Homilia de Mons. José Maria Pereira – Pentecostes – Ano B

Intimidade com Espírito Santo, Alma da Igreja!

Celebramos, hoje, a grande festa de Pentecostes, que completa o Tempo de Páscoa: cinquenta dias depois do Domingo da Ressurreição. Esta Solenidade faz – nos recordar e reviver a efusão do Espírito Santo sobre os Apóstolos e os outros discípulos, reunidos em oração com a Virgem Maria, no Cenáculo (At 2, 1-11). É a plenitude do Mistério Pascal, com o Dom do Espírito Santo à Igreja. É o nascimento da Igreja. Pentecostes é o cumprimento da promessa de Jesus: “… se Eu for, Eu O enviarei a vós” (Jo 16, 7). Jesus, tendo ressuscitado e subido ao Céu, envia à Igreja o seu Espírito, para que, cada cristão possa participar na sua mesma vida divina e tornar – se sua testemunha válida no mundo. O Espírito Santo, irrompendo na História, derrota a sua aridez, abre os corações à esperança, estimula e favorece em nós a maturação na relação com Deus e com o próximo.

No dia de Pentecostes, o Espírito Santo desceu com poder sobre os Apóstolos; teve, assim, início a missão da Igreja no mundo. O próprio Jesus tinha preparado os Onze para esta missão, aparecendo-lhes várias vezes depois da sua Ressurreição (cf. At 1,14)

Pentecostes era uma das grandes festas judaicas. Muitos israelitas iam nesses dias em peregrinação a Jerusalém, para adorar a Deus no Templo. A origem da festa remontava a uma antiquíssima celebração em que se davam graças a Deus pela safra do ano, em vésperas de ser colhida. Depois acrescentou-se a essa comemoração, que se celebrava cinquenta dias depois da Páscoa, a da promulgação da Lei dada por Deus no Monte Sinai. Por desígnio divino, a colheita material que os judeus festejavam com tanto júbilo, converteu-se na Nova Aliança, numa festa de imensa alegria: a vinda do Espírito Santo com todos os seus dons e frutos.

A vinda do Espírito Santo, no dia de Pentecostes, não foi um acontecimento isolado na vida da Igreja. O Paráclito santifica-a continuamente, como também santifica cada alma, através das inúmeras inspirações que se escondem em “todos os atrativos, movimentos, censuras e remorsos interiores, luzes e conhecimentos que Deus produz em nós, prevenindo o nosso coração com as suas bênçãos, pelo seu cuidado e amor paternal, a fim de nos despertar, mover, estimular para o amor celestial, para as boas resoluções, para tudo aquilo que, numa palavra, conduz – nos à nossa vida eterna. A sua ação na alma é suave e aprazível; Ele vem salvar, curar, iluminar” (São Francisco de Sales).

Em Pentecostes, os Apóstolos foram robustecidos na sua missão de anunciarem a Boa Nova a todos os povos. Todos os cristãos têm, desde então, a missão de anunciar, de cantar as maravilhas que Deus fez no seu Filho e em todos aqueles que creem nEle. 

Ao compreendermos a grandeza da nossa missão, compreendemos, também, que ela depende da nossa correspondência às moções do Espírito Santo, e sentimo-nos necessitados de pedir-lhe, frequentemente, que lave o que está manchado, regue o que está seco, cure o que está doente, acenda o que está morno, retifique o que está torcido; Porque, sabemos bem que, no nosso interior, há manchas, e partes que não dão todo o fruto que deveriam dar, porque estão secas, e partes doentes, e tibieza e, também, pequenos desvios, que devem ser retificados.

Não se pode conceber vida cristã, nem Igreja, sem a presença e a ação do Espírito Santo. Por Ele, os corações são elevados ao alto; os fracos são conduzidos pela mão; os que progridem, na virtude, chegam à perfeição. Ele ilumina os que foram purificados de toda a mancha e os torna espirituais pela comunhão consigo. Volta-se para Ele o olhar de todos os que buscam a santificação; para Ele tende a aspiração de todos os que vivem segundo a virtude; é o seu sopro que os revigora e reanima para atingirem o fim natural e próprio para que foram feitos.

Depois que Jesus completou a sua obra, constituído Senhor a partir de sua Ressurreição, envia ao mundo o seu Espírito, o Espírito do Pai. Conforme São João (Cf. Jo 20,19-23), Jesus comunica o seu Espírito, o mesmo Espírito que Ele entregou ao Pai no dia da Ressurreição. Para isso, sopra sobre eles, transmitindo-lhes a vida nova, a força, o Espírito Santo: “Recebei o Espírito Santo…” e o Dom do Perdão e da Reconciliação.

O Espírito Santo conduz-nos à vida de oração. A vida cristã requer um diálogo constante com Deus Uno e Trino, e é a essa intimidade que o Espírito Santo nos conduz. Acostumemo-nos a procurar o convívio com o Espírito Santo, que é quem nos há de santificar; a confiar nEle, a pedir a sua ajuda, a senti-Lo perto de nós. Assim se irá dilatando o nosso pobre coração, teremos mais ânsias de amar a Deus e, por Ele, a todas as criaturas. Ele é fonte da santidade e luz da inteligência; é ele que dá, de si mesmo, uma certa iluminação à nossa razão natural para que encontre a verdade. 

A chama do Espírito Santo transformou totalmente os Apóstolos… Que essa mesma chama ilumine e aqueça a nossa vida no caminho da Unidade, do Bem e da Verdade…

“O Espírito Santo vem em socorro de nossa fraqueza, pois, não sabemos o que pedir” (Rm 8,26). 

Diz São João da Cruz que o Espírito Santo, com a sua chama, está ferindo a alma, gastando e consumindo-lhe as imperfeições dos seus maus hábitos. O mesmo Espírito Santo vem hoje para nós. Vem limpar os nossos corações e nos livrar do pessimismo, do desalento, da falta de amor a Deus e ao próximo. O mesmo fogo quer hoje queimar e aquecer. Queimar as nossas misérias, a nossa preguiça espiritual; quer aquecer o coração que talvez esteja frio pela indiferença, pela tristeza ou pela dor; quer aquecer com o fogo do amor de Deus. O Espírito que impulsionou os discípulos a falarem em línguas, quer, hoje, dar-nos mais fé, mais união com a Igreja, fazer-nos testemunhas do Evangelho. Seus dons e frutos são vividos à medida que os pedimos e aceitamos.

“Recebei o Espírito Santo”. Uma frase que deveria motivar, consolar e levar a não pôr obstáculos para que atue em nós. Daí ser necessário cultivar intimidade com Ele! Escutá-Lo e seguí-Lo, porque não força! Seus dons e frutos são vividos à medida que os pedimos e os aceitamos. Para conviver com o Espírito Santo: docilidade e vida de oração. 

. Vida de oração, porque o amor exige conversa assídua, amizade. É necessário procurar o convívio com o Espírito Santo. É necessário confiar nEle, pedir Sua ajuda, senti-Lo perto de nós. Saborear as coisas de Deus, depende da vida de oração. 

. Docilidade, porque é Ele quem vai dando tom sobrenatural aos nossos pensamentos, desejos e obras. É Ele que nos faz aderir à doutrina de Cristo e assimilá-la com profundidade; é quem nos dá luz para tomarmos consciência da nossa vocação pessoal e força para realizarmos tudo o que Deus espera de nós. 

O Espírito Santo é alma da Igreja. Sem Ele, ao que se reduziria a Igreja? Sem dúvida, seria um grande movimento histórico, uma instituição social complexa e sólida, talvez uma espécie de agência humanitária. E, na verdade, é assim que a julgam quantos a consideram fora de uma perspectiva de fé. Na realidade, porém, na sua verdadeira natureza e também na sua mais autêntica presença histórica, a Igreja é, incessantemente, plasmada e orientada pelo Espírito do seu Senhor. É um Corpo vivo, cuja vitalidade é precisamente o fruto do invisível Espírito Divino.

A vinda do Espírito Santo não foi um acontecimento isolado na vida da Igreja. Ele vem salvar, curar, iluminar, inspirar, mover, santificar. Peçamos que lave o que está manchado, regue o que está seco, cure o que está doente, acenda o que está morno, retifique o que está torcido, mostre o que não vemos. Foi o que aconteceu com os apóstolos, mártires e todos os santos. Admiramos os santos? Admiremos muito mais o que o Espírito Santo fez neles! Quanto não fará em nós, quanto não fará por nós, quanto não fará conosco, se quisermos, se deixarmos… “Enviai, Senhor, o fogo do vosso amor e tudo será criado e renovareis a face da terra”, renovareis a vida de cada um de nós.

Para chegarmos a um convívio mais íntimo com o Espírito Santo, aproximemo-nos da Virgem Maria, que soube secundar como ninguém as inspirações do Espírito Santo. “ Todos eles perseveravam na oração em comum, junto com algumas mulheres e Maria, Mãe de Jesus, e com os irmãos dele” (At 1,14).

Recolhida com Maria, como no seu nascer, a Igreja reza também hoje: Vem, Espírito Santo, enche os corações dos teus filhos e acende neles o fogo do teu amor!

Por isso, cantemos: Vem, vem, vem, vem Espírito Santo de Amor, vem a nós, traz à Igreja um novo vigor!

 

Mons. José Maria Pereira

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest
Pocket
WhatsApp

Veja Mais