A Igreja aceita a doação de embriões?

Rev. Pe. Dr. Helio Luciano,sua benção!
É verdade que a Igreja aceita a adoção de embriões para que estes não sejam descartados?
Que Deus o abençoe e ilumine vossos passos.
Fabrício Gonçalves.

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 Caro Fabrício, 

A questão do destino dos embriões congelados é uma questão bastante complexa e, por essa razão, não está totalmente definida pelo Magistério da Igreja. Isso é assim porque não é a Igreja quem cria a verdade sobre o respeito à vida, mas a verdade se impõe na sua realidade. O que faz a Igreja, com o auxílio do Espírito Santo, é julgar se essa ação humana – no caso a adoção de embriões – respeitaria a vida dessa criança, bem como a dignidade conjugal. 

Essa falta de definição total, Fabrício, não significa que o Magistério não aponte a uma direção. De fato parece apontar que – ainda que louvável na sua intenção – a adoção de embriões abandonados seria ilícita, pois seria uma afronta à dignidade do matrimônio e ao direito da criança de nascer como fruto de um amor (material e espiritual) de seus pais – que se manifesta através do ato sexual. 

Neste contexto cito parte do número 19 da Declaração Dignitas Personae: Quanto ao grande número de embriões congelados já existentes, pergunta-se. Que fazer deles? (…) Também a proposta de coloca-los à disposição de casais inférteis, como «terapia da infertilidade», não é eticamente aceitável, pelas mesmas razões que tornam ilícita a procriação artificial heteróloga e toda a maternidade substitutiva. Semelhante prática comportaria, por sua vez, outros problemas de carácter médico, psicológico e jurídico. Foi ainda avançada a proposta de fazer uma forma de “adoção pré-natal”, apenas para dar aos seres humanos condenados à destruição a oportunidade de nascer. Semelhante proposta, embora louvável na intenção de respeitar a defesa da vida humana, apresenta, todavia, diversos problemas, não diferentes dos acima mencionados. Em definitivo, há que constatar que os milhares de embriões em estado de abandono determinam uma situação de injustiça de facto irreparável. Por isso, João Paulo II lançou um “apelo à consciência dos responsáveis do mundo científico e, de modo especial, aos médicos, para que se trave a produção de embriões humanos, tendo presente que não se descortina uma saída moralmente lícita para o destino humano dos milhares e milhares de embriões “congelados”, que são e permanecem titulares dos direitos essenciais e que, portanto, devem ser tutelados juridicamente como pessoas humanas”.[1]

Em conclusão, ainda se tratando de uma questão complexa e não totalmente definida pelo Magistério da Igreja, parece que o ato de justiça irreparável – que é a criação e congelamento de crianças – não poderia ter como solução, ainda que louvável na sua intenção, a adoção (e consequente transferência embrionária) por parte de outros casais. Ao mesmo tempo ainda não sabemos qual seria a solução mais digna e respeitosa à dignidade dessas pessoas que foram congeladas.

 


[1] Congregação para a Doutrina da Fé. Declaração Dignitas Personae – 8-12-2008. http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_20081208_dignitas-personae_po.html

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