Roteiro Homilético – XXVI Domingo do Tempo Comum – Ano A

RITOS INICIAIS

Dan 3, 31.29.30.43.42

ANTÍFONA DE ENTRADA: Vós sois justo, Senhor, em tudo o que fizestes. Pecámos contra Vós, não observámos os vossos mandamentos. Mas para glória do vosso nome, mostrai-nos a vossa infinita misericórdia.

Introdução ao espírito da Celebração

Cumprir a vontade de Deus não significa ter uma prática mais ou menos ritual ou de legalidade. A vontade de Deus somente é efectuada quando satisfazemos o preceito do amor para com os nossos irmãos.

Já paramos um pouco para pensar nas nossas atitudes? Serão verdadeiramente cristãs ou adoptaremos dupla posição? Estaremos em conformidade com esse mandamento ou fixámo-nos apenas na realização de alguns costumes ditos religiosos, mas ocos, que nada condizem com o verdadeiro cristianismo?

Nós somos frágeis e nem sempre actuamos segundo a vontade de Deus, recolhamo-nos um pouco, estudemos a nossa vida do dia-a-dia e peçamos perdão ao Senhor pelas incoerências encontradas.

ORAÇÃO COLECTA: Senhor, que dais a maior prova do vosso poder quando perdoais e Vos compadeceis, infundi sobre nós a vossa graça, para que, correndo prontamente para os bens prometidos, nos tornemos um dia participantes da felicidade celeste. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

LITURGIA DA PALAVRA

Primeira Leitura

Monição: Nesta leitura, o profeta Ezequiel confronta o nosso modo de avaliar com a maneira como Deus procede. Deus pretende corrigir os nossos planos simplistas de qualificarmos as pessoas, ou de as fazermos joguetes da desventura. Este trecho ajudar-nos-á a vencer o fatalismo pagão e a adoptar com confiança as nossas responsabilidades.

Ezequiel 18, 25-28

Eis o que diz o Senhor: 25«Vós dizeis: ‘A maneira de proceder do Senhor não é justa’. Escutai, casa de Israel: Será a minha maneira de proceder que não é justa? Não será antes o vosso modo de proceder que é injusto? 26Quando o justo se afastar da justiça, praticar o mal e vier a morrer, morrerá por causa do mal cometido. 27Quando o pecador se afastar do mal que tiver realizado, praticar o direito e a justiça, salvará a sua vida. 28Se abrir os seus olhos e renunciar às faltas que tiver cometido, há-de viver e não morrerá».

A leitura é tirada da secção do livro que contém uma série de oráculos contra Judá e Jerusalém (Ez 4 – 24. O profeta não se cansa de sublinhar a responsabilidade individual e a necessidade e o valor da conversão individual e a esperança na clemência divina; o pecador que se arrepende «há-de viver e não morrerá» (v. 28).

Salmo Responsorial

Sl 24 (25), 4-5.6-7.8-9 (R. 6a)

Monição: Quando, em momentos de indecisão, não sabemos a melhor maneira de agir, poderemos rezar este salmo. Com ele suplicamos ao Senhor que nos auxilie a encontrar o Seu caminho e o rumo correcto a preferir. Pensemos bem no conteúdo desta respeitosa oração.

Refrão: LEMBRAI-VOS, SENHOR, DA VOSSA MISERICÓRDIA.

Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos,

ensinai-me as vossas veredas.

Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me,

porque Vós sois Deus, meu Salvador:

em vós espero sempre.

 

Lembrai-Vos, Senhor, das vossas misericórdias

e das vossas graças que são eternas.

Não recordeis as minhas faltas

e os pecados da minha juventude.

 

Lembrai-Vos de mim segundo a vossa clemência,

por causa da vossa bondade, Senhor.

 

O Senhor é bom e recto,

ensina o caminho aos pecadores.

Orienta os humildes na justiça

e dá-lhes a conhecer os seus caminhos.

Segunda Leitura*

Monição: Esta segunda leitura constitui um persistente apelo à união e à caridade como imagem dos sentimentos e atitudes do próprio Jesus Cristo. Importa assimilá-lo e pô-lo em prática na nossa vida e nas nossas comunidades.

* O texto entre parêntesis pertence à forma longa e pode ser omitido.

Forma longa: Filipenses 2, 1-11 Forma breve: Filipenses 2, 1-5

Irmãos: 1Se há em Cristo alguma consolação, algum conforto na caridade, se existe alguma consolação nos dons do Espírito Santo, alguns sentimentos de ternura e misericórdia, 2então, completai a minha alegria, tendo entre vós os mesmos sentimentos e a mesma caridade, numa só alma e num só coração. 3Não façais nada por rivalidade nem por vanglória; mas, com humildade, considerai os outros superiores a vós mesmos, 4sem olhar cada um aos seus próprios interesses, mas aos interesses dos outros.5Tende em vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus.

[6Cristo Jesus, que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. 7Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, 8humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz. 9Por isso Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes, 10para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem no céu, na terra e nos abismos, 11e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.]

É este um dos mais preciosos textos paulinos: o entranhável apelo à caridade – união fraterna e espírito de serviço – é alicerçado na humildade, a exemplo de Cristo, que, sem deixar de ser Deus, tomou a condição de servo, a fim de nos poder servir.

Ver notas supra, para a 2ª leitura da Festa da Exaltação da Santa Cruz (14 de Setembro).

Aclamação ao Evangelho

Jo 10, 27

Monição: Para Jesus não existe povo anónimo. Ele conhece cada um de nós pelo nome. Ao ouvirmos a Sua voz devemos escutar o Seu chamamento e segui-l’O sem indecisão, conforme as promessas feitas quando fomos baptizados.

ALELUIA

As minhas ovelhas ouvem a minha voz, diz o Senhor;   Eu conheço-as e elas seguem-Me.

Evangelho

São Mateus 21, 28-32

Naquele tempo, disse Jesus aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo: 28«Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Foi ter com o primeiro e disse-lhe: ‘Filho,vai hoje trabalhar na vinha’. 29Mas ele respondeu-lhe: ‘Não quero’. Depois, porém, arrependeu-se e foi. 30O homem dirigiu-se ao segundo filho e falou-lhe do mesmo modo. Ele respondeu: ‘Eu vou, Senhor’. Mas de facto não foi. 31Qual dos dois fez a vontade ao pai?» Eles responderam-Lhe: «O primeiro». Jesus disse-lhes: «Em verdade vos digo: Ospublicanos e as mulheres de má vida irão diante de vós para o reino de Deus. 32João Baptista veio até vós, ensinando-vos o caminho da justiça, e não acreditastes nele; mas ospublicanos e as mulheres de má vida acreditaram. E vós, que bem o vistes, não vos arrependestes, acreditando nele».

A parábola dos dois filhos, que é contada apenas no Primeiro Evangelho, pertence ao conjunto das controvérsias de Jesus com os judeus, que S. Mateus agrupa no ministério de Jesus em Jerusalém, capítulos 21-23, a partir de Mt 21, 23. A parábola visaria particularmente os fariseus, que se ufanavam da exacta fidelidade à Lei, aqui representados pelo filho que diz «eu vou», mas que na realidade não faz a vontade de seu pai; também eles ficavam só em palavras e exterioridades. Jesus, por outro lado, põe em evidência que a conversão é possível e que os maiores pecadores, através da penitência, se podem tornar santos de primeira categoria. Para os fariseus, «ospublicanos e as mulheres de má vida» (vv. 31-32) eram dos pecadores mais abomináveis. Note-se que nunca se nomeiam as prostitutas entre as pessoas que seguiam na companhia de Jesus, mas apenas se diz que «acreditaram» (v. 32) e irão diante dos príncipes dos sacerdotes e dos anciãos do povo para o reino de Deus (v. 31), o que põe em evidência tanto o valor da conversão, como a misericórdia do coração de Cristo.

Sugestões para a homilia

As incoerências religiosas

A necessidade de conversão

O apelo de S. Paulo

As incoerências religiosas

Nesta parábola dos dois filhos, hoje escutada, somos confrontados com posições muito reais que se podem encarar como a repetição das nossas próprias incoerências.

Descobrimos três pessoas: um pai e dois filhos. Naturalmente identificamos o pai com Deus; o primeiro filho com Israel, o povo eleito; o segundo com os gentios, os não pertencentes ao povo israelita, mas que se converteram e foram os primeiros a labutar na «vinha».

A parábola inicialmente pode parecer-nos perturbadora. Todavia, Jesus vem avaliar a nossa franqueza e a nossa lealdade. Ainda hoje Deus continua a ter dois filhos: na Igreja, nas nossas comunidades cristãs, no mundo… subsistem sempre os dois filhos. Uns solicitam o Baptismo, dizem «sim», mas, logo, na vida real, o seu «sim» é mudado em muitos «nãos». Porém, existem muitas pessoas que nunca aceitaram claramente a Deus, mas na sua experiência diária amam o irmão, dedicam-se aos outros, praticam desprendidamente a caridade.

Sob uma fictícia teimosia, pode existir um verdadeiro amor que no instante próprio se exterioriza francamente. No oposto, certas formas de obediência podem constituir apenas desinteresse, por falta de amor autêntico. É o facto das pessoas que pronunciam sempre «sim», porque não são capazes de dizer «não»: verdadeiramente nunca passam das palavras às obras, não sentem necessidade de conversão.

A necessidade de conversão

Jesus, como desfecho da parábola, pôs em confrontação a disposição dos filhos do Povo Eleito com a dos pagãos. De igual modo, o profeta Ezequiel – como escutamos na primeira leitura – comparou o modo de julgar do povo israelita com a maneira como Deus procede. Ninguém acarreta os delitos dos outros. Pelo brado do profeta, Deus pretende repreender os esquemas simplistas com que, às vezes, classificamos sem recurso as pessoas, ou as fazemos joguetes das desgraças. Para Deus todo o homem, mesmo grande pecador, tem capacidade de se converter, como também aquele que se acha bom e justo, pode cair. O Senhor conhece-nos bem e espera que empreguemos conscientemente a nossa autonomia.

As palavras do profeta, confirmadas pelas sentenças de Jesus no final da parábola, são palavras fortes, que encerram uma denúncia sempre actual. Devemos pensar séria e autenticamente sobre elas, para ver qual é a nossa forma de agir: se copiamos os que se pensam bons e não fazem nenhuma tentativa por se converterem, ou se respeitosamente nos identificamos pecadores e com mansidão nos convertemos ao Senhor, consoante o apelo de S. Paulo.

O apelo de S. Paulo

A segunda leitura vem fortalecer as duas leituras antecedentes. A comunidade de Filipos era admirável e Paulo vangloriava-se dela. Mas lá, como também acontece nas nossas melhores comunidades, havia a dificuldade da inveja entre cristãos. Existia quem desejasse distinguir-se, não olhando ao estilo como agia, pretendendo ter o encargo de alguma função a seus olhos relevante (a proclamação da Palavra durante as celebrações litúrgicas, a administração dos bens da comunidade, a organização da vida comunitária, a responsabilidade pelos cânticos…). É verdade que aspiravam a tais incumbências para ajudar os irmãos, mas também para afirmação própria, para mandar, para se exibirem.

Paulo, que sempre guardara muito afecto pelos Filipenses, pede-lhes que lhe dêem a imensa alegria de conviverem sem interesse, sem espírito de preponderância, mas unidos em efectiva caridade, não pretendendo o próprio proveito, mas o dos outros. O Apóstolo não se apraz em aconselhar: alude ao modelo, Jesus Cristo, e pede que nas relações recíprocas retratem a sensibilidade e maneiras de Jesus.

Tomara que com a reflexão destes textos, escritos há mais de dois mil anos, mas actuais, consigamos corrigir alguma postura menos correcta que em nós ainda persista, a fim de sermos verdadeiras testemunhas de Jesus Cristo, presente através de cada um de nós, no mundo de hoje.

LITURGIA EUCARÍSTICA

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS: Deus de misericórdia infinita, aceitai esta nossa oblação e fazei que por ela se abra para nós a fonte de todas as bênçãos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

SANTO

Monição da Comunhão

Que a comunhão do vosso Corpo, que vamos receber, nos auxilie a não nos atraiçoarmos a nós mesmos executando normas vazias de conteúdo, mas nos amplie a inclinação para acolher o dom de Deus sabendo-o pôr em prática no serviço generoso e desinteressado à nossa comunidade e a todos os irmãos.

Salmo 118, 9-5

ANTÍFONA DA COMUNHÃO: Senhor, lembrai-Vos da palavra que destes ao vosso servo. A consolação da minha amargura é a esperança na vossa promessa.

Ou

Jo 3, 16

Nisto conhecemos o amor de Deus: Ele deu a vida por nós; também nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO: Fazei, Senhor, que este sacramento celeste renove a nossa alma e o nosso corpo, para que, unidos a Cristo neste memorial da sua morte, possamos tomar parte na sua herança gloriosa. Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

RITOS FINAIS

Monição final

Fomos hoje convidados a converter a nossa forma de actuar como sendo o terceiro filho de que não fala a parábola. Esse filho é aquele que diz «sim» e vai mesmo trabalhar desapaixonadamente na vinha do Senhor. Que assim suceda no nosso dia-a-dia.

Celebração e Homilia:           ANTÓNIO E. PORTELA

Nota Exegética:                      GERALDO MORUJÃO

Sugestão Musical:                 DUARTE NUNO ROCHA

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