Eu sou a ressurreição e a vida (Jo 11,25)
2 de novembro
Caros irmãos e irmãs,
Neste dia 2 de novembro celebramos o dia de Finados, momento de fazer memória aos parentes e amigos já falecidos, em uma manifestação pública de afeto. Para os cristãos, este é também o momento de olhar para o futuro e ter o conforto de saber que o nosso destino está em Deus e que a morte nada mais é do que o nascimento para a vida eterna. A Igreja nos convida neste dia a comemorar todos os fiéis defuntos, a voltar o nosso olhar a tantos rostos que nos precederam e que concluíram o caminho terreno. Para nós cristãos a morte é iluminada pela ressurreição de Cristo e para renovar a nossa fé na vida eterna.
A liturgia do dia de Finados poderia ser chamada também de liturgia da esperança, pois, a vitória sobre a morte é o critério da esperança do cristão. Diante da morte a resposta do cristão deve ser: “A vida não é tirada, mas transformada”. E esta resposta baseia-se na fé na Ressurreição de Jesus. Somos unidos com Ele na vida e na morte. Somente quem pode reconhecer uma grande esperança na morte, pode também viver uma vida a partir da esperança. O homem tem necessidade de eternidade e esse desejo de eternidade foi o que Jesus veio trazer quando disse: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá” (Jo 11,25-26).
A Palavra de vida e de esperança é um profundo conforto para nós, face ao mistério da morte, especialmente quando atinge as pessoas que nos são mais queridas. Embora nos tenhamos entristecido porque tivemos que nos separar delas, e ainda nos amargura a sua falta, a fé nos enche de íntimo alívio perante o pensamento de que, como aconteceu para o Senhor Jesus e sempre graças a Ele, a morte já não tem qualquer poder sobre eles (cf. Rm 6,9). Passando, nesta vida, através do Coração misericordioso de Cristo, eles entraram “num lugar de descanso” (Sb 4,7).
Nossa vida é medida pelo tempo, ao longo do qual passamos por mudanças, envelhecemos e, como acontece com todos os seres vivos da terra, a morte aparece com o fim normal da vida, é a conclusão da peregrinação terrestre do homem. Mas graças a Cristo, a morte cristã tem um sentido positivo. São Paulo nos conforta dizendo: “Para mim, a vida é Cristo, e morrer é lucro” (Fl 1,21); e nos diz ainda: “Se com Ele morrermos, com Ele viveremos” (2Tm 2,11). Na morte, Deus chama o homem a si. É por isso que o cristão pode sentir, em relação à morte, uma aspiração semelhante à de São Paulo: “O meu desejo é partir e ir estar com Cristo” (Fl 1,23). E cada cristão pode transformar a sua própria morte em um ato de obediência e de amor para com o Pai, a exemplo de Cristo.
Cremos firmemente que, da mesma forma que Cristo ressuscitou verdadeiramente dos mortos, e vive para sempre, assim também, depois da morte, os justos viverão para sempre (cf. Jo 6,39ss). Crer na ressurreição dos mortos foi, desde os primeiros tempos, um elemento essencial da fé cristã. E o próprio Jesus liga a fé na ressurreição à sua própria pessoa: “Eu sou a ressurreição e a vida” (Jo 11,25). Também recitamos o Credo e rezamos: “Creio na ressurreição dos mortos, na vida eterna”. E com relação à morte Santa Teresinha do Menino Jesus dizia: “Eu não morro, entro na vida”. E a Igreja nos encoraja à preparação para a morte e a pedir à Mãe de Deus que interceda por nós “agora e na hora da nossa morte”, como rezamos quotidianamente na oração da Ave Maria.
E ao nos dirigirmos aos cemitérios para rezar pelos nossos defuntos, somos convidados, mais uma vez, a renovar com coragem e com força a nossa fé na vida eterna, e mais, viver com esta grande esperança e testemunhá-la ao mundo. Diante da morte, nada mais consolador do que a mensagem do próprio Cristo. Ele sabia que iria passar por este caminho, pelo caminho da dor que culminaria com a sua morte de cruz. Mas após o terceiro dia ocorreu a ressurreição. E São Paulo vem ainda nos confirmar: “Se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa fé” (1Cor 15,14).
É ainda São Paulo que nos assegura: “Assim como Cristo ressuscitou dos mortos, mediante a glória do Pai, caminhemos nós também numa vida nova” (Rm 6,4). Vem também à mente as palavras de conforto pronunciadas pelo Cristo Senhor: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas” (Jo 14,2).
Jesus Cristo ilumina o mistério da dor e nos ensina a olhar a morte além da angústia e do medo. Ele venceu o lado angustiante da morte, através da sua Ressurreição, pela qual foi possível abrir a porta da esperança para a eternidade. Cristo transformou a morte, que anteriormente era vista como um túnel escuro e sem saída, em uma passagem luminosa, um caminho para a Páscoa.
Cristo morreu e ressuscitou e nos abriu a passagem para a casa do Pai, o Reino da vida e da paz. Quem segue Jesus nesta vida é recebido onde Ele nos precedeu. Portanto, enquanto visitamos os cemitérios, recordemo-nos que ali, nos túmulos, repousam só os despojos dos nossos entes queridos na expectativa da ressurreição final. As suas almas, como diz a Sagrada Escritura, já “estão nas mãos de Deus” (Sb 3,1). Portanto, o modo mais justo e eficaz de os honrarmos é rezar por eles, oferecendo atos de fé, de esperança e de caridade em união ao Sacrifício Eucarístico (cf. BENTO PP XVI, Angelus, 1 de novembro de 2009).
O dia de finados é sempre excelente ocasião, não somente para rezar pelos nossos irmãos já falecidos, mas também para alagarmos nosso conceito de vida, pensarmos no modo como estamos vivendo, bem como reforçarmos a nossa esperança de um dia estarmos todos diante do Pai. Portanto, a nossa oração pelos defuntos é útil e também necessária, enquanto ela não só os pode ajudar, mas ao mesmo tempo torna eficaz a sua intercessão em nosso benefício (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 958).
Pensemos também na cena do Calvário e nas palavras pronunciadas por Jesus do alto da Cruz ao bom ladrão, que a tradição identificou como São Dimas e que está à sua direita: “Em verdade eu te digo: Hoje mesmo estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43). Possamos também refletir sobre os dois discípulos que caminhavam na estrada de Emaús, quando, depois de terem percorrido uma parte do caminho com Jesus ressuscitado, o reconhecem e partem para Jerusalém para anunciar a Ressurreição do Senhor (cf. Lc 21,13-35).
Cada Santa Missa possui um valor infinito e é o que temos de mais valioso para oferecer pelas almas. Também podemos oferecer por elas as indulgências que lucramos na terra: as nossas orações; a melhor maneira de demonstrarmos o nosso amor pelos nossos parentes e amigos e por todos os que nos precederam e esperam o seu encontro definitivo com Deus.
Nas nossas orações, peçamos para que também nós, peregrinos na terra, mantenhamos sempre orientados os olhos e o coração para a meta derradeira pela qual aspiramos: a casa do Pai, o Céu. E que o Senhor nos conceda, no final da nossa peregrinação terrestre, uma morte santa e que possamos estar entre os seus escolhidos para que Ele possa dizer neste dia a cada um de nós: “Vinde, benditos de meu Pai, recebei como herança o reino que para vós está preparado desde a criação do mundo” (Mt 25,34). Assim seja.
D. Anselmo Chagas de Paiva, OSB
Mosteiro de São Bento/RJ