Homilia do Padre Françoá Costa – IX Domingo do Tempo Comum – Ano A

As obras da fé

Erram aquelas pessoas que pensam que basta com aceitar Jesus para serem salvos! Equivocam-se aqueles outros que pensam que é suficiente a mera fé para chegar à vida eterna! Está longe da verdade o individuo que proclama somente com a boca, “Senhor, Senhor”, sem aprofundar essas palavras no coração, tendo-as verdadeiramente como programa de vida.

No mesmo caminho do erro estão aqueles que pensam que para salvar-se basta com não fazer coisas más. Estão equivocados aqueles que confundem a filantropia com a caridade. Mas também estão longe da verdade os que insistem nas obras e diminuem importância à graça e à fé.

Em contra dessas visões parciais se opõe o maravilhoso equilíbrio do Evangelho. Por um lado: “tua fé te salvou” (Lc 8,48) e “tudo é possível ao que crê” (Mc 9,23). Por outro: “nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21) e “Vinde, benditos do meu Pai, tomai posse do Reino (…) porque tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes (…)” (Mt 25,34-36). Poderíamos seguir apoiando as duas caras dessa moeda única com outros textos da Escritura Santa. O mesmo apóstolo que deixou escrito que “o justo viverá pela fé” (Rm 1,17) disse no capítulo seguinte da carta aos Romanos que o juízo de Deus “retribuirá a cada um segundo as suas obras” (Rm 2,6).

Todo cristão deve viver de fé. Mas a fé não é uma mera profissão da boca para fora, não é um mero ato de confiança na misericórdia de Deus, não é somente acreditar que Deus existe. A fé é algo que invade toda a nossa existência: o nosso ser, a nossa inteligência, a nossa vontade, os nossos sentimentos. Quase se poderia dizer que nós não temos fé, mas que a fé nos tem. Somos homens e mulheres de fé. Ao vivermos de fé, perceberemos as consequências da fé em todas as dimensões do nosso existir. O cristão nunca pode desassociar a sua fé da sua vida. Dizer “Senhor, Senhor” na Missa dominical é muito importante, mas é preciso continuar dizendo “Senhor, Senhor” nas vinte quatro horas de cada jornada, não necessariamente com a boca, mas com as nossas ações quotidianas. É preciso proclamar o senhorio de Jesus na família, no trabalho e em todas as demais relações.

Caso Jesus seja o Senhor da família de fulano, fulano viverá as obras da fé na família: a sua esposa será a única mulher na sua vida ou, desde a outra perspectiva, o seu esposo será o único homem na sua vida; os filhos, frutos do amor generoso de ambos, serão vistos como pessoas que merecem cuidado, educação, carinho, correção; os pais serão sempre o ponto de referência e não supostos amiguinhos da escola ou da faculdade. Os filhos serão respeitados e educados tendo em conta aquilo que eles são, varões ou mulheres, e em atenção aos seus dotes pessoais. Alguns terão maiores capacidades intelectuais, esses farão uma faculdade e talvez sejam doutores; outros terão maiores capacidades manuais e não serão muito dados aos livros… Não há problema! A sociedade que necessita dos professores universitários, necessita igualmente de eletricistas, donas de casa, operários em geral, médicos, agricultores etc.

Caso Jesus seja o Senhor do trabalho de ciclano, ciclano viverá as obras da fé no seu ambiente profissional a través da pontualidade, do respeito aos demais, da honra à palavra dada, do cumprimento fiel dos próprios deveres, da dedicação generosa ao próprio trabalho e aos amigos do ambiente laboral, da boa educação e dos bons costumes. Qual é o melhor trabalho? O santo da vida ordinária, S. Josemaría Escrivá, responderia: o melhor trabalho é aquele que se faz com maior amor de Deus.

Caso Jesus seja o Senhor de todas as relações de beltrano, beltrano viverá as obras da fé em todos os lugares e com todos os seres com os quais se encontrem: as amizades e a vida em sociedade devem ser santificadas. Lembremo-nos de que as nossas amizades, ócios e as mais variadas atividades são ocasiões de apostolado, de evangelização.

Dessa maneira, não há dúvida: fulano, ciclano e beltrano, estarão não somente proclamando o senhorio de Jesus com a boca, mas com todo o seu ser, com toda a sua inteligência, com toda a sua vontade, com todos os seus sentimentos. Será uma pessoa de fé. Uma pessoa que ama e faz a vontade de Deus. Mas é preciso lutar um dia e outro também, sempre!

Pe. Françoá Costa

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