Homilia do D. Henrique Soares da Costa – V Domingo da Quaresma – Ano A

Ez 37,12-14
Sl 129
Rm 8,8-11
Jo 11,1-45

De hoje a oito estaremos entrando na Semana Santa, com a solenidade dos Ramos e da Paixão do Senhor. Agora, neste último Domingo antes dessa Grande Semana, a Liturgia nos apresenta o Senhor Jesus como nossa Ressurreição e nossa Vida. Aqui, não estamos falando de modo figurado, metafóricos! Jesus é realmente, propriamente, a nossa Vida, a nossa Ressurreição! Ele é o cumprimento do sonho de vida e felicidade que o Pai, desde o início, tem para nós: “Ó meu povo, vou abrir as vossas sepulturas e conduzir-vos para a terra de Israel. Porei em vós o meu Espírito, para que vivais!” É em Jesus que esta promessa se cumpre, é nele que somos arrancados das sepulturas da vida e da sepultura da morte; é no seu Espírito Santo, derramado sobre nós, que o Pai nos vivifica!

Caríssimos, Jesus é a própria Ressurreição; ele é a própria Vida, Vida plena, Vida divina, Vida eterna! Jesus é a plenitude da vida, da nossa existência: nele, o nosso caminho termina não no Nada do absurdo, do vazio, mas na plenitude da Glória. Sem ele, seríamos nada, sem ele, tudo quanto vivemos terminaria no aniquilamento: “De que nos valeria ter nascido, se não nos redimisse em seu amor?” – é o que vai perguntar a liturgia da Igreja daqui a poucos dias, na noite da Páscoa. Num mundo que procura desesperadamente a vida, a felicidade; numa época como a nossa, em que se tem sede de um motivo para viver, de um sentido para a existência, Jesus se nos apresenta como a própria vida!

Mas, escutemo-lo falar, ele mesmo nos Evangelho deste Domingo. Deixemos que ele nos fale da vida, que ele mesmo nos ensine a viver!

Lázaro estava doente, sofrendo; depois, morreu. Suas irmãs estavam sofridas, angustiadas, imploraram tanto pela vinda do Senhor para curar o irmão… E Jesus não vai; Jesus demora-se. Quantas vezes fazemos, nós também, esta mesma experiência em nossa vida. “Esta doença não leva à morte; ela serve para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela!” E, pensemos bem: “Jesus era muito amigo de Marta, de sua irmã Maria e de Lázaro. Quando ouviu que estava doente, Jesus ficou ainda dois dias no lugar em que se encontrava”… Os caminhos de Deus não são os nossos caminhos, os nossos tempos e modos não são os dele. “Senhor, se estivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido…” Jesus sentiu a morte de Lázaro, Jesus “ficou profundamente comovido” e chorou por Lázaro, mas não impediu sua doença e sua morte! Vede, irmãos: nosso Deus não é tapa-buracos; jamais compreenderemos seu modo de agir! Ele nos ama, ele é fiel, ele se preocupa conosco, ele conhece nossas dores. Mas, jamais compreenderemos seu modo de agir no mundo e na nossa vida! Uma coisa é certa: se crermos, veremos sempre a glória de Deus, em tudo no mundo e em tudo na nossa vida Deus será glorificado!

Então, Jesus consola Marta e Maria. Jesus lhes promete a Ressurreição. Como todo judeu, as irmãs esperam a Ressurreição no Último Dia, no final dos tempos. Jesus, então, faz uma das revelações mais impressionantes de todo o Evangelho: “Eu sou a Ressurreição! Eu sou a Vida!” Atenção! Levemos a sério esta afirmação! Detenhamo-nos diante dela, admirados! A Ressurreição que os judeus esperavam chegou: é Jesus! A Ressurreição não é uma coisa, uma realidade impessoal! Não! A Ressurreição é uma pessoa: ela tem coração, rosto, voz e amor sem fim! A Ressurreição é Jesus em pessoa: “Eu sou a Ressurreição e a Vida! Quem crê em mim, mesmo que esteja morto, viverá!” É ele quem vem nos buscar, é na força dele que seremos erguidos da morte, é nele que nossa vida é salva do Absurdo, do Nada, do Vazio: “quem vive e crê em mim, não morrerá para sempre!” Nunca será demais a surpresa, a admiração, a grandeza dessas palavras! Caríssimos, “Deus nos deu a Vida eterna, e essa Vida está no seu Filho” (1Jo 5,11), esta Vida é o seu Filho!

Caríssimos, estamos para celebrar a Páscoa. Não esqueçamos que é para que tenhamos a vida que o nosso Jesus se entregou por nós: morto na carne foi vivificado no Espírito Santo pela sua ressurreição (cf. 1Pd 3,18). Ressuscitado, plenificado no Espírito Santo, derramou sobre nós esse Espírito de vida, dando-nos, assim, a semente de Vida eterna: “Se o Espírito do Pai que ressuscitou Jesus dentre os mortos já habita em vós, então o Pai que ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos vivificará também vossos corpos mortais por meio do Espírito que habita em vós!”

É esta a nossa esperança: a Ressurreição! Por ela vivemos, dela temos certeza! E já possuímos, como primícias, como garantia o Espírito Santo de ressurreição. Então, vivamos uma vida nova, uma vida de ressuscitados em Cristo Jesus: “Os que vivem segundo a carne, segundo o pecado, não podem agradar a Deus! Vós não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito” do Cristo Jesus! Então, vida nova! Deixemo-nos guiar pelo Espírito! Renovemo-nos! Convertamo-nos! Que as observâncias da santa Quaresma, o combate aos vícios, a abstinência dos alimentos e a confissão dos pecados nos preparem para celebrar de coração renovado a Santa Páscoa – esta de agora, e aquela da Vida eterna! Amém.

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