Roteiro Homilético – III Domingo do Tempo Comum – Ano C

RITOS INICIAIS

 

Salmo 95, 1.6

ANTÍFONA DE ENTRADA: Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor, terra inteira. Glória e poder na sua presença, esplendor e majestade no seu templo.

 

Introdução ao espírito da Celebração

 

A celebração deste Domingo coloca a nossa atenção na escuta da Palavra de Deus. Ela faz parte essencial da Eucaristia e da celebração do encontro de Deus com o seu povo.

Todos devem estar voltados para a Palavra que deve ser proclamada com todos os meios, atitudes, gestos, fé. Assim se tornará Palavra acolhida, guardada e feita vida.

Fixemos o nosso olhar em Cristo que nos oferece a Palavra, que a interpreta e a cumpre, e no-la propõe para a vida.

A Palavra de Deus e o seu anúncio está profundamente unida à conversão. Ela constrói a nossa vida, qual alicerce seguro. Ela nos convida e conduz à conversão. Ela faz-nos descobrir as perspectivas de Deus. Ela nos leva ao compromisso com Deus e com a Igreja, Corpo de Cristo.

 

ORAÇÃO COLECTA: Deus todo-poderoso e eterno, dirigi a nossa vida segundo a vossa vontade, para que mereçamos produzir abundantes frutos de boas obras, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

 

LITURGIA DA PALAVRA

 

Primeira Leitura

 

Monição: Que eu me esforce por ter uma atitude de respeito, atenção, acolhimento, veneração, gratidão e compromisso com a Palavra de Deus.

 

Neemias 8, 2-4a.5-6.8-10

Naqueles dias, 2o sacerdote Esdras trouxe o Livro da Lei perante a assembleia de homens e mulheres e todos os que eram capazes de compreender. Era o primeiro dia do sétimo mês. 3Desde a aurora até ao meio dia, fez a Leitura do Livro, no largo situado diante da Porta das Águas, diante dos homens e mulheres e todos os que eram capazes de compreender. Todo o povo ouvia atentamente a Leitura do Livro da Lei. 4aO escriba Esdras estava de pé num estrado de madeira feito de propósito. Estando assim em plano superior a todo o povo, 5Esdras abriu o Livro à vista de todos; e quando o abriu, todos se levantaram. 6Então Esdras bendisse o Senhor, o grande Deus, e todos responderam, erguendo as mãos: «Amen! Amen!». E prostrando-se de rosto por terra, adoraram o Senhor. 8Os levitas liam, clara e distintamente, o Livro da Lei de Deus e explicavam o seu sentido, de maneira que se pudesse compreender a leitura. 9Então o governador Neemias, o sacerdote e escriba Esdras, bem como os levitas, que ensinavam o povo, disseram a todo o povo: «Hoje é um dia consagrado ao Senhor vosso Deus. Não vos entristeçais nem choreis». – Porque todo o povo chorava, ao escutar as palavras da Lei –. 10Depois Neemias acrescentou: «Ide para vossas casas, comei uma boa refeição, tomai bebidas doces e reparti com aqueles que não têm nada preparado. Hoje é um dia consagrado a nosso Senhor; portanto, não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa fortaleza».

 

Estamos num dos momentos mais expressivos da vida do povo eleito, após o desterro de Babilónia, uma das pedras miliárias da sua história: marca a reconstrução da vida da nação, a instauração oficial do judaísmo propriamente dito, em que o acento já não se põe tanto no Templo, mas na Lei, por isso a sua leitura não aparece feita no lugar sagrado, mas «no largo situado diante da Porta das Águas» (v. 3).

2 «Esdras», o grande organizador do Povo de Deus após o desterro, em pleno séc. V a. C., como comunidade judaica, uma fraternidade religiosa, uma verdadeira «igreja» estruturada na Lei de Moisés. «O primeiro dia sétimo mês, isto é, do mês correspondente a Setembro-Outubro, chamado «Tisri»; este dia correspondia ao início dos sete dias da festa dos Tabernáculos (parece que coincidia com a festa do Ano Novo), que o capítulo 9 deixa ver como anterior à festa da Expiação, um artifício para mostrar como a leitura da Lei levou à penitência, ligada ao Yôm Kippur (cf. Lv 23, 26-32).

9 «Todo o povo chorava», naturalmente, ao tomar consciência bem clara de que tinha quebrantado a Lei, merecendo os castigos nela cominados. De qualquer modo, a contrição não devia impedir a alegria, antes pelo contrário, pois era a ocasião asada para uma solene renovação da aliança (cf. capítulo 10).

 

Salmo Responsorial Sl 18 B (19), 8.9.10.15 (R. Jo 6, 63c)

 

Monição: A Palavra do Senhor é a mais bela oração. Ela irradia a beleza da presença de Deus na vida dos crentes.

 

Refrão: AS VOSSAS PALAVRAS, SENHOR,

SÃO ESPÍRITO E VIDA.

 

A lei do Senhor é perfeita,

ela reconforta a alma;

as ordens do Senhor são firmes,

dão sabedoria aos simples.

 

Os preceitos do Senhor são rectos

e alegram o coração;

Os mandamentos do Senhor são claros

e iluminam os olhos.

 

O temor do Senhor é puro

e permanece eternamente;

os juízos do Senhor são verdadeiros,

todos eles são rectos.

 

Aceitai as palavras da minha boca

e os pensamentos do meu coração

estejam na vossa presença:

Vós, Senhor, sois o meu amparo e redentor.

 

Segunda Leitura *

 

Monição: A Palavra de Deus leva-me a ver a Igreja como um mistério de amor, unidade na diversidade, compromisso ordenado de todos.

Assim serei um cristão que vê para além da fragilidade do visível, do externo e do temporal.

 

 

* O texto entre parêntesis pertence à forma longa e pode ser omitido.

 

Forma longa: 1 Coríntios 12, 12-30; forma breve: 1 Coríntios 12, 12-14.27

Irmãos: 12Assim como o corpo é um só e tem muitos membros, e todos os membros do corpo, apesar de numerosos, constituem um só corpo, assim sucede também em Cristo. 13Na verdade, todos nós – judeus e gregos, escravos e homens livres – fomos baptizados num só Espírito para constituirmos um só corpo e a todos nos foi dado a beber um só Espírito. 14De facto, o corpo não é constituído por um só membro, mas por muitos.

[15Se o pé dissesse: «Uma vez que não sou mão, não pertenço ao corpo», nem por isso deixaria de fazer parte do corpo. 16E se a orelha dissesse: «Uma vez que não sou olho, não pertenço ao corpo», nem por isso deixaria de fazer parte do corpo. 17Se o corpo inteiro fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo ele fosse ouvido, onde estaria o olfacto? 18Mas Deus dispôs no corpo cada um dos membros, segundo a sua vontade. 19Se todo ele fosse um só membro, que seria do corpo? 20Há, portanto, muitos membros, mas um só corpo. 21O olho não pode dizer à mão: «Não preciso de ti»; nem a cabeça dizer aos pés: «Não preciso de vós». 22Pelo contrário, os membros do corpo que parecem mais fracos são os mais necessários; 23os que nos parecem menos honrosos cuidamo-los com maior consideração; e os nossos membros menos decorosos são tratados com maior decência: 24os que são mais decorosos não precisam de tais cuidados. Deus organizou o corpo, dispensando maior consideração ao que dela precisa, 25para que não haja divisão no corpo e os membros tenham a mesma solicitude uns com os outros. 26Deste modo, se um membro sofre, todos os membros sofrem com ele; se um membro é honrado, todos os membros se alegram com ele.]

27Vós sois corpo de Cristo e seus membros, cada um por sua parte.

[28Assim, Deus estabeleceu na Igreja em primeiro lugar apóstolos, em segundo profetas, em terceiro doutores. Vêm a seguir os dons dos milagres, das curas, da assistência, de governar, de falar diversas línguas. 29Serão todos apóstolos? Todos profetas? Todos doutores? Todos farão milagres? 30Todos terão o poder de curar? Todos falarão línguas? Terão todos o dom de as interpretar?]

 

Continuamos hoje a leitura do domingo anterior, fazendo a apologia da unidade da Igreja dentro da legítima diversidade: «Assim como o corpo…». A comparação não é original, mas da literatura profana. S. Paulo adapta-a maravilhosamente à Igreja, concebida como um corpo onde não pode haver rivalidades e divisão: «Vós sois Corpo de Cristo» (v. 27). Já está aqui latente a doutrina do Corpo Místico explanada em Colossenses e Efésios. No entanto, ainda não se considera de facto a Igreja universal, o Corpo de Cristo (com artigo); apenas se considera que os cristãos de Corinto são um organismo – «corpo» (sem artigo!) – dependente de Cristo e com a mesma vida de Cristo (v. 27).

13 «E a todos nos foi dado beber um único Espírito». Os exegetas, tendo em conta que no v. anterior já se tinha falado do Baptismo, pensam que pode haver aqui uma referência ao Sacramento da Confirmação, pois que então estes Sacramentos se costumavam receber juntos (cf. Act 19, 5-61).

27 «Seus membros, cada um por sua parte». A Vulgata diz: «membros uns dos outros», devido a uma confusão de palavras gregas: «melos» (membro) por «meros» (parte).

 

Aclamação ao Evangelho Lc 4, 18

 

Monição: Fixemos o nosso olhar em Jesus. Ele é a Palavra bela e santa que Deus Pai e o Espírito pronunciam. Que cada um O acolha com amor e com uma vida de compromisso com o seu projecto.

 

ALELUIA

 

O Senhor enviou-me a anunciar a boa nova aos pobres,

a proclamar aos cativos a redenção.

 

 

Evangelho

 

São Lucas 1, 1-4; 4, 14-21

1Já que muitos empreenderam narrar os factos que se realizaram entre nós, 2como no-los transmitiram os que, desde o início, foram testemunhas oculares e ministros da palavra, 3também eu resolvi, depois de ter investigado cuidadosamente tudo desde as origens, escrevê-las para ti, ilustre Teófilo, 4para que tenhas conhecimento seguro do que te foi ensinado.

14Naquele tempo, Jesus voltou da Galileia, com a força do Espírito, e a sua fama propagou-se por toda a região. 15Ensinava nas sinagogas e era elogiado por todos. 16Foi então a Nazaré, onde Se tinha criado. Segundo o seu costume, entrou na sinagoga a um sábado e levantou-Se para fazer a leitura. 17Entregaram-Lhe o livro do profeta Isaías e, ao abrir o livro, encontrou a passagem em que estava escrito: 18«O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres. Ele me enviou a proclamar a redenção aos cativos e a vista aos cegos, a restituir a liberdade aos oprimidos 19e a proclamar o ano da graça do Senhor». 20Depois enrolou o livro, entregou-o ao ajudante e sentou-Se. Estavam fixos em Jesus os olhos de toda a sinagoga. 21Começou então a dizer-lhes: «Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir».

 

A leitura faz preceder o início da pregação de Jesus (4, 14) do célebre prólogo do III Evangelho (1, 1-4) da autoria de Lucas, que se mostra como um historiador sério e um bom cultor da língua grega de cunho clássico.

1 «Muitos». Referência à grande diversidade de escritores, em que se devem incluir os escritos inspirados: um primitivo Evangelho de Mateus e o Evangelho de S. Marcos, fontes que utilizou abundantemente. Sobre outros escritos prévios nada de certo sabemos, mas a crítica interna dos Evangelhos faz-nos entrever nos Sinópticos a preexistência de pequenos fragmentos que deixaram rastos na falta de conexão entre muitas perícopes e no agrupamento artificial de vários episódios sobre um mesmo tema. É natural que tais documentos parciais e provisórios se tenham perdido, ao aparecerem os Evangelhos canónicos.

«Factos que se realizaram entre nós». O Evangelho transmite-nos factos realmente acontecidos e muito próximos, daquela mesma época, por isso diz: «entre nós».

2 «Como no-los transmitiram…». S. Lucas não é um discípulo directo de Cristo, mas conhece com verdade os acontecimentos que vai referir através de testemunhas do máximo valor, por um lado, «testemunhas oculares» e, por outro, «ministros da palavra», isto é, do Evangelho; os mesmos que tinham a missão de pregar tinham sido antes testemunhas oculares. Entre as testemunhas oculares, como fonte de informação de Lucas, devem-se pôr os Apóstolos e, com toda a probabilidade, a SSª Virgem, as Santas Mulheres, os «irmãos de Jesus» e outras pessoas que conviveram com Ele.

3 «Também eu resolvi… escrevê-las». Isto em nada contradiz a acção de Deus ao inspirar S. Lucas, uma vez que Ele pode influir na inteligência e na vontade do homem, mesmo sem que este dê conta desse influxo. «Por ordem» (temos no original grego kathexês, que a tradução litúrgica omitiu, talvez uma errata a corrigir). Embora o seu Evangelho não seja primariamente uma biografia sistemática – uma crónica – com todos os dados possíveis sobre a vida de Jesus, também não se limita a um mero ensinamento doutrinal sobre a mensagem de Jesus. S. Lucas pretende transmitir-nos esta mensagem dentro dum vasto quadro histórico de acontecimentos, mas sem a preocupação duma minúcia cronológica maior do que aquela que as suas fontes lhe forneciam. Há, porém, como faz ver, o cuidado de uma certa ordem lógica.

3-4 «Depois de ter investigado cuidadosamente tudo desde as origens». S. Lucas não é um, mero «evangelista» que se preocupe só com transmitir uma mensagem, ele tem uma preocupação cuidadosa de tudo investigar desde o início e com um fim muito concreto, a saber, que o leitor possa «ter um conhecimento seguro do que lhe foi ensinado». É sabido que Lucas tem uma visão teológica própria; é um teólogo da história, com mentalidade de historiador; de modo nenhum um criador estórias. O pregador do Evangelho avança de mãos dadas com o historiador e o apologista.

«Ilustre Teófilo». O adjectivo faz supor que se trata de um cristão de elevada condição (um mecenas?), a pessoa a quem Lucas dedica os seus dois livros. O título de «ilustre» ou «excelentíssi­mo» usava-se para a nobreza romana e para pessoas com altos cargos na administração do Estado.

4, 14 É aqui que começa S. Lucas a narrar o ministério de Jesus com a pregação na Galileia. «Com a força do Espírito», o mesmo é dizer que com a força e poder divino que estavam em Jesus, dada a sua natureza divina. Há em S. Lucas, uma constante referência ao Espírito Santo, que é um «leitmotiv» desta obra e de Actos. Com efeito, estamos nos tempos messiânicos, e Jesus é o Messias e, como tal, portador do «Espírito do Senhor» (v. 18).

16-21 «Foi então a Nazaré». Não se sabe se S. Lucas, nesta passagem, narra a mesma visita à sua terra natal contada pelos outros evangelistas (cf. Mt 13, 54-58; Mc 6, 1-6), ou se outra, ou se funde duas visitas num único relato. De qualquer modo, ao apresentá-la logo no início da vida pública, não teve em vista uma simples ordem cronológica, mas sim uma ordem lógica, melhor dito, teológica, com o intuito de começar por fazer ver que Jesus é o Messias, aqui o «Pregoeiro (mebasser) de boas notícias (besorá, evangelho), sobre quem repousa o Espírito Santo, segundo o oráculo de Isaías (Is 61, 1-2). «Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura» (v. 21) equivale a dizer «Eu sou esse pregoeiro de boas notícias aos pobres». J. Dupont diz que, com este relato inicial, Lucas pretende, logo de entrada, sugerir a resposta a três questões fundamentais: quem é Jesus, qual a sua missão, e a quem se destina esta sua missão.

18 «O Espirito… me ungiu». A unção no A. T. era para pessoas que tinham uma missão especial dada por Deus: o rei (1 Sam 9, 16; 2 Sam 5, 1-13), o sacerdote (Ex 29, 7; 40, 15), o profeta (para este, pode ser em sentido simbólico: Is 61, 1; Ez 16, 9), sendo assim o messias davídico o ungido por excelência. A Teologia explicita o símbolo da unção recebida por Jesus no momento da Incarnação: designa em especial a chamada «união hipostática», em que a natureza humana é assumida pela Pessoa do Verbo. Note-se que de Jesus não se diz, como dos Santos, que recebeu graças e dons do Espírito Santo, mas diz-se que foi ungido, para indicar a plenitude de graça recebida com a união hipostática, de cuja plenitude todos nós recebemos (cf. Jo 1, 16).

«Os pobres», aparecem explicitados pelo paralelismo da segunda parte do v. 18: «os cativos, os cegos, os oprimidos». Trata-se duma noção desenhada na pregação dos profetas (cf. Sam 2, 3), fortemente espiritualizada – a dos anawim (pobres) – que é retomada por Jesus (cf. Mt 5, 3; 18, 9-14). Jesus não se dirige a uma determinada classe ou condição social, mas sobretudo àqueles que têm uma determinada atitude religiosa de indigência, humildade e abertura perante Deus, própria de quem confia na sua misericórdia, e não nos méritos ou recursos pessoais. Com efeito, o sentido desta passagem não se esgota na preocupação de Jesus pelos «pobres», que são os «presos», os «cegos», os «oprimidos», no sentido de miséria física, pois Jesus, podendo fazê-lo, não curou todos os doentes, nem resolveu todos os problemas de miséria. Jesus e a sua Igreja (cf. Lumen Gentium, n.° 8) preocupam-se pelos necessitados, mas a sua missão não se reduz à beneficência e promoção humana, nem sequer se pode centrar nela; o seu objectivo é a redenção da miséria do pecado, causa de todos os males, é a libertação da escravidão do demónio e da morte eterna.

19 «Um ano favorável». Alusão clara ao ano jubilar judaico de 50 em 50 anos (Lv 25, 8-10), em que ficavam libertos os homens e as terras que por necessidade tinham sido vendidos. Esta libertação material era uma espécie de utopia – não está suficientemente documentada a sua prática na história de Israel – que simboliza e prefigura a libertação espiritual e redenção trazida pelo Messias.

 

Sugestões para a homilia

 

1- Povo que proclama e se alimenta da Palavra de Deus.

2- Jesus Cristo centro, cume e vértice da Palavra.

3- A Palavra de Deus gera comunhão e vida.

 

 

1- Povo que proclama e se alimenta da Palavra de Deus.

 

A 1ª Leitura traduz a beleza do encontro com a Palavra. O espaço. Os intervenientes. Os gestos, atitudes e sinais. O tempo. A voz. A explicação. Tudo foi preparado e executado com amor, com tempo, com ritmo, com fé, com beleza.

Tal beleza só pode resultar num profundo respeito, acolhimento, conversão, mudança de vida. Resulta em mágoa de coração, em esperança resplandecente nos sinais da vida, da alegria e da confiança em Deus.

O sacerdote Esdras compreendeu que diante de tantos sinais de desânimo, de ruína, de imoralidade, tinha e devia «deitar mão», ao sempre indispensável anúncio da Palavra de Deus, proposta de Deus que gera homens e mulheres capazes de amar, de se comprometer e de viver a experiência da comunhão. Ele compreendeu que se houver amor à Palavra de Deus se pode gerar vida e construir comunhão.

Além da proclamação da Palavra, o sacerdote coloca a sua colaboração, na explicação e interpretação, que é verdadeiramente cuidada. Ele é capaz de analisar os sinais dos tempos dando-lhe o dinamismo do projecto de Deus.

É deveras importante que cada um e a comunidade se sintam originários da Palavra de Deus. E que compreendam que é por Ela que crescem e se tornam vida comunitária, povo de Aliança, eficazes e renovadores.

A Palavra de Deus deve levar à conversão, à mudança de atitudes: na pessoa, na família e na comunidade. Também não deve haver temor à Palavra de Deus quando esta faz verdadeiros desafios de mudança ou propõe desafios exigentes. A Palavra de Deus deve levar a uma vida de esperança, alegria e de partilha.

 

2- Jesus Cristo: centro, cume e vértice da Palavra.

 

No Evangelho essa Palavra é proclamada por Jesus Cristo. Ainda mais se ressalta a beleza da atitude, dos gestos, da proclamação e da explicação que conduz à vida. Aqui mensagem e mensageiro são a mesma coisa. Não há diferença. O Mensageiro é a Mensagem. A Mensagem é o Mensageiro.

Este facto constitui a apresentação da missão de Jesus. É-nos apresentado o início da sua vida em ministério público. Toda a Palavra de Deus se centraliza em Jesus Cristo. Ele cumpre toda a Palavra.

Só em Cristo é que podemos compreender toda a história da salvação e toda a Palavra que foi anunciada e que será anunciada. Só n’Ele se compreendem e cumprem os oráculos do Antigo Testamento e os Profetas.

Ele aparece como um autêntico Mestre que fala com autoridade. Que enrola de novo os textos para abrir um nova e definitiva página. E ainda hoje toda a Palavra do Antigo Testamento só pode ser interpretada em Cristo. Ele é a Boa-Nova. A Mensagem da vida nova e plena.

Para Ele se fixa agora o nosso olhar. Não é para mais ninguém. Ele está para dar vida, libertar, proclamar o «ano da graça». Ele está para se fazer doação total constituindo um Novo Povo, uma Nova Aliança.

Cada pessoa e cada comunidade deve fixar o seu olhar em Cristo e tornar-se anunciador da esperança, e empenhar-se na construção de verdadeiras comunidades de vida e de amor.

 

3- A Palavra de Deus gera comunhão e vida.

 

A Palavra de Deus é geradora de verdadeiras e autenticas comunidades. Ela faz nascer, crescer e amadurecer as comunidades, a Igreja, Comunidade de comunidades.

Essa Palavra deve ser Palavra também reflectida e com sérios conteúdos e razões. Deve ser Palavra que interpreta o sentido mais profundo da nossa existência. E por isso capaz de levar a esperança. De abrir horizontes de penetrar os mistérios. De construir solidamente. Deve ser Palavra recebida e Palavra transmitida na frescura da fidelidade e na mais genuína comunhão da Igreja.

O cristão deve compreender que importa anunciar o projecto de Jesus Cristo aos homens e mulheres de hoje. Por isso é importante o estudo dessa Palavra, a sua reflexão, a sua interpretação orante, a sua linguagem actual, os meios eficazes no seu anúncio e sua proposta. É preciso deixar-se tocar pelos sinais dos tempos e os interpretar fixando sempre o olhar em Jesus Cristo, Palavra Viva, Palavra Eucarística.

É necessário que haja cultura da Palavra não só nas celebrações mas num apelo aos mais diversificados estudos que traduzem e compreendem a pessoa, que analisam o que é recto, belo e puro. Capaz de saber descobrir os aspectos positivos e os sinais de Deus em todos os tempos.

Mas essa Palavra é sobretudo geradora de comunhão. Ela leva a pessoa a doar-se sem ciúme, sem invejas e sem medos. Ela leva à descoberta de que todos devem participar como membros de um mesmo Corpo. Ela leva a compreender para além do visível, do exterior e do temporal para nos fixar no mistério do mesmo Deus. Ela leva à partilha de dons e talentos na mesma construção do Corpo de Cristo.

 

 

Oração Universal

 

Caríssimos irmãos e irmãs:

Oremos a Deus Pai todo-poderoso,

para quem a Palavra revelada e o trabalho de cada dia

se tornem, para todos os homens, fonte de salvação,

e peçamos (ou: cantemos), confiadamente:

 

R. Ouvi-nos, Senhor.

Ou. Concedei-nos, Senhor, a vossa graça.

Ou. Ouvi. Senhor, a nossa súplica.

 

1. Pela Igreja Católica e por todas as comunidades separadas,

para que tenham verdadeiro desejo de unidade

e respeitem as riquezas espirituais umas das outras,

oremos ao Senhor.

 

2. Pela nossa Pátria e por todas as nações,

para que compreendam que a escuta da Palavra de Deus

é uma imprescindível ajuda na construção

de uma sociedade livre, fraterna e justa,

oremos ao Senhor.

 

3. Por todos os que proclamam a Palavra de Deus,

para que o Espírito os ensine a falar como Jesus,

ao explicar a Palavra na sinagoga de Nazaré,

oremos ao Senhor.

 

4. Por todos os que sofrem e desanimam,

para que Deus venha em sua ajuda

e os confirme na esperança e na alegria,

oremos, irmãos.

 

5. Por todos nós aqui reunidos no Senhor,

para que fixando o nosso olhar em Cristo,

possamos acolher e cumprir também em nós

a passagem da Escritura que escutamos,

oremos ao Senhor.

 

 

Concedei, Senhor, à vossa Igreja

a graça de saber anunciar, com fidelidade,

a Boa Nova que o vosso Filho Jesus Cristo proclamou na sinagoga de Nazaré.

Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

 

LITURGIA EUCARÍSTICA

 

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS: Aceitai benignamente, Senhor, e santificai os nossos dons, a fim de que se tornem para nós fonte de salvação. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

SANTO: F. dos Santos, NCT 201

 

Monição da Comunhão

 

E o verbo fez-se carne e habitou entre nós.

Jesus Cristo dá-se inteiramente a cada um de nós.

A Sua Palavra ilumina o sentido mais profundo da nossa vida. A Eucaristia é mistério de Luz. É Palavra feita alimento em mistério pascal.

Que eu me comprometa a sério com Jesus Cristo. Que n’Ele fixe sempre o meu olhar e O comungue com a vida feita adesão e partilha.

 

Salmo 33, 6

ANTÍFONA DA COMUNHÃO: Voltai-vos para o Senhor e sereis iluminados, o vosso rosto não será confundido.

 

Ou

Jo 8, 12

Eu sou a luz do mundo, diz o Senhor. Quem Me segue não anda nas trevas, mas terá a luz da vida.

 

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO: Deus omnipotente, nós Vos pedimos que, tendo sido vivificados pela vossa graça, nos alegremos sempre nestes dons sagrados. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

 

RITOS FINAIS

 

Monição final

 

Conscientes de que somos discípulos de Cristo e enviados, não podemos descurar as razões profundas da nossa fé.

Tenho necessidade de escutar a Palavra de Deus, de a estudar e de a interpretar em Cristo, para poder partilhá-la com razões profundas e sérias, e com uma vida de amor.

Maria, Mãe de Cristo e nossa Mãe nos ensine a guardar a Palavra com coração dócil, para que se transforme em vida comprometida com Deus, e com todo o Corpo de Cristo que é a Igreja.

 

CÂNTICO FINAL: SOMOS TESTEMUNHAS, Az. Oliveira, NRMS 35

 

 

 

 

 

 

 

 

Celebração e Homilia: ARMANDO RODRIGUES DIAS

Nota Exegética: GERALDO MORUJÃO

Homilias Feriais: NUNO ROMÃO

Sugestão Musical: DUARTE NUNO ROCHA

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