Homilia do Padre Françoá Costa – XVIII Domingo do Tempo Comum |Ano A

Domingo 19º do Tempo Comum, 06/08/2023

Dn 7,9-10,13-14; Sl 66/67; 2 Pd 1,16-19; Mt 17,1-9

Festa da Transfiguração do Senhor

  • Império dos filhos

            Daniel, na contemplação, vê um Ancião a sentar-se em um trono majestoso. Logo depois, o mesmo profeta vê um Filho de homem vindo sobre as nuvens do céu e apresentar-se diante do Ancião. O Filho do Homem recebe do Ancião “o poder, a honra e o reino, e todos os povos, nações e línguas o serviam. Seu império é império eterno que jamais passará, e seu reino jamais será destruído” (Dn 7,14). Uma descrição semelhante aparece em Ap 1,7: “Eis que ele vem com as nuvens e todos os povos o verão, até mesmo os que o transpassaram”. São João está a falar de Jesus Cristo. Interessante é que o que Daniel vira no Antigo Testamento, João também o vê no Novo. Porém, somente no Novo Testamento fica claro quem era o Filho do Homem de Dn 7.

            O Evangelho da Missa de hoje também nos fala que Jesus transfigurado diante de Pedro, Tiago e João, se parece àquele Filho do Homem de Dn 7. São Pedro, por sua vez, já que foi testemunha ocular de tudo isso, afirmou alguns anos depois do acontecimento da transfiguração, que Jesus “recebeu de Deus Pai honra e glória, quando uma voz vinda da sua glória lhe disse: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”. Esta voz, nós a ouvimos quando lhe foi dirigida do céu, ao estarmos com ele no monte santo” (1 Pd 1,17-18).

            Na mente de Pedro, que viu a transfiguração, ficaram gravados dois elementos: Jesus Cristo é majestoso e glorioso, ele é o Filho do Pai. Esses elementos combinam com a descrição de Dn 7 e de Mt 17: Jesus é o Imperador Eterno, pois ele é o Filho do Pai, o herdeiro. Penso que esses dois elementos nos ajudam a ver que o Filho do Homem é o Filho de Deus: é Filho do Homem porque, com o passar do tempo, assumiria a nossa natureza humana e mortal, é o Filho de Deus eterno porque sempre o foi desde toda a eternidade. De fato, nunca houve um único momento na eternidade do Pai na qual ele não tivesse o Filho, pois é lógico que ele não poderia ser chamado de Pai eterno se não tivesse o Filho igualmente eterno.

            Sirvam esses dois elementos para vivermos bem esta festa da transfiguração: olhemos mais para Jesus onipotente, imperador, rei dos reis e senhor dos que dominam. Precisamente por ser todo-poderoso, o Senhor Jesus pode ser misericordioso, salvar-nos, perdoando os nossos pecados. Não gosto quando algum sacerdote, usando de uma indiscreta autoridade, muda aquelas palavras que rezam assim: “Deus todo-poderoso, tenha compaixão de nós”, por “Deus todo misericordioso, tenha compaixão de nós”, e suas variantes. Entendam todos que ele só pode ser misericordioso se for todo-poderoso, isto é, se ele tiver poder total para vir em socorro da totalidade das misérias humanas e de outras coisas que desconhecemos.

Jesus Cristo todo-poderoso é igualmente o Filho do Pai, no qual o Pai eterno encontra suas alegrias. O dia de hoje é também para que contemplemos a beleza da filiação divina do Filho de Deus e, quase como um ato seguido, pensemos que nós também somos filhos de Deus. Jesus é o Filho natural do Pai, da mesma natureza do Pai; nós somos filhos adotivos do Pai, unidos através da natureza humana do Filho à participação da divindade, como atesta o santíssimo Pedro Apóstolo: “Foram-nos dadas as preciosas e grandíssimas promessas, a fim de que assim vos tornásseis participantes da natureza divina, depois de vos libertardes da corrupção que prevalece no mundo como resultado da concupiscência” (2 Pd 1,4).

Somos filhos de Deus, isto nos baste para receber a glória de, também nós, dominar o mundo com império de quem se sabe filho de Deus. Isso mesmo: a partir da percepção da nossa filiação divina, temos que ser senhores de nós mesmos e das coisas que estão ao nosso entorno. Nós nascemos para vencer imperiosamente, pois “a vitória que vence o mundo é a nossa fé” (1 Jo 5,5).

Pe. Françoá Costa

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