Apascentador e apascentados
Sexta-feira, 7ª semana da Páscoa, C – At 25,13-21; Sl 102; Jo 21,15-19
“Apascenta os meus cordeiros” (Jo 21,15), é o pedido de Jesus a São Pedro e aos seus sucessores, os bispos de Roma, ou seja, os papas. No que diz respeito a nós, devemos ser ovelhas dóceis, obedientes ao Santo Padre, atualmente o Papa Francisco. Contudo, a nossa obediência ao Papa é livre e filial, já que nós somos seres humanos e ele é o pai comum de todos os cristãos.
Se o nosso pai ficasse bêbado e pelado, como Noé ao conhecer o vinho (cf. Gn 9,20-23), não poderíamos andar por aí expondo-o, mas com santa vergonha dessa situação, teríamos que ocultar o máximo possível aquilo que está acontecendo. O nosso respeito reverencial far-nos-á inclusive evitar comentários sobre o papel vergonhoso que o nosso pai está a fazer. E, contudo, é possível pensar, e inclusive dizer, caso seja necessário, que o nosso pai está bêbado e pelado.
De fato, houve momentos na história da Igreja nos quais os Papas passaram momentos bem difíceis de entorpecimento e de vergonha, bastaria mencionar alguns do chamado “século de ferro” ou outros do “renascimento”. Quiçá Deus permita essas situações, de vez em quando, para fazer com que os cristãos se apoiem mais nele do que nas forças humanas e nas estruturas, inclusive as da própria Igreja. Seguindo por essa lógica, há que afirmar que nada nem ninguém, nem mesmo a autoridade do Romano Pontífice, poderá, em momento algum da história, ordenar os cristãos a desobedecerem a Deus nem suas consciências quando bem formadas. Nenhum cristão está obrigado a obedecer ordens cujo cumprimento o faria ofender a Deus, uma vez que ninguém pode dar-lhe ordens para pecar. Por sua parte, o respeito às autoridades e, principalmente, a reverência ao Papa deve levar o cristão a ter certa desconfiança de seus próprios juízos sobre determinadas decisões da atualidade quando se referem ao Vigário de Cristo, já que ele não tem todos os dados para fazer um juízo sereno e verdadeiro, apesar de ter os elementos para dar um juízo certo.
Qualquer católico deve ter – como dizia São João Bosco – os três amores brancos: Eucaristia, Maria e Papa. Contudo, desses três, o único que deve receber adoração é Jesus. Maria é altamente respeitada por toda a Igreja e o Papa é reverenciado por todos os que se dignam levar o nome de católicos, os quais não são “papólatras”, mas, no máximo, “papófilos”, amigos e filhos espirituais do Papa. Efetivamente, a Palavra de Deus, Jesus Cristo (cf. Jo 1,1-14) se nos entrega na Igreja através da Tradição e das Escrituras, ensinadas pelo Magistério perene da Igreja. Todos nós, portanto, estamos a serviço da Palavra.
Certamente, um católico pode em certos momentos da história sentir-se perplexo diante de alguma afirmação de algum Papa, inclusive alguma que faça parte do seu Magistério. Em todo caso, rezemos sempre pelo Santo Padre, ao qual compete apascentar o rebanho do Senhor.
Padre Françoá Costa
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