Roteiro Homilético – XIX Domingo do Tempo Comum – Ano C

RITOS INICIAIS

 

Sl 73, 20.19.22.23

ANTÍFONA DE ENTRADA: Lembrai-Vos, Senhor, da vossa aliança, não esqueçais para sempre a vida dos vossos fiéis. Levantai-Vos, Senhor, defendei a vossa causa, escutai a voz daqueles que Vos procuram.

 

Introdução ao espírito da Celebração

 

Hoje somos convidados a saber esperar com fé o momento da chegada do Senhor à nossa vida.

Ele manifesta-se-nos nos momentos em que menos esperamos, mesmo no meio das obscuridades e dificuldades por que, porventura, estejamos a passar. Por isso, vivamos cada dia como se fosse o último.

Andemos, pois, vigilantes, a fim de não deixarmos escapar esse momento crucial da nossa existência.

Com esse propósito entremos dentro de nós próprios e procuremos, com atitude filial, reconhecer onde errámos e que teremos de modificar na nossa vida, para aguardarmos em jubilosa esperança a Sua vinda.

 

ORAÇÃO COLECTA: Deus eterno e omnipotente, a quem podemos chamar nosso Pai, fazei crescer o espírito filial em nossos corações para merecermos entrar um dia na posse da herança prometida. Por Nosso Senhor…

 

 

LITURGIA DA PALAVRA

 

Primeira Leitura

 

Monição: A primeira leitura lembra como Deus cumpriu a promessa que tinha feito ao Seu povo de o libertar da escravidão do Egipto.

 

Sabedoria 18, 6-9

 

6A noite em que foram mortos os primogénitos do Egipto foi dada previamente a conhecer aos nossos antepassados, para que, sabendo com certeza a que juramentos tinham dado crédito, ficassem cheios de coragem. 7Ela foi esperada pelo vosso povo, como salvação dos justos e perdição dos ímpios, 8pois da mesma forma que castigastes os adversários, nos cobristes de glória, chamando-nos para Vós. 9Por isso os piedosos filhos dos justos ofereciam sacrifícios em segredo e de comum acordo estabeleceram esta lei divina: que os justos seriam solidários nos bens e nos perigos; e começaram a cantar os hinos de seus antepassados.

 

A leitura é extraída da última parte do livro da Sabedoria (16 – 18), onde se exalta a Providência divina ao castigar os egípcios e salvar os israelitas. Pertence ao género literário chamado «midraxe hagadá»: é uma piedosa meditação sobre a história sagrada, em que a intenção edificante lança mão da imaginação, sem grande preocupação pelo rigor histórico.

6 «Noite… dada previamente a conhecer», segundo Gn 15, 13-14; 11, 4-7; 12, 21-23.

9 «Ofereciam sacrifícios em segredo», alusão a Ex 12, 46, onde se diz que o cordeiro pascal era sacrificado e comido no interior das próprias casas. A referência a «cantar os hinos» tem em conta o hagadá de Páscoa, que prescrevia para a Ceia Pascal o canto dos Salmos do chamado grande Hallel (113 – 118; cf. Mt 26, 30), que cantavam os favores divinos para com o seu povo.

 

Salmo Responsorial

Sl 32 (33), 1.12.18-19.20.22 (R. 12b)

 

Monição: No cântico de meditação respondemos à mensagem contida na primeira leitura e exclamamos agradecidos: «Feliz o povo que o Senhor escolheu para sua herança».

 

Refrão:        FELIZ O POVO QUE O SENHOR ESCOLHEU PARA SUA HERANÇA.

 

Justos, aclamai o Senhor,

os corações rectos devem louvá-l’O.

Feliz a nação que tem o Senhor por seu Deus,

o povo que Ele escolheu para sua herança.

 

Os olhos do Senhor estão voltados para os que O temem,

para os que esperam na sua bondade,

para libertar da morte as suas almas

e os alimentar no tempo da fome.

 

A nossa alma espera o Senhor,

Ele é o nosso amparo e protector.

Venha sobre nós a vossa bondade,

porque em Vós esperamos, Senhor.

 

Segunda Leitura*

 

* O texto entre parêntesis pertence à forma longa e pode ser omitido.

 

 

Monição: Tirada da carta aos Hebreus, esta leitura celebra a fé dos homens do Antigo Testamento, concentrando a atenção em Abraão o «pai dos crentes» e Sara, pois acreditaram e confiaram na Palavra de Deus, sabendo esperar contra todas as evidências.

 

Forma longa: Hebreus 11, 1-2.8-19;                    forma breve: Hebreus 11, 1-2.8-12

 

Irmãos: 1A fé é a garantia dos bens que se esperam e a certeza das realidades que não se vêem. 2Ela valeu aos antigos um bom testemunho. 8Pela fé, Abraão obedeceu ao chamamento e partiu para uma terra que viria a receber como herança; e partiu sem saber para onde ia. 9Pela fé, morou como estrangeiro na terra prometida, habitando em tendas, com Isaac e Jacob, herdeiros, como ele, da mesma promessa, 10porque esperava a cidade de sólidos fundamentos, cujo arquitecto e construtor é Deus. 11Pela fé, também Sara recebeu o poder de ser mãe já depois de passada a idade, porque acreditou na fidelidade d’Aquele que lho prometeu. 12É por isso também que de um só homem – um homem que a morte já espreitava – nasceram descendentes tão numerosos como as estrelas do céu e como a areia que há na praia do mar.

 [13Todos eles morreram na fé, sem terem obtido a realização das promessas. Mas vendo-as e saudando-as de longe, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. 14Aqueles que assim falam mostram claramente que procuram uma pátria. 15Se pensassem na pátria de onde tinham saído, teriam tempo de voltar para lá. 16Mas eles aspiravam a uma pátria melhor, que era a pátria celeste. E como Deus lhes tinha preparado uma cidade, não Se envergonha de Se chamar seu Deus. 17Pela fé, Abraão, submetido à prova, ofereceu o seu filho único Isaac, que era o depositário das promessas, como lhe tinha sido dito: 18«Por Isaac será assegurada a tua descendência». 19Ele considerava que Deus pode ressuscitar os mortos; por isso, numa espécie de prefiguração, ele recuperou o seu filho.]

 

A leitura é um eloquentíssimo elogio da fé, uma das mais notáveis páginas de toda a Escritura. Depois de definir o que é a fé, mostra como todas as grandes figuras do Antigo Testamento resplandeceram por uma vida de fé. Aqui temos apenas um pequeno extracto do capítulo 11 da epístola.

1 «A fé é a garantia dos bens que se esperam». As realidades que esperamos na outra vida ainda não são uma realidade de que tenhamos uma posse palpável, mas a fé é já uma base ou garantia de que estão ao nosso alcance. Mas há uma outra interpretação que entende o termo grego (traduzido no leccionário por garantia), «hypóstasis» (substância, à letra, o que está por baixo, o suporte) no sentido de consistência: assim, a fé como que dá corpo e consistência na alma do crente àquelas realidades divinas reveladas por Deus que esperamos vir a possuir em plenitude, (mas, para uma pessoa que não tenha fé, aparecem como inconsistentes, mera alienação,).

«A certeza das realidades que não se vêem». O termo grego élenkhos foi traduzido pela palavra «certeza», com efeito, assim como uma demonstração nos dá a certeza de algo não evidente por si, assim também a fé nos dá a certeza de todas as verdades divinas que se não vêem, uma vez que a fé se apoia numa revelação de Deus que não se engana nem nos pode enganar.

8-19 O exemplo da fé de Abraão está em relação com diversas passagens do Génesis do «ciclo de Abraão» (Gn 12, 1 – 23, 20).

10 Cidade… cujo arquitecto e construtor é Deus», isto é, «a pátria celeste» (cf. v. 16). Esta passagem concorda com uma tradição judaica que diz que Deus mostrou a Abraão a Jerusalém celeste (cf. Apocalipse Siríaco de Barukh).

11 Pela fé, também Sara… A inicial incredulidade de Sara acabou por dar lugar a uma atitude de fé (cf. Gn 18, 10-13).

19 «Prefiguração» (à letra, «parábola», também se podia traduzir por «símbolo»). Desde os Padres Apostólicos que a Tradição da Igreja viu no Sacrifício de Isaac uma figura da Morte e Ressurreição (a recuperação do filho) de Cristo.

 

Aclamação ao Evangelho        

Mt 24, 42a.44

 

Monição: A tarefa do discípulo de Jesus é testemunhar sem desanimar, continuando a acção do Mestre.

 

ALELUIA

 

Vigiai e estai preparados, porque na hora em que não pensais virá o Filho do homem.

 

 

Evangelho *

 

* O texto entre parêntesis pertence à forma longa e pode ser omitido.

 

Forma longa: São Lucas 12, 32-48;                     forma breve: São Lucas 12, 35-40

 

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:

[32«Não temas, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o reino. 33Vendei o que possuís e dai-o em esmola. Fazei bolsas que não envelheçam, um tesouro inesgotável nos Céus, onde o ladrão não chega nem a traça rói. 34Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.]

35Tende os rins cingidos e as lâmpadas acesas. 36Sede como homens que esperam o seu senhor voltar do casamento, para lhe abrirem logo a porta, quando chegar e bater. 37Felizes esses servos, que o senhor, ao chegar, encontrar vigilantes. Em verdade vos digo: cingir-se-á e mandará que se sentem à mesa e, passando diante deles, os servirá. 38Se vier à meia-noite ou de madrugada, felizes serão se assim os encontrar. 39Compreendei isto: se o dono da casa soubesse a que hora viria o ladrão, não o deixaria arrombar a sua casa. 40Estai vós também preparados, porque na hora em que não pensais virá o Filho do homem».

[41Disse Pedro a Jesus: «Senhor, é para nós que dizes esta parábola, ou também para todos os outros?» O 42Senhor respondeu: «Quem é o administrador fiel e prudente que o senhor estabelecerá à frente da sua casa, para dar devidamente a cada um a sua ração de trigo? 43Feliz o servo a quem o senhor, ao chegar, encontrar assim ocupado. 44Em verdade vos digo que o porá à frente de todos os seus bens. 45Mas se aquele servo disser consigo mesmo: ‘O meu senhor tarda em vir’; e começar a bater em servos e servas, a comer, a beber e a embriagar-se, 46o senhor daquele servo chegará no dia em que menos espera e a horas que ele não sabe; ele o expulsará e fará que tenha a sorte dos infiéis.47O servo que, conhecendo a vontade do seu senhor, não se preparou ou não cumpriu a sua vontade, levará muitas vergastadas. 48Aquele, porém, que, sem a conhecer, tenha feito acções que mereçam vergastadas, levará apenas algumas. A quem muito foi dado, muito será exigido; a quem muito foi confiado, mais se lhe pedirá».]

 

Na sequência do Domingo anterior (Lc 12, 13-21), este trecho é extraído duma secção do III Evangelho (Lc 12 – 14), em que predominam os ensinamento de Jesus, sobretudo os de carácter escatológico, com apelos à vigilância e a viver desprendido, com os olhos postos no reino que há-de vir. A leitura começa (vv. 32-34) com o final da longa exortação ao abandono na Providência amorosa de Deus e ao desprendimento dos bens efémeros.

32 «Pequenino rebanho». Apesar de poucos e sem recursos humanos, os discípulos nada têm a temer, pois foram admitidos no Reino de Deus que é indestrutível (cf. Lc 1, 33).

33-34 «Tesoiro inesgotável nos Céus». O texto paralelo de S. Mateus é mais desenvolvido (cf. Mt 6, 19-21). Como o nosso coração é forçosamente atraído pelo que ele julga ser o «tesoiro», temos de ter a sensatez de não nos defraudarmos a nós próprios erigindo em tesoiro – bem supremo, fim último – as coisa da terra, trocando o efémero e caduco pelo eterno. As boas obras, a esmola e as obras de misericórdia em geral (cf. Mt 25, 31-46) constituem uma riqueza que não se perde, pois essas obras terão uma recompensa eterna nos Céus.

35-48 Na forma longa do Evangelho de hoje, podemos distinguir três parábolas: a dos criados vigilantes (vv. 35-36), a do ladrão (v. 39) e a dos servos administradores (o fiel: vv. 42-44 e o infiel: vv. 45-48). As duas primeiras referem-se à necessidade da vigilância e a terceira à necessidade da fidelidade.

35-37a «Rins cingidos», isto é, as cintas apertadas, num gesto então habitual, próprio de quem, para trabalhar, arregaçava a túnica com um cinto. «As lâmpadas acesas», isto é, em atitude de vigilância ao longo da noite; é assim que devem estar vigilantes os discípulos de Jesus, «como homens que esperam o seu senhor voltar do casamento», a uma hora incerta.

37b «Em verdade vos digo… os servirá». Aqui já deixamos propriamente de ter a «parábola», uma vez que se acabou toda a «semelhança» com a vida corrente: não são os servos a servir o seu patrão (cf. 17, 7-9), mas é o dono a servir os criados! É uma alegoria que exprime como, no momento da sua vinda, Jesus recompensará, um a um – «passando diante deles» – os seus servos vigilantes, servindo-lhes o «banquete» da vida eterna.

39 «A que hora viria o ladrão». Esta segunda parábola, que já não se refere a um criado, mas a um senhor, é também um convite à vigilância, pondo em evidência como a vinda do Senhor será de improviso, sem o dono da casa poder calcular o dia do assalto; os criados da parábola anterior sabiam que era naquela noite que o seu patrão chegava da boda, embora ignorassem a hora, mas aqui o dono da casa não sabe nem o dia nem a hora. Daqui o sério apelo: «Estai vós também preparados».

41 «É para nós que dizes essa parábola?» Esta pergunta de Pedro parece referir-se à primeira parábola, concretamente à afirmação de Jesus no v. 37b, que muito o devia ter impressionado; mas Jesus não responde à pergunta, e propõe uma nova parábola, a do administrador fiel (vv. 42-46), a mesma do «servo fiel e prudente» de Mt 4, 45-51, embora com um matiz próprio: precisamente o facto de se chamar este servo «administrador» indica a intencionalidade de referir a parábola aos apóstolos, «os administradores dos mistérios de Deus», de quem se exige uma fidelidade total (cf. 1 Cor 4, 1-2).

42-48a Na parábola, temos um criado feito administrador da casa durante um certo período de ausência do patrão, o qual tem de dirigir os criados e criadas e, concretamente, de lhes dar diariamente a sua ração de alimento. A parábola do administrador contempla duas hipóteses: a da administração fiel e sensata (vv. 42-44) e a da má administração (v. 45-46). Na primeira, a condição é posta sob a forma duma pergunta retórica (v. 42) que equivale à afirmação: «se o administrador que o senhor colocou à frente do seu pessoal, para lhe dar, no devido tempo, a sua ração de trigo, for fiel e prudente…, pô-lo-á à frente de todos os seus bens».

48b «A quem muito foi dado…». Temos aqui a forma impessoal da voz passiva para, segundo o costume judaico, evitar pronunciar o nome inefável de Deus, por motivo de respeito, equivalendo a: «a quem Deus muito deu…».Os versículos 47-48, que não aparecem no lugar paralelo de S. Mateus, explicitam como no dia de juízo haverá uma desigualdade de castigos proporcionada à responsabilidade de cada um. É fácil perceber que os discípulos de Jesus são aqueles que «sabem o que o Senhor quer» (v. 47) e aqueles «a quem muito foi dado» (v. 48).

 

Sugestões para a homilia

 

A fidelidade de Deus

Vivida em celebração vigilante

Inspirada na fé

A fidelidade de Deus

Com eventos comemorativos, todos os povos recordam os feitos dos seus antepassados através de estátuas, dias festivos ou paradas. Estes momentos servem para lembrar os grandes acontecimentos vividos no passado e assim incutir coragem aos que vivem no presente.

Tal aconteceu com Israel, como nos relata a primeira leitura. Em todos os momentos da sua história, quando se sentiu explorado ou oprimido procurou meditar no seu passado. Ao fazê-lo, descobriu que Deus lhe foi fiel e nos momentos mais difíceis o protegeu e sempre libertou. Isso dava coragem ao povo para revigorar as suas forças nas adversidades presentes, aguardando o futuro com mais esperança. Então, brotavam dos seus lábios cânticos de louvor e de agradecimento suscitando no povo a confiança que fortalecera seus pais. Por isso, se reuniam regularmente para celebrar e recordar esses acontecimentos outrora vividos.

Connosco acontece o mesmo. Todos os domingos celebramos e tornamos presente o grande amor e a fidelidade de Deus, por nos ter dado o seu Filho. Ao ressuscitá-l’O afiançou-nos que a história de cada um de nós, embora marcada por ocorrências contraditórias e trágicas, acabará de maneira bem-aventurada se a soubermos viver, sem medo, em celebração vigilante.

Vivida em celebração vigilante

De facto, o pior inimigo do cristão é o medo. A Palavra de Jesus dirigida aos seus discípulos, e hoje para nós proclamada, exorta-nos a não termos medo, mesmo sabendo que vivemos num mundo hostil e paganizado, onde o mal é forte e parece crescer em invencibilidade. O Mestre garante-nos que o Reino de Deus há-de vir com toda a certeza, porque não é obra do homem, mas dom de Deus.

Como lemos no Evangelho, Jesus exorta a manter a atitude vigilante dos servos. Não sabemos quando chegará o Senhor; por isso, o prudente é estar em guarda, ter tudo pronto, como se fosse chegar de um momento para o outro. Jesus convida a viver cada dia como se fosse o último. Todo o discípulo, pois, deve tomar esta disposição de espera vigilante numa contínua disponibilidade para o serviço aos outros. Agora temos tempo e podemos fazê-lo; agora podemos crescer por dentro. Empenhemo-nos em fazer hoje o que no final da nossa vida quereríamos ter feito ou ter sido. O que possamos fazer actualmente não o deixemos para amanhã, porque pode ser que esse amanhã não chegue nunca.

A vigilância celebrativa que se nos pede traduz-se na responsabilidade do serviço a favor dos outros, enquanto temos tempo para o fazer. Essa responsabilidade há-de ser exercida na comunidade cristã e civil, na família, com os vizinhos e com todos aqueles com quem contactamos. Todos somos responsáveis em ajudar a crescer como pessoas e como cristãos aos que nos rodeiam e aonde o Senhor ainda não chegou: onde há litígios, ódios, destruição, fome, miséria ou vinganças. Ele pode chegar dum momento para outro, precisamente aí onde ainda não chegou. Ele espera pelo momento mais oportuno para salvar; é preciso estar preparado para O acolher de maneira que a sua vinda não seja em vão. Temos de esperar com toda a esperança a sua vinda.

Este optimismo perante a vinda do Senhor leva-nos a não nos distrairmos e a sabermos acolher o pobre que nos bate à porta, o amigo que nos convida a fazer o bem, o companheiro que nos solicita ajuda, a esposa, o marido ou os filhos que carecem de atenção, a sabermos «ser» sem pensarmos apenas no «ter» a que a vida quotidiana deste mundo nos convida. Esta espera esperançosa terá de ser intimamente inspirada na fé.

Inspirada na fé

A isso nos incita a segunda leitura apresentando-nos o exemplo de Abraão e de Sara que souberam esperar com fé, contra todas as probabilidades. Apesar da idade, ambos acreditaram nas promessas de Deus e fizeram o que o Senhor lhes pedira: partiram para uma terra desconhecida. Contra toda a lógica humana acreditaram que o Senhor lhes daria uma numerosa descendência. É certo que eles apenas viram um pequeno sinal como realização de tantas promessas: um filho débil e uma terra apreciada apenas de longe. Mas, mesmo assim, confiaram à mesma.

Também nós, como os hebreus a quem foi dirigida esta Carta, somos por vezes tentados a desanimar. Esperamos ansiosamente as promessas de libertação, de justiça e de paz anunciadas por Jesus e não as vemos realizadas. Continuamos a ver à nossa volta lutas, traições, infidelidades, corrupção, injustiças. É nestes momentos que a nossa fé é provada. São essas as ocasiões em que devemos continuar a acreditar, insistindo como Abraão e Sara, crendo que um dia, certamente, há-de chegar a salvação plena.

Estejamos, pois, atentos e vigilantes e, com toda a fé, preparados para acolher essa vinda do Senhor à nossa «casa», a fim de que nela não encontre «vazios» que deveríamos ter enchido a seu tempo, quando nos foi oferecida tal oportunidade.

 

Fala o Santo Padre

 

Queridos irmãos e irmãs!

A liturgia deste décimo nono domingo do tempo comum prepara-nos, de certa forma, para a Solenidade da Assunção de Maria ao céu que celebramos no dia 15 de Agosto. De facto, ela orienta-se totalmente para o futuro, para o céu, onde a Virgem Santa nos precedeu na alegria do Paraíso. Em particular, a página evangélica, prosseguindo a mensagem do domingo passado, convida os cristãos a desapegarem-se dos bens materiais em grande parte ilusórios, e a cumprirem fielmente o próprio dever com uma constante propensão para o Alto. O crente permanece alerta e vigilante a fim de estar pronto para receber Jesus quando Ele vier na sua glória. Através de exemplos tirados da vida quotidiana, o Senhor exorta os seus discípulos, isto é, a nós, a viver nesta disposição interior, como aqueles servos da parábola que estão à espera do regresso do seu dono. «Felizes aqueles servos diz Ele que o Senhor, quando vier, encontrar vigilantes» (Lc 12, 37). Devemos portanto vigiar, rezando e praticando o bem.

É verdade, na terra todos estamos de passagem, como nos recorda oportunamente a segunda leitura da liturgia de hoje, tirada da Carta aos Hebreus. Ela apresenta-nos Abraão em vestes de peregrino, como um nómade que vive numa tenda e pára numa região estrangeira. Quem o guia é a fé. «Pela fé escreve o autor sagrado Abraão, ao ser chamado, obedeceu e partiu para uma terra, que havia de receber por herança e partiu sem saber para onde ia» (Hb 11, 8). De facto, a sua verdadeira meta era «a cidade assentada sobre sólidos fundamentos, cujo arquitecto e construtor é Deus» (11, 10). A cidade à qual se faz referência não está neste mundo, mas é o Paraíso.

Estava bem consciente disto a primeira comunidade cristã que se considerava «estrangeira» aqui na terra e chamava os seus núcleos residentes nas cidades «paróquias», que significa precisamente colónias de estrangeiros [em grego pàroikoi] (cf. 1 Pd 2, 11). Desta forma os primeiros cristãos expressavam a característica mais importante da Igreja, que é precisamente a propensão para o céu. A hodierna liturgia da Palavra deseja portanto convidar-nos a pensar «na vida do mundo que há-de vir», como repetimos todas as vezes que, com o Credo, fazemos a nossa profissão de fé. Um convite a usar a nossa existência de modo sábio e previdente, a considerar atentamente o nosso destino, isto é, aquelas realidades que chamamos últimas: a morte, o juízo final, a eternidade, o inferno e o Paraíso.

E precisamente assim nós assumimos a responsabilidade pelo mundo e construímos um mundo melhor.

A Virgem Maria, que do céu vigia sobre nós, nos ajude a não esquecer que aqui, na terra, estamos apenas de passagem, e nos ensine a preparar-nos para nos encontrarmos com Jesus que «está à direita do Pai Omnipotente: de lá virá julgar os vivos e os mortos».

 

Papa Bento XVI, Angelus, 12 de Agosto de 2007

LITURGIA EUCARÍSTICA

 

Monição do ofertório

 

As oferendas que apresentamos no altar, pelas mãos do sacerdote, sirvam para tornar presente o acontecimento mais relevante da manifestação do amor de Deus para connosco: a presença real do seu Filho, como garante de que a história de cada um de nós, cheia de acontecimentos absurdos e dramáticos, acabará de maneira gloriosa.

 

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS: Aceitai benignamente, Senhor, os dons que Vós mesmo concedestes à vossa Igreja e transformai-os, com o vosso poder, em sacramento da nossa salvação. Por Nosso Senhor…

 

SANTO

 

Monição da Comunhão

 

Cristo ressuscitado e presente no meio de nós, através do Seu Corpo e Sangue, mostra-nos como é grande o seu amor por nós. Conservemo-lo presente no nosso coração de modo a que saibamos aproveitar todas as oportunidades que se nos apresentam para renovar a nossa fé, revitalizar a nossa esperança e esperar a Sua vinda, de modo que ela não seja em vão.

 

Sl 147,12.14

ANTÍFONA DA COMUNHÃO: Louva, Jerusalém, o Senhor, que te saciou com a flor da farinha.

 

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO: Nós Vos pedimos, Senhor, que a comunhão do vosso sacramento nos salve e nos confirme na luz da vossa verdade. Por Nosso Senhor…

 

 

RITOS FINAIS

 

Monição final

 

Que a celebração desta Eucaristia tenha constituído para todos nós uma constatação de coragem e esperança para o futuro; que continuemos vigilantes para aguardar com confiante expectativa a vinda do Senhor, que chega nos momentos mais inesperados; e que respondamos sempre sem desânimo e cheios de fé às vicissitudes da vida, com a prontidão que caracterizou a atitude de Abraão e de Sara.

 

 

HOMILIAS FERIAIS

 

19ª SEMANA

 

2ª Feira, 12-VIII: S. Teresa Benedita da Cruz: O heroísmo de cada dia.

Os 2, 16, 21-22 / Mt 25, 1-13

Farei de ti minha esposa para sempre, desposar-te-ei segundo a justiça e o direito, por amor e misericórdia.

Celebramos hoje a festa de uma das Padroeiras da Europa, nomeada pelo Papa João Paulo II. Recebeu o chamamento de Deus: «Farei de ti minha esposa fiel, e tu hás-de conhecer o Senhor» (Leit.). Ao longo da sua vida foi preparando o encontro com o Senhor, enchendo de ‘azeite’ a ‘lâmpada da sua vida’ (Ev.), que culminou no martírio.

A Europa precisa sempre do testemunho dos seus filhos e filhas. Há uma maneira desleixada de percorrer os caminhos de Deus (virgens insensatas) e uma maneira heróica (virgens prudentes), que consiste e viver com fidelidade o ‘martírio’ das coisas pequenas, realizadas com muito amor de Deus e ao próximo.

 

3ª Feira, 13-VIII: S. Lourenço: A fecundidade do sofrimento.

Cor 9, 6-10 / Jo 12, 24-26

Se o grão de trigo cair na terra e não morrer, fica só ele; mas, se morrer, dá muito fruto.

S. Lourenço, diácono do Papa Sisto II, sofreu o martírio poucos dias depois do deste Papa, durante a perseguição de Valeriano.

Graças ao seu martírio, e ao de tantos outros, nos primeiros séculos, a Igreja foi-se expandindo pelo mundo inteiro: «o sangue dos mártires é a semente dos cristãos» ou «quem semeia com largueza também colherá com largueza» (Leit.). Participemos também nesta sementeira oferecendo as contrariedades de cada dia, os sacrifícios para superar os obstáculos. São coisas pequenas, mas é o nosso «grão de trigo» (Ev.), que dará frutos abundantes, que só conheceremos no Céu.

 

4ª Feira, 14-VIII: Modos de presença de Deus.

Ez 9, 1-7; 10, 18-22 / Mt 18, 15-20

Pois, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estarei eu no meio deles.

Precisamos convencer-nos de que Cristo está presente, vive e actua na Igreja: «Deus está sempre presente na sua Igreja, sobretudo nas acções litúrgicas. Está presente no sacrifício da Missa… Está presente com a sua virtude nos Sacramentos… Está presente na sua Palavra… Está presente, enfim, quando a Igreja reza e canta os Salmos, Ele que prometeu: ‘Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles (Ev.)» (CIC, 1088). E também está presente naquele que sofre: «Assinala com uma cruz na testa os homens que gemem e se lamentam, por causa das acções abomináveis que nela se praticam» (Leit.).

 

5ª Feira, 15-VIII: Ver o próximo com os olhos de Deus.

Ez 1, 1-12 / Mt 18, 21-19, 1

Assim vos há-de fazer também meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão do íntimo do coração.

É inevitável que, no nosso dia, apareçam pequenos conflitos: as discussões caseiras, os gestos que incomodam, os aborrecimentos do trânsito, etc. O Senhor pede-nos que procuremos perdoar do íntimo do coração (Ev.).

«O amor ao próximo consiste precisamente no facto de que amo, em Deus e com Deus, a pessoa que não me agrada ou que nem sequer conheço… Aprendo a ver aquela pessoa já não somente com os meus olhos e sentimento, mas também segundo a perspectiva de Cristo. O seu amigo é meu amigo» (Deus é amor, 18).

 

6ª Feira, 16-VIII: O restabelecimento da dignidade do matrimónio.

Ez 16, 59-63 / Mt 19, 3-12

Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos permitiu despedir as vossas mulheres. Mas, ao princípio, não foi assim.

Jesus quer devolver a dignidade do matrimónio à sua pureza original, tal como foi instituído por Deus no princípio da criação (Ev.). Infelizmente o ambiente continua a desfigurar esta dignidade: «O valor da indissolubilidade matrimonial é cada vez mais ignorado; reclamam-se formas de reconhecimento legal para as convivências de facto, equiparando-as aos matrimónios legítimos; não faltam tentativas para serem aceites modelos com casais onde a diferença sexual não resulta essencial» (J. Paulo II).

Rezemos para que tudo volte à normalidade: «Pois eu é que hei-de restabelecer a minha Aliança contigo, e então reconhecerás que Eu sou o Senhor» (Leit.).

 

Sábado, 17-VIII: Um coração novo e uma alma nova.

Ez 18, 1-10. 13. 30-32 / Mt 19, 13-15

Deixai as criancinhas e não as impeçais de se aproximarem de mim, que o reino dos Céus é daqueles que são como elas.

Tornar-se criança diante de Deus é a condição para receber a Revelação de Deus e também para entrar no reino dos Céus (Ev.). Que significa tornar-se criança diante de Deus? É necessário «um coração contrito e confiante que nos faça voltar ao estado de crianças» (CIC, 2785).

Além disso, precisamos converter-nos e criar um coração novo e uma alma nova: «Convertei-vos e renunciai a todas as vossas culpas, para não terdes mais ocasião de pecar. Lançai para longe de vós todas as faltas que praticastes e criai um coração novo e uma alma nova» (Leit.).

 

 

 

 

 

 

Celebração e Homilia:         ANTÓNIO E. PORTELA

Nota Exegética:                    GERALDO MORUJÃO

Homilias Feriais:                  NUNO ROMÃO

Sugestão Musical:                DUARTE NUNO ROCHA

Facebook
Twitter
LinkedIn

Biblioteca Presbíteros