Mensagem do prefeito da Congregação para o Clero aos sacerdotes na Quaresma 2011

Caríssimos Irmãos,

O tempo de graça, que nos é dado a viver em conjunto, chama-nos a uma conversão renovada, da mesma forma como sempre é novo o Dom do Sacerdócio ministerial, através do qual o Senhor Jesus torna-se presente nas nossas existências e, através delas, na vida de todos os homens. Conversão, para nós, Sacerdotes, significa, antes de tudo, adequar sempre mais a nossa vida à pregação, que cotidianamente nos é dado oferecer aos fiéis, tornando-nos, desse modo, “trechos do Evangelho vivente”, que todos podem ler e acolher.

Fundamento de uma tal atitude é, sem dúvida, a conversão à própria identidade: devemos converter-nos àquilo que somos! A identidade, recebida sacramentalmente e acolhida pela nossa humanidade ferida, demanda a progressiva conformação do nosso coração, da nossa mente, das nossas atitudes, de tudo quanto nós somos à imagem de Cristo Bom pastor, que, em nós, foi sacramentalmente impressa.

Devemos entrar nos Mistérios que celebramos, especialmente na Santíssima Eucaristia, e deixarmo-nos plasmar por eles; é na Eucaristia que o Sacerdote redescobre a própria identidade! É na celebração dos Divinos Mistérios que se pode perceber o “como” ser pastores e o “que” seja necessário fazer para sê-lo verdadeiramente ao serviço dos irmãos.

Um mundo descristianizado requer uma nova evangelização, mas uma nova evangelização reclama Sacerdotes “novos”, não certamente no sentido do impulso superficial de toda a efêmera moda passageira, mas naquele de um coração profundamente renovado por cada Santa Missa; renovado segundo a medida da caridade do Sacratíssimo Coração de Jesus, Sacerdote e Bom Pastor. Particularmente urgente é a conversão do rumor ao silêncio, do preocupar-nos com o “fazer” para o “estar” com Jesus, participando sempre mais conscientemente do Seu ser. Cada agir pastoral deve ser sempre eco e dilatação daquilo que o Sacerdote é!

Devemos converter-nos à comunhão, redescobrindo o que ela realmente é: comunhão com Deus e com a Igreja, e, nessa, com os irmãos. A comunhão eclesial caracteriza-se fundamentalmente pela consciência renovada e vivida de viver e anunciar a mesma Doutrina, a mesma tradição, a mesma história de santidade e, por isso, a mesma Igreja. Somos chamados a viver a Quaresma com profundo sentido eclesial, redescobrindo a beleza de estar em um êxodo do povo, que inclui toda a Ordem Sacerdotal e todo o nosso povo, que aos seus Pastores olha como a um modelo de segura referência e, desses, espera renovado e luminoso testemunho.

Devemos converter-nos à participação cotidiana no Sacrifício de Cristo sobre a Cruz. Como Ele disse e realizou perfeitamente aquela substituição vicária, que tornou possível e eficaz a nossa Salvação, assim cada sacerdote, alter Christus, é chamado, como os grandes santos, a viver em primeira pessoa o mistério de tal substituição, ao serviço dos irmãos, sobretudo na fiel celebração do Sacramento da Reconciliação, procurado para si mesmos e generosamente oferecido aos irmãos, em união à direção espiritual, e na cotidiana oferta da própria vida em reparação dos pecados do mundo. Sacerdotes serenamente penitentes diante do Santíssimo Sacramento, capazes de levar a luz da sabedoria evangélica e eclesial nas circunstâncias contemporâneas, que parecem desafiar a nossa fé, tornando-se na realidade autênticos profetas, capazes, por sua vez, de lançar ao mundo o único desafio autêntico: aquele do Evangelho, que chama à conversão.

Às vezes, o cansaço é muito grande e fazemos e experiência de sermos poucos, frente às necessidades da Igreja. Mas, se não nos convertemos, seremos sempre menos, porque somente um sacerdote renovado, convertido, “novo” torna-se instrumento através do qual o Espírito chama a novos sacerdotes.

À Beata Virgem Maria, Rainha dos Apóstolos, confiamos esse caminho quaresmal, implorando da Divina Misericórdia que, a partir do modelo da Mãe celeste, também o nosso coração sacerdotal torne-se “Refugium peccatorum”.

Cardeal Mauro Piacenza

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