Roteiro Homilético – XXVII Domingo do Tempo Comum – Ano B

RITOS INICIAIS

 

Est 13, 9.10-11

ANTÍFONA DE ENTRADA: Senhor, Deus omnipotente, tudo está sujeito ao vosso poder e ninguém pode resistir à vossa vontade. Vós criastes o céu e a terra e todas as maravilhas que estão sob o firmamento. Vós sois o Senhor do universo.

 

Introdução ao espírito da Celebração

 

Começa de novo a catequese em nossas paróquias. Jesus lembra-nos a importância da família bem constituída e a da formação cristã, em que todos temos de colaborar, sobretudo os pais.

Vamos estar atentos ao que nos vai dizer.

 

Examinemo-nos sobre os nossos pecados para pedir perdão ao Senhor.

 

ORAÇÃO COLECTA: Deus eterno e omnipotente, que, no vosso amor infinito, cumulais de bens os que Vos imploram muito além dos seus méritos e desejos, pela vossa misericórdia, libertai a nossa consciência de toda a inquietação e dai-nos o que nem sequer ousamos pedir. Por Nosso Senhor…

 

 

LITURGIA DA PALAVRA

 

Primeira Leitura

 

Monição: Nesta página do primeiro livro da Bíblia, Deus ensina a igual dignidade do homem e da mulher e a indissolubilidade do matrimónio.

 

Génesis 2, 18-24

18Disse o Senhor Deus: «Não é bom que o homem esteja só: vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele». 19Então o Senhor Deus, depois de ter formado da terra todos os animais do campo e todas as aves do céu, conduziu-os até junto do homem, para ver como ele os chamaria, a fim de que todos os seres vivos fossem conhecidos pelo nome que o homem lhes desse. 20O homem chamou pelos seus nomes todos os animais domésticos, todas as aves do céu e todos os animais do campo. Mas não encontrou uma auxiliar semelhante a ele. 21Então o Senhor Deus fez descer sobre o homem um sono profundo e, enquanto ele dormia, tirou-lhe uma costela, fazendo crescer a carne em seu lugar. 22Da costela do homem o Senhor Deus formou a mulher e apresentou-a ao homem. 23Ao vê-la, o homem exclamou: «Esta é realmente osso dos meus ossos e carne da minha carne. Chamar-se-á mulher, porque foi tirada do homem». 24Por isso, o homem deixará pai e mãe, para se unir à sua esposa, e os dois serão uma só carne.

 

A narrativa conserva, na linguagem e no estilo, todas as características da tradição jarvista, em particular, uma grande vivacidade de expressão, e, de acordo com o modo de pensar e de falar da época a que o texto pertence, uma rica linguagem simbólica ou mítica. No entanto, mesmo quando se vê que adopta elementos comuns aos mitos cosmogónicos da antiguidade, esta linguagem é cuidadosamente purificada de toda a magia e politeísmo que os impregnam, de tal modo que Deus aparece como Senhor transcendente e Pai providente. Sem dificuldade, sob o estrato da antiga narração, descobrimos aquele conteúdo verdadeiramente admirável no que diz respeito às qualidades e à condensação das verdades, que nele estão encerradas (cf. João Paulo II, numa série de Audiências Gerais de 1979/80, que tomamos como pano de fundo destas notas). O texto deixa claro que a atracção dos sexos é algo querido por Deus e que a diferenciação sexual encerra um sentido intrínseco, não arbitrário; e também ela que não foi introduzida no mundo por nenhum princípio maléfico misterioso.

18-20 Deus é apresentado em linguagem antropomórfica, isto é, à maneira humana, como um «oleiro», e a deliberar no sentido de ir aperfeiçoando a sua obra, num texto que se presta a veicular ricos ensinamentos de antropologia teológica. «Não é bom que o homem esteja só»: a solidão do homem, sentida por ele (v. 20) e reconhecida por Deus (v. 18), traduz, por um lado, a interioridade do ser humano, capaz de perceber a sua própria solidão (coisa de que os animais não são capazes), e, por outro lado, como este foi criado por Deus para a comunhão inter-pessoal.

«Um auxiliar semelhante». O facto de se dizer auxiliar, ou ajuda, não contradiz a dignidade da mulher, como se esta ficasse reduzida a uma simples muleta para o homem, pois estamos perante uma complementaridade que é mútua; de qualquer modo, não se diz que é uma serva ou uma propriedade do marido, destinada dar-lhe frutos, à maneira de uma terra fecunda, como então se pensava. Por outro lado, também de Deus se diz que Ele é um auxiliar para o homem; além disso, a palavra hebraica (‘ézer, auxílio), ao designar habitualmente o socorro que Deus concede ao seu povo (15 em 21 vezes no A. T.), indicia que o relato está redigido com base na noção de aliança: a relação homem-mulher aparece então como um reflexo da relação Deus-homem, uma relação de aliança (M. Merode).

«O homem deu nome a todos os animais», é uma forma de pôr em relevo a superioridade do homem e o seu domínio sobre eles, que ficam postos ao seu serviço (cf. Gn 1, 28). Adão aparece como um rei que passa revista a todos os seus súbditos. Impor o nome significava frequentemente ter direito sobre algo ou alguém, assim como o mudar o nome correspondia a assinalar uma nova missão. Não se pretende ensinar que os animais foram criados só depois do homem (nem antes!), apenas o autor visa dramatizar a situação do homem solitário e enaltecer a Providência amorosa de Deus, que instituiu a sociedade conjugal para bem do próprio homem e num plano de grande dignidade, sublinhando que até os próprios animais maiores eram «behemáh», isto é, (animais) mudos, que não estavam ao nível do homem. Nesta encenação poderia haver também, em segundo plano, a condenação da bestialidade, frequente entre os cananeus e os egípcios (cfr. Lv18, 23-25) – um pecado que a Lei punia drasticamente (Ex 22, 18; Lev 20, 15-16; cf. Dt 21, 21) –, e ainda a rejeição do paganismo, que com frequência prestava culto a animais divinizados, uma aberração absurda, dado que Adão é superior e nem sequer encontra algum que, ao menos, lhe seja semelhante.

21-22 Ao arrepio da mentalidade da época, a mulher aparece em toda a sua dignidade, não como os animais, que são tirados da terra (v. 19); com efeito, ela é tirada da costela do homem, isto é, «da substância de Adão», como esclarece S. Gregório de Nissa, igual por natureza. Para isso – não para o anestesiar, como às vezes se diz – conta-se que adormeceu profundamente o homem (v. 21), a fim de que, sem que ele se apercebesse, lhe satisfizesse os seus ideais e anseios: formou a mulher e apresentou-a ao homem (v. 22). O «sono profundo» nada tem a ver com alguma espécie de sono de anestesia; o termo hebraico –tardemah – envolve uma certa conotação de mistério, pois é a palavra que se usa, quando durante um sono assim designado, ou logo após este, se verificam acontecimentos de grande alcance (cf. Gn 15, 12; 1 Sam 26, 12; Is 29, 10; Job 4, 13; 33, 15), de modo que até os LXX não traduziram este termo por hypnos (sono), mas sim por ékstasis (êxtase). É assim que se pode ver como a criação da mulher está envolta em mistério, pois aparece como uma especial acção divina que se insere no âmbito do mistério da Aliança, no próprio coração da história da salvação. Assim como em Gn 15, 12, o sono de Abraão é o sinal de que este se deixa ultrapassar por Deus, que lhe revela a Aliança, assim também aqui o sono de Adão é o sinal de que, pela bissexualidade humana, Deus nos revela o mistério do matrimónio como imagem de Deus (cf. Gn 1, 26-28). «Em ambos os casos, segundo os textos em que (…) o livro do Génesis fala do sono profundo (tardemah),realiza-se uma acção divina especial, isto é, uma aliança carregada de consequências para toda a história da salvação: Adão dá começo ao género humano, Abraão ao povo eleito» (João Paulo II, Audiência Geral de 1/11/19). Note-se que costela, – em hebraico tselá‘ – sugere um significativo jogo de palavras: o étimo sumério de tselá‘ significa vida e o nome Eva – em hebraico haváh – também significa vida.

22 «E apresentou-a ao homem». Também é significativo que não se diga que é o homem a fazer aparecer a mulher ou a descobri-la: tudo é dom e iniciativa divina, e a relação do homem com a mulher enquadra-se na relação fundamental do homem com Deus.

23 «Ao vê-la, o homem exclamou». As palavras que o hagiógrafo coloca na boca de Adão são a expressão dum entusiasmo eufórico, próprio dum coração enamorado, em linguagem poética, com ritmo, elegância, paralelismo e jogo de palavras, logrando-se um belo efeito literário: Adão, ignorando como a mulher tinha sido formada, verifica que ela corresponde plenamente ao seu ideal; formada do lado ou da costela sobre o coração, a mulher procedia do coração do homem, respondendo às suas profundas aspirações.

«Osso dos meus ossos…» Trata-se duma expressão corrente para designar parentesco, comunidade de natureza (cf. Gn 29, 14; Jz 9, 2; 2 Sam 5, 1; 1 Cron 11, 1). Esta afirmação é dum alcance extraordinário, transcendendo de longe as mais avançadas civilizações em que a mulher sempre foi considerada um ser inferior, quanto à natureza e direitos. Ela tem a mesma natureza e os mesmos direitos que o homem, por isso «chamar-se-á mulher», num jogo de palavras em hebraico: ’ixáh («virago»: a forma feminina de ’ix, «varão»); ela já não é mais a beulat-baal (a propriedade dum senhor – cf. Dt 22, 22). Sem diluir diferenças e peculiaridades, há uma igualdade fundamental entre o homem e a mulher, mesmo quando o relato apresenta o homem a ser criado em primeiro lugar; a mulher, embora surja como um auxiliar, ela é criada semelhante a ele (v. 18). Notar que as expressões «osso dos meus ossos» e «carne da minha carne» são uma espécie de superlativo hebraico (como «cântico dos cânticos»), equivalente a dizer que é mesmo carne e osso meu, um «alter ego», correspondendo a: «é igual a mim quanto à natureza e quanto aos direitos», segundo as categorias do nosso pensamento abstracto.

24 «Por isso, o homem deixará pai e mãe…» Os laços que unem marido e mulher são mais fortes ainda do que aqueles que unem os filhos aos pais: a união matrimonial é estável, (perpétua e indissolúvel, segundo a explicação de Jesus no Evangelho de hoje). É uma união total e íntima, tão profunda que abarca toda a pessoa, desde o físico até ao espiritual, segundo a expressão do original hebraico, «wedabaq», que a Vulgata traduziu por «et adhærebit», melhor que a nossa tradução: «para se unir à sua esposa». O texto permite ver a unidade do matrimónio – um só homem com uma só mulher (a sua mulher) – e a indissolubilidade, pois os dois passarão a ser «uma só carne». A expressão hebraica «lebassár ehád» («in carnem unam») indica não apenas o corpo, mas tudo o que constitui a natureza do homem: corpo e espírito, pensamento e amor, sentimentos e vontade, o que dá azo a João Paulo II para falar do significado esponsal do corpo humano, um significado que só se pode compreender dentro do contexto da pessoa: «o corpo tem o seu significado esponsal porque o homem-pessoa é uma criatura que Deus quis por si mesma e que, ao mesmo tempo, não pode encontrar a sua plenitude senão mediante o dom de si próprio» (Audiência Geral de 16/1/80). O Papa acrescenta que no celibato pelo Reino dos Céus esse significado não se perde, mas é ainda mais pleno, pois se torna mais expressiva a liberdade do dom no corpo humano; o homem só é capaz de doação enquanto pessoa e é doando-se que se realiza como pessoa; e a sua máxima doação é a entrega total (corpo e alma) a Deus.

 

Salmo Responsorial

 Sl 127 (128), 1-2.3.4-5.6 (R. cf. 5)

 

Monição: Deus abençoa já neste mundo os que Lhe obedecem fielmente.

 

Refrão:         O SENHOR NOS ABENÇOE EM TODA A NOSSA VIDA.

 

Feliz de ti que temes o Senhor

e andas nos seus caminhos.

Comerás do trabalho das tuas mãos,

serás feliz e tudo te correrá bem.

 

Tua esposa será como videira fecunda

no íntimo do teu lar;

teus filhos como ramos de oliveira,

ao redor da tua mesa.

 

Assim será abençoado o homem que teme o Senhor.

De Sião o Senhor te abençoe:

vejas a prosperidade de Jerusalém todos os dias da tua vida;

e possas ver os filhos dos teus filhos. Paz a Israel.

 

Segunda Leitura

 

Monição: Jesus assumiu a nossa natureza humana e sujeitou -Se à morte para nos salvar.

 

 

Hebreus 2, 9-11

Irmãos: 9Jesus, que, por um pouco, foi inferior aos Anjos, vemo-l’O agora coroado de glória e de honra por causa da morte que sofreu, pois era necessário que, pela graça de Deus, experimentasse a morte em proveito de todos. 10Convinha, na verdade, que Deus, origem e fim de todas as coisas, querendo conduzir muitos filhos para a sua glória, levasse à glória perfeita, pelo sofrimento, o Autor da salvação. 11Pois Aquele que santifica e os que são santificados procedem todos de um só. Por isso não Se envergonha de lhes chamar irmãos.

 

Vamos ter como 2ª leitura até ao fim do ano litúrgico alguns respigos da epístola aos Hebreus, poucos, mas expressivos. O tema central do «discurso de exortação» (cf. 13, 22), que constitui o escrito, nunca é tratado nos restantes livros do N. T.: o sacerdócio de Cristo, uma elaboração teológica admirável e sublime, entremeada de exortações, uma verdadeira obra prima que impressiona vivamente o leitor. Embora pertença ao chamado corpus paulinum, este documento não parece ter sido redigido por S. Paulo (alguns pensam que poderia ser um sermão do seu colaborador Apolo: cf. Act 18, 24-28), nem tem um carácter epistolar, se exceptuamos os vv. finais (13, 22-25), que até poderiam ser um bilhete do próprio Paulo. O trecho de hoje é extraído da 1ª parte, em que Jesus é apresentado como Filho de Deus e superior aos próprios anjos, não obstante todas as humilhações a que se quis sujeitar.

9-10 «Por um pouco, foi inferior aos Anjos». Em constantes citações do A. T. ao longo de toda a epístola, o autor sagrado faz aqui (nos vv. 5-9) uma releitura cristológica do Salmo 8. A inferioridade de Jesus deu-se apenas no aspecto exterior e sensível, especialmente nos momentos da sua Paixão e Morte; mas a humilhação da morte que sofreu mereceu-lhe a exaltação gloriosa da sua SS. Humanidade (cf. Lc 24, 26; Filp 2, 6-11). Por outro lado, essa humilhação não foi sem um nobilíssimo motivo, pois foi «em proveito de todos», isto é, em ordem à salvação de todas as criaturas, não apenas de uns tantos privilegiados. Mais ainda, «convinha que (Deus, o Pai…) levasse à perfeição, pelo sofrimento, o Autor da salvação». Nesta única vez em que se usa em toda a Escritura o «argumento de conveniência» para o agir divino, aparece um dos temas fulcrais da epístola, o da «perfeição»: Jesus é o sacerdote perfeito (5, 9; 7, 11-28; 10, 14), em contraposição com o sacerdócio levítico com todas as suas exigências de perfeição exterior (cf. Lv 21, 18-23). Aqui se expõe como atingiu essa perfeição; foi pelo sofrimento, com que, obedecendo ao Pai, quis levar a cabo a obra da Redenção até ao «consummatum est» (Jo 19, 30), no supremo exercício do seu sacerdócio.

11 «Procedem todos de um só»: Jesus, «Aquele que santifica» e os homens, «os que são santificados», têm uma origem comum (Deus, Adão, Abraão, ou simplesmente a mesma natureza), o que torna possível que Jesus seja «sacerdote» e «mediador» (cf. 2, 14-18; 5, 1; 8, 6; 9, 15), podendo, apesar da sua suprema dignidade, chamar com toda a verdade os homens «seus irmãos» (cf. Jo 20, 17).

 

Aclamação ao Evangelho

1 Jo 4, 12

 

Monição Jesus deixa as coisas claras sobre a indissolubilidade do matrimónio. A Sua doutrina continua actual e hoje de modo particular. Ouçamos com atenção.

 

ALELUIA

 

Se nos amamos uns aos outros, Deus permanece em nós

e o seu amor em nós é perfeito.

 

 

Evangelho *

 

 

*Forma longa: São Marcos 10, 2-16      Forma breve: São Marcos 10, 2-12

Naquele tempo, 2aproximaram-se de Jesus uns fariseus para O porem à prova e perguntaram-Lhe: «Pode um homem repudiar a sua mulher?» 3Jesus disse-lhes: «Que vos ordenou Moisés?» 4Eles responderam: «Moisés permitiu que se passasse um certificado de divórcio, para se repudiar a mulher». 5Jesus disse-lhes: «Foi por causa da dureza do vosso coração que ele vos deixou essa lei. 6Mas, no princípio da criação, ‘Deus fê-los homem e mulher. 7Por isso, o homem deixará pai e mãe para se unir à sua esposa, 8e os dois serão uma só carne’. Deste modo, já não são dois, mas uma só carne. 9Portanto, não separe o homem o que Deus uniu». 10Em casa, os discípulos interrogaram-n’O de novo sobre este assunto. 11Jesus disse-lhes então: «Quem repudiar a sua mulher e casar com outra, comete adultério contra a primeira. 12E se a mulher repudiar o seu marido e casar com outro, comete adultério».

[13Apresentaram a Jesus umas crianças para que Ele lhes tocasse, mas os discípulos afastavam-nas. 14Jesus, ao ver isto, indignou-Se e disse-lhes: «Deixai vir a Mim as criancinhas, não as estorveis: dos que são como elas é o reino de Deus. 15Em verdade vos digo: Quem não acolher o reino de Deus como uma criança, não entrará nele». 16E, abraçando-as, começou a abençoá-las, impondo as mãos sobre elas.]

 

Jesus é posto à prova num tema hoje bem actual e que já na sua época era debatido entre os rabinos de então: a escola rigorista de Xamai só permitia o divórcio em casos extremos, como por adultério, ao passo que para a escola liberal de Hillel bastava qualquer razão banal, como uma forte atracção por outra mulher, ou simplesmente o servir uma comida com esturro. Na sua resposta, Jesus não pergunta pelas posições dos rabinos, mas pela Lei de Moisés na sua forma escrita. No entanto, também não estão no horizonte de Jesus as modernas questões histórico-literárias, pois neste caso poderia dizer que Moisés nunca autorizou o divórcio, apenas o considera como um facto real, a exigir regulamentação para minorar os males que acarreta. De facto, o célebre texto do Deuteronómio, o único na Thoráh a falar do certificado de divórcio (Dt 24, 1-4), quando bem lido no original hebraico, de modo nenhum quer dizer que Moisés «permitiu que se passasse um certificado de divórcio», como responderam os fariseus (v. 4). Como explica Díez Macho, a autorização do divórcio de Dt 24, 1 não passa de uma simples inclusão na legislação do Pentateuco de um costume do meio ambiente, mas nem para o canonizar, nem para o autorizar, mas sim para lhe pôr obstáculo (Sto. Agostinho diz que é mais uma desaprovação do que uma aprovação). Dt 24 1 é uma tolerância do divórcio reinante, pela dureza do coração, como justamente Jesus interpretou». O judaísmo posterior é que interpretou o texto como uma autorização do divórcio, um privilégio divino para os maridos israelitas, considerando o final do v. 1 de Dt 24 como um preceito («escreva-lhe uma carta de repúdio»), quando a verdade é que se tratava da consideração de mais uma condição («e se lhe escreve uma carta de repúdio»); os 3 primeiros vv. devem ser lidos como prótase («se…, se…, se…»), aparecendo a apódose só no v. 4, com o preceito: «(então), o primeiro marido que a despediu não a poderá tomar de novo por sua mulher» (isso seria indecoroso).

6-9 «Mas no princípio da criação…». Jesus apela para as palavras do Génesis lidas na 1.ª leitura e dá-lhes o seu profundo sentido: «passarão a ser uma só carne» significa a unidade e indissolubilidade do Matrimónio. Por isso a legítima tradição da Igreja nunca admitiu a mínima excepção à indissolubilidade dum matrimónio validamente realizado e consumado. A sentença de Jesus é absoluta e irrevogável: «O que Deus uniu que não o separe o homem» (v. 9); com efeito, não se trata de uma simples imposição duma lei externa, mas de algo que pertence à própria natureza das cosias.

11-12 «Quem repudiar… e, se a mulher repudiar o seu marido e casar com outro, comete adultério». Jesus apresenta as normas morais tão exigentes para o homem como para a mulher, reforçando o ensino anterior (vv. 5-9), quando para o judaísmo só o marido é que podia repudiar a mulher e não o contrário. Jesus não só restituiu o Matrimónio à sua dignidade original, segundo o projecto de Deus para a felicidade do ser humano, mas também confere a graça do Sacramento do Matrimónio, que possibilita superar as situações mais difíceis, com que nos deparamos cada vez mais, e remediar a dureza do coração, uma coisa impossível para a Lei de Moisés.

13-16 Esta perícope, que fala das crianças, nada tem a ver com a anterior, embora estas sejam as grandes vítimas inocentes dos divórcios; a ligação é artificial, e nada se diz das circunstâncias do momento e do lugar do facto relatado nos três Sinópticos. Então havia o costume de aos sábados os pais abençoarem as suas crianças (com menos de 12 anos), mas só na festa do Yom Kipur é que elas recebiam a bênção dos rabis; que o acontecimento relatado tivesse sido por esta ocasião não passa de mera possibilidade. É apenas S. Marcos – que gosta de registar as emoções de Jesus (cf. 1, 43; 3, 5; 8, 12; 14, 33-34) – quem refere aindignação de Jesus perante a oposição dos discípulos (v. 14), que partilhavam da mentalidade corrente de desprezo pelas crianças; então não se considerava a sua inocência, mas a sua imaturidade. O tema central do relato é o do Reino de Deus, concretamente, que pessoas poderão fazer parte dele: «Só aqueles que o reconhecem e o aceitam como um dom – como uma criança que recebe presentes – é que podem esperar vir a fazer parte dele; o reino é para aqueles que não fazem reivindicações de poder ou de posição social» (The new Jerome B. Commentary). E, sem humildade, como a da criança que se sente débil e insignificante, não é possível entrar no Reino de Deus (cf. Mt 18, 3-4; Mc 9, 35-36), o que está no pólo oposto da atitude dos fariseus, que pensavam poder comprar o Reino de Deus com os seus próprios méritos. Por outro lado, o relato deixa ver como as crianças são tomadas a sério, como pessoas, por Jesus – só Marcos refere que Eleas abraçou – e como elas gostam de se relacionar com Jesus e com o Reino.

 

Sugestões para a homilia

 

Não separe o homem o que Deus uniu

Quem repudiar a sua mulher e casar com outra comete adultério

Deixai vir a Mim as criancinhas

Não separe o homem o que Deus uniu

O casamento não é uma instituição dos homens. É de instituição divina e não pode ficar ao critério das opiniões humanas por mais democracia que lhe ponham em cima. «A íntima comunidade da vida e do amor conjugal – diz o Concílio – fundada pelo Criador e dotada de leis próprias, é instituída por meio da aliança matrimonial, eu seja pelo irrevogável consentimento pessoal. Deste modo, por meio do acto humano com o qual os cônjuges mutuamente se dão e recebem um ao outro, nasce uma instituição também à face da sociedade, confirmada pela lei divina. Em vista do bem tanto dos esposos e da prole como da sociedade, este sagrado vínculo não está ao arbítrio da vontade humana» (GS 48).

No evangelho Jesus deixa as coisas bem claras e a Sua doutrina continua sempre actual. Temos de a ter presente em nossa cabeça e saber transmiti-la aos outros.

Alguns armam-se em profetas da modernidade, defendendo as piores aberrações: o divórcio, o aborto, as uniões homossexuais. Outros vão atrás porque têm medo de não ser modernos.

Muitas dessas ideias são vícios antigos na história da humanidade e quem tiver um pouco de conhecimento da História pode confirmá-lo. Essa pretensa modernidade revela a cultura postiça de muitos «sábios» do nosso tempo e manifestam a sua ignorância ou cegueira. Na antiga Roma do tempo de Jesus encontramos essas desordens muito espalhadas. S. Paulo refere-se a algumas no começo da sua Carta aos Romanos.

Elas são características das civilizações em decadência. Podíamos lembrar o velho Egipto, a Grécia antiga, Roma e muitas outras. Com a abundância de riqueza entraram os vícios e apareceram pretensos sábios a quererem justificá-las.

Hoje encontramo-nos em situação semelhante. A Europa com as suas riquezas deixou entrar todos os vícios. Muitos esqueceram-se de Deus e não só cometem essas desordens como querem legitimá-las. Querem chamar bem ao mal e mal ao bem e impor aos outros as suas perversões.

Temos de estar atentos e reagir, guiados pela fé, fiando-nos de Jesus, que é caminho verdade e vida (Jo 14, 6). Só Ele tem palavras de vida eterna (Jo 6, 69).

Havemos de ter compreensão e pena dos que fazem o mal, mas também proclamar sem medo a verdade que Jesus nos ensinou.

E não se trata apenas duma questão religiosa. São verdades ao alcance de todos os homens. Fazem parte da lei natural, inscrita por Deus no coração de todos os homens e que todos podem conhecer, se não se deixarem cegar pelas suas paixões desordenadas.

O casamento é união de um com uma e para sempre. Aparece-nos nas primeiras páginas da Bíblia como escutávamos na primeira leitura. Deus criou o homem e a mulher da mesma carne, iguais em dignidade. Formou com eles uma família para ficarem indissoluvelmente unidos, para serem uma só carne.

E confiou-lhes a transmissão da vida humana. É essa a missão primeira do casamento.

Quem repudiar a sua mulher e casar com outra comete adultério

O divórcio vai contra a natureza do matrimónio. O amor verdadeiro, sobre que deve assentar o casamento, exige essa indissolubilidade. A mãe ama o filho sem condições, mesmo que seja mau e ingrato.

Assim hão-de fazer os esposos. E devem amadurecer o amor para que seja alicerce firme do seu matrimónio. Falsos namoros, hoje em voga, são caminho directo para a separação a curto prazo.

A geração e educação dos filhos exigem também a estabilidade da união familiar. Não são frangos de aviário. Não basta dar-lhes comida e conforto. Precisam do amor e da complementaridade do pai e da mãe para se desenvolverem como verdadeiros homens e mulheres, preparados para enfrentar a vida e saber gastá-la ao serviço dos outros.

No evangelho Jesus deixa as coisas muito claras. Divorciar-se é sempre um mal. Casar com um divorciado é ficar numa situação de pecado, é cometer adultério.

A Igreja é muito compreensiva com aqueles que se encontrem nesta situação mas não pode deixar de lhes lembrar que estão numa posição errada e que não podem ser admitidos aos sacramentos, sem antes mudarem de vida.

Anima-os a rezar, a ir à missa, a ouvir a Palavra de Deus. Se algum cristão nessa situação, pensando que o sacerdote o não conhece, fosse a receber a Eucaristia cometia um sacrilégio. A Deus não O pode enganar. É isso que lembram os documentos do Magistério da Igreja.

Se algum sacerdote ou bispo tomar outra posição estaria a ensinar e a proceder contra os ensinamentos de Jesus.

A Igreja não pode permitir a anulação do casamento. Há casos em que os tribunais eclesiásticos verificam que determinados casamentos eram nulos, sobretudo por falta do devido consentimento dalgum dos esposos. Nessas situações é declarada a nulidade, que existia desde o princípio e não anulado o casamento.

Devemos procurar ajudar os casais em crise. Os pais de um e outro têm de saber aconselhar, pondo-se do lado do genro ou da nora. Normalmente é a maneira de acertar. Muitos divórcios devem-se a maus conselhos dos pais.

Deixai vir a Mim as criancinhas

A família é a base da sociedade e a célula fundamental da Igreja. Nela nascem os novos filhos de Deus. Nela se educam e crescem, nela são levados às fontes da graça e educados na fé. Se as famílias funcionam bem toda a sociedade funciona bem. Provam-nos os problemas com tantos marginais em Portugal e outros países.

O Estado tem obrigação de proteger a família, facilitando o desempenho da sua função. Apoiando com eficiência a natalidade. Promovendo a estabilidade do matrimónio e não ao contrário, como infelizmente acontece. Promovendo o acompanhamento dos filhos pequenos, sobretudo a presença da mãe no lar.

Começa um novo ano da catequese. Vale a pena lembrar o papel fundamental da família. As mães são as primeiras catequistas. Se falta a catequese familiar a formação religiosa das crianças e jovens fica sem alicerces. Os pais ensinam com palavras e sobretudo com o exemplo da sua vida cristã. É uma responsabilidade de que Deus lhes pedirá sérias contas um dia.

S.Pio X depois de ter sido sagrado bispo de Mântua foi visitar sua mãe velhinha. Disse-lhe brincando: – Olha que lindo anel me deu o Senhor!

A mãe mostrando a sua humilde aliança de casamento respondeu-lhe: – filho, tu não levarias esse anel de bispo se eu não tivesse recebido antes esta simples aliança de casamento!

«Famílias que viveram de Cristo e que deram a conhecer Cristo. Pequenas comunidades cristãs, que actuaram como centros de irradiação da mensagem evangélica. Lares iguais aos outros lares daqueles tempos, mas animados de um espírito novo, que contagiava os que os conheciam e que com eles se relacionavam.

Assim foram os primeiros cristãos e assim havemos de ser nós, os cristãos de hoje: semeadores de paz e de alegria, da paz e da alegria que Jesus nos trouxe.» (JOSEMARIA ESCRIVÁ, Cristo que passa, 30)

Deixai vir a Mim as criancinhas – dizia Jesus no Evangelho. E di-lo para os pais e para todos nós. Temos de ajudar de modo especial as crianças e levá-las a Jesus. Ele é o seu grande amigo. Temos de animar as crianças a ir à catequese, a não faltar à missa durante as férias. Temos de rezar por elas e pelos pais, para que sigam o caminho de Jesus.

Todos ficamos a ganhar com isso. Se todos viverem à maneira de Jesus o mundo é bem diferente. Não viveremos no medo, não será preciso gastar tanto dinheiro com polícias e tribunais.

É muito importante o trabalho de catequista, preparando-se bem e gastando generosamente o seu tempo. É muito importante também o trabalho com crianças e jovens, no escutismo e outros grupos de jovens. Assim estaremos a amar verdadeiramente a Jesus e a servir a sociedade.

Que a Senhora do Rosário nos ajude a viver bem tudo isto. Meditando os mistérios do rosário aprendemos a viver à maneira de Jesus e a servir generosamente a Deus e os outros.

 

Fala o Santo Padre

 

Queridos irmãos e irmãs!

Neste domingo, o Evangelho apresenta-nos as palavras de Jesus sobre o matrimónio. A quem lhe perguntava se era lícito ao marido repudiar a própria esposa, como previa um preceito da lei moisaica (cf. Dt 24, 1), Ele respondeu que se tratava de uma concessão feita por Moisés devido à «dureza do coração», enquanto a verdade sobre o matrimónio remontava «ao início da criação», quando «Deus como está escrito no Livro do Génesis os criou homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher, e serão os dois uma só carne (Mc 10, 6-7; cf. Gn 1, 27; 2, 24). E Jesus acrescentou: «Portanto, já não são dois, mas uma só carne. Pois bem, o que Deus uniu não o separe o homem» (Mc 10, 8-9). É este o projecto originário de Deus, como recordou também o Concílio Vaticano II na Constituição Gaudium et spes: «A íntima comunidade conjugal de vida e amor foi fundada e dotada de leis próprias pelo Criador; baseia-se na aliança dos cônjuges… o próprio Deus é o autor do matrimónio» (n. 48).

O meu pensamento dirige-se a todos os casais cristãos: agradeço com eles ao Senhor pelo dom do Sacramento do Matrimónio, e exorto-os a manter-se fiéis à sua vocação em cada época da vida, «na alegria e no sofrimento, na saúde e na doença», como prometeram no rito sacramental. Conscientes da graça recebida, possam os cônjuges cristãos construir uma família aberta à vida e capaz de enfrentar unida os numerosos e complexos desafios deste nosso tempo. Hoje, há particularmente necessidade do seu testemunho. Há necessidade de famílias que não se deixem arrastar pelas modernas correntes culturais inspiradas no hedonismo e no relativismo, e estejam prontas a realizar com generosa dedicação a sua missão na Igreja e na sociedade.

Na Exortação apostólica Familiaris consortio, o servo de Deus João Paulo II escreveu que «o Sacramento do Matrimónio constitui os cônjuges e os pais cristãos testemunhas de Cristo «até aos confins do mundo», verdadeiros e próprios «missionários» do amor e da vida» (cf. n. 54). Esta missão é directa quer no interior da família especialmente no serviço recíproco e na educação dos filhos quer no exterior: de facto, a comunidade doméstica está chamada a ser sinal do amor de Deus para com todos. Trata-se de uma missão que a família cristã só pode realizar se estiver amparada pela graça divina. Por isto é necessário rezar incessantemente e perseverar no esforço quotidiano para manter os compromissos assumidos no dia do Matrimónio. Sobre todas as famílias, especialmente sobre as que estão em dificuldade, invoco a protecção materna de Nossa Senhora e do seu esposo José. Maria, Rainha da família, rogai por nós!

 

Bento XVI, Angelus, 8 de Outubro de 2006

 

LITURGIA EUCARÍSTICA

 

 

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS: Aceitai, Senhor, o sacrifício que Vós mesmo nos mandastes oferecer e, por estes sagrados mistérios que celebramos, confirmai em nós a obra da redenção. Por Nosso Senhor…

 

SANTO

 

Monição da Comunhão

 

Jesus vem até nós na Eucaristia. É Ele que nos dá força para vivermos como filhos de Deus cá na terra.

Lam 3, 25

ANTÍFONA DA COMUNHÃO: O Senhor é bom para quem n’Ele confia, para a alma que O procura.

Ou:

cf. 1 Cor 10, 17

Porque há um só pão, todos somos um só corpo, nós que participamos do mesmo cálice e do mesmo pão.

 

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO: Deus todo-poderoso, que neste sacramento saciais a nossa fome e a nossa sede, fazei que, ao comungarmos o Corpo e o Sangue do vosso Filho, nos transformemos n’Aquele que recebemos. Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

RITOS FINAIS

 

Monição final

 

Com Nossa Senhora, neste mês do Rosário, vamos ajudar todas as famílias em dificuldade com a nossa oração. Vamos trazer a Jesus todas as crianças à nossa volta.

 

 

HOMILIAS FERIAIS

 

27ª SEMANA

 

2ª Feira, 8-X: O amor a Deus e ao próximo.

Jon 1, 1- 2, 1. 11/ Lc 10, 25-37

Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma…; e ao próximo como a ti mesmo.

Na 1ª Leitura Jonas, ao fugir de Deus, é acusado da desgraça de um temporal: «Sabiam que Jonas fugia da presença do Senhor» (Leit), e também das desgraças de todos os passageiros.

O amor a Deus e o amor ao próximo andam ligados: Se nos aproximamos de Deus, outros serão atraídos; se nos afastamos de Deus, outros serão prejudicados. Procuremos, portanto, fazer muitas vezes o papel de bom samaritano (Ev), indo ao encontro das necessidades do próximo que nos rodeia: familiares, amigos, etc.

 

3ª Feira, 9-X: Saber escolher a melhor parte.

Jon 3, 1-10 / Lc 10, 38-42

Uma só coisa é necessária! Maria escolheu, na verdade, a melhor parte, que não lhe será tirada.

Os ninivitas, perante a ameaça da destruição da sua cidade, devido ao seu mau comportamento, resolveram fazer penitência, cumprindo a vontade de Deus, e salvaram a cidade (Leit).

Recebendo o Senhor em sua casa, Marta andava muito atarefada e Maria faz companhia a Jesus, ouvindo o louvor do Mestre: Maria escolheu a melhor parte (Ev). Temos que saber escolher a melhor parte, mesmo que isso nos exija penitência (sacrifícios) para podermos estar mais perto de Deus.

 

 

 

 

 

 

Celebração e Homilia:          CELESTINO CORREIA FERREIRA

Nota Exegética:                     GERALDO MORUJÃO

Homilias Feriais:                   NUNO ROMÃO

Sugestão Musical:                 DUARTE NUNO ROCHA

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