Homilia do Pe. Françoá Costa – Ascensão do Senhor – Ano B

Suba o nosso coração ao céu!

 

Na segunda metade da década dos cinquenta começou a carreira espacial. Tanto os Estados Unidos com a desaparecida União de Repúblicas Socialistas Soviéticas, lançaram satélites artificiais ao espaço. No princípio, sem seres vivos; depois, com alguns animais (cachorros, macacos); e, por último – já nos anos sessenta – deu-se o passo mais importante: enviar naves espaciais tripuladas por seres humanos.

No dia 12 de abril de 1961 deu-se o primeiro voo orbital humano: foi a URSS quem lançou a nave Vostok 1 tripulada pelo astronauta Yuri Gagarin, que desta forma converteu-se no primeiro homem do espaço. O cosmonauta soviético, em suas declarações sobre a viagem espacial, por incrível que pareça, declarou o seguinte: – “passeei pelo universo e não encontrei a Deus”.

Alguns anos depois, dia 21 de julho de 1969, milhões de homens contemplaram em seus lares através de seus televisores, a chegada do homem à lua. Neil Armstrong (o primeiro em pisar a superfície lunar) e Edwin Aldrin passeiam pela lua, recorrem mostras da sua superfície e regressam à terra, junto a Michael Collins, na nave norte-americana Apolo 11. Depois disso Armstrong pronunciou as seguintes palavras: – “queria dizer a todos os que me escutam que façam uma pausa em sua mente e, considerando tudo o que aconteceu nos últimos minutos, deem graças a Deus cada um à sua maneira”.

Duas experiências semelhantes e duas maneiras de ver as coisas tão diversas. Demos graças a Deus porque não precisamos ir ao espaço nem à lua para acreditar em Deus. Basta vivermos com sentido sobrenatural o nosso dia-a-dia, encontraremos o Senhor em todas as circunstâncias de nossa existência. Sabemos que ele, Jesus, é a videira verdadeira e nós somos os ramos e que no nosso dia-a-dia basta estarmos bem unidos a ele.

Ao celebrarmos a Ascensão do Senhor deveríamos encher-nos de sentido sobrenatural. Hoje é um dia no qual se mesclam a alegria pela consumação da glorificação do Senhor Jesus, a tristeza ao vê-lo partir e a melancolia de uma espécie de sonho quase real. Ao celebrar a Ascensão do Senhor, celebramos também – como dizia São Leão Magno num sermão – a exaltação da nossa pobre natureza humana em Cristo: ele sobe aos céus com a nossa carne, com um coração de carne, com sentimentos humanos, em fim, ele nos leva aos céus. Santo Agostinho exortava: “hoje o Senhor nosso, Jesus Cristo, subiu aos céus, suba também o nosso coração com ele”.

Nós fomos feitos para as alturas, levamos dentro de nós essa marca de eternidade que nos faz desejar a felicidade. Cada ser humano tem dentro de si uma espécie de saudade do paraíso, um desejo de ser feliz para sempre, uma ânsia de eternidade que faz sentir certa náusea de viver para sempre numa situação incompleta e cheia de perigos. Aquela frase de Santo Agostinho, “Fizeste-nos, Senhor, para ti e o nosso coração está inquieto enquanto não descansar em ti”, continua atual. O ser humano, por mais que queira fugir de Deus, não descansará enquanto não se deixar seduzir pelo Senhor, já que em cada efêmera felicidade está buscando a Deus, ainda que não saiba.

Você já desejou, de verdade, ver Deus? Nós falamos de Deus, cremos nele, o adoramos, é preciso também desejar vê-lo. Como é o rosto do Pai? Como é a humanidade glorificada de Cristo? Como é a personalidade do Espírito Santo? O que é Deus? Quem é Deus? “Ninguém jamais viu Deus. O Filho único, que está no seio do Pai, foi quem o revelou” (Jo 1,18). Ambas as afirmações estão perfeitamente combinadas na nossa vida cristã: nós não vimos a Deus, mas nós o conhecemos em Cristo. E, no entanto, desejamos ver como é Deus, como é cada uma das três Pessoas da Santíssima Trindade; também queremos dar um abraço em Nossa Senhora e agradecer pessoalmente ao nosso anjo da guarda por tudo, enfim, nós desejamos o céu.

Hoje é um dia para desejar a vida eterna. Precisamos ter a santa ambição de alcançarmos a eternidade feliz. Que aumente em nós o desejo do céu! Tal desejo nos ajudará a trabalhar muito pela glória de Deus aqui nesta terra e, consequentemente, a construir, desde o posto que ocupamos nesta sociedade, a cidade dos homens que é também nossa. Apostolado! Um cristão sem zelo apostólico é um cristão estéril. Assim como não se pode entender que um peixe não possa nadar, a não ser que esteja morto, assim também não se pode entender que um cristão não seja apostólico, proselitista (no bom sentido da palavra), a não ser que esteja morto. Não podemos perder a audácia, o desejo de ganhar a todos para Cristo. No mesmo sermão citado anteriormente, São Leão Magno dizia que “a fé, aumentada pela ascensão do Senhor e fortalecida com o dom do Espírito Santo, não pode temer diante das cadeias, da prisão, do desterro, da fome, do fogo, das feras nem das torturas dos cruéis perseguidores. Homens e mulheres, crianças e frágeis donzelas lutaram em todo o mundo por essa fé até o derramamento do sangue. Esta fé afugenta os demônios, afasta as enfermidades, ressuscita os mortos”.

Pe. Françoá Costa

 

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