Mons. José Maria Pereira
No dia 13 de agosto de 1815, há 194 anos atrás, era ordenado na França, com 29 anos de idade, João Maria Vianney.
Talvez, para muitos dos leitores, João Maria Vianney, o Cura de Ars, seja um desconhecido. Tentarei situá-lo brevemente.
Nasceu em 08 de maio de 1786, em Dardilly, ao norte de Lyon, na França numa família de camponeses. Fez o catecismo e a primeira comunhão clandestinamente, durante a “caça aos padres”, promovida sob a Revolução Francesa; padres foram jogados na cadeia e também assassinados. Quando a paz voltou, Vianney, já com 20 anos, foi alfabetizado; queria estudar e na sua aldeia não havia escola.
Embora tivesse em alto grau a esperteza e a inteligência prática dos camponeses, encontrou enormes dificuldade nos estudos de filosofia e teologia, especialmente o latim. Os superiores pensaram em não ordená-lo. Mas, como faltavam sacerdotes, por causa das perseguições ainda recentes, acabou por receber o sacerdócio no dia 13 de agosto de 1815. O vigário episcopal disse: “Seja! Vamos ordená-lo. A Graça de Deus cuidará do resto”.
Já houve quem o descreveu como “burrinho”, talvez por desprezo, pois sem inteligência ele não era. Ao visitar a sua humilde casa paroquial em Ars, ainda hoje existente, eu mesmo pude observar ali vários livros bem volumosos, que lhe pertenceram, sublinhados e anotados à margem. Eram até muitos para uma época em que os livros não eram abundantes, nem acessíveis, como hoje.
Depois de três anos como coadjutor do Pe. Balley, foi enviado para Ars, um dos últimos vilarejos da diocese: apenas 230 pessoas moravam em Ars; tinha a fama de terra sem Deus, onde a fé cristã e as práticas religiosas tinham caído no esquecimento.
Ao ser nomeado, o Cura recebeu esta recomendação: “em Ars não há muito amor a Deus, mas o Senhor o despertará’. Era como ser mandado ao deserto, para fazê-lo florir… O Cura não se deixou desanimar e acolheu o encargo como missão recebida de Deus, pondo-se logo a trabalhar. Visitava as famílias e as pessoas doentes, rezava muito, estava sempre na Igreja, celebrava as Missas, atendia as confissões… no início, ficava praticamente sozinho; aos poucos, porém, o povo reconheceu nele um homem de Deus. Nos últimos anos de sua vida chagava a passar dezesseis horas, por dia, no confessionário.
No início rezava: “Meu Deus, concedei-me a conversão de minha paróquia…”
Por fim, pôde proclamar do púlpito: “Ars não é mais Ars”. A obscura aldeia de Ars, aos poucos, tornou-se conhecida em toda a região e até nos palácios de Paris. O povo chegava em peregrinações para ver e ouvir o humilde Cura. Eram pessoas simples e também instruídas. Esperavam horas na fila para se confessarem com ele. Em 1830, passaram por Ars quase trinta mil pessoas, querendo encontrar o Cura.
Em 1858, ano anterior à sua morte, os visitantes chegaram a oitenta mil. Com tanta gente, às vezes era preciso esperar três a quatro dias para poder falar com ele.
Era profunda a impressão de santidade que causava nas pessoas: “Para crer na presença do sobrenatural – disse alguém dele -, bastava olhá-lo”. Ou, nas palavras de um humilde vinhateiro: “Vi Deus num homem”.
A vida de S. João Maria Vianney, o Cura de Ars, neste Ano Sacerdotal, desperta em todos os cristãos e de modo especial nos sacerdotes uma conversão, uma busca mais sincera de Deus, uma vida mais santa.
No mês Vocacional, vale a pena deixar que o próprio S. João Maria Vianney nos fale do Sacerdócio.
Falava do Sacerdócio como se não conseguisse alcançar plenamente a grandeza do dom e da tarefa confiados a uma criatura humana: “Oh como é grande o padre!… Se lhe fosse dado compreender-se a si mesmo, morreria… Deus obedeceu-lhe: ele pronuncia duas palavras e, à sua voz, Nosso Senhor desce do céu e encerra-se numa pequena hóstia”. E, ao explicar aos seus fiéis a importância dos sacramentos, dizia: “sem o sacramento da Ordem, não teríamos o Senhor. Quem O colocou ali naquele Sacrário? O Sacerdote. Quem acolheu a vossa alma no primeiro momento do ingresso na vida? O Sacerdote. Quem a alimenta para lhe dar a força de realizar de realizar a sua peregrinação? O Sacerdote. Quem a há de preparar para comparecer diante de Deus, lavando-a pela última vez no sangue de Jesus Cristo? O Sacerdote, sempre o Sacerdote. E se esta alma chega a morrer (pelo pecado), quem a ressuscitará, quem lhe restituirá a serenidade e a paz? Ainda o Sacerdote. Depois de Deus, o Sacerdote é tudo! Ele próprio não se entenderá bem a si mesmo, senão no céu”.
Que o Senhor conceda a todos nós Sacerdotes, a graça de aprendermos com o Cura de Ars a verdadeira e total identificação com o próprio ministério. E que o seu exemplo desperte em muitos rapazes o desejo de seguir a Cristo como Sacerdotes!