RITOS INICIAIS
Salmo 16, 15
ANTÍFONA DE ENTRADA: Eu venho, Senhor, à vossa presença: ficarei saciado ao contemplar a vossa glória.
Introdução ao espírito da Celebração
Uma das tentações mais comuns dos dias em que vivemos é a fuga de todo o compromisso com Deus e com os homens.
Um rosto visível desta fobia é a falta de perseverança na fidelidade ao matrimónio e a outras vocações.
Foge-se de qualquer compromisso definitivo, estável, mesmo de amor, como se ele tolhesse a nossa liberdade. Ela é como o dinheiro. Ele não nos serve para nada, se não o usarmos.
Ao querer viver uma liberdade utópica, estas pessoas acabam por cair nas malhas da mais tirânica escravidão: da droga, do álcool, da sensualidade, da gula, etc.
Agradeçamos ao Senhor, porque nos ensina o caminho da verdadeira liberdade, na Liturgia da Palavra deste 15.º Domingo comum.
ACTO PENITENCIAL
Todo o pecado é, de facto, uma escolha errada, no caminho da procura da verdadeira liberdade.
Peçamos humildemente ao Senhor perdão pelas más escolhas que temos feito na vida, e imploremos a Sua ajuda para mudar de vida.
(Tempo de silêncio. Apresentamos, como alternativa, elementos para o esquema C)
• Senhor Jesus: perdoai-nos o medo aos compromissos
e dai-nos a graça de sermos mais corajosos na vida.
Senhor, tende piedade de nós!
Senhor, tende piedade de nós!
• Cristo: fazei-nos ver na Vossa Lei que nos entregastes
o verdadeiro caminho da liberdade que procuramos.
Senhor, tende piedade de nós!
Cristo, tende piedade de nós!
• Senhor Jesus: perdoai-nos a falta de perseverança na vida,
e dai-nos a fidelidade aos compromissos do Baptismo.
Cristo, tende piedade de nós!
Senhor, tende piedade de nós!
Deus todo poderoso tenha compaixão de nós,
perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna.
ORAÇÃO COLECTA: Senhor nosso Deus, que mostrais aos errantes a luz da vossa verdade para poderem voltar ao bom caminho, concedei a quantos se declaram cristãos que, rejeitando tudo o que é indigno deste nome, sigam fielmente as exigências da sua fé. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
LITURGIA DA PALAVRA
Primeira Leitura
Monição: Moisés fala ao Povo sobre os Mandamentos da Lei de Deus que recebeu no Sinai e anima-o a cumpri-los com fidelidade.
A sua observância não está fora das nossas possibilidades, porque o Senhor gravou-os no nosso coração.
O esforço diário para os cumprir é uma manifestação do amor de Deus e expressão da nossa conversão pessoal.
Deuteronómio 30, 10-14
Moisés falou ao povo, dizendo: 10«Escutarás a voz do Senhor teu Deus, cumprindo os seus preceitos e mandamentos que estão escritos no Livro da Lei, e converter-te-ás ao Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma. 11Este mandamento que hoje te imponho não está acima das tuas forças nem fora do teu alcance. 12Não está no céu, para que precises de dizer: ‘Quem irá por nós subir ao céu, para no-lo buscar e fazer ouvir, a fim de o pormos em prática?’. 13Não está para além dos mares, para que precises de dizer: ‘Quem irá por nós transpor os mares, para no-lo buscar e fazer ouvir, a fim de o pormos em prática?’. 14Esta palavra está perto de ti, está na tua boca e no teu coração, para que a possas pôr em prática».
O texto da leitura é tirado da chamada «Aliança de Moab», o 3º discurso de Moisés (Dt 28, 69 – 30, 20). De uma forma poética e imaginosa muito bela, o autor afirma que o conhecimento da Lei de Deus é acessível a todos, sem serem necessários muitos estudos e longas investigações. S. Paulo em Rom 10, 6-8 faz uma aplicação deste texto ao conhecimento da «palavra da fé» pregada pelos Apóstolos.
Salmo Responsorial
Sl 68 (69), 14.17.30-31.33-34.36ab.37 (R. cf. 33)
Monição: O salmo que a Liturgia nos propõe é uma súplica humilde ao Senhor, para que nos ajude a ser fieis.
O salmista apoia-se nos atributos do Deus da Aliança: a misericórdia, a fidelidade e a compaixão. Expõe depois a própria condição a gritar por ajuda: «eu sou pobre e miserável» e termina com uma acto de esperança no Senhor.
Rezemo-lo (cantando) também nós.
Refrão: PROCURAI, POBRES, O SENHOR E ENCONTRAREIS A VIDA.
A Vós, Senhor, elevo a minha súplica,
pela vossa imensa bondade respondei-me.
Ouvi-me, Senhor, pela bondade da vossa graça,
voltai-Vos para mim pela vossa grande misericórdia.
Eu sou pobre e miserável:
defendei-me com a vossa protecção.
Louvarei com cânticos o nome de Deus
e em acção de graças O glorificarei.
Vós, humildes, olhai e alegrai-vos,
buscai o Senhor e o vosso coração se reanimará.
O Senhor ouve os pobres
e não despreza os cativos.
Deus protegerá Sião,
reconstruirá as cidades de Judá.
Os seus servos a receberão em herança
e nela hão-de morar os que amam o seu nome.
Segunda Leitura
Monição: S. Paulo, na Carta aos fiéis da Igreja de Colossos, transcreve um hino em honra de Jesus Cristo. Ele é o centro à volta do qual se constrói a história e a vida de cada um de nós.
A catequese sobre a centralidade de Cristo na vida leva-nos a pensar na importância do que Ele nos diz no Evangelho de hoje. Se Cristo é o centro a partir do qual tudo se constrói, convém escutá-l’O atentamente e fazer do amor a Deus e aos outros uma exigência fundamental da nossa caminhada.
Colossenses 1, 15-20
15Cristo Jesus é a imagem de Deus invisível, o Primogénito de toda a criatura; 16porque n’Ele foram criadas todas as coisas no céu e na terra, visíveis e invisíveis, Tronos e Dominações, Principados e Potestades: por Ele e para Ele tudo foi criado. 17Ele é anterior a todas as coisas e n’Ele tudo subsiste. 18Ele é a cabeça da Igreja, que é o seu corpo. Ele é o Princípio, o Primogénito de entre os mortos; em tudo Ele tem o primeiro lugar. 19Aprouve a Deus que n’Ele residisse toda a plenitude 20e por Ele fossem reconciliadas consigo todas as coisas, estabelecendo a paz, pelo sangue da sua cruz, com todas as criaturas na terra e nos céus.
O texto da nossa leitura, com um certo sabor de um hino a Cristo, condensa o ensino central desta carta do cativeiro, e é uma das belas e ricas sínteses da cristologia paulina. Em face da chamada «crise de Colossas», em que alguns põem em causa a primazia absoluta de Cristo, colocando-o ao nível de outros seres superiores e intermédios, quer da cultura pagã, quer da cultura judaica, S. Paulo ensina peremptoriamente a mais completa supremacia de Cristo sobre toda a Criação (vv. 15-17), em virtude da sua acção criadora, e também no campo da nova Criação (vv. 18-20), em virtude da sua acção redentora, que reconcilia todas as coisas com Deus na paz.
15 «Imagem de Deus invisível». Imagem, para um semita, não é simplesmente a figuração duma realidade, de natureza distinta, mas é, antes de mais, a exteriorização sensível da própria realidade oculta e da sua mesma essência. Assim, é afirmada a divindade de Cristo, o qual nos torna visível e tangível o próprio Deus invisível e transcendente (cf. Jo 1, 18; 14, 9-11; 2 Cor 4, 4; Hbr 1, 3). Cristo também é «o Primogénito de toda a criatura», no sentido da sua preeminência única sobre todas as criaturas, não só por Ele existir antes de todas, não, porém, no sentido ariano de primeira criatura, mas enquanto todas foram criadas «n’Ele», «por Ele» e «para Ele» (v.16).
19 «Toda a plenitude», isto é, a totalidade de todos os tesouros da graça que Deus comunica aos homens depois do pecado, em ordem à reconciliação que Ele realiza pelo seu sangue da sua Cruz (v. 20). Em Col 2, 9 diz-se que em Cristo «habita corporalmente toda a plenitude da natureza divina».
Aclamação ao Evangelho
Jo 14, 23
Monição: Jesus ensina-nos no Evangelho que o amor a Deus e aos irmãos está no centro da nossa vida cristã.
Alegremo-nos com esta revelação e aclamemos o Evangelho que no-la transmite..
ALELUIA
As vossas palavras, Senhor, são espírito e vida: Vós tendes palavras de vida eterna.
Evangelho
São Lucas 10, 25-37
Naquele tempo, 25levantou-se um doutor da lei e perguntou a Jesus para O experimentar: «Mestre, que hei-de fazer para receber como herança a vida eterna?» 26Jesus disse-lhe: «Que está escrito na lei? Como lês tu?» 27Ele respondeu: «Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento; e ao próximo como a ti mesmo». 28Disse-lhe Jesus: «Respondeste bem. Faz isso e viverás».29Mas ele, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: «E quem é o meu próximo?» 30Jesus, tomando a palavra, disse: «Um homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores. Roubaram-lhe tudo o que levava, espancaram-no e foram-se embora, deixando-o meio morto. 31Por coincidência, descia pelo mesmo caminho um sacerdote; viu-o e passou adiante. 32Do mesmo modo, um levita que vinha por aquele lugar, viu-o e passou também adiante.33Mas um samaritano, que ia de viagem, passou junto dele e, ao vê-lo, encheu-se de compaixão. 34Aproximou-se, ligou-lhe as feridas deitando azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele.35No dia seguinte, tirou duas moedas, deu-as ao estalajadeiro e disse: ‘Trata bem dele; e o que gastares a mais eu to pagarei quando voltar’. 36Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?» 37O doutor da lei respondeu: «O que teve compaixão dele». Disse-lhe Jesus: Então vai e faz o mesmo».
29 «E quem é o meu próximo?» Jesus não explica o conceito de próximo a quem se deve amar, por meio de definições abstractas, mas duma maneira gráfica, concreta e intuitiva, dizendo como actuou uma pessoa que possuía autêntico amor ao próximo (há quem pense tratar-se dum caso real, embora se costume considerar como uma parábola, exclusiva de Lucas).
30-35 Não se identifica quem foi o homem assaltado, talvez para realçar que o amor deve ser universal: o samaritano não pára para investigar de quem se trata; o que ele sabe é que se trata de um necessitado, embora estranho, desconhecido, sendo até de supor tratar-se de um judeu inimigo, uma vez que o caso se passa na Judeia. O samaritano faz tudo o que a necessidade do desgraçado exige, cumprindo, de maneira perfeita, o amor ao próximo. O doutor da lei tinha perguntado: «quem é o meu próximo?» A história deixa ver, antes de mais, que, quando uma pessoa leva o amor no coração, esse amor já lhe fará ver quem é o próximo. «A violação do preceito do amor ao próximo não procede nunca duma falta de conhecimento sobre a sua aplicação prática, mas sim duma falta de amor» (J. Schmid). O que importa não é investigar quem é o meu próximo, como faz o doutor da lei (v. 29), mas o que é preciso é saber ser próximo, proceder como próximo; por isso, Jesus pergunta: «qual dos três se portou como próximo?» Jesus não só acaba com as barreiras de raça, nacionalidade, religião (os samaritanos estavam separados por todas estas barreiras), como também nos situa acima dos acanhados horizontes legalistas do «sacerdote» e do «levita», que se julgavam juridicamente escusados de prestar socorro naquele caso.
37 «Vai e faz o mesmo». Jesus insiste em que não chega saber a teoria sobre a caridade, mas que é preciso tomar atitudes concretas, como esta. Houve Padres que viram no Bom Samaritano uma figura de Cristo que veio do Céu à terra para salvar a humanidade ferida de morte por causa do pecado em que jazia, abandonada pela Sinagoga (o sacerdote e o levita). Jesus salva essa humanidade caída, e deixa-a entregue à Igreja – a estalagem (v. 34) – até quando voltar (v. 35), no fim dos tempos.
Sugestões para a homilia
• Compromisso com Deus
Conhecer a Lei de Deus
Cumpri-la com fidelidade
No amor a Jesus Cristo
• Compromisso com os irmãos
Quem é o meu próximo
Em que o posso ajudar
Como posso ajudá-lo
1. Compromisso com Deus
a) Conhecer a Lei de Deus. «Moisés falou ao povo, dizendo: «Escutarás a voz do Senhor teu Deus.»
A Lei de Deus não é uma imposição externa e incómoda na nossa vida, mas um conjunto de regras que correspondem à nossa natureza. A sua observância amorosa é necessária para alcançar a perfeição e a felicidade já nesta vida.
Tal como uma máquina está condicionada por um conjunto de regras para que cumpra a sua missão – e sem elas não pode funcionar – de modo análogo os preceitos do Senhor são o caminho para nos realizarmos. A pessoa que mente, que rouba, que maltrata o seu semelhante, que se deixa aprisionar pela sensualidade ou pela comida, vai-se deformando gradualmente à medida que insiste nesses desvios.
Tal como fez aos nossos primeiros pais, o Inimigo tenta convencer-nos de que a obediência à Lei de Deus nos impede de ser felizes e nos coarcta a liberdade. Traça os sinais deixados por Deus a indicar o caminho da realização humana plena, para nos induzir em erro.
Temos necessidade de conhecer, não só as regras de vida que nos são dadas pelo Senhor, por meio dos Seus Mandamentos, mas também encará-los como caminho indicado por Deus para a nossa liberdade e realização plena.
b) Cumpri-la com fidelidade. «Esta palavra está perto de ti, está na tua boca e no teu coração, para que a possas pôr em prática.»
Não podemos fazer uma selecção dos Mandamentos de acordo com o nosso gosto ou a dificuldade que encontramos na sua observância. A lei de Deus é como uma canalização: não podemos dispensar qualquer um dos seus segmentos; de outro modo, a água não chegaria ao seu destino.
É no cuidado assíduo por cumprir todos e cada um dos Mandamentos que encontramos o modo de nos desenvolvermos humanamente até à plenitude.
Deste cuidado pela fidelidade aos Mandamentos é inseparável a preocupação por formar bem a consciência, dadas os muitos erros que encontramos à nossa volta.
Por outro lado, o Senhor deixou-a tão acessível que não encontramos desculpa para a não observar. Não está fora do nosso alcance, de modo que pudéssemos encontrar desculpa para não a cumprir.
Na Sua misericórdia, o Senhor esculpiu-a no coração de cada um de nós, na consciência, de tal modo que quando a não cumprimos, sentimo-nos mal. Depois, com o decorrer do tempo, esta sensibilidade interior vai-se perdendo, e acabamos por torná-la como uma mão calejada que deixa de sentir perfeitamente a superfície do que toca.
Daí que não é argumento definitivo uma pessoa dizer que tem a consciência tranquila. Ela é como uma balança delicada que tem de ser mantida sempre em perfeita afinação (como a balança de um ourives).
c) No amor a Jesus Cristo. «Cristo Jesus é a imagem de Deus invisível, o Primogénito de toda a criatura.»
Jesus Cristo é a Cabeça do Corpo Místico de que todos fazemos parte, desde o Baptismo.
Ele é o nosso modelo na fidelidade à vontade do Pai em todos os passos da Sua vida mortal. Caminha à nossa frente, para nos ensinar a seguir sempre o caminho da felicidade e da alegria.
Esta centralidade do redentor tem de estar presente na nossa fidelidade aos Mandamentos. Nós não andamos à procura de uma perfeição ideal, mas procuramos, pela nossa vida, chegar à intimidade com Ele e, por Ele, ao Pai.
O Pai no-l’O deu para nosso modelo, de tal modo que possamos, em momentos de dúvida, encontrar a solução nesta pergunta: «como faria Jesus Cristo se estivesse no meu lugar?» Ao segui-l’O, temos a certeza de fazer a vontade do Pai.
Deste modo evitamos um legalismo que nos afasta de Deus, como aconteceu a muitos contemporâneos de Jesus. Lançavam mão do pretexto de cumprir um preceito da Lei, para desobedecerem à vontade do Senhor.
Como ajuda permanente para o cumprimento da Lei, está a regra suprema de caridade – o amor de Deus e o do próximo. Tendo-a diante dos olhos, poderemos resolver todas as dúvidas.
2. Compromisso com os irmãos
a) Quem é o meu próximo. «E quem é o meu próximo?»
Para um hebreu, havia dois «próximos»: os que pertenciam à sua raça e os estrangeiros. A casuística formada nos costumes que se iam enraizando acabou por estar contra este socorro as necessitados. O sacerdote e o levita deixaram de socorrer o desgraçado que encontraram e até passaram ao lado, porque a Lei criada pelos homens proibia tocar num estrangeiro, de tal modo que, se o fizessem, ficavam impuros legalmente.
Na sua vida pública, Jesus tenta ajudar estes homens a distinguir o acessório do principal e mostra-lhes as contradições em que se deixam cair: escandalizam-se por Ele «transgredir» o descanso sabático ao curar um paralítico, mas se um animal deles cair num posso, mesmo que seja um Sábado, apressam-se a recuperá-lo.
O meu próximo é todo aquele que precisa da minha ajuda, em qualquer momento.
Sendo assim, é difícil que não tenhamos ao nosso lado, em qualquer momento, alguém que precisa da minha ajuda.
Na parábola do bom samaritano encontramos a resposta à nossa dúvida. Jesus pergunta ao doutor da lei: «’Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?’ O doutor da lei respondeu: ‘O que teve compaixão dele’».
Para mais, Jesus Cristo ensinou-nos que está misteriosamente presente em cada pessoa que ajudamos.
No sermão sobre o juízo final responde: «Em verdade vos digo: todas as vezes que fizestes isto a um dos Meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes.» (Mt 25, 1 e ss).
b) Em que o posso ajudar. «Mas um samaritano, que ia de viagem, passou junto dele e, ao vê-lo, encheu-se de compaixão.»
Há uma ordem de necessidades a socorrer. Mas é fora de dúvida que as necessidades espirituais podem ceder o passo a uma necessidade física urgente, como, por exemplo, se a pessoa está em perigo de morte ou em grave necessidade de ajuda.
Diante do bom samaritano – como do sacerdote e do levita – estava um homem em perigo de vida, a esvair-se em sangue. Mais algum tempo de abandono, e talvez tivesse morrido.
Este homem considerado pagão, pecador, segundo a mentalidade dos israelitas compreende como há-de ser o seu amor:
• Amor sacrificado. Interrompe a sua viagem, deixa de lado os planos pessoais, arisca a vida, porque os ladrões podem estar ainda por ali perto e assaltá-lo, e investe o seu dinheiro para o ajudar. Não se pode amar o próximo sem sacrifício.
• Amor desinteressado. Encontra-se perante um desconhecido. Mesmo que viesse a sobreviver, no estado em que se encontrava nunca se chegaria a aperceber se ele passasse com indiferença.
É mesmo possível que os dois nunca se tenham encontrado depois da cura. Quando o samaritano regressou da viagem, para saldar a conta do alojamento do sinistrado, talvez ele já tivesse partido para a sua terra, sem agradecer tanto sacrifício.
• Amor operativo. Não se limita a atar as mãos na cabeça, lamentando a sorte daquele viajante, mas empenha-se seriamente em ajudá-lo.
• Amor vigilante. Encara este homem como uma pessoa da sua família pela qual se sente responsável. Pede ao estalajadeiro que o trate bem, e responsabiliza-se por pagar todos os gastos. ‘Trata bem dele; e o que gastares a mais eu to pagarei quando voltar’.
c) Como posso ajudá-lo. «Aproximou-se, ligou-lhe as feridas deitando azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele.»
As ajudas que procuramos prestar não podem ser idealistas, mas uma resposta cheia de realismo às necessidades que a pessoa apresenta. Podem oferecer-se estas indicações:
• Ajudar as pessoas no que elas mais necessitam. O bom samaritano cuidou as feridas do sinistrado, deitando-lhe azeite e vinho. O azeite suavizava as dores; e o vinho causticava-as, desinfectando-as.
Ligou-lhe as feridas, para estancar a hemorragia. A boa ajuda há-de levar as pessoas à confissão sacramental, para que cesse a hemorragia do pecado e comecem uma recuperação pronta e eficaz.
Para uma classe de pessoas, a tentação é deitar só azeite… mas isto não cura as feridas. Apenas diminui as dores. Outras preferem limitar a sua ajuda a queimar, a repreender, a gritar bem alto que devem mudar de vida. Um consagrado autor português escreveu que quem lava copos de vidro não há-de carregar tanto neles que os quebre; e quem corrige não há-de ser tão duro que deixe a pessoas sem coragem para se corrigir.
• É preciso saber ajudar, e não substituir as pessoas. Se a nossa ajuda via alimentar defeitos ou vícios contra os quais não se quer lutar, não somos amigos das pessoas.
Sucede frequentemente com as mães que, ao quererem ajudar os filhos, os substituem nos pequenos trabalhos, tornando-os preguiçosos inveterados.
Jesus é o bom samaritano da Parábola. Encontrou-nos feridos pelo pecado, em perigo de morte eterna. Socorreu-nos, não com o dinheiro, mas com a Sua vida.
A Missa m que estamos a participar é a renovação sacramental deste mistério de Amor.
Que a Santíssima Virgem nos ajude e ensine a tirar o maior fruto desta dádiva que o Senhor nos oferece no primeiro dia de cada semana.
LITURGIA EUCARÍSTICA
INTRODUÇÃO
O Senhor avivou no coração e na mente de cada um de nós a Sua Lei, pela proclamação da Palavra.
Vai agora, pelo ministério do sacerdote, vai transubstanciar o pão e o vinho que levamos ao altar, pelo ministério do sacerdote, no Seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade, tão real e perfeitamente como está no Céu.
Avivemos a nossa fé e acolhamos a Sua Presença Real sobre o altar com o coração agradecido.
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS: Olhai, Senhor, para os dons da vossa Igreja em oração e concedei aos fiéis que os vão receber a graça de crescerem na santidade. Por Nosso Senhor.
SANTO
SAUDAÇÃO DA PAZ
Na Liturgia da Palavra, Jesus Cristo ensinou-nos que toda a Lei se resume em amar: a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.
Chegou o momento de mostrarmos visivelmente, por um gesto litúrgico, a nossa disponibilidade para perdoar e acertar ser perdoado.
Saudai-vos na paz de Cristo!
Monição da Comunhão
Quando vamos comungar recebemos o Senhor do Universo, Deus e Homem verdadeiro, como Alimento da nossa vida sobrenatural.
Não nos esqueçamos das condições indispensáveis para O receber: fé viva, estado de graça se, necessário e devoção – nos vem a força de Deus para vivermos a fidelidade à Sua Lei, nesta caminhada para o Céu.
Agradeçamos este Dom, que é o próprio Senhor, e aproximemo-nos com reverência e Amor deste alimento divino.
Salmo 83, 4-5
ANTÍFONA DA COMUNHÃO: As aves do céu encontram abrigo e as andorinhas um ninho para os seus filhos, junto dos vossos altares, Senhor dos Exércitos, meu Rei e meu Deus. Felizes os que moram em vossa casa e a toda a hora cantam os vossos louvores.
Ou
Jo 6, 57
Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue permanece em Mim e Eu nele, diz o Senhor.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO: Senhor, que nos alimentais à vossa mesa santa, humildemente Vos suplicamos: sempre que celebramos estes mistérios, aumentai em nós os frutos da salvação. Por Nosso Senhor…
RITOS FINAIS
Monição final
Seremos, ao continuar esta Missa durante a semana, na vida de família, no trabalho e nos encontros com os nossos irmãos, testemunhas do Amor.
Deus conta connosco, e nós contamos com a Sua ajuda, por intercessão de Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe.
HOMILIAS FERIAIS
15ª SEMANA
2ª Feira, 15-VII: Seguimento de Cristo e conversão.
Is 1, 11-17 / Mt 10, 34- 11, 1
Quem não toma a sua cruz, para me seguir, não é digno de mim.
O seguimento de Cristo é o mais importante da vida de um cristão e exige uma conversão: não basta oferecer qualquer sacrifício: «de que me servem os vossos inúmeros sacrifícios?» (Leit.).
«A conversão realiza-se na vida quotidiana por gestos de reconciliação, o exercício e a defesa da justiça e do direito, pela correcção fraterna, a revisão de vida, o exame de consciência, a direcção espiritual, a aceitação dos sofrimentos, a coragem de suportar a perseguição por amor da justiça. Tomar a sua cruz todos os dias e seguir Jesus (Ev.) é o caminho mais seguro da penitência» (CIC, 1435).
3ª Feira, 16-VII: Graça de Deus e conversão.
Is 7, 1-9 / Mt 11, 20-24
Começou Jesus a censurar duramente as cidades em que tinha realizado a maioria dos seus milagres, por não terem feito penitência.
Os habitantes destas cidades não corresponderam às graças recebidas de Deus. Embora Jesus não tenha vindo para julgar, mas para salvar é, no entanto, possível recusar as graças nesta vida, endurecendo-se o coração do homem. Mas também protege a cidade de Jerusalém doa ataques dos reis de Judá e da Síria (Leit.).
«O coração do homem é pesado e endurecido. É necessário que Deus dê ao homem um coração novo. A conversão é, antes de mais, obra da graça de Deus, a qual faz com que os nossos corações se voltem para Ele: convertei-nos. Senhor, e seremos convertidos. Deus é quem nos dá a coragem de começar de novo» (CIC, 1432).
4ª Feira, 17-VII: Humildade e sentido de vida.
Is 10, 5-7. 13-16 / Mt 11, 25-27
Eu te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas verdades aos sábios e aos inteligentes e as revelastes aos pequeninos.
É aos humildes que Deus se revela (Ev.): «De facto, Jesus é o único capaz de revelar o projecto de Deus, lá encerrado no livro. Abandonado a si mesmo, o esforço do homem não consegue dar um sentido à história e às suas vicissitudes: a vida fica sem esperança. Só o Filho do Homem é capaz de dissipar as trevas e indicar a estrada» (J. Paulo II).
Pelo contrário, «o Senhor do universo fará definhar os mais robustos da Assíria», isto é, os soberbos ou orgulhosos, que não conseguiram entender os planos de Deus (Leit.).
5ª Feira, 18-VII: Recorramos ao Senhor nas dificuldades.
Is. 26, 7-9. 12. 16-19 / Mt 11, 28-30
Vinde a mim, todos vós que vos afadigais e andais sobrecarregados, que Eu vos aliviarei.
«O Verbo fez-se carne, para ser o nosso modelo de santidade: ‘aprendei de mim’ (Ev.)» (CIC, 459). Embora exigente, não impõe um fardo pesado demais: «o meu jugo é suave, e a minha carga é leve» (Ev.). De modo especial, chama a atenção para a mansidão e a humildade, que estão incluídas nas bem-aventuranças, que são promessas que mantêm a esperança no meio das dificuldades.
Quando sofremos, como «a mulher que está para ser mãe se contorce e grita com dores, assim estávamos diante de vós, Senhor» (Leit.), recorramos rapidamente a Deus: «Na angústia, Senhor, recorremos a vós» (Leit.).
6ª Feira, 19-VII: Nª Sª do Carmo: Mais um caminho para o Céu.
Is 38, 1-6. 21-22. 7-8 / Mt 12, 1-8
Oh! Senhor! Peço-vos que recordeis como tenho procedido fielmente e de coração sincero na vossa presença, como tenho feito quanto agrada aos vossos olhos.
Ezequias pediu ao Senhor a sua cura, recordando-lhe o seu bom comportamento.
A memória de Nª Sª do Carmo recorda-nos que a nossa Mãe se empenha em levar para o céu os seus filhos que usam o escapulário do Carmo e tenham procurado agradar-lhe: «Maria Santíssima guia-nos para o futuro eterno; ajuda-nos a desejá-lo e a descobri-lo; dá-nos a sua esperança, a sua certeza. Animados por tão magnífica realidade, com indiscutível alegria, a nossa humilde e fatigosa peregrinação na terra, iluminada por Maria, transforma-se em caminho seguro para o Paraíso» (Paulo VI).
Sábado, 20-VII: O Espírito Santo, fruto da Cruz.
Miq 2, 1-5 / Mt 12, 14-21
Eis o meu Servo, a quem escolhi, o meu muito amado, enlevo da minha alma.
«Os traços do Messias são revelados sobretudo nos cânticos do Servo do profeta Isaías (Ev.). Estes cânticos anunciam o sentido da paixão de Jesus, indicando assim a maneira como Ele derramará o Espírito Santo para dar vida à multidão. Tomando sobre si a nossa morte, Ele pode comunicar-nos o seu próprio Espírito de vida» (CIC, 713). O Senhor está disposto a dar a sua vida para nos dar a vida.
Temos necessidade deste Espírito, que nos comunica a vida, para podermos evitar aquelas coisas que «escravizam o homem e a sua morada» (Leit.), e que conduzem à morte.
Celebração e Homilia: FERNANDO SILVA
Nota Exegética: GERALDO MORUJÃO
Homilias Feriais: NUNO ROMÃO
Sugestão Musical: DUARTE NUNO ROCHA