“Eis o lugar do meu repouso para sempre.” (Sl 131,13) – esta frase do salmo recitado na liturgia da vigília desta solenidade recolhe a exclamação de toda a Igreja ao contemplar a Assunção da Virgem Maria. Na Senhora Assunta vemos a realização do ser humano redimido – a contemplação eterna de Deus. Maria de corpo e alma no céu mostra que se formos fiéis a Deus e às suas promessas, um dia seremos envolvidos da glória eterna e saciaremos para sempre nosso coração.
A primeira leitura da vigília, tirada do livro das Crônicas, apresenta a reverência e o amor do povo de Israel com a Arca da Aliança. A Arca era o recipiente que levava o sagrado, trazia dentro de si uma presença espiritual de Deus. De algum modo o povo sabia que Deus estava com eles, que Deus se fazia presente através da Arca da aliança. Dessa forma, o povo de Israel, inclusive a mando do próprio Deus, ornava a Arca com solenidade, a reverenciava com respeito e veneração, a transportava, como diz o texto, com “cânticos festivos”. Toda solenidade ao tratar a Arca era ainda pouca para o povo do Antigo Testamento, não era uma reverência ao material com o qual fora confeccionada a Arca, não se tratava de idolatria a um recipiente, mas, a reverência, o respeito e o amor dirigidos à Arca da Aliança eram uma manifestação de adoração a Adonai, o Senhor, que escolheu, através da Arca, se fazer presente no meio do seu povo, escolheu mostrar seu amor-presença em Israel.
O povo do Antigo Testamento ao transladar a Arca para a “tenda que Davi tinha armado” (1Cro 16,1) festejou, hoje, nós, ao termos sido libertos das figuras, passando para a realidade, festejamos com solenidade o translado de Maria à tenda eterna do céu. Ao olhar para Maria deveríamos nos prostrar diante do amor de Deus. No seio dela Nosso Senhor escolheu não só trazer sua presença espiritual, diz a palavra – Verbo caro factum est – O Verbo, a Palavra, o intocável, o inacessível, se fez carne, se fez um de nós, não só veio de algum modo estar no meio de seu povo, Ele se fez humano, se fez povo para mostrar de forma palpável o seu amor. Muito mais que a Arca, Maria traz Deus encarnado no seu ventre, Maria traz a salvação do mundo em suas entranhas. Na sua frase – “Eis aqui a serva do Senhor” – perde-se todo o sentido a antiga Arca, não é mais extraordinário uma presença espiritual de Deus no mundo, porque, no seio da Virgem mulher Deus se faz humano e vem nos salvar. Ela não é só a portadora de Deus, o recipiente, a Nova Arca, ela é a porta que Deus escolheu para entrar no mundo para levar o homem para o repouso eterno.
Enquanto Israel se alegra ao transportar a Arca para a tenda de Davi, nós exultamos por celebrar o mistério do translado de Maria à tenda, não feita por mãos humanas, mas a tenda da eternidade. Para celebrar a transposição da Arca antiga à tenda, Davi ordenou que cantassem, que tomassem nas mãos harpas, cítaras, pediu que trouxessem varais solenes para o translado, hoje, a Igreja, povo da Nova Aliança, ao contemplar Maria entrar no céu prescreve seu incenso, suas velas, sua música festiva, adorando a Deus, que assumiu a humanidade no seio da Virgem Maria.
São Paulo afirma – “quando este ser incorruptível estiver revestido de incorruptibilidade então estará cumprida a palavra da escritura: a morte foi tragada pela vitória.” (1Cor 15,54). A assunção de Maria traz-nos a certeza de que essas palavras não são literatura inteligível, mas são concretas. Em Maria gloriosa vemos que somos chamados não à morte, incentivada por esse mundo, mas à vida, à vitória. Ela, pessoa humana como nós, preservada do pecado, mas, humana feita do mesmo barro frágil que qualquer ser humano, foi revestida de glória e refulge nela o esplendor celeste, isso indica que o caminho está aberto, que as promessas se realizam para todos, como nos recordou Jesus no evangelho, para todos os que “ouvem a palavra de Deus e a põem em prática.” (Lc 11,28).
A Assunção de Nossa Senhora eleva nosso olhar ao céu, mas nos faz compreender que o futuro glorioso é para os que buscam a fidelidade no tempo. O sim de Maria diante da proposta avassaladora do anjo Gabriel, o serviço caritativo à Isabel, a corrida e rejeição sofrida para o parto sagrado, a obediência a José, a aflição da perda do menino Jesus, a perseverança de amor irrestrita perante a dor da cruz, conduziu Maria à glória celeste. Saibamos que também, a exemplo de Maria, quando defendemos a verdade de Deus, quando somos fiéis aos seus mandamentos, quando nos sacrificamos pelo bem do outro, quando acolhemos seus desígnios mesmo sem muitas vezes compreender, ou seja, quando abraçamos a cruz do dia-a-dia colocando em prática a palavra de Deus estamos nos encaminhando para a alegria que jamais terá fim.
A Igreja nos convida a contemplar admirados a Repleta de Deus, a Rainha dos anjos, a Mãe da Divina Graça, ela rodeada da corte celeste e reverenciada pelos coros angélicos. Penetrando nesse mistério, podemos, em nossa oração, pedir a essa tão excelsa Rainha que é ao mesmo tempo tão nossa mãe, que coloque em nosso coração o desejo do céu, um desejo que não se resuma a sentimentos, mas um desejo que seja uma impulsão ao Reino no qual ela reina com seu Filho.
Que a Virgem, Senhora da Assunção, refúgio dos pecadores, nos tome pela mão e nos auxilie a fazer esse caminho para um dia, com ela, adoramos eternamente a Deus na tenda celeste. Amém!
(Pe. Matheus Pigozzo)

