Cristo Vive! Eis o Conteúdo da Nossa Fé!
Cristo ressuscitou! A paz esteja convosco! Hoje se celebra o grande Mistério, fundamento da fé
e da esperança cristã: Jesus de Nazaré, o Crucificado, ressuscitou dos mortos ao terceiro dia,
conforme as Escrituras. O anúncio feito aos Anjos, naquela aurora do primeiro dia, depois do
sábado, à Maria Madalena e às mulheres que foram ao sepulcro, ouvimo-lo, hoje, com
renovada emoção: “Por que buscais entre os mortos o Vivente? Não está aqui. Ressuscitou!”
(Lc 24, 5-6).
O Senhor ressuscitou verdadeiramente, aleluia! Cristo vive! Essa é a grande verdade que enche
de conteúdo a nossa fé. O que morreu na Cruz, ressuscitou; triunfou da morte, do poder das
trevas, da dor e da angústia. A nossa humanidade já está glorificada na Humanidade
Santíssima ressuscitada de Jesus.
A todos formulo cordiais votos de Páscoa, com as palavras de Santo Agostinho: “A
Ressurreição do Senhor é a nossa esperança”. Com essa afirmação, Santo Agostinho explicava
aos seus fiéis que Jesus ressuscitou, para que nós, apesar de destinados à morte, não
desesperássemos, pensando que a vida acaba, totalmente, com a morte; Cristo ressuscitou
para nos dar a esperança. Graças à Morte e à Ressurreição de Cristo, também nós, hoje,
ressurgimos para uma vida nova e, unindo a nossa voz à d’Ele, proclamamos que queremos
ficar para sempre com Deus, nosso Pai, infinitamente bom e misericordioso.
A Ressurreição gloriosa do Senhor é a chave para interpretarmos toda a sua vida e o
fundamento da nossa fé. Sem essa vitória sobre a morte, diz S. Paulo, vazia seria a nossa
pregação e vã a nossa fé (1Cor 15,14).
A Ressurreição do Senhor é uma realidade central da nossa fé católica, e como tal foi pregada,
desde o começo do cristianismo. A importância desse milagre é tão grande, que os Apóstolos
são, antes de mais nada, testemunhas da Ressurreição de Jesus. Esse é o núcleo de toda
pregação, e isto é o que, depois de mais de vinte séculos, nós anunciamos ao mundo: Cristo
vive! A Ressurreição é a prova suprema da divindade de Cristo. Jesus ressuscitou, não para
que a sua memória permaneça viva no coração dos seus discípulos, mas para que Ele mesmo
viva em nós, e, n’Ele, possamos já saborear a alegria da vida eterna. Na manhã de Páscoa, tudo
se renovou. “Morte e vida defrontaram – se num prodigioso combate: O Senhor da vida estava
morto; mas agora, vivo, triunfa” (Sequência Pascal). Eis a novidade! Uma novidade que muda a
vida de quem a acolhe, como sucedeu com os santos. Assim aconteceu, por exemplo, com São
Paulo.
Portanto, a Ressurreição não é uma teoria, mas uma realidade histórica revelada pelo Homem
Jesus Cristo por meio da sua “Páscoa”, da sua “passagem”, que abriu um “caminho novo”
entre a Terra e o Céu (Hb 10, 20). Não é um mito nem um sonho, não é uma visão nem uma
utopia, não é uma fábula, mas um acontecimento único e irrepetível: Jesus de Nazaré, filho de
Maria, que, ao pôr do sol de Sexta – feira, foi descido da Cruz e sepultado, deixou vitorioso o
túmulo. De fato, ao alvorecer do primeiro dia, depois do Sábado, Pedro e João encontraram o
túmulo vazio. Madalena e as outras mulheres encontraram Jesus ressuscitado; reconheceram
– no também os dois discípulos de Emaús, ao partir o pão; o Ressuscitado apareceu aos
Apóstolos à noite, no Cenáculo, e depois, a muitos outros discípulos, na Galileia.
A Liturgia Pascal lembra, na primeira leitura, um dos mais comoventes discursos de Pedro,
sobre a Ressurreição de Jesus: “Deus O ressuscitou no terceiro dia, concedendo-Lhe
manifestar-se… às testemunhas que Deus havia escolhido: a nós que comemos e bebemos
com Jesus, depois que ressuscitou dos mortos” (At 10,40-41). Surge, nessas palavras, a
vibrante emoção do chefe dos Apóstolos pelos grandes acontecimentos de que foi
testemunha, pela intimidade com Cristo ressuscitado, sentando-se à mesma mesa, comendo e
bebendo com Ele.
A Ressurreição é a grande luz para todo o mundo: “Eu sou a luz” (Jo 8,12), dissera Jesus; luz
para o mundo, para cada época da história, para cada sociedade, para cada homem.
No Evangelho (Jo 20,1-9), vemos que a Boa Nova da Ressurreição provocou, num primeiro
momento, um temor e um espanto tão fortes, que as mulheres “saíram e fugiram do túmulo…
e não disseram nada a ninguém, porque tinham medo”. Entre elas, porém, encontrava-se
Maria Madalena que viu a pedra retirada do túmulo e correu a dar a notícia a Pedro e a João:
“Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde O colocaram” (Jo 20,2). “Os dois saem
correndo para o sepulcro e, entrando no túmulo, observaram as faixas que estavam no chão e
o lençol…” (Jo 20,6-7). “Ele viu, e acreditou” (Jo 20,8). É o primeiro ato de fé da Igreja
nascente em Cristo Ressuscitado, originado pela solicitude de uma mulher e pelos sinais do
lençol, das faixas de linho, no sepulcro vazio. Se se tratasse de um roubo, quem se teria
preocupado em despir o cadáver e colocar o lençol, com tanto cuidado? Deus serve-se de
coisas bem simples para iluminar os discípulos que “ainda não tinham compreendido a
Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos” (Jo 20,9), nem compreendiam
ainda o que o próprio Jesus tinha predito acerca da Sua ressurreição.
Ainda que sob outro aspecto, os “sinais” da Ressurreição veem-se ainda presentes no mundo:
a fé heroica, a vida evangélica de tanta gente humilde e escondida; a vitalidade da igreja que
as perseguições externas e as lutas internas não chegam a enfraquecer; a Eucaristia, presença
viva de Jesus ressuscitado, que continua a atrair a Si todos os homens. Pertence a cada um dos
homens vislumbrar e aceitar esses sinais, acreditar como acreditam os Apóstolos e tornar cada
vez mais firme a sua fé.
A Ressurreição do Senhor é um apelo muito forte: lembra-nos, sempre, que vivemos neste
mundo, como peregrinos e que estamos em viagem para a verdadeira pátria, a eterna. Cristo
ressuscitou para levar consigo os homens, na Sua Ressurreição, para onde Ele vive,
eternamente, fazendo-os participantes da Sua glória.
O Senhor Ressuscitado faça – se presente em todo lugar com a sua força de vida, de paz e de
liberdade. Hoje, a todos são dirigidas as palavras com as quais, na manhã da Páscoa, o Anjo
tranquilizou os corações amedrontados das mulheres: “Não tenhais medo! Não está aqui;
ressuscitou” (Mt 28, 5-6). Jesus ressuscitou e concede – nos a paz. Ele mesmo é a paz. Por isso,
vigorosamente, a Igreja repete: “Cristo Ressuscitou”! Que a humanidade do Terceiro Milênio
não tenha medo de abrir – Lhe o coração! O Seu Evangelho sacia plenamente a sede de paz e
de felicidade que habita em todo o coração humano. Agora Cristo está vivo e caminha
conosco. Um Mistério imenso de Amor! Aleluia!
Devemos, constantemente, renovar a nossa adesão a Cristo morto e ressuscitado por nós: a
sua Páscoa é também a nossa Páscoa, porque, em Cristo ressuscitado é-nos dada a certeza da
nossa Ressurreição. A notícia da sua Ressurreição dos mortos, não envelhece, e Jesus está
sempre vivo; e vivo é o seu Evangelho. “A fé dos cristãos, observa Santo Agostinho, é a
Ressurreição de Jesus Cristo”. O enfraquecimento da fé na Ressurreição de Jesus,
consequentemente, torna débil o testemunho dos crentes. Ao contrário, a adesão do coração
e da mente, a Cristo morto e ressuscitado, muda a vida e ilumina toda a existência das pessoas
e dos povos. Não é, porventura, a certeza de que Cristo ressuscitou que dá coragem, audácia
profética e perseverança aos mártires de todos os tempos? Não é o encontro com Jesus vivo
que converte e fascina tantos homens e mulheres, que, desde o início do cristianismo,
continuam a deixar tudo para O seguir e pôr a própria vida ao serviço do Evangelho?
O sepulcro vazio é o pressuposto da fé cristã, para a qual o destino do ser humano não é a
morte, mas a ressurreição dos mortos. Leia-se São Paulo em 1Cor 15,14: “Se Cristo não
ressuscitou, vã é a nossa pregação, e vã nossa fé”. Quem nega a ressurreição dos mortos,
nega, também, a ressurreição do Filho. Continua São Paulo: “Se é só para essa vida que
pusemos a nossa esperança em Cristo, somos, dentre todos os homens, os mais dignos de
compaixão” (1Cor,15,19). A fé na ressurreição nos faz viver a vida nova, com esperança. Esta fé
ajuda-nos a correr em meio às nossas noites escuras à procura de Jesus que é a Luz verdadeira.
O Papa Francisco reconhece que, mesmo em meio às graves dificuldades, “é preciso permitir
que a alegria da fé comece a despertar, como uma secreta, mas firme confiança, mesmo no
meio das piores angústias” (Evangelii Gaudium, 6).
Mas ressuscitou! Verdadeiramente ressuscitou!
Ele vive! Não é uma figura que passou e foi embora, deixando apenas recordações e exemplos.
Não pertence ao passado. Jesus não apenas sofreu e morreu por nós e foi sepultado. Ele
ressuscitou realmente! Vive e reina para sempre! Esta é a verdade que enche de conteúdo a
nossa fé! A Páscoa é motivo de uma alegria permanente para o coração dos cristãos.
Reavivamos a surpresa da Páscoa, de que Ele está vivo. Ressuscitou como disse. Agora,
podemos vê-Lo pela fé, podemos procurá- Lo, encontrá –Lo, tratar com Ele, depois O veremos
como Rei do Universo. A Ressurreição de Jesus é a verdade central da nossa fé, sem a qual
toda a sua vida e seus ensinamentos perderiam sentido e a vida seria um absurdo.
Maria, a Mãe de Jesus, que acompanhou o Filho nas mais terríveis e duras horas da Paixão;
junto da Cruz, emudecida de dor, não soubera o que dizer; agora, com a Ressurreição,
emudecida de alegria, não consegue falar. Procuremos estar unidos a essa imensa alegria da
nossa Mãe. Toda a esperança na Ressurreição de Jesus, que restava sobre a terra, tinha-se
refugiado no seu coração. Com toda a igreja, neste tempo pascal, saudemos a Virgem Maria:
“Rainha do Céu, alegrai-vos, aleluia! Porque Aquele que merecestes trazer em vosso seio
ressuscitou como disse, aleluia!…”
Somos chamados a ser testemunhas da Morte e Ressurreição de Cristo; deixemo-nos
conquistar pelo fascínio da sua Ressurreição. Não podemos conservar para nós a grande
notícia! Devemos levá-la ao mundo inteiro: “Vimos o Senhor” (Jo 20, 25). Ajude-nos a Virgem
Maria a sermos mensageiros da luz e da alegria da Páscoa para com tantos irmãos nossos;
amparados pela força do Espírito Santo, tornemo-nos capazes de a difundir, por nossa vez,
onde quer que vivamos e trabalhemos.
Uma Feliz Páscoa para todos!
Dom José Maria Pereira