Roteiro Homilético – XXIV Domingo do Tempo Comum – Ano C

RITOS INICIAIS

 

Sir 36, 18

ANTÍFONA DE ENTRADA: Dai a paz, Senhor, aos que em Vós esperam e confirmai a verdade dos vossos profetas. Escutai a prece dos vossos servos e abençoai o vosso povo.

 

Introdução ao espírito da Celebração

 

Na antífona de entrada pedimos ao Senhor o dom da paz, como fruto da nossa confiança n’Ele.

Deus concede-nos este dom na medida em que estivermos disponíveis para o aceitar, procurando a conversão pessoal. Nossa Senhora anunciava em Fátima: «Se se converterem, terão paz.»

Deste caminho para a paz nos fala a Liturgia da Palavra deste 24º Domingo do tempo comum.

 

ACTO PENITENCIAL

 

Nem sempre temos sido construtores da paz no dia a dia. Deixamo-nos facilmente arrastar pelo pecado, de modo que perdemos a paz connosco, a paz com Deus e com os irmãos. Arrependamo-nos e prometamos emenda de vida.

 

(Tempo de silêncio. Apresentamos, como alternativa, elementos para o esquema C)

 

•   Senhor: nem sempre temos sido construtores da paz no mundo,

porque nos deixamos cair facilmente sob a tirania das paixões.

Senhor, tende piedade de nós!

 

    Senhor, tende piedade de nós!

 

•   Cristo: somos tentados a adorar os falsos deuses da sensualidade,

e nem sempre temos resistido aos fortes ataques do inimigo

Cristo, tende piedade de nós!

 

    Cristo, tende piedade de nós!

 

•   Senhor: custa-nos voltar atrás, quando erramos o caminho,

e deixamo-nos vencer facilmente pelo desânimo e pela preguiça.

Senhor, tende piedade de nós!

 

    Senhor, tende piedade de nós!

 

Deus todo poderoso tenha compaixão de nós,

perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna.

 

ORAÇÃO COLECTA: Deus, Criador e Senhor de todas as coisas, lançai sobre nós o Vosso olhar; e para sentirmos em nós os efeitos do Vosso amor, dai-nos a graça de Vos servirmos com todo o coração. Por Nosso Senhor…

 

 

LITURGIA DA PALAVRA

 

Primeira Leitura

 

Monição: Moisés subiu ao Monte Sinai para falar com Deus e recebeu as duas Tábuas da Lei nas quais estavam gravados os Dez Mandamentos.

Durante o tempo em que Ele esteve a falar com o Senhor, os Israelitas fabricaram um bezerro de ouro e entronizaram-no como seu deus, realizando uma festa em sua honra.

 

Êxodo 32, 7-11.13-14

 

Naqueles dias, 7o Senhor falou a Moisés, dizendo: «Desce depressa, porque o teu povo, que tiraste da terra do Egipto, corrompeu-se. 8Não tardaram em desviar-se do caminho que lhes tracei. Fizeram um bezerro de metal fundido, prostraram-se diante dele, ofereceram-lhe sacrifícios e disseram: ‘Este é o teu Deus, Israel, que te fez sair da terra do Egipto’». 9O Senhor disse ainda a Moisés: «Tenho observado este povo: é um povo de dura cerviz. 10Agora deixa que a minha indignação se inflame contra eles e os destrua. De ti farei uma grande nação». 11Então Moisés procurou aplacar o Senhor seu Deus, dizendo: «Por que razão, Senhor, se há-de inflamar a vossa indignação contra o vosso povo, que libertastes da terra do Egipto com tão grande força e mão tão poderosa? 13Lembrai-Vos dos vossos servos Abraão, Isaac e Israel, a quem jurastes pelo vosso nome, dizendo: ‘Farei a vossa descendência tão numerosa como as estrelas do céu e dar-lhe-ei para sempre em herança toda a terra que vos prometi’». 14Então o Senhor desistiu do mal com que tinha ameaçado o seu povo.

 

Este impressionante diálogo entre Deus e Moisés põe em evidência os elementos fundamentais da história da salvação, a saber, a aliança, o pecado, a fidelidade divina e a sua misericórdia. O texto foi escolhido em função do Evangelho: as parábolas da misericórdia.

11 «Moisés procurou aplacar o Senhor». É uma figura de Cristo Mediador, que também subia frequentemente ao monte para orar: Moisés intercede muitas vezes em favor do povo pecador: Ex 5, 22-23; 8, 4; 9, 28; 10, 17; Nm11, 2; 14, 13-19; 18, 22; 21, 7. E Deus aceita esta oração, que faz apelo à sua fidelidade à aliança e à sua misericórdia (v. 14).

 

Salmo Responsorial

 Sl 50 (51), 3-4.12-13.17.19 (R. Lc 15, 18)

 

Monição: O Povo de Deus ofendeu gravemente ao Senhor adorando um falso deus e só lhe restava o caminho do arrependimento e da conversão.

A Liturgia coloca em nossos lábios o salmo 50 que exprime a contrição do rei David, depois do seu grave pecado de adultério e assassinato do General Urias, o Hitita, o acto de contrição mais denso de todo o Antigo Testamento.

Ovelhas tresmalhadas e filhos pródigos que somos, manifestemos ao Senhor o nosso arrependimento, fazendo dele a nossa oração contrita.

 

Refrão:        VOU PARTIR E VOU TER COM MEU PAI.

 

Compadecei-Vos de mim, ó Deus, pela vossa bondade,

pela vossa grande misericórdia, apagai os meus pecados.

Lavai-me de toda a iniquidade

e purificai-me de todas as faltas.

 

Criai em mim, ó Deus, um coração puro

e fazei nascer dentro de mim um espírito firme.

Não queirais repelir-me da vossa presença

e não retireis de mim o vosso espírito de santidade.

 

Abri, Senhor, os meus lábios

e a minha boca anunciará o vosso louvor.

Sacrifício agradável a Deus é um espírito arrependido:

não desprezeis, Senhor, um espírito humilhado e contrito.

 

Segunda Leitura

 

Monição: S. Paulo, na Primeira Carta ao seu discípulo Timóteo, dá testemunho da misericórdia do Senhor e proclama que também ele beneficiou dela.

O mesmo pode dizer cada um de nós, recorrendo à experiência da própria vida.

 

Timóteo 1, 12-17

 

Caríssimo: 12Dou graças Àquele que me deu força, Jesus Cristo, Nosso Senhor, que me julgou digno de confiança e me chamou ao seu serviço, 13a mim que tinha sido blasfemo, perseguidor e violento. Mas alcancei misericórdia, porque agi por ignorância, quando ainda era descrente. 14A graça de Nosso Senhor superabundou em mim, com a fé e a caridade que temos em Cristo Jesus. 15É digna de fé esta palavra e merecedora de toda a aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores e eu sou o primeiro deles. 16Mas alcancei misericórdia, para que, em mim primeiramente, Jesus Cristo manifestasse toda a sua magnanimidade, como exemplo para os que hão-de acreditar n’Ele, para a vida eterna. 17Ao Rei dos séculos, Deus imortal, invisível e único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amen.

 

Iniciamos hoje a leitura de textos respigados das chamadas Cartas Pastorais, escritos paulinos dirigidas a pessoas singulares, pastores da Igreja, com normas para a organização das comunidades de Éfeso (1 e 2 Tim) e de Creta (Tit). O texto desta leitura é um maravilhoso hino de acção de graças de Paulo pela sua vocação de Apóstolo, bem consciente da sua indignidade – «blasfemo, perseguidor, violento», embora de boa fé, «por ignorância» (v. 13) – e da grandeza do dom de Deus, uma «graça que superabundou» (v. 14). Esta acção de graças culmina numa doxologia final, de sabor litúrgico (v. 17).

15 «É digna de fé…» Esta fórmula solene, própria das Cartas Pastorais (cf. 1 Tim 3, 1; 4, 9; 2 Tim 2, 11; Tit 3, 8), põe em relevo a importância doutrinal do que se diz neste versículo, um dos pontos centrais da fé cristã: a obra redentora de Cristo, que «por nós homens e pela nossa salvação desceu dos Céus…» (Credo de Niceia). A misericórdia que Deus mostrou para com Paulo é suficiente para inspirar confiança a qualquer pecador que queira arrepiar caminho.

 

Aclamação ao Evangelho

 Act 10.14h

 

Monição: A misericórdia do Senhor é o amor gratuito de Deus a cada um de nós, recomeçando sempre, todas as vezes que nos afastamos d’Ele.

Aclamemos o Evangelho que nos manifesta uma verdade tão consoladora, cantando Aleluia.

 

ALELUIA

 

Em Cristo, Deus reconcilia o mundo consigo  e confiou-nos a palavra da reconciliação.        

 

 

Evangelho *

 

* O texto entre parêntesis pertence à forma longa e pode ser omitido.

 

Forma longa: São Lucas 15, 1-32;                      forma breve: São Lucas 15, 1-10

 

Naquele tempo, 1os publicanos e os pecadores aproximavam-se todos de Jesus, para O ouvirem. 2Mas os fariseus e os escribas murmuravam entre si, dizendo: «Este homem acolhe os pecadores e come com eles». 3Jesus disse-lhes então a seguinte parábola: 4«Quem de vós, que possua cem ovelhas e tenha perdido uma delas, não deixa as outras noventa e nove no deserto, para ir à procura da que anda perdida, até a encontrar? 5Quando a encontra, põe-na alegremente aos ombros 6e, ao chegar a casa, chama os amigos e vizinhos e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida’. Eu vos digo: 7Assim haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se arrependa, do que por noventa e nove justos, que não precisam de arrependimento. 8Ou então, qual é a mulher que, possuindo dez dracmas e tendo perdido uma, não acende uma lâmpada, varre a casa e procura cuidadosamente a moeda até a encontrar?9Quando a encontra, chama as amigas e vizinhas e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma perdida’. 10Eu vos digo: Assim haverá alegria entre os Anjos de Deus por um só pecador que se arrependa».

[Jesus disse-lhes ainda: 11«Um homem tinha dois filhos. 12O mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me toca’. O pai repartiu os bens pelos filhos. 13Alguns dias depois, o filho mais novo, juntando todos os seus haveres, partiu para um país distante e por lá esbanjou quanto possuía, numa vida dissoluta. 14Tendo gasto tudo, houve uma grande fome naquela região e ele começou a passar privações. 15Entrou então ao serviço de um dos habitantes daquela terra, que o mandou para os seus campos guardar porcos. 16Bem desejava ele matar a fome com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. 17Então, caindo em si, disse: ‘Quantos trabalhadores de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome! 18Vou-me embora, vou ter com meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti. 19Já não mereço ser chamado teu filho, mas trata-me como um dos teus trabalhadores’. 20Pôs-se a caminho e foi ter com o pai. Ainda ele estava longe, quando o pai o viu: encheu-se de compaixão e correu a lançar-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. 21Disse-lhe o filho: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho’. 22Mas o pai disse aos servos: ‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha. Ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. 23Trazei o vitelo gordo e matai-o. Comamos e festejamos, 24porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado’. E começou a festa. 25Ora o filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. 26Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo. 27O servo respondeu-lhe: ‘O teu irmão voltou e teu pai mandou matar o vitelo gordo, porque ele chegou são e salvo’. 28Ele ficou ressentido e não queria entrar. Então o pai veio cá fora instar com ele. 29Mas ele respondeu ao pai: ‘Há tantos anos que eu te sirvo, sem nunca transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos. 30E agora, quando chegou esse teu filho, que consumiu os teus bens com mulheres de má vida, mataste-lhe o vitelo gordo’. 31Disse-lhe o pai: ‘Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu. 32Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado’».]

 

A leitura de hoje, na sua forma longa, engloba todo o cap. 15 de S. Lucas, com as três parábolas da misericórdia divina; todas as três põem em evidência a alegria que Deus sente com o reencontro com o pecador, representado na ovelha perdida (vv. 4-7), na dracma perdida (8-10) e no filho perdido (11-32). Nas duas primeiras Deus é representado à procura do pecador; na terceira, no impressionante acolhimento que lhe presta. Estas parábolas são exclusivas do Evangelho de S. Lucas; a parábola da ovelha perdida também aparece em Mt 18, 10-14, mas num outro sentido: visa o cuidado que os chefes da Igreja devem pôr em não deixar que se perca nenhum dos pequeninos, isto é, aqueles fiéis que pela sua fragilidade correm mais risco de se perderem.

Alguém considerou a parábola do filho pródigo «o evangelho dos evangelhos». É a mais bela e a mais longa das parábolas de Jesus, impregnada duma finíssima psicologia própria de quem no-la contou, Jesus, que conhece a infinita misericórdia do coração de Deus, que é o seu próprio coração, e que penetra na profundidade da alma humana (cf. Jo 2, 25), onde se desenrola o tremendo drama do pecado. «Aquele filho, que recebe do pai a parte do património que lhe corres­ponde, e abandona a casa para o desbaratar num país longínquo, vivendo uma vida libertina, é, em certo sentido, o homem de todos os tempos, começando por aquele que em primeiro lugar perdeu a herança da graça e da justiça original. A analogia neste ponto é muito ampla. A parábola aborda indirectamente todo o tipo de rupturas da aliança de amor, todas as perdas da graça, todo o pecado» (Encíclica Dives in misericordia, nº 5; ver tb. Catecismo da Igreja Católica, nº 1439).

12 «Dá-me a parte da herança»: segundo Dt 21, 17 pertencia-lhe um terço, havendo só dois filhos. O pai podia fazer as partilhas em vida (cf. Sir 30, 28ss).

13 «Partiu…»: o pecado do filho foi abandonar o pai, esbanjar os seus bens e levar uma vida dissoluta.

14-16 «Uma grande fome: é a imagem do vazio e insatisfação que sente o homem quando está longe de Deus, em pecado. «Guardar porcos» era uma humilhação abominável para um judeu, a quem estava proibido criar e comer estes animais impuros. Esta situação para um filho duma boa família era absolutamente incrível, o cúmulo da baixeza e da servidão. As «alfarrobas»: o rapaz já se contentaria com uma tão indigesta e indigna comida, mas, na hora de se dar uma ração dessas aos porcos, ninguém se lembrava daquele miserável guardador! Aqui fica bem retratada a vileza do pecado e a escravidão a que se submete o homem pecador (cf. Rom 1, 25; 6, 6; Gal 5, 1). O filho pretendia ser livre da tutela do pai, mas acaba por perder a liberdade própria da sua condição: imagem do pecador que perde a liberdade dos filhos de Deus (cf. Rom 8, 21; Gal 4, 31; 5, 13) e se sujeita à tirania do demónio, das paixões.

17 «Então, caindo em si…» A degradação a que a loucura do seu pecado o tinha levado fê-lo reflectir (é o começo da conversão) e enveredar pela única saída digna e válida.

18-19 «Vou-me embora»: A tradução latina (surgam = levantar-me-ei) do particípio gráfico (mas não ocioso) do original grego – «levantando-me, vou ter…» – é muito mais expressiva do que a tradução litúrgica, pois, duma forma viva, indica a atitude de quem começa a erguer-se da sua profunda miséria.

«Pequei contra o Céu e contra ti»: nesta expressão retrata-se a dimensão transcendente do pecado; não é uma simples ofensa a um homem, é ofender a Deus, uma ofensa de algum modo infinita! O filho não busca desculpas, reconhece sinceramente a enormidade da sua culpa.

«Trata-me como um dos teus trabalhadores». É maravilhoso considerar como naquele filho arrependido começa a brotar o amor ao pai; o que ele ambiciona é ir para junto do pai, estar junto a ele é o que o pode fazer feliz! Melhorar a sua situação material não é o que mais o preocupa, pois, para isso, qualquer proprietário da sua pátria o podia admitir como jornaleiro; assim a parábola não descreve uma atitude interesseira do filho, mas a humildade e a contrição de quem se reconhece pecador. Por outro lado, ele não se atreve a pedir ao pai que o admita no gozo da sua antiga condição de filho, porque reconhece a sua indignidade: «já não mereço ser chamado teu filho».

20 «Ainda ele estava longe, quanto o pai o viu». Este pormenor faz pensar que o pai não só desejava ansiosamente o regresso do filho, mas também, muitas vezes, observava ao longe os caminhos, impaciente de ver o filho chegar quanto antes, uma enternecedora imagem de como Deus aguarda a conversão do pecador. «Encheu-se de compaixão»: o verbo grego é muito expressivo e difícil de traduzir com toda a sua força, esplankhnístê: «comoveram-se-lhe as entranhas» (tà splánkhna). «E correu…»: é impressionante o contraste entre o pai que corre para o filho e o filho que simplesmente caminha para o filho – «a misericórdia corre» (comenta Sto. Agostinho); «cobrindo-o de beijos», numa boa tradução que tem em conta a forma iterativa do verbo grego, é uma belíssima e expressiva imagem do amor de Deus para com um pecador arrependido!

21 «Pai, pequei». Apesar de se ver assim recebido pelo pai, o filho não se escusa de confessar o seu pecado e de manifestar a atitude interior que o move a regressar.

22 «A melhor túnica, o anel, o calçado», são uma imagem da graça, o traje nupcial (cf. Mt 22, 11-13); assim nos espera o Senhor no Sacramento da Reconciliação, não para nos ralhar, recriminar, mas para nos admitir na sua antiga intimidade, restituindo-nos, cheio de misericórdia, a graça perdida.

23 «Comamos e festejemos», a imagem da Sagrada Eucaristia, segundo um sentido espiritual corrente.

25-32 «O filho mais velho»: esta segunda parte da parábola não se pode limitar a uma censura dos fariseus e escribas (v. 2), cumpridores, mas insensíveis ao amor – o mais velho é que é, no fim de contas, o filho mau –; a parábola é também uma lição para todos, a fim de que imitem a misericórdia de Deus para com um irmão que pecou (cf. Lc 6, 36); ele é sempre «o teu irmão» (v. 33), e não há direito de que não se tome a sério a misericórdia de Deus, com aquela despeitada ironia: «esse teu filho» (v 30). A misericórdia de Deus é tão grande, que ultrapassa uma lógica meramente humana; esta segunda parte da parábola põe em evidência a misericórdia de Deus a partir do contraste com a mesquinhez do filho mais velho.

 

Sugestões para a homilia

 

– O afastamento dos caminhos de Deus

Os nossos ídolos

A mediação

A conversão pessoal

– O caminho do regresso

O Senhor deseja o nosso regresso e espera-o

A decisão é nossa

A confissão, caminho do regresso

1. O afastamento dos caminhos de Deus

Moisés subiu ao monte Sinai para receber as tábuas da Lei e permaneceu ali em diálogo com o Senhor bastante tempo.

Cansados de esperar, os hebreus recolheram objectos de ouro, fundiram-no, e com ele fabricaram um bezerro de ouro e aclamaram-no com deus, realizando grandes festejos para celebrar o acontecimento.

Moisés, cheio de ira santa, quebrou as tábuas da Lei, mas logo intercedeu pelo Povo que o Senhor lhe confiara, para que perdoasse este grave pecado de idolatria. Ele aparece nesta passagem, com a sua mediação, como uma figura de Jesus Cristo.

Em nossa caminhada pelo deserto, rumo à Terra da Promissão, também fabricamos ídolos para que ocupem o lugar do verdadeiro Deus.

 

a) Os nossos ídolos. «Fizeram um bezerro de metal fundido, prostraram-se diante dele, ofereceram-lhe sacrifícios e disseram: ‘Este é o teu Deus, Israel, que te fez sair da terra do Egipto’»

Embora afirmemos com muita convicção de que adoramos um só Deus, como se preceitua no Primeiro Mandamento, também fabricamos a adoramos ídolos, à semelhança dos hebreus.

– A sensualidade. Está a contaminar tudo: o namoro, o matrimónio, a família e os momentos livres.

Para mais, perdeu-se a delicadeza de consciência no que diz respeito a esta matéria. As pessoas são capazes de palavras, atitudes e espectáculos que ofendem gravemente a Deus e aproximam-se da Sagrada Comunhão tranquilas como se tivessem a alma limpa.

– O ventre. Já S. Paulo se queixava daqueles cujo deus é o ventre. A gula, a boa mesa, o esbanjamento em comidas e bebidas é um sinal dos nossos dias.

– O dinheiro. Somos tentados a correr atrás dele, sem olhar à justiça nem à religião. Arranjam-se trabalhos durante a semana e no fim de semana. Não fica tempo para participar na Missa dominical, nem para a oração ou vida de família. Ganha-se mais para gastar mais. Os pais confundem amor aos filhos com dar-lhes muitas coisas. Muitas vezes, quando pretendem ajudá-los, é demasiado tarde.

Cometem-se injustiças nos tribunais para se apoderarem do que não lhes pertence, e fazem-se dívidas que não se pagam.

– A afirmação pessoal. Procura-se uma ostentação de um falso nível de vida, para impressionar os outros.

 

b) A mediação. «Por que razão, Senhor, se há-de inflamar a vossa indignação contra o vosso povo, que libertastes da terra do Egipto com tão grande força e mão tão poderosa

Moisés intercede pelo Povo que o Senhor lhe confiara, para o conduzir através do deserto, e obtém para ele o perdão de Deus.

Em Fátima, Nossa Senhora pediu-nos esta mediação suplicante: «Vão muitas pessoas para o inferno, por não haver quem reze e se sacrifique por elas.»

Em vez de nos deixarmos arrastar por um escândalo farisaico e cair murmuração que nada soluciona, rezemos pelas pessoas e, se pudermos, procuremos ajudá-las.

 

c) A conversão pessoal. O Povo de Deus arrepende-se e promete fidelidade ao Senhor. Desta conversão fez parte a destruição do mal – do bezerro de ouro – e a penitência: depois de reduzido a pó o ídolo (bezerro de ouro) o Senhor mandou lançá-lo em água e dá-la a beber aos Israelitas, como que para significar uma destruição total daquele gesto condenável dos hebreus.

Toda a conversão se concretiza nisto: destruir os ídolos e voltar-se para Deus definitivamente, embora possa haver fragilidades.

2. O caminho do regresso

a) O Senhor deseja o nosso regresso e espera-o. «Eu vos digo: Assim haverá alegria entre os Anjos de Deus por um pecador que se arrependa

Por vezes, as pessoas têm medo de regressar a Deus, com receio de não serem acolhidas. Transferem para a Sua relação com Deus as experiências amargas da convivência com as outras pessoas neste mundo.

Nas três parábolas da misericórdia, Jesus Cristo ensina-nos que a maior alegria que podemos dar a Deus é regressarmos ao Seu Amor e aceitar o Seu perdão generoso. As portas da Sua misericórdia estão sempre abertas e convidam-nos a entrar. Nós próprios sentimos continuamente dentro de nós o Seu chamamento.

 

b) A decisão é nossa. Nas parábolas da ovelha tresmalhada e da dracma perdida não há manifestação de uma nem de outra para serem encontradas, porque não têm vontade.

Na parábola do filho pródigo, o caso é muito diferente. Ele dá largas ao seu sonho ingénuo de ser feliz longe de toda a lei e de todo o amor e acaba por reconhecer o seu erro.

Curiosamente, não foi a dor do sofrimento que tinha causado aos seus que o levaram ao regresso, mas a fome, a ameaça de morte.

A sua decisão está expressa na palavra: «Levantar-me-ei!» No primeiro momento em que manifestarmos ao Senhor que estamos mal e queremos libertar-nos desta situação, Ele virá em nosso auxílio.

 

c) A confissão, caminho do regresso. Jesus deixa muito claro que o regresso tem uma orientação necessária: ir ao encontro do Pai e reconciliar-se com ele. A Igreja ensina que não há outro caminho ordinário e normal para o perdão dos pecados a não ser a confissão e a absolvição individuais. Estamos perante um dogma de fé que a Igreja professou sempre e, num dado momento da sua história, se viu forçada a defini-lo.

Mesmo quando, em perigo de vida e noutras situações que ela aponta, é indispensável, depois, a confissão individual dos pecados.

Nesta parábola, Jesus ensina-nos como nos havemos de confessar.

– Cair em si. É o reconhecimento da situação em que nos encontramos. Sem a consciência de que temos pecados, não receberíamos validamente a absolvição. Fazemos isto, por meio do exame de consciência.

– Propósito de emenda. Trata-se de abandonar a vida de escravidão em que nos encontrávamos e regressar à liberdade: «Levantar-me-ei e irei ter com meu pai

Sem esta mudança radical de propósito não há conversão e, por isso, não há confissão verdadeira.

– Confissão sincera. Este jovem declara a sua culpa ao chegar junto do pai: «Pequei contra o Céu e contra ti

– Humildade profunda: «Já não sou digno de ser chamado teu filho

– A festa do regresso. Deus prepara uma festa:

pela alegria que nos dá;

pelo banquete que nos oferece.

 

Fala o Santo Padre

 

Queridos irmãos e irmãs!

Hoje, a liturgia propõe à nossa meditação o capítulo 15 do Evangelho de Lucas, uma das mais elevadas e comovedoras páginas de toda a Sagrada Escritura. É bom pensar que em todo o mundo, onde quer que a comunidade cristã se reúna para celebrar a Eucaristia dominical, ressoe neste dia, esta Boa Nova de verdade e de salvação: Deus é amor misericordioso. O evangelista Lucas reuniu neste capítulo três parábolas sobre a misericórdia divina: as duas mais breves, comum a Mateus e Marcos, são a da ovelha tresmalhada e da moeda perdida; a terceira, mais longa, articulada e tipicamente sua, é a célebre parábola do Pai misericordioso, também conhecida como a do «filho pródigo». Nesta página evangélica, quase se ouve a voz de Jesus, que nos revela o rosto do seu Pai e nosso Pai. Foi realmente para isto que Ele veio ao mundo: para nos falar do Pai; para o dar a conhecer a nós, filhos desviados, e dar novamente aos nossos corações a alegria de pertencer a Ele, a esperança de ser perdoados e restituir à nossa plena dignidade, o desejo de habitar para sempre na sua casa, que também é a nossa casa.

Jesus narrou as três parábolas da misericórdia porque os fariseus e os escribas falavam mal d’Ele, vendo que se deixava aproximar dos pecadores e igualmente comia com eles (cf. Lc 15, 1-3). Portanto, Ele explicou, com a sua linguagem característica, que Deus não quer que se perca sequer um dos seus filhos e a sua alma transborda de alegria quando um pecador se converte. A verdadeira religião consiste portanto no entrar em sintonia com este Coração «rico de misericórdia», que nos pede para amar a todos, mesmo os distantes e os inimigos, imitando o Pai celeste que respeita a liberdade de cada um e atrai todos a si com a força invencível da sua fidelidade. Este é o caminho que Jesus mostra a quantos desejam ser seus discípulos: «Não julgueis… não condeneis… perdoai e sereis perdoados; dai e dar-se-vos-á… Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso» (Lc 6, 36-38). Nestas palavras encontramos indicações claras para o nosso comportamento quotidiano de crentes. […]

 

Papa Bento XVI, Angelus, 16 de Setembro de 2007

 

LITURGIA EUCARÍSTICA

 

INTRODUÇÃO

 

Na Mesa da palavra, o Senhor lançou em nossos corações a semente da conversão pessoal.

Sabendo que não podemos perseverar sem a Sua ajuda, Jesus Cristo instituiu o memorial da Sua Paixão, Morte e Ressurreição.

Vamos agora participar nele, pois o divino Mestre renova o sacrifício pascal, servindo-se do ministério dos sacerdotes.

 

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS: Ouvi, Senhor, com bondade as nossas súplicas e recebei estas ofertas dos vossos fiéis, para que os dons oferecidos por cada um de nós para glória do vosso nome sirvam para a salvação de todos. Por Nosso Senhor…

 

SANTO

 

SAUDAÇÃO DA PAZ

 

Sem a reconciliação com Deus, com os irmãos e connosco mesmos, não há verdadeira paz.

Somos convidados pelo Senhor, neste momento, a perdoar as ofensas recebidas e a pedir perdão aos que ofendemos alguma vez.

Com estes sentimentos,

 

Saudai-vos na paz de Cristo!

 

Monição da Comunhão

 

Só deve participar plenamente na Santa Missa pela Sagrada Comunhão quem procurou entrar aqui com a veste nupcial – o estado de graça – se necessário, por uma confissão bem feita.

Examine-se, pois, cada um a si mesmo, antes de se aproximar desta mesa celestial.

 

 

Sl 35, 8

ANTÍFONA DA COMUNHÃO: Como é admirável, Senhor, a vossa bondade! Na sombra das vossas asas se refugiam os homens.

Ou:    Sl 35, 8

O cálice de bênção é comunhão no Sangue de Cristo; e o pão que partimos é comunhão no Corpo do Senhor.

 

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO: Senhor nosso Deus, concedei que este sacramento celeste nos santifique totalmente a alma e o corpo, para que não sejamos conduzidos pelos nossos sentimentos mas pela virtude vivificante do vosso Espírito. Por Nosso Senhor…

 

 

RITOS FINAIS

 

Monição final

 

A despedida que o sacerdote nos vai dirigir não significa que tudo acabou, até ao próximo domingo, mas que a Missa vai continuar durante a semana.

Será vivida por nós em todos os lugares em que nos encontrarmos, dando testemunho de Cristo ressuscitado e cheio de misericórdia.

 

 

HOMILIA FERIAL

 

24ª SEMANA

 

2ª Feira, 16-IX: Edificar através da Eucaristia.

Cor 11, 17-26 / Lc 7, 1-10

Sempre que comerdes este pão e beberdes esta taça, anunciareis a morte do Senhor, até que Ele venha.

A Igreja vive da Eucaristia desde os primeiros tempos: «No Cenáculo, os Apóstolos, tendo aceite o convite de Jesus: ‘Tomai, comei’, entraram pela primeira vez em comunhão sacramental com Ele. Desde então e até ao fim dos séculos, a Igreja edifica-se através da comunhão sacramental com o Filho de Deus imolado por nós: ‘Todas as vezes…’ (Leit.)» (IVE, 21).

Para sermos almas de Eucaristia procuremos melhorar as nossas disposições ao recebermos a Comunhão. Sigamos o exemplo do centurião (Ev.), repetindo a suas palavras e imitemos as suas disposições de fé, humildade e delicadeza.

 

 

 

 

 

 

Celebração e Homilia:         FERNANDO SILVA

Nota Exegética:                    GERALDO MORUJÃO

Homilia Ferial:                      NUNO ROMÃO

Sugestão Musical:                DUARTE NUNO ROCHA

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