Não Esquecer a Mãe do Salvador!
O Espírito do Advento consiste, em boa parte, em vivermos muito unidos à Virgem Maria, neste tempo em que Ela traz Jesus em seu seio. Mas, a nossa vida é também toda ela um “advento” um pouco mais longo, uma espera desse momento definitivo em que nos encontraremos, finalmente, com o Senhor para sempre. E, neste sentido, o cristão deve, também, viver este outro “advento,” bem junto da Virgem, durante todos os dias da sua vida, se quiser acertar, com segurança, na única coisa verdadeiramente importante da sua existência: encontrar Cristo já agora e depois na eternidade.
Hoje é a vez de Maria. Ela nos ajuda a intensificar e a concentrar nossa espera: “Aquele que deve vir” já chegou; o mistério escondido, desde séculos em Deus (Ef 3,9), faz nove meses encontra-se no seio de Maria! Nossa Senhora fomenta, na alma, a alegria, porque, quando procuramos a sua intimidade, leva-nos a Cristo. Ela é “Mestra de esperança. Maria proclama que a chamarão bem-aventurada todas as gerações (Lc 1, 48).
Se Advento significa espera de Cristo, Maria é a espera em pessoa; a espera teve para ela o sentido realista e delicado que essa palavra tem para cada mulher que espera o nascimento de uma criança. É assim que devemos imaginar Nossa Senhora na iminência do Natal: com aquele olhar amável, dirigido mais para dentro do que para fora de si, que se nota numa mulher, que carrega no seio uma criatura, e parece que já a contempla e com ela dialoga. Maria manteve com seu filho uma comunhão ininterrupta de amor, como uma pessoa que recebeu a Eucaristia.
O Evangelho (Lc 1, 39-48) narra o encontro de duas mães, que vibram de alegria com a realização das Promessas: a visita de Maria à sua prima Isabel. Esse episódio não é um simples gesto de gentileza, mas representa, com grande simplicidade, o encontro do Antigo Testamento com o Novo. As duas mulheres, ambas grávidas, encarnam, de fato, a expectativa e o Esperado. A idosa Isabel simboliza Israel que espera o Messias, enquanto que a jovem Maria traz em Si o cumprimento dessa expectativa, em benefício de toda a humanidade. Nas duas mulheres, encontram-se e reconhecem-se, antes de tudo, os frutos do seio de ambas, João e Cristo. Comenta o poeta cristão, Prudêncio: “O menino contido no seio senil saúda, pelos lábios de sua mãe, o Senhor filho da Virgem”. A exultação de João, no seio de Isabel, é o Sinal do cumprimento da expectativa: Deus está para visitar o seu povo. Na Anunciação, o Arcanjo Gabriel tinha falado a Maria da gravidez de Isabel (Lc 1, 36) como prova do poder de Deus: a esterilidade, não obstante ela fosse idosa, tinha – se transformado em fertilidade.
A cena da Visitação expressa, também, a beleza do acolhimento: onde há acolhimento recíproco e escuta, onde se dá espaço ao outro, ali estão Deus e a alegria que vem d’Ele. Imitemos Maria, no tempo de Natal, visitando quantos vivem em dificuldade, em particular os doentes, os presos, os idosos e as crianças. Imitemos também Isabel, que acolhe o hóspede como o próprio Deus: sem O desejar, nunca conheceremos o Senhor; sem O esperar, não O encontraremos; sem O procurar, não O descobriremos. Com a mesma alegria de Maria, que vai às pressas ter com Isabel (Lc 1, 39), vamos, também nós, ao encontro do Senhor que vem.
Quem aguarda o Salvador, não pode esquecer a sua Mãe.
Após a Anunciação, em que deu o seu SIM a Deus, Maria põe-se a caminho… e vai às pressas à casa de Isabel. Maria ensina-nos o melhor jeito de acolher: estar atento às necessidades dos irmãos, partir ao seu encontro, partilhar com eles a nossa amizade e ser solidário com as suas necessidades
Dentro de poucos dias, veremos Jesus reclinado numa manjedoura, o que é uma prova de misericórdia e do amor de Deus. Poderemos dizer: “Nesta noite de Natal, tudo para dentro de mim. Estar diante dEle; não há nada mais do que Ele na branca imensidão. Não diz nada, mas está aí… Ele é o Deus me amando. E, se Deus se faz homem e me ama, como não procurá – Lo? Como perder a esperança de encontrá-Lo, se é Ele que me procura? Afastemos todo o possível desalento. As dificuldades exteriores e a nossa miséria pessoal não podem nada diante da alegria do Natal que se aproxima”.
Faltam poucos dias para que vejamos, no presépio, Aquele que os profetas predisseram, que a Virgem esperou com amor de mãe, que João anunciou estar próximo e depois mostrou presente entre os homens.
Desde o presépio de Belém até o momento da sua Ascensão aos céus, Jesus Cristo proclama uma mensagem de esperança. Ele é a garantia plena de que alcançaremos os bens prometidos. Olhamos para a gruta de Belém, em vigilante espera, e compreendemos que, somente com Ele, poderemos aproximar-nos confiadamente de Deus Pai. Lutemos, pois, nestes dias e sempre, com todas as nossas forças, contra essas formas menores de desespero que são o desânimo e a preocupação quase exclusiva pelos bens materiais.
Nas festas, que celebramos por ocasião do Natal, lutemos com todas as nossas forças, agora e sempre, contra o desânimo na vida espiritual, o consumismo exagerado, e a preocupação quase exclusiva pelos bens materiais.
A esperança leva-nos a abandonar – nos em Deus e a empenhar-nos seriamente numa luta ascética que nos incitará a recomeçar, muitas vezes, a ser constantes na ação apostólica e pacientes na adversidade, a ter um sentido mais sobrenatural da vida e dos acontecimentos. Na medida em que o mundo se cansar da sua esperança cristã, a alternativa, que lhe há de restar, será o materialismo, do tipo que já conhecemos; isso e nada mais. Por isso, nenhuma nova palavra terá atrativo para nós se não nos devolver à gruta de Belém, para que ali possamos humilhar o nosso orgulho, aumentar a nossa caridade e dilatar o nosso sentimento de reverência com a visão de uma pureza deslumbrante.
A devoção a Nossa Senhora é a maior garantia de que não nos faltarão os meios necessários para alcançarmos a felicidade eterna a que fomos destinados. Maria é, verdadeiramente, “porto dos que naufragam, consolo do mundo, resgate dos cativos, alegria dos enfermos” (Santo Afonso M. de Ligório). Nestes dias, que precedem o Natal, e, sempre, peçamos-Lhe a graça de saber permanecer, cheios de fé, à espera do seu Filho Jesus Cristo, o Messias anunciado pelos Profetas. “Ela precede com a sua luz o Povo de Deus peregrinante, como sinal de esperança certa e de consolo, até que chegue o dia do Senhor
“A Virgem Maria é ela mesma o caminho real pelo qual veio a nós o Salvador. Devemos procurar ir ao encontro do Salvador pelo mesmo caminho pelo qual ele veio a nós” (São Bernardo). Haja, em cada um de nós, a alma de Maria para engrandecer a Deus; esteja, em cada um, o espírito de Maria para exultar em Deus” (Santo Ambrósio).
Um menino ser-nos-á dado! O maior presente que Deus poderia nos dar! Dá-se a si próprio na fragilidade, na inocência e na simplicidade de uma criança recém-nascida. Aproveitemos essas poucas horas, que nos separam do Santo Natal, para prepararmos nosso coração e nossa vida. Que Jesus encontre um lugar bem preparado para nascer na noite santa de Natal!
Ajude-nos, Maria, a manter o recolhimento interior, indispensável para viver a profunda alegria, que o nascimento do Redentor traz. Dirijamo-nos a Ela, com a nossa oração, pensando, sobretudo, em quantos se preparam para transcorrer o Natal, na tristeza e na solidão, na doença e no sofrimento: a todos, a Virgem dê conforto e consolo.
Mons. José Maria Pereira