Homilia do Padre Françoá Costa – XX Domingo do Tempo Comum – Ano A

O elogio da fé

A mulher do Evangelho de hoje não era israelita. Mesmo assim Jesus elogiou a fé daquela Cananéia mostrando algo da sua medida: “ó mulher, grande é tua fé” (Mt 15,28). Pode, portanto, dar-se um crescimento na fé? A fé pode ser maior ou menor? A partir das palavras de Jesus a resposta não pode ser mais que afirmativa. Além do mais, as orações da Igreja são constantes em pedir para nós o aumento da fé, da esperança e da caridade.

A fé se manifesta na vida e uma vida cheia de fé consegue expressar-se como vida em plenitude. Daí a importância de que a nossa fé seja cada vez maior. Todo o nosso ser pede a graça da fé porque nós, criados por Deus, não descansamos a não ser nos braços do Senhor. O ser humano está necessariamente aberto à fé, a Deus; toda pessoa está sedenta de graça e de eternidade.

Acreditar que os nossos pais são os que temos e crer que os outros não nos estão mentindo quando nos dizem algo são claras manifestações do que costumamos chamar “fé humana”. A fé sobrenatural e cristã se dá quando o ser humano acredita que há um só em três Pessoas – o Pai e o Filho e o Espírito Santo – e que a do Filho se encarnou para salvar-nos. Mas esse “acreditar” não é somente um ato intelectual, mas também, simultaneamente, um lançar-se nos braços de Deus com confiança, amando-lhe e esperando em sua salvação. Quanto mais nos lançarmos nos braços do nosso Pai do céu mais estaremos crescendo em fé. É graça! Mas também podemos preparar-nos para a recepção dessa graça ao fazer de tudo para abrir-nos mais à ação de Deus em nós.

A fé não é coisa só de gente seleta, gnóstica, dotada de um sexto sentido. Deus quer conceder a graça da fé a todos os seres humanos. O cristianismo não é uma seita recluída. A Igreja Católica é universal desde as suas origens. Sábios e menos instruídos podem receber o dom da fé e nele crescer. Frequentemente a fé se assenta melhor nos mais simples. No entanto, há e houve grandes sábios que eras crentes em Deus.

Em conversas com amigos da universidade pude perceber muitas vezes como há uma preocupação em defender a própria fé cristã dos ataques daqueles que querem pontificar em temas de fé. Que um professor de física, por exemplo, queira dar uma de teólogo é tão ridículo quanto um teólogo querendo dar uma de físico. A ciência e a fé não têm porque brigarem; se cada uma permanece no seu campo próprio, podem até ser boas amigas. “A fé e a razão (fides et ratio) constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade, e em última análise, de conhecer a ele, para que conhecendo-o e amando-o, possa chegar à verdade plena sobre si próprio” (João Paulo II, Carta Encíclica Fides et Ratio, preliminar).

Conta-se que um jovem universitário sentou-se no trem frente a um senhor de idade, que devotamente passava as contas do rosário. O jovem, com a arrogância dos poucos anos acompanhada da ignorância de um iniciante na ciência, disse-lhe: “Parece mentira que o senhor ainda acredita nestas coisas antiquadas…”. “Eu acredito. Você não” – respondeu o ancião. “Eu! – disse o estudante lançando uma gargalhada – acredite: jogue esse rosário pela janela e aprenda o que diz a ciência”. “A ciência – perguntou o ancião com surpresa – não entendo dessa maneira. Talvez poderia me dar uma explicação”. “Me dá o seu endereço – disse-lhe o jovem, fazendo-se de importante e em tom protetor –, que eu enviarei alguns livros para que possa aprender”. O ancião tira então da sua carteira um cartão de visita e o entrega ao estudante que lê assombrado: “Louis Pasteur. Instituto de Investigações Científicas de Paris”.

Louis Pasteur, que descobrira a vacina antirrábica e prestou grandes benefícios à humanidade, não ocultava a sua fé nem sua devoção a Nossa Senhora. Como Pasteur, muitos homens de ciência acreditavam em Deus: Albert Einstein, Isaac Newton, Werner K. Heisenberg, Max Planck, Von Braun, Paul Davies, Alexis Carrel etc.

Houve um tempo em que era até mesmo elegante a profissão do ateísmo, era sinônimo de vida inteligente ao quadrado. Hoje em dia já não é assim, como toda moda também essa já passou. Além do mais o verdadeiro cientista não está preocupado em ser elegante, a sua paixão é a verdade. Se dissermos, por outro lado, que não há verdade, então… o que se procura Por que tanto estudo C. S. Lewis, que foi professor em Oxford, fez ver como é atitude infantil aquela de acreditar sem mais em tudo o que os outros dizem sem questionar de maneira alguma. Assim como a fé cristã é questionada por muitos, oxalá fosse também questionado, a bem da verdade, o dogmatismo ateu e agnóstico. Não é sensato começar a defender tais posturas que brilham pela ausência de Deus levado simplesmente pela autoridade de um experto que, quando se trata de Deus, é um ignorante. Não será isso certo complexo de inferioridade em relação ao mundo dos assim chamados cientistas

Jesus elogiou a fé daquela cananéia e que elogiar também a nossa, mas pessoalmente, quando chegarmos na visão da glória. Da fé à glória, desse mundo ao céu, para escutarmos esse elogio da boca do Senhor: “grande foi a tua fé”.

Pe. Françoá Costa

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