Comecemos nossa contemplação com o povo de Israel, tão amado e protegido por Deus. O Senhor o amou, o Senhor gratuitamente o escolheu como Seu povo: “Vistes como vos levei sobre asas de águia” – quanto carinho, quanto cuidado de Deus, um Deus que nos leva nas costas, como a águia conduz os seus filhotes.
“Vistes como Eu vos trouxe a Mim!” – Para onde Deus conduz o Seu povo? Para a Terra Prometida, nós pensamos logo. É verdade. Mas, a verdadeira Terra Prometida é o próprio Deus: “Eu vos trouxe a Mim!” Foi para ser o Seu povo que o Senhor tirou Israel do Egito e o escolheu… A verdadeira herança de Israel, mais que uma terra, é o próprio Deus! Deus, mais que dons, dá-Se-nos a Si mesmo. Por isso o Salmista exclama: “Quanto a mim, eu estou sempre Contigo, Tu me agarraste pela mão direita! Quem teria eu no Céu? Contigo, nada mais me agrada na terra! Minha carne e meu coração podem se consumir: a Rocha do meu coração, a minha porção é Deus, para sempre” (Sl 73/72,23.25s).
Escutemos ainda: “Agora, pois, se ouvirdes a Minha voz e guardardes a Minha aliança, sereis para Mim a porção escolhida diante de todos os povos, um reino de sacerdotes e uma nação santa”. O Deus que tirou Israel do Egito e fez dele uma propriedade para Si, colocou-o no meio das nações como um povo santo e uma porção escolhida. Israel é todo de Deus, todo para Deus e, ao mesmo tempo, povo no meio das nações como povo consagrado ao Senhor, povo que deve viver na fidelidade ao Senhor, na escuta da Sua Palavra, testemunhando o Senhor perante as nações da terra.
Ora, caríssimos, o que Israel fora, nós somos agora em plenitude! Jesus fundou Sua comunidade, um novo povo, um novo Israel, que é a Igreja. O Evangelho deste Domingo no-lo mostra chamando os Doze – doze é o número das tribos de Israel -, tendo Pedro como chefe.
Esses Doze são o alicerce do Seu novo povo, a Igreja, o novo Israel. Jesus envia Sua Igreja com poder para anunciar o Reino e curar os males do mundo, daquelas “multidões cansadas e abatidas como ovelhas sem pastor”.
Eis, portanto, o que somos: povo de Deus, povo da Aliança nova e eterna: “Vós sois uma raça eleita, um sacerdócio real, uma nação santa, o povo de Sua particular propriedade, a fim da que proclameis as maravilhas Daquele que vos chamou das trevas para a Sua luz maravilhosa. Vós que outrora não éreis povo, mas agora sois o povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas agora alcançastes misericórdia” (1Pd 2,9s).
Que enorme graça! “Ele mesmo nos fez e somos Seus: nós somos o Seu povo e o Seu rebanho!” Pelo sangue de Cristo, o Filho único, o Filho amado, o Senhor nos atraiu quando ainda éramos pecadores! Éramos fracos e Cristo morreu por nós; éramos inimigos e fomos reconciliados com Deus pela morte do Seu Filho amado e bendito. Éramos sem Deus no mundo e fomos salvos da ira e alcançamos misericórdia em Deus por Jesus Cristo. Ser cristão, ser membro e filho da Igreja não é um direito, não é um merecimento: é graça, é atração que Deus opera em nós na potente força do Seu Espírito! Não merecemos nada! Tudo é graça!
Por isso mesmo, quando dizemos – e fazemos bem em dizê-lo – que pertencemos à Igreja de Cristo, povo santo, conquistado e redimido por Ele, não devemos nos gloriar disso! A glória é de Cristo que com Seu sangue nos reuniu como Sua Igreja. Nada de auto-complacência, de nos achar já salvos; nada de desprezar os outros! O dom de ser cristão católico deve nos levar a uma humilde gratidão a Deus e também à consciência do serviço que o Senhor nos confia: anunciar o Reino dos Céus neste mundo. Esse Reino é o próprio Jesus que viveu entre nós anunciando o Pai pleno de amor e misericórdia, consolando e curando a todos; Jesus, que Se entregou por nós, revelando todo o amor do Pai.
Assim, Ele nos faz viver uma nova vida, vida plena, vida feliz, porque uma vida com um novo sentido, um sentido verdadeiro: aconteça o que acontecer, venha o que vier, somos amados e esperados por Deus. Ele tanto nos amou que nos entregou o Seu Filho! Quem experimenta isso, quem vive isso, sente necessidade de compartilhar com os outros, com o mundo todo! Uma Igreja que não fosse missionária seria uma Igreja morta, uma Igreja que nunca teria experimentado de verdade a alegria, a felicidade de ter sido encontrada por Cristo e, Nele, ter encontrado um sentido para a vida. Se não somos missionários, se em casa e onde vivemos e atuamos, não sentimos a necessidade de contagiar os próximos com a alegria de Jesus, então é porque nós mesmos nunca experimentamos essa alegria explosiva, expansiva, contagiante!
Eis, pois o que somos; eis o que é a Igreja: o povo de Deus da Nova Aliança, o povo conquistado e redimido por Cristo para ser neste mundo um povo sacerdotal, um povo que presta culto a Deus em nome de todos os povos; um povo de missionários que, a um mundo que procura vida e alegria em tantas realidades que não comunicam nem alegria nem vida, anuncia o Reino de Deus, Cristo em nós, esperança de salvação!
Caríssimos, ainda hoje Jesus olha essa multidão que é a humanidade cansada e abatida… Ainda hoje Ele nos envia! Iluminados pela Palavra tão viva e consoladora do Senhor e alimentados, daqui a pouco, pelo Seu Corpo e Sangue, será que vamos sair daqui tão preguiçosos e acomodados, tão frios e indiferentes como entramos?
– Pai santo, Pai amado, Deus bendito, somos o povo eleito que Cristo veio reunir no único santificante Espírito. Faze-nos fieis a tão grande vocação.