Eclo 27,5-8
Sl 91/92
1Cor 15,54-58
Lc 6,39-45
No Evangelho deste Domingo, estamos ainda escutando o Senhor Jesus falando aos Seus discípulos no Sermão da Planície, aquelas palavras que Ele pronunciou quando “desceu com eles da montanha e parou num lugar plano”; Ele, então, “ergueu os olhos para os Seus discípulos e disse-lhes” todas estas coisas… Se prestarmos bem atenção, poderíamos resumir tudo quanto o Senhor nos disse hoje nesta afirmação tão atual, tão urgente, tão importante: “O discípulo não está acima do Mestre, mas todo discípulo bem formado será como seu Mestre!” O Mestre é Jesus nosso Senhor; o discípulo é cada um de nós! O próprio Senhor já nos havia prevenido em outro passo do Evangelho: “Um só é o vosso Mestre e todos sois irmãos; um só é vosso Guia, o Cristo” (Mt 23,8-10). Na Igreja, unicamente o Cristo é a Verdade absoluta, unicamente Ele é a referência última, o critério, o guia! Ser verdadeiramente discípulo é caminhar com Ele, caminhar atrás Dele, em Seu seguimento: “Vinde após Mim, atrás de Mim” (Mc, 1,17). Não caminhar atrás Dele, tomando-O por Mestre, seguir a quaisquer outros mestres que não seguem verdadeiramente ao Senhor, é como um cego que se deixa guiar por outro, caindo ambos no mesmo buraco, na mesma ilusão, na mesma mentira! Mais ainda: quando nos deixamos guiar pelo Cristo vamos sendo transformados em novas criaturas (2Cor 5,17), vamos sendo renovados no nosso coração, vamos tendo os mesmos sentimentos do Cristo Jesus (Fl 2,5), o nosso coração vai-se enchendo da sabedoria que é fruto da nossa união com Cristo, Ele mesmo Sabedoria do Pai (1Cor 1,24). Aí, então, pouco a pouco, nossas palavras e atos exprimirão aquilo que está no nosso coração: a própria sabedoria, fruto de uma vida de união com o Senhor.
Caríssimos, este é o trabalho de uma vida! Nunca esqueçamos que ser cristão é um caminho, um seguimento contínuo ao Senhor! Na vida cristã, parar ou desviar-se, seguindo seu próprio caminho ou, pior ainda, o caminho que o mundo propõe, é perder o rumo, perder o Senhor. Na escuta fiel e ungida da Palavra do Senhor, na oração perseverante, na participação fiel na Eucaristia, na Confissão dos pecados, na vida fraterna, no combate aos próprios vícios e pecados, vamos crescendo no caminho de Cristo.
Um dia, no Dia do Senhor, Dia final, aquilo que foi o nosso caminho nesta vida, explodirá em Glória. É o que diz São Paulo, na segunda leitura de hoje. Já há alguns domingos escutamos o que o Apóstolo nos ensina sobre a r
essurreição dos mortos. Resumindo, ele afirma que ressuscitaremos porque Cristo ressuscitou como primícias, garantia e penhor da nossa ressurreição. Disse também que ressuscitaremos como Jesus: receberemos a Vida divina no nosso corpo e na nossa alma e seremos revestidos da força e da glória que provêm do Espírito de Deus, o mesmo que ressuscitou Jesus dentre os mortos. No trecho que escutamos hoje, o Apóstolo afirma que este nosso ser corruptível, corpo e alma, com sua vida psicofísica, necessita receber a Vida divina, que o fará participar da Vida de glória e incorruptibilidade do próprio Deus. Trata-se de uma Vida totalmente diferente desta, que temos agora; Vida do próprio Deus eterno, Vida Eterna, Vida divina, Vida celeste. Isto vai se dar em todo o nosso ser: logo após a morte, na nossa alma e, no final dos tempos, no Dia de Cristo, também no nosso corpo! Então, o plano de Deus para nós se cumprirá: “A morte será tragada pela Vitória: onde está, ó Morte, a tua vitória? Onde está, ó Morte, o teu aguilhão?” Caríssimos no Senhor, disto não tenhamos a menor dúvida: o nosso destino é participar de Glória de Deus em Cristo, no nosso corpo e na nossa alma!
Nossa vida neste mundo somente alcança seu sentido se a vivermos e compreendermos à luz da Eternidade! Por que vivemos atolados aqui e esquecemos que o nosso destino é a Glória do Céu? Por que teimamos em esquecer que aqui estamos de passagem e somente lá viveremos para sempre? A Escritura diz que “não temos aqui na terra cidade permanente, mas estamos à procura daquela que está por vir” (Hb 13,14). São Bernardo de Claraval, no século XII, gostava de recordar que nosso caminho neste mundo é semente de Eternidade; e Santa Teresinha, no século XIX, exclamava: “A vida é tua embarcação, não a tua morada!”
Infelizmente, nos tempos que correm, os próprios cristãos vivemos meio esquecidos do sentido, da finalidade, do definitivo do nosso caminho neste mundo! Enterramos o nariz nos acontecimentos, preocupações e afazeres deste mundo e esquecemos a Eternidade que dá sentido e direção ao que vivemos aqui! Cuidado! Coloquemo-nos atrás do nosso único Mestre, Aquele que nos dará a vitória, e veremos, então que “nossas fadigas não são em vão no Senhor”!
Coragem, Irmãos! Que o nosso olhar se dirija a Jesus, que nossos passos coloquem-se nos Seus passos, que o Senhor seja, de fato o nosso Mestre, o nosso Caminho e a nossa Verdade! Que nos deixemos impregnar e guiar pelo Seu Espírito, de modo que nosso coração pulse no ritmo do Dele e, assim, tudo na nossa vida – pensamentos, palavras, atos e atitudes – seja reflexo Dele mesmo, até que, terminado o caminho deste mundo, sejamos totalmente, em corpo e alma, transfigurados Nele, que é bendito pelos séculos dos séculos. Amém.
Dom Henrique Soares da Costa