Amados irmãos, hoje nos unimos a toda a Igreja para celebrar a Solenidade da Imaculada Conceição. A liturgia da Palavra dessa Missa nos chama a contemplar a pureza de Maria e buscar a nossa conversão.
Na primeira leitura, entramos na cena do pós-pecado do homem. Deus vai até Adão e o dirige uma pergunta aparentemente normal e sem conteúdo: “Onde estás?”. O contexto no qual está inserida essa pergunta revela a força dela. Adão, criado para estar em comunhão com Deus, para ser administrador da criação, protetor de Eva e cabeça da família humana, havia caído no pecado. O pecado retirou o ser humano do seu lugar de amigo de Deus, o rebaixou a escravo de suas paixões e o fez perder o rumo para o qual devia levar a família humana. “Onde estás?” Essa pergunta de Deus a Adão é, na verdade, a pergunta de Deus ao homem de todos os tempos – “Onde estás?”. Eu te criei para as alturas, para as alegrias de minha casa. Eu te criei para a segurança de meus braços, para o amor de meu coração. Eu te criei para experimentar meu amor paterno que acalenta a alma. Eu te criei para viveres na liberdade e autoridade de seres meu filho. Eu te criei para mais, muito mais… “Onde estás?”. O pecado rebaixa o homem. O ser humano envolto pelo pecado procura coisas pequenas e mesquinhas, mendiga restos e se acha grande e limpo sendo sujo e baixo. Estar no pecado é viver fora do lugar para o qual fomos criados.
Maria, denominada no Evangelho como a transbordante de graça, mostra ao homem o lugar que ele deve estar. No Gênesis, como prova de seu amor para conosco, Deus faz a promessa de que um descendente da mulher seria o inimigo vitorioso do mal, do pecado. E que a mulher pisaria na cabeça do tentador e o homem poderia enxergar novamente seu lugar e entrar para assumir seu posto conquistado novamente pelo Salvador. Maria, a sem pecado, é a imagem do homem firmado em Deus. Deus não pergunta à Maria “Onde estás?”, pois ela nunca se perdeu, nunca saiu de seu olhar.
Temos que ter a coragem de olhar para pergunta do Gênesis não como algo distante ou impessoal. Deus nos procura! Deus nos ama e pergunta: “Onde estás?”. Esse questionamento deve penetrar nosso coração e nos levar a uma revisão de vida. Estou vivendo em Deus? Estou onde devo estar? Estou vivendo à altura de um filho de Deus?
Na ladainha de Nossa Senhora, retomando uma ideia do contexto medieval, Maria é chamada de espelho. Espelho, nesse sentido, diferente do que na realidade é – um objeto que reflete a nossa imagem – traz uma concepção inversa: quem olha é que deve buscar refletir o que encontra no espelho. Maria reflete para o homem o lugar que devemos estar. Maria mostra a grandeza do homem mergulhado na graça de Deus. Humildade esplendorosa, alegria plena, serviço feliz, oração contínua. O lugar do homem neste mundo é a graça. Olhar para Maria deve nos impulsionar a responder essa pergunta – “Onde estás?”
Nesse dia da Imaculada, recordamos, também, que Deus quis Maria como auxílio de todo cristão. O caminho da nossa vida é, ajudados pela força de Deus, nos direcionar a esse homem novo, esse homem em graça trazido pelo novo Adão – Jesus Cristo. Peçamos socorro à Maria! Que ela nos arraste para Deus e nos convença que é muito bom estarmos no nosso lugar, no lugar no qual Deus espera que estejamos.
“Eis aqui a serva do Senhor!”, disse Maria! Essa é a atitude para estarmos na graça de Deus. Diferente de Adão e Eva, que pretenderam tomar o lugar do Senhor pela soberba e prepotência, Maria ensina a atitude do homem redimido – eis o servo humilde e reverente, faça-se em mim, conduza-me, indica-me. O “não” orgulhoso a Deus parece mais atraente, mas alegre e mais chamativo, porém, é falso, passageiro e vazio. O “sim” do homem redimido aparenta ser pesado, difícil e descabido, mas é, pelo contrário, tudo que nos preenche. Pois, o sim damos do nosso lugar, do lugar feito por Deus e não de um lugar construído por nós, com nossas mãos imperfeitas. Aquele que sabe onde está e onde deve ficar, sabe para onde se dirige.
Recorramos à Maria com devoção, peçamos sua ajuda para endireitar nossos passos. Que, no dia que Deus venha nos buscar nos encontre onde devemos estar e, ajudamos por Maria, respondamos – Eis-me aqui, faça-se em mim segundo sua Palavra. Amém.
(Pe. Matheus Pigozzo)