Terceira dimensão
03/12/2021 – Sexta-feira da primeira semana Advento – C
Leituras: Is 29,17-24; Sl 26; Mt 9,27-31
São dois os cegos que gritam: “Tem compaixão de nós!” (Mt 9,27). Não é difícil intuir, através da leitura dessa passagem, que os cegos foram gritando pelo caminho e parece que Jesus não lhes deu muita atenção no começo, tanto é assim que “quando ele entrou em casa, os cegos aproximaram-dele” (Mt 9,28) e, finalmente, estabeleceu-se o diálogo. O final será feliz para eles: uma cura conforme a fé. Na verdade, enquanto eles gritavam pelo caminho, realizavam o seu caminho de fé, já estavam vendo interiormente, posteriormente viram também fisicamente.
O salmista celebra a luz de Deus na sua vida: “O Senhor é minha luz e salvação; de quem eu terei medo” (Sl 26,1). Certamente, é a presença de Deus na nossa vida que nos faz ver de maneira diferente aquelas coisas que antes víamos de maneira meramente natural, horizontal. Finalmente, com a luz da fé a nossa vida alcançou como que uma terceira dimensão. Realizaram-se as palavras do profeta Isaías: “os olhos dos cegos, livres da escuridão e das trevas, tornarão a ver” (Is 29,18). Ao mesmo tempo, com a fé todos nós ganhamos em coragem e resolução, em otimismo e assertividade, em confiança em Deus que é nosso Pai.
Um homem de Deus, uma mulher de Deus, não somente vê com a fé, mas ajuda os outros a verem. Não é possível encontrarmo-nos com aquela realidade que dá sentido às nossas vidas e, ao mesmo tempo, continuarmos indiferentes à sorte dos demais seres humanos, nossos irmãos. Mesmo que demoremos para atender o grito dos mais aflitos, com o passar do tempo, entenderemos que será preciso fazer com que os seus olhos se abram para um mundo sobrenatural, do qual talvez nem suspeitassem a existência. Não tenhamos medo, pois no fundo, todo ser humano está clamando pelo Senhor, porque deseja a Felicidade. Eles têm, no fundo da alma, um “grito silencioso” que pede socorro. Curados da sua cegueira, querem anunciar a todos o que o Senhor fez por eles e, no entanto, Jesus prefere que eles passem um tempo a considerar o que acabaram de receber. Depois anunciarão.
O apóstolo Paulo via com os olhos físicos, mas precisou ficar cego e, poucos dias depois, voltou a ver (At 9). Ele mesmo conta que após a sua conversão, isto é, após ver com os olhos da fé, ele foi para a Arábia (Gl 1,17). Esse tempo entre a Arábia e Damasco foi, segundo muitos estudiosos, um tempo de retiro espiritual para São Paulo, no qual ele teria passado por grandes elevações na oração e no conhecimento de Jesus Cristo. É preciso que o conheçamos e que o amemos em silêncio, sem contar nada a ninguém (Mt 9,30), para depois anunciá-lo. Isso fizeram os nossos irmãos santos. Nós também precisamos ir por esse caminho.
Padre Françoá Costa
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