia a dia domina o egoísmo e a auto-suficiência, ou o amor, a partilha, o dom da vida?

ALELUIA – cf. 1Tes 5,18

Aleluia. Aleluia.

Em todo o tempo e lugar dai graças a Deus, porque esta é a sua vontade a vosso respeito em Cristo Jesus.

EVANGELHO – Lc 17,11-19

Naquele tempo, indo Jesus a caminho de Jerusalém, passava entre a Samaria e a Galileia. Ao entrar numa povoação, vieram ao seu encontro dez leprosos. Conservando-se a distância, disseram em alta voz: «Jesus, Mestre, tem compaixão de nós». Ao vê-los, Jesus disse-lhes: «Ide mostrar-vos aos sacerdotes». E sucedeu que no caminho ficaram limpos da lepra. Um deles, ao ver-se curado, voltou atrás, glorificando a Deus em alta voz, e prostrou-se de rosto por terra aos pés de Jesus para Lhe agradecer. Era um samaritano. Jesus, tomando a palavra, disse: «Não foram dez que ficaram curados? Onde estão os outros nove? Não se encontrou quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?» E disse ao homem: «Levanta-te e segue o teu caminho; a tua fé te salvou».

AMBIENTE

Mais uma vez Lucas apresenta um episódio situado no “caminho de Jerusalém” (esse “caminho espiritual”, ao longo do qual os discípulos vão aprendendo e interiorizando os valores e a realidade do “Reino”).

No “caminho” de Jesus e dos discípulos aparecem, portanto, dez leprosos. O leproso é, no tempo de Jesus, o protótipo do marginalizado… Além de causar naturalmente repugnância pela sua aparência e de infundir medo de contágio, o leproso é um impuro ritual (cf. Lev 13-14), a quem a teologia oficial atribuía pecados especialmente gravosos (a lepra era o castigo de Deus para esses pecados); por isso, o leproso não podia sequer entrar na cidade de Jerusalém, a fim de não despurificar a cidade santa.

Devia afastar-se de qualquer convívio humano para que não contaminasse os outros com a sua impureza física e religiosa. Em caso de cura, devia apresentar-se diante de um sacerdote, a fim de que ele comprovasse a cura e lhe permitisse a reintegração na vida normal (cf. Lev 14). Podia, então, voltar a participar nas celebrações do culto.

Um dos leprosos (precisamente aquele que vai desempenhar o papel principal, neste episódio) é samaritano. Os samaritanos eram desprezados pelos judeus de Jerusalém. A desconfiança religiosa dos judeus em relação aos samaritanos começou quando, em 721 a.C. (após a queda do reino do Norte), os colonos assírios invadiram a Samaria e começaram a misturar-se com a população local. Para os judeus, os habitantes da Samaria começaram, então, a paganizar-se… Após o regresso do exílio da Babilónia, os habitantes de Jerusalém recusaram qualquer ajuda dos samaritanos na reconstrução do Templo e evitaram os contactos com eles, “raça misturada com pagãos”. A construção de um santuário samaritano no monte Garizim consumou a separação e, na perspectiva judaica, lançou definitivamente os samaritanos nos caminhos da infidelidade a Jahwéh. Algumas picardias mútuas nos séculos seguintes consolidaram a inimizade entre judeus e samaritanos. Na época de Jesus, a relação entre as duas comunidades era marcada por uma grande hostilidade.

MENSAGEM

O episódio dos dez leprosos (que é exclusivo de Lucas) insere-se perfeitamente na óptica teológica de um evangelho cujo objectivo fundamental é apresentar Jesus como o Deus que Se fez pessoa para trazer, com gestos concretos, a salvação a todos os homens.

É esse o ponto de partida da história que Lucas nos conta: ele mostra que Deus tem uma proposta de vida nova para oferecer a todos os homens. O número dez tem, certamente, um significado simbólico: significa “totalidade” (o judaísmo considerava necessário que pelo menos dez homens estivessem presentes, a fim de que a oração comunitária pudesse ter lugar, porque o “dez” representa a totalidade da comunidade). A presença de um samaritano no grupo indica, contudo, que essa salvação oferecida por Deus, em Jesus, não se destina apenas à comunidade do “Povo eleito”, mas se destina a todos os homens, sem excepção, mesmo àqueles que o judaísmo oficial considerava definitivamente afastados da salvação.

Contudo, o acento do episódio de hoje é posto – mais do que no episódio da cura em si – no facto de que, dos dez leprosos curados, só um tenha voltado para trás para agradecer a Jesus e no facto de este ser um samaritano. Lucas está interessado em mostrar que quem recebe a salvação deve reconhecer o dom de Deus e deve estar agradecido… E avisa que, com frequência, são os desprezados que estão mais atentos aos dons de Deus. Haverá aqui, certamente, uma alusão à autosuficiência dos judeus que, por se sentirem “Povo eleito”, achavam natural que Deus os cumulasse dos seus dons; no entanto, não reconheceram a proposta de salvação que, através de Jesus, Deus lhes ofereceu… Certamente haverá aqui, também, um apelo aos discípulos de Jesus, para que não ignorem o dom de Deus e saibam responder-Lhe com a gratidão e a fé (entendida como adesão a Jesus e à sua proposta de salvação).

ACTUALIZAÇÃO

A reflexão e partilha podem tocar as seguintes questões:

  • É preciso ter uma resposta de gratidão e de adesão à proposta de salvação que Deus faz. Atenção: muitas vezes são aqueles que parecem mais fora da órbita de Deus que primeiro reconhecem o seu dom, que o acolhem e que aderem à proposta de vida nova que lhes é feita. Às vezes, aqueles que lidam diariamente com o mundo do sagrado estão demasiado cheios de auto-suficiência e de orgulho para acolherem com humildade e simplicidade os dons de Deus, para manifestarem gratidão e para aceitarem ser transformados pela graça… Convém pensar na atitude que, dia a dia, eu assumo diante de Deus: se é uma atitude de auto-suficiência, ou se é uma atitude de adesão humilde e de gratidão.
  • Curiosamente, os dez “leprosos” não são curados imediatamente por Jesus, mas a “lepra” desaparece “no caminho”, quando iam mostrar-se aos sacerdotes. Isto sugere que a acção salvadora de Jesus não é uma acção mágica, caída repentinamente do céu, mas um processo progressivo (o “caminho” define, neste contexto, a caminhada cristã), no qual o crente vai descobrindo e interiorizando os valores de Jesus, até à adesão plena às suas propostas e à efectiva transformação do coração. Assim, a nossa “cura” não é um momento mágico que acontece quando somos baptizados, ou fazemos a primeira comunhão ou nos crismamos; mas é uma caminhada progressiva, durante a qual descobrimos Cristo e nascemos para a vida nova.

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 28º DOMINGO DO TEMPO COMUM

(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

Ao longo dos dias da semana anterior ao 28º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. PALAVRA CELEBRADA NA EUCARISTIA.

A Palavra de Deus não se limita ao tempo da proclamação e da escuta da Palavra. Na preparação da celebração, procurar que algumas expressões da liturgia da Palavra estejam presentes no momento penitencial, nalguma intenção da oração dos fiéis, num momento de acção de graças… Hoje, a liturgia da Palavra está unificada à volta do tema da salvação e tem um sentido dialogal: Deus dá a graça, nós damos graças pelo dom da salvação, o dom do seu amor.

3. BILHETE DE EVANGELHO.

É preciso ser um samaritano, um dos habitantes da Samaria com os quais os Judeus não querem ter nada em comum, a vir até Jesus após a sua cura, para ter um acto de reconhecimento. Sim, ele reconhece que Deus o curou pois ele glorifica-O, enquanto Jesus reconhecerá que a sua fé o salvou. Ele é salvo precisamente porque reconhece Aquele que o salva. Tal é a diferença em relação aos outros nove leprosos curados que não reconhecem Aquele que os purificou. Enfim, o leproso samaritano faz acto de reconhecimento vindo agradecer: lança o rosto por terra aos pés de Jesus dando-Lhe graças. O homem pode levantar-se porque está totalmente salvo: não apenas o seu corpo é purificado mas, ao vir glorificar Deus e dar-Lhe graças, pode aproximar-se de Jesus, o verdadeiro Salvador, que salva o homem e dele espera a caminhada da fé.

4. À ESCUTA DA PALAVRA.

Todos os pais têm a preocupação em ensinar aos seus filhos “se faz favor” e “obrigado”. Isso faz parte da boa educação. Mas estas duas palavras estão carregadas de um sentido que a criança deve descobrir progressivamente: ninguém consegue sozinho, todos temos necessidade dos outros. Reconhecer que, sozinho, não posso fazer tudo; tenho necessidade de receber, de pedir. E dizendo obrigado aos outros, reconheço que me fizeram bem. Enfim, estas palavras, que parecem tão banais, exprimem a dimensão social do ser humano. A comunidade humana e a comunidade cristã constroem-se através destas relações, destes contactos quotidianos nos quais cada um se reconhece, em todos os sentidos desta palavra.

Hoje, Jesus convida-nos a recordar tudo isso na nossa relação com Deus. Os dez leprosos vieram até Ele porque reconheciam n’Ele um mestre, um enviado de Deus.

Ousam pedir o que ninguém podia dar naquela época: a cura da lepra. Pedem um favor que ultrapassa as forças humanas. É a Deus que se dirigem através de Jesus.

Pedem a Jesus e Ele cura-os. Mas um só vem dizer “obrigado”. Um estrangeiro, um samaritano. Talvez os outros pensassem que tinham o direito de serem curados por serem judeus… O estrangeiro, esse, reconhece que a sua cura é dom gratuito da bondade de Deus. Volta junto de Jesus para “reconhecer” este dom. Entra numa relação plena com Deus. Veio com a sua pobreza, para pedir; regressa, com a sua gratidão, para reconhecer que Jesus respondeu ao seu pedido. O acto central, fonte e cume da vida cristã, a Eucaristia, significa “acção de graças”. Eis o pedido supremo que podemos dirigir a Deus: que nos dê a sua presença em Jesus ressuscitado e o nosso “obrigado”, o mais perfeito possível que possamos dizer a Deus. Aí, estamos bem no coração da nossa fé e do nosso amor.

5. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.

Pode-se escolher a Oração Eucarística III para as Assembleias com Crianças, que exprime muito simplesmente o obrigado, a acção de graças; rezá-la bem, com calma…

6. PALAVRA PARA O CAMINHO DA VIDA…

Levar a Palavra de Deus como luz para mais uma semana de trabalho, de estudo… Ao longo dos dias da semana que se segue, procurar rezar e meditar algumas frases da Palavra de Deus: “Cantai ao Senhor um cântico novo”…; “A Palavra de Deus não está encadeada”…; “Se morremos com Cristo, também com Ele viveremos”…;

“Levanta-te e segue o teu caminho; a tua fé te salvou”… Procurar transformá-las em atitudes e em gestos de verdadeiro encontro com Deus e com os próximos que formos encontrando nos caminhos percorridos da vida…

Grupo Dinamizador
Pe. Joaquim Garrido – Pe. Manuel Barbosa – Pe. Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (dehonianos)

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