Roteiro Homilético – II Domingo da Quaresma – Ano C

RITOS INICIAIS

 

Salmo 26, 8-9

ANTÍFONA DE ENTRADA: Diz-me o coração: «Procurai a face do Senhor». A vossa face, Senhor, eu procuro; não escondais de mim o vosso rosto.

 

Ou

cf. Salmo 24, 6.3.22

Lembrai-vos, Senhor, das vossas misericórdias e das vossas graças que são eternas. Não triunfe sobre nós o inimigo. Senhor, livrai-nos de todo o mal.

 

Não se diz o Glória.

 

Introdução ao espírito da Celebração

 

A Quaresma é um tempo favorável à nossa conversão, é um tempo propício para deixarmos o homem velho e revestir-nos do homem novo, identificando-nos com Cristo.

A Transfiguração de Jesus no Monte Tabor, que o Evangelho de hoje nos relata, lembra-nos que, através do esforço e da penitência quaresmal por seguir Cristo na sua Paixão, chegaremos também nós à alegria da sua Ressurreição gloriosa.

 

ORAÇÃO COLECTA: Deus de infinita bondade, que nos mandais ouvir o vosso amado Filho, fortalecei-nos com o alimento interior da vossa palavra, de modo que, purificado o nosso olhar espiritual, possamos alegrar-nos um dia na visão da vossa glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

 

LITURGIA DA PALAVRA

 

Primeira Leitura

 

Monição: Abraão aparece-nos na passagem da Bíblia que vamos escutar como modelo de fé. Pela fé agradou a Deus e tornou-se pai de todos os crentes; da sua numerosa descendência nasceria o Salvador.

 

Génesis 15, 5-12.17-18

Naqueles dias, 5Deus levou Abraão para fora de casa e disse-lhe: «Olha para o céu e conta as estrelas, se as puderes contar». E acrescentou: «Assim será a tua descendência». 6Abrão acreditou no Senhor, o que lhe foi atribuído em conta de justiça. 7Disse-lhe Deus: «Eu sou o Senhor que te mandou sair de Ur dos caldeus, para te dar a posse desta terra». 8Abrão perguntou: «Senhor, meu Deus, como saberei que a vou possuir?» 9O Senhor respondeu-lhe: «Toma uma vitela de três anos, uma cabra de três anos e um carneiro de três anos, uma rola e um pombinho». 10Abrão foi buscar todos esses animais, cortou-os ao meio e pôs cada metade em frente da outra metade; mas não cortou as aves. 11Os abutres desceram sobre os cadáveres, mas Abraão pô-los em fuga. 12Ao pôr do sol, apoderou-se de Abraão um sono profundo, enquanto o assaltava um grande e escuro terror. 17Quando o sol desapareceu e caíram as trevas, um brasido fumegante e um archote de fogo passaram entre os animais cortados. 18Nesse dia, o Senhor estabeleceu com Abraão uma aliança, dizendo: «Aos teus descendentes darei esta terra, desde o rio do Egipto até ao grande rio Eufrates».

 

Num texto dotado de grande beleza, deixa-se-nos ver como é que a promessa divina de dar em posse a terra de Canaã à descendência da Abraão (Gn 12, 7) se haverá de cumprir, apesar de não ter filhos da sua esposa Sara (v. 3); aqui esta promessa aparece rubricada com um tradicional rito de aliança. O comentário que se segue pode bem servir para a lectio divina.

6 «Abrão acreditou». «A fé de Abraão consiste em crer numa promessa humanamente irrealizável. Deus reconheceu-lhe o mérito deste acto (cf. Dt 24, 13; Salm 105, 31), o que lhe foi atribuído em conta de justiça, já que o «justo» é o homem a quem a sua rectidão e a sua submissão tornam agradável a Deus. S. Paulo utiliza este texto para provar que a justificação depende da fé e não das obras da Lei; mas a fé de Abraão determina a sua conduta, é princípio de acção, por isso S. Tiago pode invocar o mesmo texto para condenar a fé ‘morta’, sem as obras da fé» (Bíblia de Jerusalém); cf. Rom 4, 9-12 e Tg 2, 21-23. A fé de Abraão é posta em evidência não apenas aqui, ao crer na promessa de Deus, mas também ao obedecer para deixar a sua terra (Gn 12, 4) e para sacrificar o seu filho Isac (Gn 22, 1-4).

8-10 «Como saberei que a vou possuir?» A narrativa alcança uma extraordinária beleza e dramatismo. Com efeito, Abraão, apesar de não ter dúvidas (como se disse para a promessa da descendência: v. 6), pede um sinal a Deus. E Deus não se limita a dar um sinal, mas condescen­de até ao ponto de mandar dispor as coisas para a celebração de um rito de aliança segundo os costumes da época: manda esquartejar uma vitela, uma cabra e um carneiro. Então havia o costume de selar alianças com este rito, para nós estranho, mas muito significativo: aqueles que faziam um contrato passavam entre as metades a sangrar de animais esquartejados invocando sobre si a mesma sorte daqueles animais sacrificados, caso viessem a falhar ao contrato ou aliança (cf. Jer 34, 18-19).

11-12 «Os abutres desceram… Um sono profundo… um grande e escuro terror». Mais uma vez a narrativa apresenta Deus a pôr à prova Abraão, e precisamente na mesma ocasião em que lhe dava um sinal; com efeito, apesar de Abraão ter tudo preparado, Deus atrasa a sua manifestação (vv. 17-18); mas Abraão não desiste de esperar, enquanto ia afugentando as aves de rapina, até que o dia chega ao fim, o momento em que o Patriarca se sente exausto e sobretudo angustiado interiormente, a ponto de se interrogar se tudo isto não teria sido uma ilusão. Matar todos aqueles animais não teria sido uma loucura? Cai a noite – também os místicos falam da «noite escura» –, mas Abraão não arreda pé, porque está certo de que Deus não pode falhar.

17 «Um brasido fumegante e um archote de fogo». Eis senão quando Deus se manifesta nestes dois símbolos que «passaram por entre os animais cortados»: assim Deus é apresentado a dizer-lhe veladamente, mas com a suficiente clareza para um homem de fé, que Ele mantinha firme a sua palavra, que a promessa não deixaria de vir a realizar-se! Note-se que este rito de aliança não é bilateral (como o do Sinai, em Ex 24, 6-8); para que se efective aquilo que é mera iniciativa divina, obra de Deus, basta a sua fidelidade; ao homem apenas compete dispor as coisas para que Deus actue – partir os animais – e não estorvar a acção divina – sacudir as aves de rapina. «chamae o fumo simbolizam a Deus; a chama, por ser brilhante e quase imaterial e o fumo por ser impenetrável à vista, representavam a invisibilidade de Deus; cf. Ex 3, 2; 19, 18; 24, 17» (E. F. Sutcliffe). Os antigos semitas, como os beduínos ainda hoje, utilizavam um forno portátil, com a forma de cone truncado, para cozer o pão; quando estava bem quente tiravam a lenha e introduziam a massa.

18 «Aos teus descendentes darei esta terra, desde a torrente do Egipto…», isto é, desde o wadi El-Arixe, que corre na época das chuvas do Sinai para o Mediterrâneo (não se trata do Nilo); nos tempos de Salomão o povo teve estes limites (cf. 1 Re 5, 1), uns limites ideais, «até ao Eufrates», no Iraque. Com estas palavras Deus aparece como o Senhor da Terra e o Senhor da História.

 

Salmo Responsorial

Sl 26 (27), 1.7-8.9abc.13-14 (R. 1a)

 

Monição: O Salmo Responsorial exprime a alegria dos crentes, fundamentada numa esperança inabalável de vir a contemplar um dia o rosto de Deus.

 

Refrão:        O SENHOR É A MINHA LUZ E A MINHA SALVAÇÃO.

 

O Senhor é minha luz e salvação:

a quem hei-de temer?

O Senhor é protector da minha vida:

de quem hei-de ter medo?

 

Ouvi, Senhor, a voz da minha súplica,

tende compaixão de mim e atendei-me.

Diz-me o coração: «Procurai a sua face».

A vossa face, Senhor, eu procuro.

 

Não escondais de mim o vosso rosto,

nem afasteis com ira o vosso servo.

Não me rejeiteis nem me abandoneis,

meu Deus e meu Salvador.

 

Espero vir a contemplar a bondade do Senhor

na terra dos vivos.

Confia no Senhor, sê forte.

Tem coragem e confia no Senhor.

 

Segunda Leitura *

 

* O texto entre parêntesis pertence à forma longa e pode ser omitido.

 

Monição: Só há duas maneiras de viver nesta terra: ou vivemos como filhos de Deus, cuja pátria está nos céus, ou vivemos como animais, tendo por deus o ventre, só apreciando as coisas da terra. É o que nos diz S. Paulo na passagem da sua carta aos Filipenses que vamos ouvir.

 

Forma longa: Filipenses 3, 17 – 4,1              Forma breve: Filipenses 3, 20 – 4, 1

Irmãos: [17Sede meus imitadores e ponde os olhos naqueles que procedem segundo o modelo que tendes em nós. 18Porque há muitos, de quem tenho falado várias vezes e agora falo a chorar, que procedem como inimigos da cruz de Cristo. 19O fim deles é a perdição: têm por deus o ventre, orgulham-se da sua vergonha e só apreciam as coisas terrenas. 20Mas] a nossa pátria está nos Céus, donde esperamos, como Salvador, o Senhor Jesus Cristo, 21que transformará o nosso corpo miserável, para o tornar semelhante ao seu corpo glorioso, pelo poder que Ele tem de sujeitar a Si todo o universo. 4,1Portanto, meus amados e queridos irmãos, minha alegria e minha coroa, permanecei firmes no Senhor.

 

O Apóstolo incita os fiéis a viverem como «cidadãos do Céu» (v. 20), segundo o seu exemplo.

17 «Sede meus imitadores». S. Paulo tem a consciência plena de que, com todas as veras da sua alma, é um imitador de Cristo (1 Cor 11, 1), por isso é que se atreve a falar desta maneira tão arrojada (cf. 4, 9; 1 Cor 4, 16; 1Tes 1, 6; 2 Tes 3, 7.9).

18-21 Os «inimigos da Cruz de Cristo», que «se orgulham da sua vergonha», devem ser, mais provavelmente, os judaizantes, a quem Paulo visa nesta parte da sua carta (cf. 3, 1b ss), os quais antepõem ao valor salvífico da Paixão do Senhor a prática do rito da circuncisão, orgulhando-se de um sinal no membro viril, que o pudor e a decência obriga a esconder, e dogmatizam as prescrições alimentares (o ventre), endeusando-as; também poderia ser uma censura dirigida a cristãos moralmente depravados, o que é menos provável, dado o contexto em que Paulo está a falar. Não é deste corpo miserável (com marcas, como as da circuncisão, e com tantas limitações e mazelas) que o cristão se deve orgulhar, mas da sua condição de ressuscitado com Cristo, que lhe garantirá um futuro corpo glorioso, que transcende o próprio «universo» (v. 21).

«A nossa pátria está nossos Céus» (cf. Hbr 13, 14; 1 Pe 2, 11). A verdadeira pátria, da qual andamos como que desterrados, «os degredados filhos de Eva», é o Céu; mas, enquanto aqui «gememos» (cf. 2 Cor 5, 1-14), não estamos dispensados de cumprir os nossos deveres e exercer os nossos direitos de cidadãos da pátria terrestre; e, se os não cumprimos responsavelmente como cidadãos da pátria terrestre, também não podemos chegar à pátria celeste; por isso, nada é mais falso do que entender a fé cristã como ópio do povo.

 

Aclamação ao Evangelho       

 

Monição: Escutemos com fé o Evangelho de Jesus Cristo. Ele é a Palavra salvadora que o Pai enviou a todos os homens.

 

No meio da nuvem luminosa, ouviu-se a voz do Pai: «Este é o meu Filho muito amado: escutai-O».

 

 

Evangelho

 

São Lucas 9, 28b-36

Naquele tempo, 28bJesus tomou consigo Pedro, João e Tiago e subiu ao monte, para orar. 29Enquanto orava, alterou-se o aspecto do seu rosto e as suas vestes ficaram de uma brancura refulgente. 30Dois homens falavam com Ele: eram Moisés e Elias, 31que, tendo aparecido em glória, falavam da morte de Jesus, que ia consumar-se em Jerusalém. 32Pedro e os companheiros estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com Ele. 33Quando estes se iam afastando, Pedro disse a Jesus: «Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias». Não sabia o que estava a dizer. 34Enquanto assim falava, veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra; e eles ficaram cheios de medo, ao entrarem na nuvem. 35Da nuvem saiu uma voz, que dizia: «Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O». 36Quando a voz se fez ouvir, Jesus ficou sozinho. Os discípulos guardaram silêncio e, naqueles dias, a ninguém contaram nada do que tinham visto.

 

Convém, antes de mais, notar um pormenor cronológico omitido na leitura litúrgica, mas nada despiciendo: «cerca de oito dias depois», em vez do habitual «naquele tempo». Com efeito, em todos os três Sinópticos, não é sem razão que se estabelece uma das raras ligações cronológicas entre este relato e o relato da confissão de fé de Pedro e do 1º anúncio da Paixão e Morte de Jesus. É uma ligação de grande alcance teológico: por um lado, a fé de Pedro é confirmada e ilustrada de forma singular com a glória divina que Jesus manifesta na sua Transfiguração; por outro, indica-se que a Cruz é o caminho da glória, como para Jesus, assim para os seus discípulos (per crucem ad lucem).

28 «Subiu ao monte para orar». O monte Tabor (562 m), na Galileia, segundo a tradição, ou, segundo muitos hoje pensam baseados em Mt 17, 1 e Mc 9, 2 que falam de «um monte elevado», o monte Hermon, sobranceiro a Cesareia de Filipe, no maciço central da Síria (o Antilíbano) com 2.759 metros, a região por onde Jesus então andava (cf. Mc 8, 27; 9, 1). S. Lucas é o único a notar que Jesus subiu ali para fazer oração; também não diz que se transfigurou, mas que «se alterou o aspecto do seu rosto…», certamente com a preocupação de que os seus primeiros leitores de ambientes greco-romanos não pensassem que se tratava de alguma metamorfose própria das religiões mistéricas. Mas a transfiguração de Jesus não deixa de apontar para a nossa própria transfiguração pela graça do Espírito do Senhor, como diz S. Paulo em 2 Cor 3, 18: «todos nós…, que reflectimos como num espelho a glória do Senhor vamos sendo transformados na sua própria imagem, cada vez mais gloriosa…».

31 «Falavam da morte d’Ele». Também só o 3.° Evangelho diz o assunto da conversa de Jesus com Moisés e Elias. Falavam da «saída» de Jesus, como se expressa o original grego, que a nossa tradução interpretou como «a morte», mas que também se poderia referir à Ascensão (menos provável); de qualquer modo, o uso do termo grego êxodo pode aludir ao carácter libertador da morte de Jesus, numa alusão à libertação da escravidão do Egipto.

32-33 «Estavam a cair de sono; mas, despertando…» Este pormenor exclusivo de Lucas pressupõe que a Transfiguração se deu de noite, enquanto Jesus fazia oração, pois gostava de orar de noite (cf. Lc 6, 12; Mc 6, 46). A proposta de Pedro de construir «três tendas» (de ramos), tem na devida conta a diferente dignidade de cada um e pretende prolongar aquele êxtase feliz.

35 «Este é o meu Filho, o meu Eleito». A Transfiguração é um confirmar da fé daquele núcleo duro dos Doze, as «colunas» do Colégio Apostólico; assim, o próprio Pai apresenta Jesus como o seu Filho. S. Lucas, em vez de «o Amado» (cf. Mt 17, 5; Mc 9, 7), diz: «o meu Eleito», que é mais uma forma (e mais clara) de O designar como o Messias (cf. Lc 23, 35; Is 42, 1). Comenta S. Tomás de Aquino: «Apareceu toda a Trindade, o Pai na voz, o Filho no homem, o Espírito na nuvem luminosa» (Sum. Th. 3, 45, 4, ad 2).

36 «Guardaram silêncio», por ordem de Jesus (Mc 9, 9-10) que pretende, a todo o custo, evitar a agitação popular à sua volta.

 

Sugestões para a homilia

 

1.     A nossa pátria está nos Céus.

2.     Jesus Cristo é a nossa esperança.

1. A nossa pátria está nos Céus.

Contemplamos, neste 2º Domingo da Quaresma, a manifestação da glória divina de Jesus Cristo, Filho muito amado do Pai, a três dos seus discípulos, no alto do Monte Tabor. Desde o momento em que foi concebido no ventre puríssimo de Maria, por obra do Espírito Santo, a sua Divindade estava oculta na sua Humanidade. O Senhor quis manifestar, por uns momentos, o esplendor da sua glória, para animar os seus discípulos a seguir com firmeza o caminho difícil e áspero da sua Paixão e Morte e mover-nos ao desejo da glória divina, que nos será dada também a nós. As circunstâncias da Transfiguração do Senhor, imediatamente após o anúncio da sua Paixão e de que também os seus discípulos teria de abraçar a cruz, ajudam-nos a compreender que «a nossa Pátria está nos Céus» (2ª leitura) e que «os sofrimentos do tempo presente não são comparáveis com a glória futura que se há-de manifestar em nós» (Rom. 8, 18) e que «se sofremos com Cristo, com Ele seremos também glorificados» (Rom. 8, 16-17).

A Transfiguração do Senhor é, pois, um sinal e uma antecipação não só da glorificação de Cristo na sua Ressurreição, mas também da nossa própria glorificação, quando formos revestidos do fulgor da glória de Deus e «o nosso corpo miserável se tornar semelhante ao Corpo glorioso de Jesus» (2º leitura).

2. Jesus Cristo é a nossa esperança.

Toda a Quaresma é uma ocasião privilegiada para participar das graças da salvação: «é um tempo favorável, é o dia da Salvação». Somos todos convidados à conversão e ao aumento da esperança na acção da graça divina: Cristo destruiu a morte e fez brilhar a vida e a imortalidade. Pelo seu Sacrifício renovado nos nossos altares, Ele «lava os nossos pecados» (Oração sobre os dons) e «purifica o nosso olhar espiritual com o alimento interior da sua Palavra» (Colecta), conduzindo-nos para a visão da sua glória. Coragem, pois! Tenhamos esperança no Senhor! Coração firme! Cristo é a nossa esperança!

Escutemos o Senhor na Sua Palavra, conservada na Sagrada Escritura. Escutemos o Senhor nos próprios acontecimentos da nossa vida. Escutemos o Senhor nos nossos irmãos, em especial nos pobres e nos pequeninos. Escutemos Cristo e obedeçamos aos seus apelos. Não fechemos os nossos corações. Enquanto vivemos na terra, o nosso relacionamento com Deus realiza-se mais na escuta que na visão.

Peçamos a intercessão da Virgem Maria e procuremos fazer como ela, que caminhava dia após dia na peregrinação da fé (Cfr. Lúmen Gentium, 58), conservando e meditando constantemente a Palavra que Deus lhe dirigia.

 

Fala o Santo Padre

 

«Só quem reza, isto é, quem se confia a Deus com amor filial, pode entrar na vida eterna.»

Neste segundo domingo de Quaresma, o evangelista Lucas ressalta que Jesus subiu ao monte «para rezar» (9, 28) juntamente com os apóstolos Pedro, Tiago e João e, «enquanto rezava» (9, 29), verificou-se o mistério luminoso da sua transfiguração. Para os três Apóstolos subir ao monte significou ser incluídos na oração de Jesus, que se retirava com frequência em oração, especialmente ao alvorecer e depois do pôr-do-sol, e por vezes durante toda a noite. Mas só daquela vez, no monte, Ele quis manifestar aos seus amigos a luz interior com que era cumulado quando rezava: o seu rosto lemos no Evangelho iluminou-se e as suas vestes deixaram transparecer o esplendor da Pessoa divina do Verbo encarnado (cf. Lc 9, 29).

Há outro pormenor, precisamente da narração de São Lucas, que merece ser ressaltado: isto é, a indicação do objecto da conversação de Jesus com Moisés e Elias, que surgiram ao Seu lado, transfigurado. Eles narra o Evangelista «falavam da sua partida (em grego exodos), que teria realizado em Jerusalém» (9, 31). Portanto, Jesus ouve a Lei e os Profetas que lhe falam da sua morte e ressurreição. No seu diálogo íntimo com o Pai, Ele não sai da história, não evita a missão para a qual veio ao mundo, mesmo se sabe que para chegar à glória deverá passar pela Cruz.

Aliás, Cristo entra mais profundamente nesta missão, aderindo completamente à vontade do Pai, e mostra-nos que a verdadeira oração consiste precisamente em unir a nossa vontade à de Deus.

Portanto, para um cristão rezar não significa evadir-se da realidade e das responsabilidades a que ela obriga, mas assumi-las totalmente, confiando no amor fiel e inexaurível do Senhor. Por isso, a prova da transfiguração é, paradoxalmente, a agonia no Getsémani (cf. Lc 22, 39-46). Na iminência da paixão, Jesus experimentará a angústia mortal e entregar-se-á à vontade divina; naquele momento a sua oração será penhor de salvação para todos nós. De facto, Cristo suplicará o Pai celeste para que o «liberte da morte» e, como escreve o autor da carta aos Hebreus, «foi atendido por causa da sua piedade» (5, 7). A ressurreição dá provas desse atendimento favorável.

Queridos irmãos e irmãs, a oração não é um acessório, um opcional, mas é questão de vida ou de morte. Só quem reza, isto é, quem se confia a Deus com amor filial, pode entrar na vida eterna, que é o próprio Deus. Durante este tempo de Quaresma, pedimos a Maria, Mãe do Verbo encarnado e Mestra de vida espiritual, que nos ensine a rezar como fazia o seu Filho, para que a nossa existência seja transformada pela luz da sua presença.

 

Papa Bento XVI, Angelus, Domingo, 4 de Março de 2007

 

LITURGIA EUCARÍSTICA

 

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS: Esta oblação, Senhor, lave os nossos pecados e santifique o corpo e o espírito dos vossos fiéis, para celebrarmos dignamente as festas pascais. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

Prefácio

 

A transfiguração do Senhor

 

V. O Senhor esteja convosco.

R. Ele está no meio de nós.

 

V. Corações ao alto.

R. O nosso coração está em Deus.

 

V. Dêmos graças ao Senhor nosso Deus.

R. É nosso dever, é nossa salvação.

 

Senhor, Pai santo, Deus eterno e omnipotente, é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação dar-Vos graças, sempre e em toda a parte, por Cristo nosso Senhor.

Depois de anunciar aos discípulos a sua morte, manifestou-lhes no monte santo o esplendor da sua glória, para mostrar, com o testemunho da Lei e dos Profetas, que pela sua paixão alcançaria a glória da ressurreição.

Por isso, com os Anjos e os Santos do Céu, proclamamos na terra a vossa glória, cantando numa só voz:

 

Santo, Santo, Santo.

 

Monição da Comunhão

 

Antes de nos aproximarmos da Santíssima Eucaristia, para recebermos o Corpo do Senhor, vejamos se estamos devidamente preparados e nos encontramos dispostos a cumprir com fidelidade os Mandamentos da Lei de Deus e andamos de bem com todos os nossos irmãos. Só assim poderemos comungar, como verdadeiros amigos de Deus.

 

Mt 17, 5

ANTÍFONA DA COMUNHÃO: Este é o meu Filho muito amado, no qual pus as minhas complacências. Escutai-O.

 

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO: Alimentados nestes gloriosos mistérios, nós Vos damos graças, Senhor, porque, vivendo ainda na terra, nos fazeis participantes dos bens do Céu. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

 

RITOS FINAIS

 

Monição final

 

Assim como Cristo pela sua Paixão chegou à glória da Ressurreição, assim também nós, pela penitência quaresmal, chegaremos à alegria das festas pascais.

 

 

 

Celebração e Homilia:         ALFREDO MELO

Nota Exegética:                    GERALDO MORUJÃO

Homilias Feriais:                  NUNO ROMÃO

Sugestão Musical:                DUARTE NUNO ROCHA

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