Avareza
Faz tempo que eu não assisto desenhos animados, mas me lembro ainda da figura do tio Patinhas, esse emblemático personagem que apareceu por primeira vez nos quadrinhos em 1947 e que sempre me pareceu um pouco avarento. Zeloso do seu “rico dinheirinho”, tio Patinhas faz de tudo para aumentar o seu tesouro, utiliza a violência em alguns casos e, no entanto, busca sempre manter um fundo de honestidade. A mansão do tio Patinhas e a sua “piscina” de dinheiro sugerem à minha imaginação um paralelismo com os grandes celeiros do homem rico da parábola de hoje (cfr. Lc 12,16-21).
“Guardai-vos escrupulosamente de toda avareza” (Lc 12,15) – é Jesus quem nos diz. Além do mais, como é curta a alegria dos avaros: “nesta noite ainda exigirão de ti a tua alma” (Lc 12,19). Mas, vejamos: não se trata de ter ou não ter. A avareza é uma atitude, uma disposição má que nos leva a estar demasiado preocupados com os bens materiais, em juntá-los, em não gastá-los, em não partilhar. A avareza vai corroendo a pessoa humana e não a deixa ser feliz já que a um bem material sempre se pode juntar um novo bem, e assim por diante com a consequente preocupação de efetivamente conseguir esse novo objeto. O problema não está nas coisas, de fato as chamamos bens materiais, a avareza é uma atitude da pessoa, algo que está dentro do coração humano, como os outros vícios capitais.
Até parece que os produtos estão gritando nas grandes lojas: “Compra-me! Você necessita de mim! O que você tem já está velho! Sou muito melhor! Compra-me! Compra-me!” E nós, diante desse constante estímulo do “ter”, nos rendemos! O nosso “rico dinheirinho”, ou melhor, o “meu” (dinheiro não se partilha!) dinheiro tem que render cada vez mais, não pode sofrer nenhum prejuízo, e melhor ganhar mais que muito. Consumismo, hedonismo, avareza!
Como é importante praticar o desprendimento dos bens materiais, a generosidade e a magnificência, caso queiramos ver-nos livres da avareza. Um exercício interessantíssimo para começar a vencer a avareza é emprestar com alegria. Como custa! E, no entanto, esse desprendimento momentâneo de um bem material – que depois retornará a nós – pode ser um primeiro caminho de generosidade. Logicamente, não se trata de emprestar o próprio diário a outros para praticar o desprendimento e a generosidade!
A avareza destrói amizades. Conta-se que três amigos que eram assaltantes, na hora de dividir o produto do roubo, pediram que um deles fosse comprar um garrafa de whisky para comemorar o êxito da empresa. Enquanto o companheiro foi comprar a bebida pensou consigo o quê fazer para ficar com todo o dinheiro sem ter que dividi-lo: “- já sei, vou comprar o whisky e coloco veneno dentro, os dois morrem e o dinheiro será todo meu”, pensou decidido a colocar o seu plano em ação. Os outros dois que tinham ficado à espera do amigo que fora comprar o whisky pensaram entre si que seria muito mais interessante dividir o dinheiro entre dois que entre três: daria mais para cada um. Combinaram que quando o outro chegasse o matariam e ficariam com o dinheiro só para os dois. Decididos a executar o plano, assim que chegou o outro amigo com o whisky, mataram-no, e, em seguida, para comemorar um novo êxito… beberam o whisky! Morreram os três! E de quem seria o dinheiro, fruto do roubo e da avareza?
A avareza vai tirando a nossa vitalidade, impede a felicidade e nos faz mesquinhos. Quando notemos que a avareza, a preocupação desmedida por acumular, está tomando conta do nosso coração, reajamos imediatamente: ela corrói por dentro e nos faz infelizes. Está claro que um pai de família tem que se preocupar em garantir um futuro para os seus filhos, um universitário terá que preocupar-se em fazer uma pequena biblioteca pessoal, uma mãe de família terá que guardar as roupas da família para outros que virão, isso não é avareza. Além do mais, não se trata de ter ou não, mas de que haja uma atitude de desapego daquilo que temos… ou não temos!
Pe. Françoá Costa