Roteiro Homilético – XXIV Domingo do Tempo Comum – Ano B

 RITOS INICIAIS

 

Sir 36, 18

ANTÍFONA DE ENTRADA: Dai a paz, Senhor, aos que em Vós esperam e confirmai a verdade dos vossos profetas. Escutai a prece dos vossos servos e abençoai o vosso povo.

 

Introdução ao espírito da Celebração

 

Fugimos, por instinto, do que nos custa algum sacrifício. Ao princípio, começamos por deixar de lado o que pertence à esfera da generosidade, não dos mandamentos da Lei de Deus.

Mas esta atitude em breve nos leva a transgredir também estes, porque a falta de generosidade é um plano inclinado: recusa na aceitação dos filhos, na seriedade dos negócios e trabalho, na missa dominical, até ao abandono total.

Ao mesmo tempo, instintivamente, procuramos encontrar uma justificação para o nosso descaminho: Deus – pensamos – nos pede, porque não nos poderia pedir, aquilo que nos custa, porque é Pai. Esquecemos, nesta caminhada de cegueira, que os pais, porque amam os filhos, pedem-lhes esforços para superarem as próprias limitações.

 

ACTO PENITENCIAL

 

Fugir do que custa não é solução para a vida, mas nós limitamos o horizonte para a procurar.

Acordemos deste sonho porque, fugindo do sacrifício, vamos ter ao pecado e tornamo-nos infelizes. Reconheçamos humildemente o nosso erro, peçamos ao Senhor perdão, e peçamos-Lhe, com a sua ajuda, para nos emendarmos.

 

(Tempo de silêncio. Apresentamos, como alternativa, elementos para o esquema C)

 

•   Senhor Jesus: estamos mergulhados num ambiente de comodismo

e não temos conseguido viver acima desta mentalidade hedonista.

Senhor, tende piedade de nós!

 

     Senhor, tende piedade de nós!

 

•   Cristo: temos horror ao sacrifício, mesmo quando é insignificante

e cedemos sem luta à tentação da mediocridade na vida diária.

Cristo, tende piedade de nós!

 

     Cristo, tende piedade de nós!

 

•   Senhor Jesus: damos mau testemunho de um cristianismo exigente,

afastando os outros da santidade de vida a que Vós os chamastes.

Senhor, tende piedade de nós!

 

Senhor, tende piedade de nós!

 

Deus todo poderoso tenha compaixão de nós,

perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna.

 

ORAÇÃO COLECTA: Deus, Criador e Senhor de todas as coisas, lançai sobre nós o vosso olhar; e para sentirmos em nós os efeitos do vosso amor, dai-nos a graça de Vos servirmos com todo o coração. Por Nosso Senhor…

 

 

 

LITURGIA DA PALAVRA

 

Primeira Leitura

 

Monição: Isaías apresenta-nos um profeta anónimo, chamado por Deus a testemunhar a Palavra da salvação e que, para cumprir essa missão, enfrenta a perseguição, a tortura, a morte.

Este profeta, contudo, está consciente de que a sua vida não foi um fracasso: quem confia no Senhor e procura viver na fidelidade ao seu amor triunfará sobre a perseguição e a morte. Os primeiros cristãos viram neste «servo de Jahwéh» a figura de Jesus na Sua Paixão.

 

Isaías 50, 5-9a

5O Senhor Deus abriu-me os ouvidos e eu não resisti nem recuei um passo. 6Apresentei as costas àqueles que me batiam e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me insultavam e cuspiam. 7Mas o Senhor Deus veio em meu auxílio e por isso não fiquei envergonhado; tornei o meu rosto duro como pedra, e sei que não ficarei desiludido. 8O meu advogado está perto de mim. Pretende alguém instaurar-me um processo? Compareçamos juntos. Quem é o meu adversário? Que se apresente! 9aO Senhor Deus vem em meu auxílio. Quem ousará condenar-me?

 

A leitura é extraída do 3º poema dos célebres Cantos do Servo de Yahwéh, que aparecem dispersos pelo Segundo Isaías. Trata-se de um poema literariamente bem estruturado em estrofes iniciadas da mesma forma: «O Senhor Deus». Neste texto é o próprio Servo (cf. v. 10) quem é apresentado a falar. Apresenta-se «a falar como um discípulo» (v. 4), embora não se trate de um discípulo qualquer: é um discípulo do Senhor (cf. Is 54, 13), instruído pelo próprio Deus, tal como dirá Jesus: «a minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou» (Jo 7, 16; cf. 14, 24). Segundo o que os Evangelhos deixam ver, a Tradição cristã primitiva logo viu nesta figura uma representação profética de Jesus Cristo e da sua Paixão, ao arrepio das expectativas messiânicas da época.

5 «Eu não resisti nem recuei». Mesmo os maiores profetas e os maiores santos tiveram a consciência clara de opor alguma resistência, embora sem qualquer rebeldia, à acção de Deus, como Moisés e Jeremias (cf. Ex 3, 11; 4, 10; Jer 1, 6). Jesus, porém, identifica-se plenamente com a vontade do Pai (cf. Jo 4, 34; Lc 22, 42).

6 «Apresentei as costas àqueles que me batiam… não desviei o rosto daqueles que me insultavam e cuspiam». Um pleno cumprimento deu-se no relato da Paixão do Senhor, particularmente Mt 26, 67; 27, 26-30; Lc 22, 63-64; etc.

 

Salmo Responsorial

Sl 114 (116), 1-2.3-4.5-6.8-9 (R. 9)

 

Monição: O salmo que a Liturgia nos propõe, como resposta ao que foi proclamado no texto de Isaías, é cântico de gratidão ao Senhor, porque nos livrou da morte e a manifestação do desejo de cumprir sempre a Sua vontade.

Façamos dele a nossa oração de filhos de Deus muito amados.

 

Refrão:      ANDAREI NA PRESENÇA DO SENHOR  SOBRE A TERRA DOS VIVOS.

Ou:                CAMINHAREI NA TERRA DOS VIVOS  NA PRESENÇA DO SENHOR.

Ou:                ALELUIA.

 

Amo o Senhor,

porque ouviu a voz da minha súplica.

Ele me atendeu

no dia em que O invoquei.

 

Apertaram-me os laços da morte,

caíram sobre mim as angústias do além,

vi-me na aflição e na dor.

Então invoquei o Senhor:

«Senhor, salvai a minha alma».

 

Justo e compassivo é o Senhor,

o nosso Deus é misericordioso.

O Senhor guarda os simples:

estava sem forças e o Senhor salvou-me.

 

Livrou da morte a minha alma,

das lágrimas os meus olhos, da queda os meus pés.

Andarei na presença do Senhor,

sobre a terra dos vivos.

 

Segunda Leitura

 

Monição: S. Tiago menor fala-nos da necessidade de manifestar a fé por meio de obras em favor do próximo. É necessário que nos esforcemos por viver a unidade de vida, realizando as obras que a nossa fé nos inspira.

São as nossas obras que hão-de manifestar a fé que professamos, e não ao contrário.

 

Tiago 2, 14-18

Meus irmãos: 14De que serve a alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Poderá essa fé obter-lhe a salvação? 15Se um irmão ou uma irmã não tiverem que vestir e lhes faltar o alimento de cada dia, 16e um de vós lhe disser: «Ide em paz. Aquecei-vos bem e saciai-vos», sem lhes dar o necessário para o corpo, de que lhes servem as vossas palavras? 17Assim também a fé sem obras está completamente morta. 18Mas dirá alguém: «Tu tens a fé e eu tenho as obras». Mostra-me a tua fé sem obras, que eu, pelas obras, te mostrarei a minha fé.

 

Tiago começa a desenvolver aqui a ideia subjacente a toda a carta: a coerência da vida com a fé, com uma argumentação repetitiva para insistir na mesma ideia nuclear, expressa em termos equivalentes (v. 14.17.18.20.26). Conjugando o método sapiencial e exemplos vivos do A. T. com a pedagogia estóica de perguntas retóricas e de interlocutores fictícios, obtém um belo efeito, desperta o interesse do leitor e convence. Na leitura de hoje o ensino gira à volta duma situação típica, a saber, a do crente que não presta assistência ao irmão (v. 14-17; cf. 1 Jo 3,17).

17 «Assim também a fé sem obras está completamente morta». S. Tiago não está em oposição a S. Paulo, como Lutero afirmou, mas coloca-se noutro ponto de vista distinto. S. Paulo quer demonstrar aos judaizantes que as obras da Lei de Moisés são inúteis para obter a salvação, que só Cristo nos traz. S. Tiago pretende visar os crentes que não vivem a fé, e, segundo pensam alguns, apoiando-se numa interpretação abusiva de S. Paulo, o qual também não deixa de apelar para a necessidade das boas obras, uma vez recebido o dom da graça (cf. Rm 2, 6; 6, 15-22; 8, 4.12-13; 12, 9-21; 1 Cor 13, 2-3; Gl 5, 6.19-22). O mesmo texto de Gn 15,6 é citado por ambos: S. Paulo para ensinar a gratuidade da justificação (Rm 4,2-3; Gl 3,5-7), S. Tiago para inculcar a necessidade duma fé coerente e activa (mais adiante, nos vv. 20-23). S. Paulo tem diante de si a lei judaica e situa-se na fase que precede a justificação, ao passo que S Tiago considera o cristão, o homem já justificado, que tem de viver a sua fé com obras de amor a Deus e ao próximo, e não considera aqui as observâncias próprias do judaísmo. Os ensinamentos estão em plena concordância com o Evangelho: «Nem todo o que me diz ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos Céus» (Mt 7, 21).

 

Aclamação ao Evangelho    

Gal 6, 14

 

Monição: As cruzes da vida não constituem o sinal da maldição de Deus, mas a Sua bênção, se as soubermos valorizar.

Com S. Paulo, na Carta aos Gálatas, abracemos generosamente a cruz de cada dia e aclamemos o Evangelho que nos ensina este caminho.

 

ALELUIA

Toda a minha glória está na cruz do Senhor, por quem o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.

 

 Evangelho

 

São Marcos 8, 27-35

Naquele tempo, 27Jesus partiu com os seus discípulos para as povoações de Cesareia de Filipe. No caminho, fez-lhes esta pergunta: «Quem dizem os homens que Eu sou?» 28Eles responderam: «Uns dizem João Baptista; outros, Elias; e outros, um dos profetas». 29Jesus então perguntou-lhes: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» Pedro tomou a palavra e respondeu: «Tu és o Messias». 30Ordenou-lhes então severamente que não falassem d’Ele a ninguém. 31Depois, começou a ensinar-lhes que o Filho do homem tinha de sofrer muito, de ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos escribas; de ser morto e ressuscitar três dias depois. 32E Jesus dizia-lhes claramente estas coisas. Então, Pedro tomou-O à parte e começou a contestá-l’O. 33Mas Jesus, voltando-Se e olhando para os discípulos, repreendeu Pedro, dizendo: «Vai-te, Satanás, porque não compreendes as coisas de Deus, mas só as dos homens». 34E, chamando a multidão com os seus discípulos, disse-lhes: «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. 35Na verdade, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; mas quem perder a vida, por causa de Mim e do Evangelho, salvá-la-á».

 

O texto da leitura pode ser considerada como um ponto de charneira na estrutura do Evangelho de S. Marcos. Os vv. 27-29 encerram a primeira parte do Evangelho, com a confissão de fé de Pedro, «Tu és o Messias», a qual não é mais uma resposta entre tantas acerca da pessoa de Jesus, mas é a resposta certa, a resposta da fé à pergunta implícita ao longo da redacção: «Quem é este homem?» Os vv. 30-35 iniciam a segunda parte do Evangelho de Marcos, em que Jesus começa uma instrução aprofundada aos discípulos, revelando a natureza da sua condição de Messias, contra tudo o que era de esperar, bem posto em evidência na oposição frontal do próprio Pedro, que «não compreende as coisas de Deus» (vv. 32-33).

34-35 «Renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me…» Esta passagem evangélica, em termos fortemente paradoxais – um recurso semítico frequente em Jesus para chamar a atenção para um ensinamento importante e a não esquecer –, é uma daquelas que todos os cristãos deviam saber de cor, a par com as outras fórmulas do catecismo (cf. Cathechesi tradendæ). Aceitar e abraçar a cruz é fundamental para o homem alcançar a salvação: para viver é preciso morrer. O fim do homem é o próprio Deus, não é gozar dos bens deste mundo, que são puros meios. Para se chegar a Deus é preciso «renegar-se a si mesmo», renunciando ao comodismo, egoísmo, apego aos bens terrenos, e «tomar a sua cruz», abraçando os sacrifícios que acarreta o dever bem cumprido. Na expressão do Catecismo da Igreja Católica, no nº 2015: «O caminho da perfeição passa pela Cruz. Não há santidade sem renúncia e combate espiritual. O progresso espiritual implica a ascese e a mortificação, que conduzem gradualmente a viver na paz e na alegria das bem-aventuranças».

 

Sugestões para a homilia

 

• A virtude e o dom da fortaleza

A fortaleza, virtude humana e cristã

Sem a fortaleza não podemos seguir a Cristo

Abraçar a cruz da vida

• A Redenção pela Cruz

Jesus Cristo, Redentor do mundo

A Redenção passa pela Paixão e Morte

Seguir a Cristo heroicamente

1. A virtude e o dom da fortaleza

O Servo de Yavéh, figura misteriosa do Antigo Testamento em que alguns dos santos Padres vêem a figura de Cristo no mistério da Sua Paixão, é uma pregação viva sobre a virtude da fortaleza.

 

a) A fortaleza, virtude humana e cristã. «Apresentei as costas àqueles que me batiam e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me insultavam e cuspiam

A fortaleza é uma das quarto virtudes cardiais e é também um dom do Espírito Santo que nos ajuda a participar da fortaleza e Jesus Cristo, levando-nos, nas situações com dificuldade, a assumir um comportamento como se Ele estivesse em nosso lugar.

Actua em dois sentidos: leva-nos a aguentar a pé firme, quando tentam fazer-nos recuar do lugar onde o Senhor nos quer; e leva-nos a empreender coisas difíceis por Seu amor.

A nossa vontade foi enfraquecida pelo pecado original e pelos pecados pessoais. Muitas vezes acobardamo-nos e recuamos duma posição em que Deus nos queria firmes; outras, renunciamos a fazer o bem quando a vontade de Deus no-lo pedia.

Um exemplo gráfico da virtude da Fortaleza são os mártires de todos os tempos. Conscientes de que Deus queria o seu testemunho – mártir quer dizer isto mesmo – nada os fez demover de confessar a sua fidelidade a Jesus Cristo.

Exemplos de Fortaleza são também os pais e os evangelizadores de todos os tempos, empreendendo coisas difíceis, rodeados de mil obstáculos, para fazer o que Deus quer.

Na verdade, não há qualquer virtude, se não houver a da Fortaleza, porque falta a constância no bem, condição para que haja uma virtude.

 

b) Sem a fortaleza não podemos seguir a Cristo. «Mas o Senhor Deus veio em meu auxílio e por isso não fiquei envergonhado

A fortaleza é-nos indispensável nos caminhos de Deus e até em simples caminhar humano, porque estamos «doentes»: temos inclinações para o mal e custa-nos a perseverança no bem.

Cada um de nós experimenta a dura realidade de que fala S. Paulo: «Eu não faço todo o bem que quero e faço algum mal que não quero. Quem me libertará este corpo e morte?» (Rom 7, 15).

Não se trata de andar à procura do que custa, mas de aguentar com fortaleza no caminho do bem e da virtude iniciado, também quando nos passou o entusiasmo, estamos cansados ou sentimos a tentação de abandonar tudo.

Nos caminhos da vida, temos de imitar os atletas: com exercício sucessivos, eles vão conquistando o domínio sobre o corpo e o controle dos seus movimentos. Temos de exercitar e fortalecer a vontade, renunciando, de vez em quando, a pequenas coisas lícitas, para conseguirmos, quando é preciso, vencer em coisas ilícitas.

A Fortaleza vem-nos de Deus. Reconheçamo-lo com humildade e peçamo-la instantemente ao Senhor, especialmente quando se nos apresentar uma batalha difícil de vencer.

 

c) Abraçar a cruz da vida. «O Senhor Deus vem em meu auxílio. Quem ousará condenar-me

Sem idealismos, devemos compreender que o Senhor não nos propõe uma cruz ideal, mas a cruz real que temos aos ombros: o nosso feito, nem sempre agradável aos que vivem connosco; a maior ou menor qualidade de vida, com as suas normais limitações; as exigências da vida em família que nos obrigam, muitas vezes, a renunciar aos próprios gostos; o trabalho, que nem sempre é aquele de que mais gostamos; as limitações pessoais e do ambiente.

O que o Senhor nos propõe é que procuremos ser realistas, abraçando a cruz de cada dia, sem sonhos nem outros modos de fuga, procurando santificar-nos com as realidades de cada dia.

Santo Agostinho, com fina psicologia faz uma observação muito apropriada; «Tenho notado que os burros, quando não querem levar a carga. Caminham pelas beiras.» Assim é: quando queremos fugir à cruz real, refugiamo-nos no sonho de cruzes ideiais.

Uma das notas que sobressai nas palavras do «Servo de Jahwéh» consiste na forma absoluta como ele se entrega aos projectos de Deus.

Diante do chamamento do Senhor, ele não resiste, não discute, «não recua um passo»; mas assume, com total obediência e fidelidade, os desafios que Deus lhe dirige, mesmo quando tem de percorrer um caminho de sofrimento e de morte.

Para nós, que vivemos envolvidos pela cultura da facilidade e do comodismo, que temos medo de arriscar, que preferimos fechar-nos no nosso «cantinho» protegido, arrumado e seguro, o «Servo de Jahwéh» lança uma poderosa interpelação… É preciso abraçar, com coragem e coerência o projecto que Deus nos confia, mesmo quando esse projecto se cumpre no meio da oposição do mundo; é preciso deixarmo-nos desafiar por Deus e acolher, com generosidade, as propostas que Ele nos faz; é preciso assumirmos o papel que Deus nos chama a desempenhar e empenharmo-nos na transformação do mundo.

2. A Redenção pela Cruz

a) Jesus Cristo, Redentor do mundo. «’E vós, quem dizeis que Eu sou?’ Pedro tomou a palavra e respondeu: ‘Tu és o Messias‘.»

Depois de várias respostas falhadas à pergunta de Jesus, Pedro, não com os recursos da inteligência humana, mas iluminado por Deus, dá a resposta certa: Jesus é o ‘Messias’ prometido.

O Senhor confirma esta profissão de fé do Príncipe dos Apóstolos que logo mostra não ter compreendido o que disse. Na verdade, Pedro opõe-se com todas as forças ao projecto de Deus: a Redenção da humanidade não deve passar pela cruz: pela Paixão e Morte, para chegar à Ressurreição.

Quem é Jesus? O que é que «os homens» dizem de Jesus? As pessoas interrogam-se sobre Ele? Para muitos, é um desconhecido; outros vêem em Jesus um homem bom, generoso, atento aos sofrimentos dos outros, que sonhou com um mundo diferente; outros ainda vêem em Jesus um admirável «mestre» de moral, que tinha uma proposta de vida «interessante», mas que não conseguiu impor os seus valores; alguns vêem em Jesus um admirável condutor de massas, que lançou uma chama de esperança nos corações das multidões carentes e órfãs, mas que passou de moda quando as multidões deixaram de se interessar pelo fenómeno; outros, ainda, vêem em Jesus um revolucionário, ingénuo e inconsequente, preocupado em construir uma sociedade mais justa e mais livre, que procurou promover os pobres e os marginais e que foi eliminado pelos poderosos, preocupados em manter tudo como estava.

Talvez sem nos apercebermos, sonhamos com um tipo de vida em que o Senhor retire do nosso caminho todos os obstáculos, todos os espinhos, e nos faça caminhar suavemente sobre um tapete de rosas… que não nos peça sacrifícios, porque isso é politicamente incorrecto.

À mais pequena contrariedade – dor de cabeça, falta de compreensão dos outros, perda de emprego ou qualquer outra – a nossa fé entra em crise, porque Deus não satisfez todos os nossos caprichos, ou estávamos à espera de que Ele nos substituísse nos esforços necessários.

 

b) A Redenção passa pela Paixão e Morte. «Depois, começou a ensinar-lhes que o Filho do homem tinha de sofrer muito, […] de ser morto e ressuscitar três dias depois

A vitória final de Jesus passa pela Paixão e Morte, pela derrota completa, pelo fracasso humanamente considerado.

O Evangelho deste domingo coloca frente a frente a lógica dos homens (Pedro) e a lógica de Deus (Jesus).

A lógica dos homens aposta no poder, no domínio, no triunfo, no êxito; garante-nos que a vida só tem sentido se estivermos do lado dos vencedores, se tivermos dinheiro em abundância, se formos reconhecidos e incensados pelas multidões, se tivermos acesso às festas onde se reúne a alta sociedade, se tivermos lugar no conselho de administração da empresa.

A lógica de Deus aposta na entrega da vida a Deus e aos irmãos; garante-nos que a vida só faz sentido se assumirmos os valores do Reino e vivermos no amor, na partilha, no serviço, na solidariedade, na humildade, na simplicidade.

Na minha vida de cada dia, estas duas perspectivas confrontam-se, a par e passo… Qual é a minha escolha? Na minha perspectiva, qual destas duas propostas apresenta um caminho de felicidade seguro e duradouro?

 

c) Seguir a Cristo heroicamente. «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me

Como nos custa renunciar aos próprios gostos e projectos, até porque nos parecem bons!

O que é «renunciar a si mesmo»? É não deixar que o egoísmo, o orgulho, o comodismo, a auto-suficiência dominem a vida. O seguidor de Jesus não vive fechado no seu cantinho, a olhar para si mesmo, indiferente aos dramas que se passam à sua volta, insensível às necessidades dos irmãos, alheado das lutas e reivindicações dos outros homens; mas vive para Deus e na solidariedade, na partilha e no serviço aos irmãos.

Renunciar a si mesmo é começar a luta dentro de nós, pela oração, a mortificação, o trabalho e o apostolado.

O que é «tomar a cruz»? É amar até às últimas consequências, até à morte. É dar-se sem medida. O seguidor de Jesus é aquele que está disposto a dar a vida para que os seus irmãos sejam mais livres e mais felizes.

Por isso, o cristão não tem medo de lutar contra a injustiça, a exploração, a miséria, o pecado, mesmo que isso signifique enfrentar a morte, a tortura e as represálias dos poderosos.

Foi neste caminho que se santificaram Nossa Senhora, S. José e os santos de todos os tempos.

 

LITURGIA EUCARÍSTICA

 

INTRODUÇÃO

 

A celebração da Eucaristia é a renovação do Mistério Pascal de Cristo, da Sua Paixão, Morte e Ressurreição.

Ele renova a Sua entrega por nós, pela Transubstanciação de todo o pão e vinho no Seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade.

Preparemos com fé e amor para participarmos em tão grande mistério.

 

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS: Ouvi, Senhor, com bondade as nossas súplicas e recebei estas ofertas dos vossos fiéis, para que os dons oferecidos por cada um de nós para glória do vosso nome sirvam para a salvação de todos. Por Nosso Senhor…

 

SANTO

 

SAUDAÇÃO DA PAZ

 

Quando nos recusamos a levar a cruz de cada dia, excluímos a paz da nossa vida – paz com Deus, connosco mesmo e com os nossos irmãos.

À generosidade de Cristo que se oferece em imolação por nós, procuremos corresponder imolando o nosso orgulho e hipersensibilidade, reconciliando-nos mutuamente.

Com estas disposições,

 

Saudai-vos na paz de Cristo!

 

Monição da Comunhão

 

Comungar sacramentalmente é também abraçar generosamente a cruz de Cristo com todas as suas exigências. A primeira delas é uma vida em graça. Deus pede-nos também um esforço contínuo para que a nossa vida se pareça com a d’Aquele que recebemos neste Sacramento.

 

Salmo 35, 8

ANTÍFONA DA COMUNHÃO: Como é admirável, Senhor, a vossa bondade! A sombra das vossas asas se refugiam os homens.

Ou:           Salmo 35, 8

O cálice de bênção é comunhão no Sangue de Cristo; e o pão que partimos é comunhão no Corpo do Senhor.

 

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO: Senhor nosso Deus, concedei que este sacramento celeste nos santifique totalmente a alma e o corpo, para que não sejamos conduzidos pelos nossos sentimentos mas pela virtude vivificante do vosso Espírito. Por Nosso Senhor…

 

 

RITOS FINAIS

 

Monição final

 

Procuremos encarar com olhos novos as nossas pequenas ou grandes cruzes de cada dia, sabendo descobrir nelas um tesouro para a vida eterna.

Ajudemos fraternamente todos aqueles que sentem dificuldade em descobrir o sentido da cruz.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Celebração e Homilia:          FERNANDO SILVA

Nota Exegética:                     GERALDO MORUJÃO

Sugestão Musical:                 DUARTE NUNO ROCHA

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