Homilia do Padre Françoá Costa – Santíssima Trindade – Ano C

Santíssima Trindade

 

“Não devemos perder de vista a tradição, a doutrina e a fé da Igreja Católica, tal como o Senhor ensinou, tal como os apóstolos pregaram e os Santos Padres transmitiram. De fato, a tradição constitui o alicerce da Igreja, e todo aquele que dele se afasta deixa de ser cristão e não merece mais usar este nome” (Das cartas de Santo Atanásio, bispo, séc.IV). O que quer dizer “Santíssima Trindade”? Um mistério que só pode ser conhecido pela fé: há um só Deus em três Pessoas realmente distintas entre si: o Pai e o Filho e o Espírito Santo. A nossa salvação tem estrutura trinitária: o Filho nos atrai ao Pai a través da ação do Espírito Santo, somos batizados em nome das três Pessoas divinas. A Profissão de Fé, o Credo, tem essa mesma estrutura: “Creio em Deus Pai todo-poderoso (…). E em Jesus Cristo seu único Filho nosso Senhor (…). Creio no Espírito Santo (…)”. Nós queremos dizer no dia de hoje com a liturgia da Igreja: “Sede bendita, ó Trindade indivisível, agora e sempre e eternamente pelos séculos, vós que criais e governais todas as coisas” (Antífona do Cântico evangélico de Laudes). E pedimos: “Fazei que, professando a verdadeira fé, reconheçamos a glória da Trindade e adoremos a Unidade onipotente” (oração coleta).

Para dizer-se cristão é necessário crer que há um só Deus em três Pessoas realmente distintas – o Pai e o Filho e o Espírito Santo – e crer também que o Filho de Deus se fez homem, se encarnou para a nossa salvação. Há um só Deus e esse único Deus é uno, ou seja, não se divide; não é um Deus em três versões, em três rostos, ou em três deuses. Não! Há um só Deus. E, no entanto, Jesus Cristo, nos revelou que dentro de Deus há vida, há diálogo, há amor; em Deus há três Pessoas: o Pai e o Filho e o Espírito Santo. Mas o Pai não é nem o Filho nem o Espírito Santo, o Filho não é nem o Pai nem o Espírito Santo, o Espírito Santo não é o nem Pai nem o Filho; são Pessoas distintas. Cada Pessoa é Deus, cada Pessoa divina é toda a divindade e, no entanto, não há três deuses. Grande mistério!

O leitor poderia dizer-me: “mas isso eu já sei pela catequese”. De acordo! E, contudo, eu tenho certeza que é muito importante voltar a celebrar a nossa fé, professá-la e pensá-la. O dogma (verdade) da Santíssima Trindade nos diz também que o Pai não foi feito por ninguém, não foi criado, não foi gerado; que o Filho não foi criado pelo Pai, foi gerado, o que é muito diferente; que o Espírito Santo não foi criado nem gerado pelo Pai e pelo Filho, mas foi espirado, o que também é distinto. A geração do Filho pelo Pai é um ato espiritual, eterno e não pressupõe nenhuma ação fora da realidade de Deus. A espiração do Espírito Santo é também um ato espiritual e eterno, dentro da vida divina, que tem como fonte o Pai enquanto que tem um Filho; daí que no Ocidente sempre foi comum dizer que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho (Filioque), isto é, do Pai através do Filho, expressão mais próxima ao oriente cristão.

Quando dialogamos sobre a criação do mundo utilizando o argumento de que é preciso, seguindo as causas do que existe, chegar a um momento inicial, um princípio eterno que cause tudo o que existe, não é incomum encontrar a seguinte pergunta: “e quem fez Deus?”. A esta pergunta há que responder: Deus não foi feito por ninguém; se Deus fosse criado não seria Deus, seria criatura. Por outro lado, o nosso interlocutor precisa ser consequente: se não admitíssemos a existência de um Principio sem principio, que chamamos Deus, não existiria nada. Essa argumentação filosófica é completada pela afirmação teológica: a criação é obra de toda a Santíssima Trindade: do Pai e do Filho e do Espírito Santo; a criação é o resultado externo – e não necessário – do amor interno e necessário de Deus.

O Mistério da Santíssima é o motor da nossa vida cristã. Todas as nossas orações começam com o Sinal da Cruz e com a Santíssima Trindade; fomos feitos filhos do Pai no Filho pelo Espírito Santo; as orações da liturgia se dirigem ao Pai através do Nosso Senhor Jesus Cristo na unidade do Espírito Santo; a fé e a esperança e a caridade manifestam sobrenaturalmente as características internas da vida de Deus em nós; a nossa estrutura humana intelectual também leva a marca da Trindade nas nossas potencias de memória, inteligência e vontade. Enfim, estamos tocados até o mais profundo do nosso ser pelo Mistério do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Toda a nossa salvação depende da Santíssima Trindade, com a qual colaboramos. Não nos cansemos dizer, portanto, no dia de hoje e sempre: “Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo”.

 

Pe. Françoá Costa

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