Homilia Segunda-feira da XIV Semana do Tempo Comum | Ano A

Segunda-feira da 14ª semana do Tempo Comum, 10/07/2023 – Mt 9,18-26

  • Fé luterana?

Jesus disse à hemorroíssa: “Ânimo, minha filha, tua fé te salvou” (Mt 9,22). Então quer dizer que a fé salva? Alguém já disse isso em algum momento da história, em concreto Martinho Lutero, um sacerdote agostiniano alemão que viveu no século XVI, homem de grande inteligência e de uma fina sensibilidade. Atormentado pelos seus escrúpulos de consciência e sentindo-se oprimido pelas normas da religião, passou por uma experiência que mudaria a sua vida. Leu Rm 1,17: “o justo viverá da fé”. Lutero entendeu que bastaria a fé, somente a fé, para salvar-se; as obras não contariam para nada nesse processo de salvação. A partir daquele momento, seria clássico o tripé luterano: Sola fides! Sola gratia! Sola Scriptura! A tradução é fácil: Somente a fé! Somente a graça! Somente a Bíblia! Com exclusão das obras, do esforço ascético e da Tradição da Igreja. Logicamente, a partir daquele momento, Lutero já não se sentia ligado à autoridade da Igreja Católica para interpretar a Sagrada Escritura. Curiosamente, parece que Lutero não leu muito bem o seguinte capítulo da Carta aos Romanos que, entre outras coisas, nos diz que Deus “retribuirá a cada um segundo as suas obras” (Rm 2,6), nem tampouco o que escreveu o mesmo Apóstolo aos gálatas: que a fé “opera pela caridade” (Gl 5,6).

O Concílio de Trento teve que tratar dessa questão e fê-lo magistralmente no ano 1547. O fruto daquela Sessão VI do Concílio foi o valiosíssimo Decreto sobre a justificação. É interessante observar que, desde o começo, o Concílio não se preocupou em dar uma interpretação imediata a uma passagem concreta, como poderia ser Rm 1,17, mas primeiramente quis conhecer profundamente o que significa ser justificado, ser justo, o que quer dizer “justificação”. Depois de deixar claro até que ponto chegou o drama do ser humano – pecador, imundo, separado de Deus, com uma vontade e uma liberdade enfermas, incapaz de salvar-se a si mesmo –, nos explica que a salvação nos vem de Jesus Cristo.

Foi o Senhor Jesus quem nos salvou, mas cada um de nós tem que deixar-se lavar pelo seu sangue purificador. Finalmente, o Concílio nos diz que a justificação não é somente remissão dos pecados, mas também santificação e renovação do homem interior pela voluntária recepção das graças e dos dons. E qual é o papel da fé na justificação já que a Escritura afirma que o somos justificados pela fé (Rm 1,17; 3,28)? O Concílio interpreta essas palavras da Escritura com outras: “sem fé é impossível agradar a Deus, pois para se achegar a ele é necessário que se creia primeiro que ele existe e que recompensa os que o procuram” (Hb 11,6). Ser justificado pela fé, ser salvo e santificado pela fé, significa que para ser justo diante de Deus é preciso antes crer que ele existe e que é a causa da nossa santificação. Com efeito, como estar inserido em Cristo se não cremos nele e se não permitimos, livremente, que ele entre nas nossas vidas? Deus é muito cortês, se nós não permitimos que ele entre na nossa casa, ele não entrará, mas continuará insistindo. Abracemos cada vez mais a salvação doada por Cristo a cada um de nós, mas não nos esqueçamos de que é importante voltar para agradecer com obras e na verdade.

Pe. Françoá Costa

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