Homilia do Padre Françoá Costa – XIII Domingo do Tempo Comum (Ano C)

Santos normais

Está claro que Tiago e João não pediram que fosse enviado o fogo do Espírito Santo sobre os samaritanos. Eles queriam é que aquele povoado de samaritanos com todos os seus moradores fossem queimados, consumidos, e se transformassem em carvõezinhos! Por isso Jesus os repreende. No entanto, é admirável a naturalidade dos Apóstolos em manifestar diante de Jesus aquilo que pensam e, ao mesmo tempo, é admirável a simplicidade do evangelista em não ocultar os defeitos dos Apóstolos.

Quando lemos biografias de santos e observemos que eles também tinham pecados, animemo-nos: também nós podemos ser santos! Digamos para nós mesmos: se esse foi santo, apesar dos pesares, eu também posso sê-lo. Há livro muito bom de J. Urteaga – cuja tradução portuguesa eu não encontrei – “Los defectos de los santos”, no qual o autor vai analisando exatamente esse aspecto: os defeitos dos santos.

A propósito, conta-se que um jovem escutou certa vez que tinha que ser santo. Resolveu, então, ir à igreja para ver como são os santos. Entrou numa paróquia e começou a olhar as imagens de santos que lá havia. A primeira imagem que ele observou foi a de um santo magro, com os olhos elevados ao céu e quase sem ligar para a terra, em contemplação profunda. Aquele jovem não gostou daquela santidade, parecia-lhe muito distante e um pouco estranha. Viu uma segunda imagem, barroca, com aqueles típicos arrebatamentos místicos, aquelas roupas que dão voltas e mais voltas ao redor do corpo, uns gestos nas mãos um tanto complicados. Tampouco gostou daquela santidade, parecia-lhe do século XVII e, por tanto, muito antiga. A terceira imagem era de um santo que chorava diante da imagem do Cristo Crucificado, fazia duras penitências e tinha um rosto um pouco deformado. O nosso jovem, ao contrário, sentia-se tão alegre e expansivo. Reflexivo e quase chegando à conclusão de que não podia ser santo, meio cabisbaixo e já saindo da igreja, viu que na parede rumo à porta, à altura da sua cabeça, estava uma imagem de um Menino Jesus bem gordinho nos braços de Maria e que ria e brincava com o manto de Nossa Senhora, que também sorria espontaneamente com o Menino. O nosso jovem se alegrou ao ver aquela imagem tão simpática e disse para si: “Eu quero ser santo como esse Menino”. Puxa vida, nada mais, nada menos!

Os santos são pessoas normais. Eles também percebiam a própria concupiscência, e lutavam. Tiago e João que, num ímpeto de ira, queriam pedir fogo do céu para queimar os pobres samaritanos, hoje são venerados como São Tiago e São João. Eram pessoas normais! Agostinho que antes de converter-se ao cristianismo teve um filho fora do casamento, hoje é venerado como Santo Agostinho! Pedro negou Jesus por três vezes e, no entanto, foi-lhe entregue o pastoreio de toda a Igreja e nós pedimos a sua intercessão na Ladainha de todos os Santos como São Pedro. E nós? Do jeito que nós somos, continuemos na luta por amar a Deus, por vencer os próprios defeitos. É verdade, talvez não sejamos canonizados (talvez sim!), mas – com certeza – ao menos canonizáveis. São Josemaria Escrivá, espanhol de caráter bastante forte e muito amável com todas as pessoas, costumava dizer que “a santidade está na luta”. Provemos essa receita: lutemos de verdade e, com a graça de Deus, chegaremos ao céu. Nós seremos santos que tiveram defeitos, mas, não importa, o importante é que lutemos até o fim.

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa

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