Cardeal Dom Cláudio Hummes (Palestra no Curso dos Bispos de 31 de janeiro a 4 de fevereiro de 2011, no Rio de Janeiro-RJ)
Este Curso dos Bispos quer situar-se no contexto da celebração dos 50 anos do Concílio Ecumênico Vaticano II. Pretende, assim, revisitar os textos do Concílio, reviver o espírito conciliar e contribuir para a sua retomada, em modo atualizado, na Igreja hodierna. Cinquenta anos constituem um jubileu. Se quisermos inspirar-nos na origem bíblica dos jubileus, veremos que se trata de um ano em que Deus propõe a seu povo renovar a Aliança com que Ele iniciou sua amorosa e decisiva aventura histórica com Israel. Ora, renovar a Aliança, no ano jubilar, significava para o povo eleito elevar a Deus uma solene ação de graças pelos benefícios recebidos nos 50 anos passados, pedir perdão, retomar o primitivo amor com que haviam aceito a Aliança com Deus e olhar confiante para o futuro. O mesmo vale para a Igreja hoje no jubileu do Concílio Ecumênico Vaticano II. Isso nos recorda as palavras do Venerável Servo de Deus, o Papa João Paulo II, no Grande Jubileu de Jesus Cristo, do ano 2000. Ao conclamar, então, toda a Igreja a ter a coragem de voltar ao alto mar do mundo de hoje e ali lançar de novo as redes, o Papa repetiu as palavras de Jesus a Pedro: “Duc in altum!” e acrescentou: “Estas palavras ressoam hoje aos nossos ouvidos, convidando-nos a lembrar com gratidão o passado, a viver com paixão o presente e a abrir-nos com confiança ao futuro” (Novo Millennio Ineunte, 1). Palavras essas, que poderiam inspirar a celebração dos 50 anos do Concílio!
No que se refere aos presbíteros, o Concílio iluminou significativamente sua identidade, vida e missão no mundo atual. Algumas destas indicações conciliares, não todas, pretendo abordar também nesta conferência. Por outro lado, muita água passou debaixo da ponte nestes últimos 50 anos, também no que se refere aos presbíteros na Igreja e no mundo. A cultura mudou, o mundo mudou, o Brasil mudou, também a Igreja e todos nós, de alguma forma, fomos atingidos por estas mudanças. Também os presbíteros. Este é o desafio quando nos empenhamos em continuar a realizar hoje o Concílio, sem esquecer que “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e sempre” (Hb 13,8).
Aprofundar a identidade do presbítero foi com certeza uma das metas principais do documento conciliar “Presbiterorum Ordinis” (PO), baseado na constituição dogmática “Lumen Gentium” (LG) do mesmo concílio. Foi também um dos objetivos do Ano Sacerdotal, encerrado por Bento XVI em junho passado.
Na “Lumen Gentium” podemos ler: “Cristo, santificado e enviado ao mundo pelo Pai (Jo 10,36), através dos apóstolos, fez participar da sua consagração e da sua missão os seus sucessores, isto é, os bispos os quais legitimamente confiaram, em graus diversos, o cargo do seu ministério a várias pessoas na Igreja. Assim, o ministério eclesiástico, de instituição divina, é exercido em ordens diversas por aqueles que já antigamente eram chamados bispos, presbíteros e diáconos. Ainda que não tenham a plenitude do sacerdócio e dependam dos bispos no exercício dos seus poderes, os presbíteros estão unidos a eles na dignidade sacerdotal comum e, pelo sacramento da ordem, são consagrados para pregar o Evangelho, apascentar os fiéis e celebrar o culto divino, como verdadeiros sacerdotes do Novo Testamento, à imagem de Cristo, sumo e eterno Sacerdote (“ad imaginem Christi, summi atque aeterni Sacerdotis”) (Hb 5,1-10; 7, 24; 9, 11-28)” (LG,28).
Convém sublinhar aqui que o sacramento da ordem é dado em sua plenitude somente aos bispos (LG, 21), como sucessores dos Apóstolos. Diz a Lumen Gentium: “Pela imposição das mãos e pelas palavras consecratórias, se confere a graça do Espírito Santo e se impirme o caráter sagrado, de tal modo que os bispos, de maneira eminente e visível, fazem as vezes do próprio Cristo, Mestre, Pastor e Pontífice, e agem em sua pessoa (“ipsius Christi Magistri, Pastoris et Pontificis partes sustineant et in Eius persona agant”)” (LG, 21). Por sua vez, os bispos conferem este seu ministério, mediante o sacramento da ordem, mas em grau subordinado, aos presbíteros para que estes sejam os cooperadores da Ordem Episcopal (cfr. PO, 2).
Continuando a reflexão, a Lumen Gentium explicita que os presbíteros exercem este seu ministério sacerdotal “agindo na pessoa de Cristo (in persona Christi agentes)” (cfr. LG, 28). Mais adiante o texto acrescenta, ainda ao referir-se à identidade dos presbíteros: “Ao exercer dentro do âmbito que lhes compete o munus de Cristo Pastor e Cabeça (“munus Christi Pastoris et Capitis… exercentes”), eles congregam a família de Deus” (LG, 28). Essas expressões referentes à identidade sacerdotal, encontradas na Lumen Gentium, i.é, ser sacerdotes, “que fazem as vezes do próprio Cristo, Mestre, Pastor e Pontífice, e agem em sua pessoa”; “como verdadeiros sacerdotes do Novo Testamento,à imagem de Cristo, sumo e eterno Sacerdote”; agir “na pessoa de Cristo” e congregar a comunidade, exercendo “o munus de Cristo Pastor e Cabeça”, tudo isso conferido mediante um sacramento especial, são fundamentais para definir a identidade presbiteral e serão amplamente usadas em outros documentos conciliares, principalmente na “Presbyterorum Ordinis”, bem como, depois, nos documentos pós-conciliares da Igreja.
De fato, a Presbyterorum Ordinis afirma que os presbíteros recebem seu ministério específico “conferido mediante um sacramento particular” e “assim, configurados a Cristo sacerdote, de tal modo que possam agir na pessoa de Cristo Cabeça” (PO, 2). Referindo-se ao munus de pregar a Palavra de Deus, o documento retoma o texto da “Lumen Gentium”, n. 28, dizendo: “Exercendo […] o munus de Cristo Cabeça e Pastor, os presbíteros reúnem, em nome do Bispo, a família de Deus, como fraternidade bem unida, e levam-na a Deus Pai por Cristo no Espírito” (PO, 6).
Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI usam as expressões “in persona Christi” e “in persona Christi Capitis”. João Paulo II, principalmente na “Pastores dabo vobis”(Pdb), acrescenta a expressão “in persona Chirsti Capitis et Pastoris” e também que o sacramento da Ordem configura os presbíteros “a Cristo Cabeça e Pastor, Servo e Esposo da Igreja” (“Christo Capiti et Pastori, Servo et Sponso Ecclesiae”) (Pdb, 4). O Catecismo da Igreja Católica, referindo-se à identidade presbiteral, também usa a expressão “in persona Christi Capitis”.
Por definirem a identidade própria dos presbíteros, estas expressões e sua raiz sacramental têm grande importância teológica e consequentemente espiritual e pastoral.
A essência da identidade do bispo e, em grau subordinado, do presbítero está no serem configurados a Cristo, Cabeça e Pastor da Igreja. Cristo é e permanece sempre o único Cabeça e Pastor do Povo de Deus. Mas os bipos e os presbíteros, mediante o sacramento da Ordem, também o são realmente, mas por participação. Assim, podemos dizer que os bispos, com a plenitude do sacerdócio, e os presbíteros, em grau subordinado, como cooperadores dos bispos, são não apenas discípulos de Jesus Cristo, mas também Cabeças e Pastores da comunidade dos discípulos. Diz o Catecismo da Igreja Católica: “O sacerdote, em virtude do sacramento da Ordem, age “in persona Christi Capitis” (na pessoa de Cristo Cabeça) (n. 1548); e mais adiante diz: “Este sacramento [da Ordem] torna a pessoa semelhante a Cristo por meio de uma graça especial do Espírito Santo, para servir de instrumento de Cristo em favor de sua Igreja. Pela ordenação, a pessoa é habilitada a agir como representante de Cristo, Cabeça da Igreja, em sua tríplice função de sacerdote, profeta e rei” (n. 1581). Nisto está a diferença essencial entre o sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial dos ordenados, bispos e presbíteros. Todos os crentes, pela fé e pelo Batismo, tornam-se participantes do único sacerdócio de Cristo, o que a Igreja denominou “sacerdócio comum dos fiéis”. Mas alguns deles são chamados e, então, consagrados por um sacramento particular, o sacramento da Ordem, pelo qual são configurados a Cristo, Cabeça e Pastor do Povo de Deus. Portanto, todos os fiéis, leigos, religiosos e ordenados, são discípulos de Cristo, o que é o mais importante e decisivo para a salvação, mas alguns deles são chamados a serem configurados a Jesus Cristo, Cabeça e Pastor, e assim, além de continuarem discípulos, são também realmente, ainda que por participação, cabeças e pastores da comunidade dos discípulos. Os fiéis, em geral, são discípulos, ao passo que os sacerdotes – bispos e presbíteros – são discípulos mas também presidem a comunidade dos discípulos, como cabeças e pastores, e isto em virtude de um sacramento, o sacramento da Ordem. É o que Santo Agostinho expremiu com lucidez e simplicidade, dizendo aos fiéis: “Convosco sou cristão, para vós sou bispo”.
Em decorrência desta identidade, gerada por um sacramento, o presbítero é presbítero sempre, não apenas algumas horas do dia ou em algumas cricunstâncias particulares. Ele é sempre Cabeça e Pastor da comunidade dos discípulos de Cristo. Também se não exerce nenhum cargo pastoral, como p.ex., de pároco ou outro. Deve, portanto, o presbítero cultivar cuidadosamente esta consciência de ser sempre e em qualquer circunstância pastor da comunidade dos fiéis e assim alimentar em si esta relação com as comunidades eclesiais, uma relação permanente e preponderante. Ele não é mais apenas um membro da comunidade e nem deve agir como se só o fosse, pois ele é, em virtude do sacramento recebido, um pastor. Inversamente, o simples membro da comunidade não pode pretender assumir a identidade de pastor, porque não recebeu o sacramento para tal. Só o sacramento da Ordem confere esta identidade. A própria espiritualidade do presbítero deve assumir esta identidade de pastor. Assim, sua oração, sua dedicação, sua preocupação, seu programa de vida e de ação apostólica, sua responsabilidade quotidiana devem conter, em primeiro lugar, o seu amor e seu dever para com a comunidade dos discípulos de Cristo. Toda a vida do presbítero, onde quer que ele viva ou trabalhe, deve ter, em primeiro lugar, a característica e a expressão de um pastor.
Hoje, com a grande e alarmante crise do decrescente número de presbíteros em muitos países europeus e outros, há uma busca de novas soluções pastorais para atender às comunidades católicas carentes de presbíteros. Vemos então bispos que unificam várias paróquias em uma só ou apenas congregam de alguma forma várias paróquias e colocam à sua frente equipes pastorais, das quais participam leigos, religiosas e religiosos não ordenados, com a participação de um presbítero ou não. Quando participa um presbítero, por vezes fica prejudicada sua competência única de ser o pastor, na medida em que as responsabilidades do pastor são divididas entre os membros da equipe, não tendo mais o presbítero a última decisão em todos os setores do governo da comunidade. Em outras palavras, o que pertence unicamente ao presbítero, como pastor, em virtude do sacramento da Ordem, pretende-se condividir com outros não ordenados. Ora, Jesus Cristo é o único Pastor e é Ele que, unicamente pelo sacramento da Ordem, confere a alguns de seus discípulos a graça de participar realmente deste seu ministério de Pastor. Portanto, quem não recebeu este sacramento, não pode legitimamente colocar-se nem ser colocado pelo bispo ou pela comunidade à frente da comunidade como se fosse seu pastor, nem uma equipe de pessoas pode assumir este ministério conjuntamente.
Ficam ressalvadas, no entanto, a participação e a colaboração responsável dos leigos/as e religiosos/as não ordenados na missão da Igreja. Aliás, o Concílio Vaticano II deu um grande destaque à missão específica dos leigos no mundo e na comunidade eclesial. Por vezes, estamos ainda viciados por um clericalismo que obstacula esta missão do leigo e não lhe dá todo espaço possível, segundo o Concílio, para participar também na vida e missão da comunidade eclesial. Neste sentido, a constituição de equipes pastorais, que colaboram responsavelmente com o pastor da comunidade pode ser uma forma feliz de acolher a colaboração do leigo, contanto que isso não signifique que ele assuma um lugar pelo qual pretenda substituir o ministério que pertence unicamente ao presbítero como pastor e cabeça da comunidade, precisamente porque o presbítero, e não o leigo, recebeu o sacramento da Ordem.
Também o diácono, ainda que tenha recebido o sacramento da Ordem, no 3º grau, não é configurado com Cristo Cabeça e Pastor e por isso não preside a comunidade dos fiéis. Havia no Código de Direito Canônico um cânone ambíguo sobre esta matéria. Trata-se do cânone 1008 que dizia: “Por divina instutição, graças ao sacramento da Ordem, alguns entre os fiéis, pelo caráter indelével com que são assinalados, são constituídos ministros sagrados, isto é, são consagrados e delegados a fim de que, na pessoa de Cristo Cabeça (“in persona Christi Capitis”), cada qual no seu respectivo grau, apascentem o povo de Deus, desempenhando o munus de ensinar, santificar e governar”. Deste texto, muitos concluíam que, portanto, também os diáconos agem “in persona Christi Capitis” e apascentam o povo de Deus. Era um erro. Por isto, Bento XVI, no Motu Proprio “Omnium in Mentem”, de 26 de outubro de 2009, corrige este erro e modifica o cânone 1008 e acrescenta um 3º§ ao cânone 1009. Eis o texto do Motu Proprio:
Art. 1. O texto do cân. 1008 do Código de Direito Canônico seja modificado de modo que doravante resulte assim:
“Mediante o sacramento da ordem, por divina instituição, alguns de entre os fiéis, pelo carácter indelével com que são assinalados, são constituídos ministros sagrados, e assim são consagrados e delegados a servir, segundo o grau de cada um, com título novo e peculiar, o povo de Deus”.
Art. 2. O cân. 1009 do Código de Direito Canônico doravante terá três parágrafos, no primeiro e no segundo dos quais se manterá o texto do cânone em vigor, enquanto no terceiro o novo texto seja redigido de modo que o cân. 1009 §3 resulte assim:
“Aqueles que são constituídos na ordem do episcopado ou do presbiterado recebem a missão e a faculdade de agir na pessoa de Cristo Cabeça; os diáconos, ao contrário, sejam habilitados para servir o povo de Deus na diaconia da liturgia, da palavra e da caridade”.
A compreensão correta da identidade dos presbíteros é essencial para comprender a essência e a importância da sua missão e a espiritualidade que os deve animar. Todos pudemos acompanhar as reflexões do Santo Padre sobre os presbíteros nos últimos tempos, em especial durante o Ano Sacerdotal. Pudemos constatar a crise atual, seja pelo decréscimo quantitativo dos presbíteros em muitos países, sobretudo na Europa, seja pelo triste e absolutamente condenável fenômeno da pedofilia de uma parcela do clero mundial, seja por outras formas de não observância do celibato, seja pela fragilidade da vida espiritual de muitos presbíteros, como também pela falta de espírito missionário. Por outro lado, devemos também reconhecer com alegria e veneração que a maioria dos presbíteros são homens dignos, dedicados, que gastam sua vida inteira, com fidelidade, apesar de seus limites humanos, na missão que a Igreja lhes confiou.
Por esta razão, no Ano Sacerdotal, a Igreja quis dizer aos presbíteros do mundo inteiro que os ama, os admira, os venera e reconhece o imenso trabalho pastoral que realizam, principalmente nas comunidades locais, no meio do povo. Ali, são os presbíteros que fazem acontecer a Igreja no dia a dia. Ali, eles são os pastores imediatos, que constroem e dinamizam as comunidades eclesiais. Ali, pregam a Palavra de Deus, evangelizam, ajudam o povo a ler a Bíblia, catequizam, reunem o povo fiel para celebrar a Eucaristia e os demais sacramentos, realizam outras formas de oração comunitária e de devoção, congregam a comunidade para discutir, planejar e executar planos de pastoral e de missão, conduzem a comunidade a assumir a solidariedade e a caridade para com os pobres, a promover a justiça social, os direitos humanos, a dignidade igual de todos, a liberdade e a paz na sociedade. A Igreja caminha com os pés dos presbíteros. Quando eles param, a Igreja tem dificuldade de avançar; quando eles se movem, a Igreja se move. Poder-se-ia continuar a enumerar e a especificar o gigantesco trabalho exercido pelos presbíteros para fazer a Igreja ser luz e fermento na sociedade. Na verdade, exercem um ministério estratégico e essencial para a vida concreta e quotidiana da Igreja no mundo.
Mas os presbíteros são importantes para a Igreja e a sociedade não só pelo que fazem, mas também pelo que são, isto é, por seu exemplo de vida de fé, de vida evangélica, apostólica e missionária, vida de comunhão eclesial, vida espiritual, de oração, de amor a Deus e aos irmãos, em especial aos pobres, vida de despojamento e humildade, vida eucarística, totalmente entregues ao serviço de Deus e do povo, na esperança do Reino futuro e definitivo de Deus. Na verdade, a Igreja deve muitíssimo aos padres e, por isso, deve amá-los, apoiá-los sempre, reconhecer seu serviço e dedicação, encorajá-los quando cansados, doentes, desanimados ou com outras dificulades, alegrar-se com eles quando seu ministério floresce e frutifica e oferecer-lhes sempre, na medida do possível, as condições necessárias para viver digna e eficazmente sua vocação e missão.
Como já disse, há também, por outro lado, densas sombras sobre esse tão importante setor da Igreja, que são os presbíteros em todo o mundo. Trata-se, sobretudo, do fenômeno da pedofilia, da homosexualidade, do concubinato e outras formas de trasgredir a reta conduta exigida de cada presbítero. Várias destas formas de transgressões se constituem em verdadeiros delitos graves, seja diante da moral evangélica, seja diante da lei canônica, seja diante das leis civis.
Quanto à pedofilia, sabemos que o fenômeno não se restringe nem predomina no meio do clero católico, mas trata-se de uma chaga moral em toda a sociedade e que a maioria dos casos ocorrem no interior da vida famíliar, entre parentes. Recentemente, publicou-se na imprensa que, segundo pesquisas, na Europa, de cada 5 crianças uma sofreu ou ainda sofre abusos sexuais. Bastaria falar do turismo sexual com menores, para perceber a extensão deste criminoso fenômeno. Mas isto em nada diminui a gravidade do fenômeno quando o criminoso é um membro do clero. Podemos mesmo dizer que o escândalo é significativamente maior quando um clérigo está envolvido, porque este deveria dar o bom exemplo à sociedade e a cada pessoa. Sabemos que tanto o Papa João Paulo II, como o atual Papa, Bento XVI, condenaram veementemente estes crimes entre o clero, concluindo que não há lugar entre o clero para um pedófilo, isto é, deve imediatamente ser afastado do ministério. Em decorrência, como sabemos, o bispo ao tomar conhecimento que um presbítero seu tem incorrido em tal crime, ou ao menos há indícios sérios de que isso tenha ocorrido, deve imediatamente levar o caso ao conhecimento da Congregação para a Doutrina da Fé. Se não o fizesse, poderia ser acusado de acobertar o crime, coisa que a Igreja hoje rejeita peremptoriamente. Importante também anotar, que nunca se deve pedir nem insinuar às vítimas que não denunciem o crime, muito menos ainda oferecer dinheiro ou favores às vítimas para que não denunciem. Ao contrário, deve-se encorajá-las a que o façam, pois o crime deve ser punido. A impunidade foi sempre causa de novos crimes. Acrescente-se ainda que a pedofilia é tanto mais criminosa porque as vítimas sãos crianças que levarão para o resto da vida traumas terríveis. Por isso, a Igreja nos orienta para que apoiemos as vítimas e as defendamos e ajudemos a recupará-las no que for possível.
A homosexualidade é outro fenômeno que ocorre entre uma parcela do clero. Segundo opinião de alguns, este fenômeno estaria em crescimento, por diversas razões, seja sociais seja de falta de seleção dos candidatos ao sacerdócio. A Igreja recentemente deu novas instruções normativas para os bispos e os formadores dos seminários quanto à necessidade de uma rigorosa seleção dos candidatos ao sacerdócio. É claro que o rigor na seleção não se refere somente à moral sexual. Mas, no que diz respeito à homosexualidade, a Igreja diz que não deve ser aceito no seminário e menos ainda às Ordens sacras, quem manifestar tendências homosexuais ou pratica a homosexualidade. Se algum candidato com tal característica viesse a ser ordenado, p.ex. porque nunca os formadores ou o bispo tiveram conhecimento de tal característica, a este ordenado o seu bispo, na medida em que eventualmente tomar conhecimento da situação, deverá acompanhá-lo com grande caridade e sabedoria para que viva bem seu celibato e não incorra na prática da homosexualidade. Se, entretanto, esse ordenado começar a praticar a homosexualidade, o bispo não poderá fechar os olhos, mas deverá adverti-lo para que se corrija imediatamente e se isto não ocorrer deverá infligir as penas canônicas e por fim, se nada mudar, providenciar que ele seja afastado definitivamente do ministério. Neste contexto, é importante relembrar as normas da Igreja no que se refere à aceitação de candidatos egressos de seminários de outras dioceses ou Institutos religiosos. O não cumprimento destas normas tem levado na grandíssima maioria das vezes a aceitar candidatos inaceitáveis e acaba prejudicando gravemente à Igreja.
Outro fenômeno é o envolvimento afetivo ilícito de presbíteros com mulher, p.ex. em concubinato Também nestes casos obviamente o bispo não pode fechar os olhos, mas deve imediatamente começar a tomar as providências, segundo as normas da Igreja, toda vez que tenha conhecimento objetivo de um caso desta natureza, ou ao menos tenha indícios sérios. Muitas vezes, por falta de correção total do presbítero, será necessário afastá-lo definitivamente do ministério. Mas, sempre que tiver havido a transgressão, ainda que não se chegue a exclusão definitiva do ministério, o presbítero deverá ser sujeito à punição canônica prevista. Nos casos em que houver filho nascido de tal relação, o Papa atual indicou à Congregação para o Clero que o presbítero deve sair e assumir a paternidade, deixando, portanto, o ministério. Também nos casos que aconteceram há mais tempo, se o filho ainda for menor, o padre assuma integralmente seu filho. O bispo pode às vezes precisar ajudar o padre a entender e a aceitar benevolamente este caminho. Sabemos que a prática em outros tempos era muito variada, pois procurava-se acima de tudo salvar o ministério do padre. Hoje, a Igreja tem uma consciência maior e mais clara sobre os direitos humanos e as necessidades da criança. É a criança que tem necessidade fundamental de ter um pai e uma mãe que a assumam, amem, eduquem e convivam com ela normalmente. Mesmo se os pais forem separados ou nem podem casar, a criança tem o direito de saber quem são seus pais e de ser por eles amada e educada e de poder dizer em público e com alegria: “este é meu pai e esta é minha mãe!”. A necessidade natural e essencial da criança prevalece sobre o prosseguimento do pai no ministério ordenado. Ainda recentemente, na festa da Sagrada Família, dia 26 de dezembro passado, Bento XVI no Angelus, na Praça São Pedro, falando do mistério da Sagrada Família, acrescentou: “O nascimento de cada criança traz consigo algo deste mistério [da Sagrada Família]. Sabem-no bem os pais que recebem este dom e que, muitas vezes, assim dele falam. Todos nós já ouvimos um papai ou uma mamãe dizer: «Esta criança é um dom, é um milagre!». Com efeito, os seres humanos vivem a procriação não como mero ato reprodutivo, mas percebem sua riqueza, intuem que cada criatura humana, que nasce na terra, é «sinal» por excelência do Criador e Pai que está nos céus. Quão importante, então, que cada criança, ao vir ao mundo, seja acolhida no calor de uma família! Não importam as comodidades exteriores. Jesus nasceu numa estrebaria e como primeiro berço teve uma manjedoura, mas o amor de Maria e de José lhe fizeram sentir a ternura e a beleza de ser amado. Disso têm necessidade as crianças: do amor do pai e da mãe. É isto que lhes dá segurança e que, enquanto crescerem, lhes permite descobrir o sentido da vida”.
Tais delitos e transgressões morais, canônicos e muitas vezes também civis, como pedofilia, homosexualidade, concubinato e outros, cometidos por membros do clero, devem ser combatidos e corrigidos continuamente, com justiça e caridade, pelo bispo. Este não pode fechar os olhos, porque estaria correndo sério risco de dar escândalo. O escândalo de que fala o Evangelho não é em primeiro lugar o barulho e o clamor público contra um delito, mas é induzir alguém ao mal. Se o bispo sabe de um tal caso – e certamente outras pessoas, também do clero, sabem – então, se o bispo não tomar providências segundo as leis canônicas e civis, essas pessoas concluirão que o caso não é pecado nem crime, já que o bispo sabe e não faz nada. Um padre que estivesse em crise de vocação, poderia acabar decidindo seguir o mesmo caminho, já que o bispo fecha os olhos. Ao invés, se o bispo tomar as devidas providências, os fieis e os padres se sentirão mais convencidos e mais fortes a resistir ao mal. Será um bem, sobretudo para o clero.
É claro que em toda história da Igreja, e não somente hoje em dia, os presbíteros tiveram que empenhar-se fortemente em viver segundo as normas evangélicas e eclesiásticas que lhes diziam respeito e sempre houve também transgressões. Mas os tempos atuais agravaram de forma nova a situação, na medida em que estamos vivendo uma grande mudança cultural. A nova culuta adveniente e sempre mais predominante, também chamada pós-moderna e urbana, é uma cultura secularizada e secularista, laicista, relativista, subjetivista, extremamente liberal em termos de ética e moral, erotizada e filo-transgressiva (a transgressão moral é, em muitos casos, aplaudida!). Neste ambiente, tornou-se mais difícil e exigente viver o Evangelho e a identidade presbiteral, pois a sociedade deixou de ser um ambiente favorável; ao contrário, ela é a-religiosa e muitas vezes agressivamente anti-religiosa.
Por esta razão, urge reforçar a espiritualidade do presbítero. Bento XVI visou esta meta, ao proclamar o Ano Sacerdotal recém-concluído. Ao anunciar este ano especial, no Discurso à Plenária da Congregação para o Clero, dia 16 de março de 2009, ele disse: “Precisamente em vista de favorecer esta tensão dos sacerdotes para a perfeição espiritual da qual sobretudo depende a eficácia do seu ministério, decidi proclamar um especial “ano sacerdotal”, […] para fazer compreender cada vez mais a importância do papel e da missão do sacerdote na Igreja e na sociedade contemporânea”.
A já citada “Presbyterorum Ordinis” mostra que o presbítero deve ter uma espiritualidade própria. Uma espiritualidade que o leve a santificar-se, no Espírito de Cristo, através do exercício fiel dos seus três múnus, o ministério da Palavra, o ministério de oferecer aos fiéis a santificação no Espírito Santo, pelo culto e os Sacramentos, especialmente a Eucaristia, e o ministério de governar a comunidade como seu pastor. Diz a Presbyterorum Ordinis: “Os presbíteros atingem a santidade pelo próprio exercício do seu ministério, realizado sincera e infatigavelmente no Espírito de Cristo” (n. 13). Foi importante esta orientação do Concílio, porque antes muitos sacerdotes procuravam um caminho espiritual junto às várias escolas de espiritualidade das Ordens religiosas. Agora, ficou claro que o presbítero, como tal, tem uma espiritualidade própria. Contudo, hoje observamos que há presbíteros diocesanos que aderem a algum dos assim chamados novos Movimentos e buscam nutrir-se de sua espiritualidade. Sobre isto, João Paulo II declarou na “Pastores dabo vobis”: “A participação do seminarista e do presbítero diocesano em espiritualidades particulares ou agregações eclesiais é certamente, em si mesma, um fator benéfico de crescimento e de fraternidade sacerdotal. Mas esta participação não deve obstaculizar, antes deverá ajudar o exercício do ministério e a vida espiritual que são próprios do sacerdote diocesano” (n.68). Portanto, tais espiritualidades podem enriquecer a vida espiritual do presbítero diocesano, mas nele deve prevalecer a espiritualidade própria do clero diocesano.
Segundo a Presbyterorum Ordinis, o núcleo da espiritualidade presbiteral é a caridade pastoral: “Os presbíteros alcançarão a unidade da sua vida, unindo-se a Cristo no conhecimento da vontade do Pai e no dom de si mesmos pelo rebanho que lhes foi confiado. Assim, fazendo as vezes do Bom Pastor, encontrarão no próprio exercício da caridade pastoral o vínculo da perfeição sacerdotal, que conduz à unidade de vida e ação” (n. 14). A Pastores dabo vobis retoma este ensinamento conciliar, dizendo: “A caridade pastoral constitui o princípio interior e dinâmico capaz de unificar as múltiplas e diferentes atividades do sacerdote. Graças a ela, o presbítero pode encontrar resposta à exigência permanente e essencial de unidade entre a vida interior e tantas atividades e responsabilidades do ministério, exigência sempre mais urgente num contexto sócio-cultural e eclesial fortemente assinalado pela complexidade, desagregação e dispersão” (n.23). Essa caridade pastoral foi o que Cristo exigiu de Pedro para dar-lhe o pastoreio da Igreja: “Simão, filho de João, tu me amas?” – “Sim, Senhor”, disse-lhe ele, “tu sabes que te amo”. Disse-lhe Jesus: “Apascenta minhas ovelhas” (Jo 21, 16). Amar a Jesus Cristo, o Bom Pastor, e amar suas ovelhas como Ele as amou, a ponto de dar a vida por elas, eis a caridade pastoral necessária para cada presbítero. Ela constitui o cerne da espiritualidade presbiteral.
Nutrir esta caridade pastoral impõe-se ao presbítero como um programa permanente e quotidiano de vida e missão. Ela se nutre principalmente da Eucaristia. Diz a Presbyterorum Ordinis: “Esta caridade pastoral flui sobretudo do sacrifício eucarístico, que permanece o centro e a raiz de toda a vida do presbítero, de tal maneira que aquilo que ele realiza sobre a ara do sacrifício, isso mesmo procura realizar em si o espírito sacerdotal. Isto, porém, só se pode obter à medida em que os presbíteros penetrarem cada vez mais profundamente no mistério de Cristo pela oração” (n. 14). Aliás, a celebração diária da Eucaristia é fortemente recomendada pela Igreja. E o texto agora citado apresentou também um segundo alimento espiritual: a oração. Todos sabemos, por experiência, como a oração é decisiva na vida e missão do padre. Um padre que reza pouco ou nada, não irá longe. Trata-se da oração litúrgica, comunitária, mas também da oração pessoal e privada. Aliás, quando falta esta última, também a oração litúrgica e comunitária vão perdendo para o presbítero seu sabor e sua força transformadora.
Outro alimento indispensável para a espiritualidade sacerdotal é a Palavra de Deus, especialmente através da “lectio divina”. Aliás, o acesso constante à Palavra de Deus ilumina também a Eucaristia e a oração do presbítero. Tantos outros meios de santificação podem ser ainda enumerados, como o recurso frequente à Confissão Sacramental, a Liturgia das Horas integralmente realizada cada dia, a visita ao Santíssimo Sacramento, o Rosário, a meditação, o retiro espiritual. Tudo isto fará com que o presbítero exerça fielmente, com alegria e disponibilidade, no Espírito de Cristo, seus três múnus. Além disso, neste programa de vida e missão, o amor e a solidariedade para com os pobres e com todos os sofridos, constitui-se exigência determinante para o presbítero, pois, como diz o Evangelho de Mateus, no fim dos tempos Jesus Cristo nos julgará segundo a medida de nosso amor e de nossa solidaridade concreta aos mais necessitados deste mundo. Sobre isso, poder-se-ia falar longamente.
Em síntese, para ter uma espiritualidade intensa, o presbítero precisa ser transformado pelo Espírito Santo num ardoroso e fiel discípulo de Jesus. O caminho da espiritualidade é o caminho do discipulado. Só um bom discípulo tem as condições de ser um bom pastor da comunidade dos discípulos de Cristo. O documento de Aparecida, do episcopado latino-americano e caribenho, torna-se, então, um grande subsídio para este caminho espiritual que o presbítero deve percorrer. Ali podemos também constatar como o discípulo se torna missionário.
Chegamos, assim, ao último ponto desta conferência: a missionariedade dos presbíteros. De fato, hoje manifesta-se uma nova urgência missionária. Além da Ásia e da África, também os países de antiga cristianização, sobretudo na Europa, mas também na América Latina, necessitam urgentemente de um novo esforço missionário. Os últimos Papas todos falaram sobre isto, desde Paulo VI com sua Evangelii Nuntiandi ainda no clima conciliar, e, depois, João Paulo II com a “Redemptoris Missio”, o lançamento da nova evangelização “com novo ardor missionário, novos métodos e novas expressões”, e a celebração do Grande Jubileu de Jesus Cristo, no ano 2000, com o consequente documento “Novo Millenio Ineunte”, conclamando toda a Igreja a um coragioso e confiante “Duc in Altum”. Hoje, Bento XVI assume convictamente este elã missionário suscitado pelos seus antecessores e acaba de criar um novo Dicastério na Cúria Romana, o Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, visando principalmente os países de antiga cristianização – cujos católicos vão sempre mais se afastando da Igreja – e a sociedade sempre mais laicista e a-religiosa senão anti-religiosa. Acrescente-se o fenômeno do forte e continuado crescimento das Seitas evangélicas (neo-)pentecostais que invadiram a América Latina e agora também começam a expandir-se na África e até mesmo na Europa e outras partes do mundo. Delas Bento XVI fala explicitamente como Seitas cujo proselitismo junto aos católicos exige a nova evangelização daqueles que nós batizamos e agora se afastam da Igreja Católica, porque não temos conseguido evangelizá-los em tempo e suficientemente. No documento Motu Proprio de criação do novo Dicastério, o Papa, citando a Christifideles Laici e referindo-se a países onde ainda existe uma forte religiosidade católica, como o Brasil, diz: “Noutras regiões ou nações, porém, conservam-se bem vivas ainda tradições de piedade e de religiosidade popular cristã; mas, esse património moral e espiritual corre hoje o risco de esbater-se sob o impacto de múltiplos processos, entre os quais sobressaem a secularização e a difusão das seitas. Só uma nova evangelização poderá garantir o crescimento de uma fé límpida e profunda”. Igualmente, Bento XVI, na sua recém-publicada mensagem para o Dia das Missões de 2011, intitulada “A urgência de evangelizar no mundo globalizado”, ao dizer que “o serviço mais precioso que a Igreja pode prestar à humanidade e a cada pessoa” é a evangelização, afirma que hoje “se alarga a multidão daqueles que, embora tendo recebido o anúncio do Evangelho, o esqueceram e abandonaram, não mais se reconhecendo pertencentes à Igreja; muitos ambientes, também em sociedades tradicionalmente cristãs, hoje são refratários a abrir-se à palavra da fé. Está em ato uma mudança cultural, alimentada também pela globalização, pelos movimentos de pensamento e pelo imperante relativismo, uma mudança que leva a uma mentalidade e a um estilo de vida que precindem da mensagem evangélica”. Conclamando então todos os católicos a empenharem-se na missão e na evangelização missionária, diz: “A atenção e a cooperação na obra evangelizadora da Igreja no mundo não podem ser limitadas a alguns momentos e ocasiões particulares, e nem podem ser consideradas como uma das tantas atividades pastorais: a dimensão missionária da Igreja é essencial, e portanto deve estar sempre presente. É importante que tanto cada batizado quanto as comunidades eclesiais devem estar interessados não em modo esporádico e saltuário à missão, mas em modo constante, como forma de vida cristã”.
Também neste novo empenho missionário e de nova evangelização poderá e deverá nos ajudar muito o documento de Aparecida. Ali também se fala dos presbíteros missionários, de sua espirtualidade e tarefa evangelizadora. A Igreja no Brasil foi particularmente conclamada a esta missão e nova evangelização por Bento XVI, quando ele esteve no Brasil, para abrir a Conferência de Aparecida, em 2007, e falou aos bispos brasileiros na Catedral de São Paulo. Ali ele disse: “Entre os problemas que afligem a vossa solicitude pastoral está, sem dúvida, a questão dos católicos que abandonam a vida eclesial. Parece claro que a causa principal, dentre outras, deste problema, possa ser atribuída à falta de uma evangelização em que Cristo e a sua Igreja estejam no centro de toda explanação. As pessoas mais vulneráveis ao proselitismo agressivo das seitas – que é motivo de justa preocupação – e incapazes de resistir às investidas do agnosticismo, do relativismo e do laicismo são geralmente os batizados não suficientemente evangelizados, facilmente influenciáveis porque possuem uma fé fragilizada e, por vezes, confusa, vacilante e ingênua, embora conservem uma religiosidade inata. […] É necessário, portanto, encaminhar a atividade apostólica como uma verdadeira missão dentro do rebanho (grifo do conferencista) que constitui a Igreja Católica no Brasil, promovendo uma evangelização metódica e capilar em vista de uma adesão pessoal e comunitária a Cristo. Trata-se efetivamente de não poupar esforços na busca dos católicos afastados e daqueles que pouco ou nada conhecem sobre Jesus Cristo”.
No mesmo discurso Bento XVI sublinha que os destinatários primeiros desta nova evangelização missionária devem ser os pobres das periferias urbanas e do campo, também através de visitas domiciliares. Sabemos todos quanto será importante e decisivo animar os presbíteros a assumirem esta missão. Obviamente, não será o padre sozinho quem deve realizá-la, mas com ele e preparada por ele a inteira comunidade paroquial deve ser envolvida. Sim; a missão deve acontecer em cada paróquia. Ali, o padre deve preparar ao menos um grupo considerável de leigos/as para fazerem a missão domiciliar, da qual o pároco deveria participar e que deverá ser respaldada por todo o programa de vida da paróquia e de sua ação litúrgica, catequética e de solidariedade para com os pobres.
A missão não é um programa eventual e temporário para o presbítero, mas o ser missionário faz parte da sua identidade e deve integrar vigorosamente sua espiritualidade, cônscio de que o agente principal da missão é o Espírito Santo. Cada presbítero deve sentir dirigido a si, em primeira pessoa, o envio do Senhor Ressuscitado: “Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura. Fazei que todos os povos se tornem meus discípulos” (cfr. Mc 16,15 e Mt 28,19).
Obrigado a todos pela atenção!