Homilia Sexta-feira da XII Semana do Tempo Comum | Ano A

Sexta-feira da 12ª semana do Tempo Comum, 30/06/2023 – Mt 8,1-4

  • Graça e vontade

Jesus queria curar o leproso e o leproso quis ser curado. O vontade resolveu o problema do nosso leproso de hoje (Mt 8,1-4). Também nós podemos pedir a Jesus: queres? Procuremos escutar a resposta. Mas será que pode ser que ele não queira o que eu estou pedindo e que me parece tão importante? É possível. Aquilo que julgamos bom para nós e pedimos insistentemente, Deus, na sua omnisciência, poderia não estar de acordo. Desta maneira, não nos concederá determinada coisa ou talvez atrase a concessão da mesma. E nem adianta viver na ilusão. Não faz muito tempo escutei a história daquela senhora, diabética quase ao extremo, que acreditava tanto nas curas de Deus que afirmou a outra pessoa o seguinte: – “Jesus me curou, já não sou diabética?” A sua amiga respondeu-lhe: – “puxa vida, pena que ele se esqueceu de dar-lhe um pouco de cor, pois você está muito pálida; vejamos se realmente está curada: vá tomar um café com muito açúcar.” A diabética afirmou: – “não, eu ainda não posso”.

Estou a afirmar que Deus não cura? Não. Claro que o Senhor cura, liberta e faz milagres. De fato, ele acaba de curar o leproso (Mt 8,1-4). E não obstante, pode ser que em determinados momentos ele não o queira e permita que padeçamos porque ele sabe que tal sofrimento será para o nosso bem e para a glória de Deus: “Esta enfermidade não causará a morte, mas tem por finalidade a glória de Deus. Por ela será glorificado o Filho de Deus” (Jo 11,4). Infelizmente, alguns grupos cristãos têm satanizado toda e qualquer enfermidade, as doenças viriam do diabo e por isso seria preciso curar-se de qualquer jeito. Um dos grandes perigos dessa maneira de ver o sofrimento é a vinda do ateísmo. Explico-me: as pessoas que frequentam esses tipos de seitas, quando abrem os olhos e percebem que há anos vêm pedindo cura e, paradoxalmente, não recuperam a saúde desejada, podem vir a perder a fé em Deus. Mas, deixemo-lo claro: essas pessoas acreditam num Deus que não parece ser exatamente o Deus que é Pai e Filho e Espírito Santo. Tenho medo de que, com o passar do tempo, essa grande onda de curas e de milagres venha a desembocar num ateísmo cada vez maior e num secularismo que já não conhece a mensagem cristã, cujo centro é justamente o mistério da cruz que eclode no domingo da ressurreição.

Mas o fato é que no caso do leproso de hoje, Jesus quis a sua cura. Por quê? Ora, segundo Marcos, naquele homem enfermo, Jesus Cristo viu um “projeto de apóstolo”. E assim foi! “Este homem, porém, logo que se foi, começou a propagar e divulgar o acontecido, de modo que Jesus não podia entrar publicamente numa cidade. Conservava-se fora, nos lugares despovoados; e de toda parte vinham ter com ele” (Mc 1,45). O ex-leproso converteu-se então num mensageiro do Evangelho. Neste caso, a cura dele também foi para a glória de Deus! Em suma, tanto a nossa enfermidade quanto a nossa cura podem ser para o nosso bem e para a glória de Deus. Ele, que tem a visão de todas as coisas e conhece o mais íntimo de nós mais que nós mesmos, sabe o que será melhor no nosso caso concreto. Devemos abandonar-nos confiadamente nas mãos do Bom Deus, sem deixar de pedir para que o Senhor queira o que queremos, ainda que seja mais importante que nós queiramos o que ele quer.

Pe. Françoá Costa

Instagram: @padrefcosta

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