Mentalidade universal
Quantas vezes nós escutamos que a palavra “católico” significa “universal”? Várias. A Igreja de Cristo nasceu selada pela universalidade. Ela não devia estar restringida aos judeus. “Ide por todo o mundo” – disse Jesus. Ninguém nasce cristão, é feito cristão no sacramento do batismo. Quando somos gerados para essa vida nova em Cristo, recebemos imediatamente essa nota característica: universalidade. Nesse sentido, o coração do católico abraça a todos, a começar pelos católicos. Não se pode viver um amor universal desvinculado do amor às pessoas com as quais convivemos. Fico impressionado com algumas atitudes, por exemplo, em relação ao ecumenismo: somos muito tolerantes com os irmãos chamados evangélicos e pouco tolerantes com irmãos católicos caso tenham outra maneira de ver as coisas. Que tenhamos por certo: é totalmente lícito pertencer a distintas manifestações da catolicidade, a esse ou àquele movimento, a essa ou àquela pastoral, a essa ou àquela organização. Também é lícito e maravilhoso que entre os católicos haja várias opções temporais: esse ou aquele partido político, essa ou outra equipe de futebol, essa ou aquela filosofia. A catolicidade admite a unidade formada pela variedade. Unidade na fé, nos sacramentos, na moral, na obediência ao Papa e aos bispos em comunhão com ele; variedade em todas as outras coisas.
Não estou fugindo da passagem do evangelho de hoje ao fazer essas afirmações tão amigas da liberdade. O samaritano, a diferença do sacerdote e do levita, “fez o bem sem olhar a quem”, simplesmente moveu-se de compaixão e começou a agir pelo bem daquele pobre homem que tinha caído na mão de malfeitores. O samaritano era um homem de coração e deixava que a compaixão o movesse a ajudar o próximo. Aprendamos desse homem: tenhamos um coração compassivo, a começar pelos nossos irmãos. Peçamos a Deus a graça de não ficarmos insensíveis diante das misérias da humanidade, das vicissitudes dos nossos irmãos, da pobreza, da falta de educação, da falta de vida espiritual. O bom samaritano, estando de viagem, soube atrasar os seus próprios projetos para realizar uma obra de misericórdia; não só viu as feridas daquele pobre homem, mas dedicou-lhe tempo e pôs-se a curá-las; não só o levou a uma hospedaria, mas até pagou as despesas.
Jesus nos quer ensinar uma caridade que não é simplesmente uma espécie de filantropia, já que brota de um coração compadecido que faz ver quais são as verdadeiras necessidades dos nossos irmãos, ou seja, nos faz compreender os outros. Às vezes, o coração compassivo, movido pela caridade, nos dirá que em lugar de dar alguma moeda a um mendigo, o escutemos com carinho; outras vezes, a caridade que vem de Deus e que habita nossos corações nos dirá que não é só dar atenção e dizer que vai rezar por essa pessoa, mas também ajudá-la economicamente; outras ainda, o amor compassivo nos mandará fazer ambas as coisas. Quando estamos atentos ao que amor pede de nós em cada momento, não nos perguntaremos por uma suposta obrigação de caridade, mas a grande questão será a necessidade do outro. A pergunta não é “estou obrigado ou não a fazer isso?”, mas “o que essa pessoa necessita nesse momento?”. Na primeira pergunta está o nosso “eu”, na segunda está o “tu” dos outros. A caridade vai ao encontro, não é egoísta. A caridade alarga as nossas perspectivas e nos faz ter uma mentalidade universal. Por outro lado, uma visão “católica” das coisas nos oferece uma percepção aprimorada das distintas situações e nos faz ser mais eficazes à hora de ajudar os outros.
Pe. Françoá Costa