Homilia do Mons. José Maria – I Domingo do Advento

Aproxima-se o Natal! Ficai Preparados!

Pela Graça de Deus, iniciamos neste domingo um novo Ano Litúrgico, que se abre, naturalmente, com o Advento, tempo de preparação para o Natal do Senhor; tempo em que relembramos e revivemos os Mistérios da História da Salvação. A Igreja põe-nos de sobreaviso com quatro semanas de antecedência a fim de que nos preparemos para celebrar de novo o Natal e, ao mesmo tempo, para que, com a lembrança da primeira vinda de Deus, feito homem, ao mundo, estejamos atentos a essas outras vindas do Senhor: no fim da vida de cada um e no fim dos tempos. Por isso o Advento é o tempo de preparação e de esperança.

A palavra ADVENTO significa “Vinda”, chegada: faz-nos relembrar e reviver as primeiras etapas da História da Salvação, quando os homens se preparam para a vinda do Salvador, a fim de que também nós possamos preparar, hoje, em nossa vida, a vinda de Cristo por ocasião do Natal.

Advento é tempo de espera; é tempo de mudarmos de vida. Jesus continua nascendo e vindo ao mundo. Nossa casa, nossa vida, nossa comunidade são, hoje, a manjedoura que deve ser preparada para acolher o Menino que vai nascer.

A expectativa, a espera é uma dimensão que atravessa a nossa existência pessoal, familiar e social. A espera está presente nas mil situações diárias, pequenas e grandes, e até banais ou decisivas e que nos empenham todo e profundamente.

Para o cristão, toda a história humana é uma longa espera. Antes de Cristo esperava-se sua vinda; depois, espera-se o retorno glorioso ao final dos tempos. O Advento é espera em mais de um sentido: são quatro semanas de preparação para a festa do Natal, memória da encarnação de Cristo, na história, e projeta-nos já para a vinda gloriosa do Senhor, no final da história.

Diz o profeta Jeremias: Eis que outros dias virão. E, nesses dias e nesses tempos, farei nascer de Davi um rebento justo que exercerá o direito e a equidade na terra, diz Deus a seu povo. Essa palavra revela um esquema constante da ação de Deus: Deus promete, de antemão, o que vai realizar e realiza fielmente tudo o que prometeu. A promessa, portanto, é para o homem, para que possa reconhecer o que vem de Deus, para que possa ouvi-lo com fé e testemunhá-lo com força. Este é o motivo verdadeiro e profundo pelo qual o Antigo Testamento é sempre atual, inclusive, para nós cristãos, que continuamos a lê-lo em nossas assembleias; ele confirma que a salvação, operada por Cristo, vem do mesmo Deus que a anunciara pelos profetas e demonstra a unidade do plano divino da salvação.

O Evangelho leva-nos em cheio ao “centro dos tempos”, isto é, a Jesus Cristo. Aquela vinda de Deus junto aos homens, tão esperada, realizou-se nele: Deus voltou os olhos para o seu povo (Lc 7,16). Mas, a história não parou: o tempo “se cumpriu”, mas não se completou ainda! É Jesus mesmo que orienta o homem e a Igreja para a espera de outra vinda: Então, verão o Filho do Homem vir sobre uma nuvem com grande glória e majestade (Lc 21,27). A primeira vinda, na plenitude dos tempos, aconteceu na humildade e no sofrimento. A segunda, no fim dos tempos, será com grande poder e glória. Nós vivemos nesta precisa situação determinada pela vinda de Jesus, isto é, “na recordação” de sua encarnação e “na espera” de sua parusia, entre um “já” e um “Não ainda”.

O Apóstolo Paulo sugere o que devemos fazer neste meio tempo. Também o Evangelho contém preciosas indicações nesse sentido: vigiar, rezar, não deixar que o coração fique insensível por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida; mas é, sobretudo, Paulo quem tira as consequências práticas de tudo o que ouvimos até agora. Ele viveu precisamente em nossa situação, isto é, na recordação da passagem de Jesus sobre a terra e na espera “de sua vinda com todos os santos.” A palavra-chave, usada pelo apóstolo, é: crescer! Este é o tempo em que a semente acolhida no Batismo deve chegar à maturação, o tempo dado a cada um, e à Igreja inteira, para alcançar a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo (Ef 4,13).

As leituras bíblicas, como se vê, tratam de muitos temas: a vinda de Cristo, a espera, a vigilância, o crescimento, a necessidade de uma vida cristã sóbria e empenhada.

Preparemos o caminho para o Senhor, que chegará em breve; e, se notarmos que a nossa visão está embaçada e não distinguimos com clareza essa luz que procede de Belém, é o momento de afastar os obstáculos. É tempo de fazer com especial delicadeza o exame de consciência e de melhorar a nossa pureza interior para receber a Deus. É o momento de discernir as coisas que nos separam do Senhor e de lançá-las para longe de nós. Um bom exame de consciência deve ir até as raízes dos nossos atos, até os motivos que inspiram as nossas ações. E logo buscar o remédio no Sacramento da Penitência (Confissão)!

“Vigiai, não sabeis em que dia o Senhor virá”. Não se trata apenas da “parusia”, mas, também, da vinda do Senhor para cada homem no fim da sua vida, quando se encontrar face a face com o seu Salvador; e será esse o dia mais belo, o princípio da vida eterna! “Por isso, também vós ficai preparados! Porque na hora, em que menos pensais, o Filho do Homem virá” (Mt 24, 44). Toda a existência do homem é uma constante preparação para ver o Senhor, que cada vez está mais perto; mas, no Advento, a Igreja ajuda-nos a pedir de um modo especial: “Senhor, mostrai-me os vossos caminhos e ensinai-me as vossas veredas. Dirigi-me na vossa verdade, porque sois o meu Salvador” (Sl 24).

Para manter este estado de vigília, é necessário lutar, porque a tendência de todo homem é viver de olhos cravados nas coisas da terra.

Fiquemos alerta! Assim será se cuidarmos com atenção da oração pessoal, que evita a tibieza e, com ela, a morte dos desejos de santidade; estaremos vigilantes se não abandonarmos os pequenos sacrifícios, que nos mantêm despertos para as coisas de Deus. Diz-nos São Bernardo: “Irmãos, a vós, como às crianças, Deus revela o que ocultou aos sábios e entendidos: os autênticos caminhos da salvação. Aprofundai no sentido deste Advento. E, sobretudo, observai quem é Aquele que vem, de onde vem e para onde vem; para quê, quando e por onde vem. É uma curiosidade boa. A Igreja não celebraria com tanta devoção este Advento se não contivesse algum grande mistério”.

Procuremos afastar os motivos que impedem a acolhida do Senhor:

– os prazeres da vida: a pessoa mergulhada nos prazeres fica alienada… No domingo, dorme… passeia… pratica esportes… mas não sobra tempo para a Missa.

– trabalho excessivo: a pessoa obcecada pelo trabalho esquece o resto: Deus, a família, os amigos, a própria saúde…

Como desejo me preparar para o Natal deste ano?

Apenas programando festas, presentes, enfeites, músicas?

Preparemo-nos numa atitude de humildade e de vigilância a chegada de Cristo que vem.

Para nossa reflexão, concluo com as palavras de S. Paulo: “Irmãos: O Senhor vos conceda que o amor entre vós e para com todos aumente e transborde sempre mais, a exemplo do amor que temos por vós.  Que assim ele confirme os vossos corações numa santidade sem defeito aos olhos de Deus, nosso Pai, no dia da vinda do nosso Senhor Jesus, com todos os seus santos. Enfim, meus irmãos, eis o que vos pedimos e exortamos no Senhor Jesus: Aprendestes de nós como deveis viver para agradar a Deus, e já estais vivendo assim. Fazei progressos ainda maiores! Conheceis, de fato, as instruções que temos dado em nome do Senhor Jesus ” (1Ts 3,12-4,2).

“Fazei progressos ainda maiores!,” diz-nos São Paulo.

Progredir ainda mais! Buscar a santidade, cada vez com mais afinco!

Disse o Papa Francisco na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate: “Não tenhas medo da santidade. Não te tirará forças, nem vida, nem alegria. Muito pelo contrário, porque chegarás a ser o que o Pai pensou quando te criou e serás fiel ao teu próprio ser. Depender dele liberta-nos das escravidões e leva-nos a reconhecer a nossa dignidade. Cada cristão, quanto mais se santifica, tanto mais fecundo se torna para o mundo” (n. 32 – 33). 

Santo Ambrósio ensina: “O que é santo e teme ao Senhor não busca outra coisa a não ser a salvação de Deus, que é Cristo Jesus. Ama-lhe, deseja-lhe, e tende para ele com todas as suas forças. Alimenta sua memória, a ele se abre, com ele transborda, e somente teme uma coisa: perder-lhe. Por isso, quanto maior é o desejo da alma sedenta de unir-se ao seu Salvador, tanto mais lhe consome a espera. E este zelo, é verdade, produz uma diminuição da fragilidade, mas realiza, ao mesmo tempo, uma elevação da virtude. Pela qual o justo, depois de ter dito: Minha alma está sedenta de ti, acrescenta: Minha alma está unida a tí, e tua destra me sustenta”.

“Ficai atentos e orai a todo momento…”(Lc 21,36). A oração é o alimento que fortalece o estado de ânimo e permite ao fiel poder manter-se vigilante. Assim poderá suportar as provas que surgem e apresentar-se confiante diante do juízo do Filho do Homem. A oração é para a alma como um sono restaurador para o corpo: é uma recuperação das forças interiores. Jesus quer combater aquela sonolência que nos leva a fechar os olhos do coração e tornar-nos insensíveis a Deus e aos outros.

A Virgem Maria encarna, perfeitamente, o espírito do Advento, feito de escuta de Deus, de desejo profundo de fazer a sua Vontade, de serviço jubiloso ao próximo. Deixemo-nos guiar por ela, para que o Deus, que vem, não nos encontre fechados ou distraídos, mas possa, em cada um de nós, expandir um pouco o seu reino de amor, de justiça e de paz. Que Ela, discípula fiel do seu Filho, conceda-nos a graça de viver este tempo litúrgico vigilantes e diligentes na esperança. Amém!

Mons. José Maria Pereira

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