Construir na Rocha!
Em Dt 11, 18. 26-32 temos um discurso de Moisés no final da vida. Ele relembra aos Hebreus os compromissos assumidos para com Deus e os convida a renovar a Aliança com o Senhor. É um convite a ter a Palavra de Deus sempre presente: “gravada no coração e na alma”.
Jesus, em Mt 7, 21-27, afirma solenemente: “Nem todo aquele que me diz, ‘Senhor, Senhor entrará no Reino dos Céus, más sim aquele que pratica a vontade de meu Pai que está nos céus’”.
Na ocasião em que o Senhor pronunciou essas palavras, falava diante de muitos que tinham transformado a oração numa mera recitação de palavras e fórmulas, que depois não influíam em nada na sua conduta hipócrita e cheia de malícia. O nosso diálogo com Cristo não deve ser assim: Ensinava São Josemaria Escrivá: “A tua oração tem de ser a do filho de Deus; não a dos hipócritas, que hão de escutar de Jesus aquelas palavras: “Nem todo aquele que diz Senhor!, Senhor! entrará no Reino dos Céus”. – A tua oração, o teu clamar; Senhor!, Senhor!, tem de andar unido, de mil formas diversas no teu dia, ao desejo e ao esforço eficaz de cumprir a vontade de Deus” (Forja, nº 358).
O caminho que conduz ao Céu e à felicidade aqui na terra, diz Santo Hilário, “é a obediência à vontade divina, não a repetição do seu nome”. A oração deve fazer-se acompanhar do desejo de realizar o querer de Deus que se nos manifesta de formas tão variadas. “Seria estranho – exclama Santa Teresa – que Deus nos estivesse dizendo claramente que nos ocupássemos de alguma coisa que é do seu interesse, e nós não o quiséssemos, por estarmos mais interessados no nosso gosto”.
Que pena se Deus quisesse levar-nos por um caminho e nós nos empenhássemos em seguir por outro! Certamente gostaríamos de merecer que nos chamassem “aqueles que amam a vontade de Deus. Empreguemos os meios para isso, dia após dia! E esses meios consistirão normalmente em nos perguntarmos muitas vezes ao longo do dia: faço neste momento o que devo fazer?
O empenho em procurar em tudo a vontade de Deus – a sua glória – dá-nos uma particular fortaleza contra as dificuldades e tribulações que tenhamos de padecer: doenças, calúnias, dificuldades econômicas…
No texto de Mt 7, 21-27 que estamos meditando podemos identificar os falsos profetas, os falsos discípulos, os falsos cristãos. Estes são os que dizem “Senhor, Senhor”, mas não fazem a vontade de Deus; não mantêm com Deus uma relação de comunhão e de intimidade; têm Deus nos lábios, mas o seu coração está cheio de maldade… Falam muito e bem, mas as suas obras denunciam a sua falsidade. O verdadeiro cristão é aquele que une a vontade do Pai; aquele que une a fé à vida.
Jesus fala da casa construída sobre a rocha e sobre a areia.
A vida do cristão que segue o Senhor com obras – a sua casa – não desmorona, porque está edificada sobre o mais completo abandono na vontade de Deus.
Procuremos construir a casa sobre a rocha! Somente a fé, que se exercida numa adesão plena à vontade de Deus, permite ao homem edificar a sua casa sobre a rocha e não teme que ventos e tempestades invistam contra elas. A casa é a vida cristã, que, cimentada na fé de Cristo e no cumprimento de Sua palavra, pode lançar o desafio a qualquer furacão e ainda ao tempo e à morte, convertendo-se um dia em vida eterna.
Em que tipo de alicerce queremos construir a casa de nossa vida?
Sobre a rocha firme da Palavra de Deus ouvida e praticada ou sobre valores efêmeros do dinheiro, do poder, da fama, da glória, da mentira, da injustiça ou da violência?
Um alicerce sólido e forte pode servir também de apoio para outras edificações mais fracas. A nossa vida interior, impregnada de oração e de realidades, pode servir de ajuda a muitos outros homens, que encontrarão em nós a fortaleza necessária quando as suas forças fraquejarem.
Não nos separemos em nenhum momento de Jesus! “Quando te vires atribulado…, e também na hora do triunfo, repete: – Senhor, não me largues, não me deixes, ajuda-me como a uma criatura inexperiente, leva-me sempre pela tua mão!”. “Jesus, eu me ponho confiadamente nos teus braços, escondida a minha cabeça no teu peito amoroso, pegado o meu coração ao Teu coração: quero, em tudo, o que Tu quiseres” (São Josemaria Escrivá, Forja, nº 654 e 529). Só o que Tu quiseres, Senhor! Não quero mais nada!
Mons. José Maria Pereira