Homilia do Mons. José Maria – XXVIII Domingo do Tempo Comum – Ano A

Rejeitar o Convite Divino! Gravidade.

Um grande anúncio de esperança e de alegria perpassa, do início ao fim, a Palavra de Deus (Mt 22, 1 – 14) deste domingo: é uma mensagem de consolação de Deus ao seu povo. O Profeta Isaias (Is 25,6 – 10a) diz: Deus tirará o véu de luto, fará desaparecer a morte, enxugará toda lágrima.

Todas as promessas de Deus encontraram seu cumprimento com a vinda de Jesus Cristo. Ele, dirá São Paulo, é o “Sim” de Deus a todas as suas promessas (cf. 2Cor 1, 19-20). O Reino dos Céus que Ele trouxe sobre a terra é, ao mesmo tempo, a grande sala em que se celebra o banquete e é o próprio banquete: é a Igreja e é a redenção nela servida.

Por que é chamado banquete de núpcias? Porque o banquete nupcial é o sinal por excelência da alegria, e a redenção operada por Cristo é “a grande alegria para todo o povo”. Banquete de casamento, sobretudo, porque Jesus Cristo veio ao mundo para unir a si a humanidade numa maneira tão nova, tão íntima, a ponto de se poder falar de um matrimônio entre ele e a Igreja (cf. Ef 5, 25ss).

Na parábola a recusa dos convidados da primeira hora referia-se à recusa que o povo hebreu tinha oposto a Jesus e à sua mensagem. Eles, que eram os primeiros, passarão a ser os últimos; outros, os pagãos, tomarão seu lugar.

Jesus é o nosso Pastor e convida-nos de mil maneiras a segui-lo, mas não quer obrigar-nos a acompanhá –lo contra a nossa vontade. Nisto consiste o mistério do mal: os homens podem recusar esse convite. O Evangelho (Mt 22, 1 – 14) fala-nos dessa recusa. O reino dos céus é semelhante a um rei que celebrou as bodas de seu filho. E, segundo o costume, mandou os seus servos a casa dos convidados para recordar-lhes que já estava tudo preparado e que os esperava. Para sua surpresa, os convidados não quiseram ir. E o Senhor, desejando expressar a solicitude de Deus para com os seus filhos, relata na parábola que o soberano tornou a enviar os seus servidores: Enviou de novo outros servos, ordenando-lhes: Dizei aos convidados: Vede que o meu banquete está preparado… A bondade de Deus fica patente nesta divina insistência e na exuberância das iguarias: Os meus novilhos e animais cevados já foram abatidos e tudo está pronto.

Apesar disso, os convidados não fizeram caso e foram um para a sua casa de campo, outo para os seus negócios.

Triste a constatação! Tudo é oferecido e é rejeitado! Jesus deve ter relatado essa parábola com muita pena. É a recusa ao amor de Deus através dos séculos.

Os convidados podem estar representados hoje, entre outros, por esses homens que, absorvidos nos seus assuntos e negócios terrenos, parecem não necessitar de Deus para nada. E quando são avisados de que o Céu os espera, reagem com violência, como na parábola. Todos devemos nos perguntar: Como é a nossa correspondência às mil chamadas que o Senhor nos faz chegar? Como é a nossa oração, que nos franqueia a intimidade com Deus? Não nos esquivamos com desculpas fáceis a um compromisso que nos convida a um amor mais firme, a uma correspondência mais profunda?

Rejeitar o convite divino é algo muito grave; viver como se Deus não tivesse importância e o encontro com Ele estivesse tão distante que não valesse a pena preparar-se para ele, é pôr em risco a salvação eterna. Perante a salvação, bem absoluto, não há nenhuma desculpa que seja razoável: nem campos, nem negócios, nem saúde, nem bem-estar… Hoje, os pretextos que alguns invocam para não atender aos amáveis convites do Senhor são iguais ou parecidos aos que lemos na parábola. De qualquer modo, “o fato continua a ser o mesmo: não aceitam a salvação de Deus e excluem-se dela voluntariamente por preferirem outra coisa. Ficam com o que escolhem, perdem o que rejeitam”.

Mas o Senhor quer que a sua casa fique cheia; a sua atitude é sempre salvadora: Ide, pois, às encruzilhadas dos caminhos, e a quantos encontrardes, convidai-os para as núpcias. Os servos saíram pelos caminhos e reuniram todos os que encontraram, maus e bons. Ninguém é excluído da intimidade divina. Só fica de fora aquele que se afasta por vontade própria, aquele que resiste ao amável convite do Senhor, insistentemente repetido.

“Ajuda-nos, Senhor – exclamava Santo Agostinho –, a deixar-nos de desculpas más e vãs e a comparecer a esse banquete… Que a soberba não seja impedimento para irmos ao festim, que não nos emproemos com jactância, nem uma má curiosidade nos apegue à terra, distanciando-nos de Deus, nem a sensualidade estorve as delícias do coração. Faz que compareçamos… Quem se apresentou ao banquete a não ser os mendigos, os doentes, os coxos, os cegos? Iremos como pobres, pois convida-nos Aquele que, sendo rico, se fez pobre por nós. Iremos como doentes, porque não precisam de médico os sãos, mas os que não estão bem de saúde. Iremos como aleijados e diremos: Endireita os meus passos conforme a tua palavra (Sl 118, 113). Iremos como cegos e te pediremos: Ilumina os meus olhos para que jamais durma na morte (Sl 12, 4).

Ide, pois, às encruzilhadas dos caminhos, e a quantos encontrardes, convida-os para as núpcias… São palavras dirigidas a nós, a todos os cristãos, pois a vontade salvífica de Deus é universal; abarca todos os homens de todas as épocas. Cristo, no seu amor pelos homens, procura com paciência infinita a conversão de cada alma, chegando ao extremo de morrer na Cruz. Cada homem pode dizer de Jesus:  “ Ele (Cristo) me amou e se entregou por mim” (Gal 2,20).

Desta atitude salvadora do Mestre participamos todos os que desejamos ser seus discípulos. Os servos saíram pelos caminhos e reuniram todos os que encontraram… Devemos empenhar-nos, como Cristo, na salvação de todas as almas. Não podemos desinteressar-nos de ninguém.

Temos de sentir toda a urgência de levar as almas, uma a uma, até o Senhor. A mesma solicitude com que Cristo nos anima e conforta é a que devemos ter em relação àqueles com quem convivemos diariamente, seguindo o conselho que nos vem do século ll: “Leva a todos sobre ti, como a ti te leva o Senhor” (Santo Inácio de Antioquia). Ninguém deve passar ao nosso lado sem que as nossas palavras e as nossas obras lhe falem de Deus. O pensamento da sua salvação eterna e da sua felicidade temporal – que não alcançarão à margem de Deus – animar-nos-á a procurar todas as ocasiões – sem medo de sermos inoportunos, mas sempre amavelmente – para que, com paciência, a chamada do Senhor chegue até eles. A sua ignorância religiosa e a sua visão pobre e terrena das coisas devem doer – nos.

A parábola de Jesus fala da resposta que se dá ao convite de Deus, inclusive de indiferença, irritação, desprezo e hostilidade. Jesus experimentou isso.

A parábola fala da insistência de Deus e manifesta a sua generosidade. É incrível, mas o Senhor propõe muitos dons, muita alegria, e nós desprezamos com frequência suas ofertas, mostrando mais interesse por outras coisas. A generosidade divina tem necessidade de nossa colaboração. O banquete representa o mais importante da vida: de que adianta ganhar o mundo inteiro, se perdemos a alma? O erro dos convidados foi deixar o essencial de lado. Deus não pode purificar quem recusa a graça, compraz – se no mal ou despreza os meios de santificação que Ele deixou, os sacramentos, a oração. À luz disso tudo, cabe perguntar: o que é mais importante na vida? O que é mais importante no dia? A sua vida vale o que vale a sua oração. É preciso conservar e aumentar a graça santificante. Para isso, é necessário um plano de vida espiritual com propósitos de luta para adquirir virtudes. “Quem deixa de querer ser melhor, já deixou de ser bom”, dizia São Bernardo.

A Virgem Nossa Senhora ensinar-nos-á a tratar cada pessoa com o afeto com que Ela olha para o seu Filho, pois todas essas pessoas com quem estamos em relação são filhos de Deus, filhos de Santa Maria.   

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