Roteiro Homilético – V Domingo da Quaresma – Ano C

RITOS INICIAIS

 

Salmo 42, 1-2

ANTÍFONA DE ENTRADA: Fazei-me justiça, meu Deus, defendei a minha causa contra a gente sem piedade, livrai-me do homem desleal e perverso. Vós sois o meu refúgio.

 

Não se diz o Glória.

 

Introdução ao espírito da Celebração

 

Estamos reunidos com Jesus, que é a manifestação viva da misericórdia de Deus, de Deus que acolhe os pecadores e a todos quer salvar.

 

Como o filho pródigo saibamos voltar para o nosso Pai Deus, pelo arrependimento. É isso que a Santa Igreja nos convida a fazer, neste momento.

 

 

ORAÇÃO COLECTA: Senhor nosso Deus, concedei-nos a graça de viver com alegria o mesmo espírito de caridade que levou o vosso Filho a entregar-Se à morte pela salvação dos homens. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

 

LITURGIA DA PALAVRA

 

Primeira Leitura

 

Monição: O profeta Isaías anima os israelitas no desterro de Babilónia. O Senhor não os esqueceu e vai reconduzi-los de novo à sua terra. É um símbolo da conversão do coração, que Deus nos pede a todos nós, de modo especial neste tempo santo.

 

Isaías 43, 16-21

16O Senhor abriu outrora caminhos através do mar, veredas por entre as torrentes das águas. 17Pôs em campanha carros e cavalos, um exército de valentes guerreiros; e todos caíram para não mais se levantarem, extinguiram-se como um pavio que se apaga. 18Eis o que diz o Senhor: «Não vos lembreis mais dos acontecimentos passados, não presteis atenção às coisas antigas. 19Olhai: vou realizar uma coisa nova, que já começa a aparecer; não a vedes? Vou abrir um caminho no deserto, fazer brotar rios na terra árida. 20Os animais selvagens – chacais e avestruzes – proclamarão a minha glória, porque farei brotar água no deserto, rios na terra árida, para matar a sede ao meu povo escolhido, 21o povo que formei para Mim e que proclamará os meus louvores».

 

A leitura é tirada do II Isaías, que tem por centro o regresso dos judeus deportados na Babilónia, após a queda desta cidade em 539, com a invasão de Ciro, rei persa, que decretou a libertação dos judeus. Era urgente animar este povo a regressar, pois ao cabo de mais de 60 anos, já aclimatados àquela situação de degredo e escravidão, não estariam motivados para a aventura do regresso – haveria mesmo gente instalada numa situação sofrível. O Profeta apresenta o regresso de Babilónia como um novo Êxodo, em que os antigos prodígios não só se renovarão, mas os deixarão a perder de vista: «Não vos lembreis mais dos acontecimentos passados» (v. 18). Vale a pena tomar parte em tão maravilhosa aventura! É também um apelo válido para a conversão quaresmal, que a Igreja espera dos seus filhos.

 

Salmo Responsorial

Sl 125 (126), 1-6 (R. 3)

 

Monição: O salmo é todo ele um recordar do regresso do cativeiro. Fala-nos da alegria da conversão de cada um de nós.

 

Refrão:        GRANDES MARAVILHAS FEZ POR NÓS O SENHOR.

Ou:               O SENHOR FEZ MARAVILHAS EM FAVOR DO SEU POVO.

 

Quando o Senhor fez regressar os cativos de Sião,

parecia-nos viver um sonho.

Da nossa boca brotavam expressões de alegria

e de nossos lábios cânticos de júbilo.

 

Diziam então os pagãos:

«O Senhor fez por eles grandes coisas».

Sim, grandes coisas fez por nós o Senhor,

estamos exultantes de alegria.

 

Fazei regressar, Senhor, os nossos cativos,

como as torrentes do deserto.

Os que semeiam em lágrimas

recolhem com alegria.

 

À ida, vão a chorar,

levando as sementes;

à volta, vêm a cantar,

trazendo os molhos de espigas.

 

Segunda Leitura

 

Monição: S. Paulo ensina-nos o amor apaixonado a Jesus, desprezando todas as coisas por Seu amor.

 

Filipenses 3, 8-14

Irmãos: 8Considero todas as coisas como prejuízo, comparando-as com o bem supremo, que é conhecer Jesus Cristo, meu Senhor. Por Ele renunciei a todas as coisas e considerei tudo como lixo, para ganhar a Cristo 9e n’Ele me encontrar, não com a minha justiça que vem da Lei, mas com a que se recebe pela fé em Cristo, a justiça que vem de Deus e se funda na fé. 10Assim poderei conhecer Cristo, o poder da sua ressurreição e a participação nos seus sofrimentos, configurando-me à sua morte, 11para ver se posso chegar à ressurreição dos mortos. 12Não que eu tenha já chegado à meta, ou já tenha atingido a perfeição. Mas continuo a correr, para ver se a alcanço, uma vez que também fui alcançado por Cristo Jesus. 13Não penso, irmãos, que já o tenha conseguido. Só penso numa coisa: esquecendo o que fica para trás, lançar-me para a frente, 14continuar a correr para a meta, em vista do prémio a que Deus, lá do alto, me chama em Cristo Jesus.

 

O texto desta leitura constitui uma das mais belas jóias dos escritos paulinos. Há mesmo exegetas pensam que esta carta é um conjunto de dois ou três pequenos escritos de S. Paulo. O contexto da passagem é a parte polémica desta carta do cativeiro (3, 1b – 4, 1), em que o Apóstolo põe os seus fiéis de sobreaviso contra os cristãos judaizantes, que queriam impor aos cristãos vindos dos gentios as práticas da lei de judaica, nomeadamente a circuncisão, vendo nelas uma forma de alcançar a justiça, a conformidade com Deus e com a sua vontade de modo a ser-Lhe agradável e a alcançar a salvação. A reacção de Paulo é extremamente enérgica e dura; confidencia que também ele tinha posto a sua confiança na carne (v. 4), sendo «irrepreensível quanto à justiça que deriva da observância da Lei» (v. 6); mas tinha-se dado nele uma viragem completa: em face do valor absoluto, o bem supremo, que é conhecer Cristo, tudo tinha mudado: «tudo quanto para mim era um ganho, isso mesmo considerei uma perda» (v. 7).

8 «Conhecer Jesus Cristo» não é um mero conhecimento teórico, mas experimental, vivencial, de Cristo; por Ele, insiste o Apóstolo, eu deixei perder todas estas coisas: os pergaminhos judaicos – vv. 4-6 – em suma, a justiça que vem da Lei (v. 9); tudo isso é lixo, uma porcaria (v. 8: o termo grego – skybala – é mesmo muito duro, «excrementos»), em face da justiça que vem de Deus e da condição de estar em Cristo.

9 «A justiça que vem da Lei» não vai muito além da simples observância de prescrições, em que, de modo mais ou menos oculto, se aninha a afirmação do eu e das próprias capacidades para cumprir, e em que se reclama o mérito próprio perante Deus (como se o homem fosse o credor e Deus o devedor: lembre-se a parábola do fariseu e do publicano). «A justiça que vem de Deus» é um dom gratuito que eleva o ser humano, tirando-o da sua radical incapacidade para se identificar com o projecto salvador de Deus; funda-se na fé, isto é, no acolhimento e aceitação de Cristo como dom de Deus, nomeadamente do valor salvador do que Ele padeceu por nós.

10 «A participação nos seu sofrimentos» é um dos aspectos essenciais de quem faz a experiência da fé em Cristo (o referido conhecimento de Cristo); mas esta experiência de morte não desemboca no vazio, pois tem comoforça motriz (dynamis) a Ressurreição de Cristo, e tem como meta a participação neste mistério, que não deixa de aparecer também como prémio para quem corre para a meta (v. 14).

12 «Uma vez que também fui alcançado». Paulo recorre com frequência às imagens das competições desportivas (cf. 2, 16; 1 Cor 9, 24-27; Gal 2, 2; 2 Tim 4, 6-8) para falar da vida cristã como uma luta. Apanhado por Cristoa caminho de Damasco (cf. Act 9, 3 ss), não deixa de correr, apenas muda o sentido da sua corrida.

 

Aclamação ao Evangelho        

Jl 2, 12-13

 

Monição: Jesus está sempre pronto a perdoar, mesmo os pecados mais graves, mas anima-nos a sair deles.

Aclamemos a Sua palavra.

 

 

Convertei-vos a Mim de todo o coração, diz o Senhor;  porque sou benigno e misericordioso.

 

 

Evangelho

 

São João 8, 1-11

Naquele tempo, 1Jesus foi para o Monte das Oliveiras. 2Mas de manhã cedo, apareceu outra vez no templo e todo o povo se aproximou d’Ele. Então sentou-Se e começou a ensinar. 3Os escribas e os fariseus apresentaram a Jesus uma mulher surpreendida em adultério, colocaram-na no meio dos presentes 4e disseram a Jesus: «Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. 5Na Lei, Moisés mandou-nos apedrejar tais mulheres. Tu que dizes?». 6Falavam assim para Lhe armarem uma cilada e terem pretexto para O acusar. Mas Jesus inclinou-Se e começou a escrever com o dedo no chão. 7Como persistiam em interrogá-lo, ergueu-Se e disse-lhes: «Quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra». 8Inclinou-Se novamente e continuou a escrever no chão. 9Eles, porém, quando ouviram tais palavras, foram saindo um após outro, a começar pelos mais velhos, e ficou só Jesus e a mulher, que estava no meio. 10Jesus ergueu-Se e disse-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?». 11Ela respondeu: «Ninguém, Senhor». Disse então Jesus: «Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar».

 

Esta passagem de sabor lucano é omitida nos manuscritos mais antigos do IV Evangelho, por isso é uma das passagens deutrocanónicas do Novo Testamento; também há manuscritos que colocam este relato no final deste Evangelho, ou então em Lc 21, 38. De qualquer modo, está fora de dúvida o seu valor canónico.

5-6 «Tu que dizes?» Tratava-se duma cilada à pessoa de Jesus. Se Ele dissesse que se devia apedrejar a adúltera, os seus inimigos conseguiriam denegrir a sua misericórdia para com os pecadores, que chegava a ser motivo de duras críticas (cf. Lc 5, 30; 15, 2; 19, 7), e poderiam denunciá-lo à autoridade romana por mandar executar uma pena capital, que lhe estava reservada. Se dissesse que se lhe devia perdoar, podia vir a ser acusado ao Sinédrio como advogado da desobediência à Lei (cf. Lv 20, 10; Dt 17, 5-7; 22, 20-24). Mas Jesus põe a questão noutros termos: não se trata de escolher entre a observância da Lei e a misericórdia, entre a justiça e a caridade, mas sim entre a mentira e a verdade, entre a hipocrisia dos acusadores e a sinceridade de quem se reconhece pecador e chora o seu pecado. A Lei não determinava o género de morte, a não ser para a virgem que depois dos esponsais aguardava o início da vida conjugal (Dt 22, 23-24). Talvez se tivesse vindo a generalizar a lapidação, ou então tratava-se duma noiva após os esponsais e antes das bodas. Note-se que os rabinos da época cristã, por razão de benignidade, comutaram o apedrejamento pelo estrangulamento, pena menos selvagem.

6 «Começou a escrever com o dedo no chão». S. Jerónimo, baseado em Jer 17, 13, comenta curiosamente que se pôs a escrever os pecados dos acusadores.

7-9 «Atire a primeira pedra»: isto pertencia pela Lei (Dt 13, 10; 17, 7) à principal testemunha de acusação. Com esta sentença, Jesus pretende confundir a malícia de falso zelo pela Lei, da parte dos seus inimigos, hipocritamente arvorados em defensores duma Lei que não observavam. A sentença de Jesus transforma os acusadores em acusados; e o receio de virem a ser desmascarados por Cristo fá-los debandar.

11 «Nem Eu não te condeno. Vai e não tornes a pecar». O Senhor mostra-se tolerante e compassivo para com a pessoa que peca e ao mesmo tempo intransigente para com o pecado, ofensa a Deus, e, neste caso, um absoluto moral, que em nenhuma circunstância se poderia justificar.

 

Sugestões para a homilia

 

Vai e não tornes a pecar

Continuo a correr

Considerei tudo como lixo

1. Vai e não tornes a pecar

O evangelho de hoje continua a lembrar-nos a misericórdia de Jesus, sempre pronto a perdoar. Mesmo que alguém tivesse cometido os maiores crimes do mundo, tem ainda aberto o coração de Cristo, que nos lava no Seu sangue, que nos limpa de todo o pecado.

A nossa reconciliação com Deus passa pelo sacramento da reconciliação. Ao institui-lo, em dia de Páscoa, Jesus diz aos apóstolos: «àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados. Àqueles a quem os retiverdes serão retidos» (Jo 20, 23). Jesus concede-lhes esse poder e ensina que só neste sacramento dará o perdão. Por isso pensam erradamente os que afirmam que se confessam directamente a Deus. Ele, que é o ofendido, é que põe as condições e não quem O ofendeu, que somos nós.

Temos de estimar muito este sacramento maravilhoso. É o sacramento da alegria, que nos tira de cima das costas o peso dos nossos pecados. Robert de Niro, cineasta americano, numa das suas películas, relata a sua história de menino num dos bairros mais pobres de Nova Yorque, o Bronx. O pequeno personagem de nove anos tinha visto um assassinato mas não contou à polícia que o interrogara. Para tirar aquele peso das costas foi à igreja confessar-se. Juntamente com as suas traquinices referiu aquela situação sem revelar nomes. O sacerdote deu-lhe a absolvição e uns Pai-nossos de penitência. E o cineasta faz, em voz de fundo, este comentário: – que maravilha ser católico, porque, graças à confissão, podes partir sempre do zero.

Na confissão podemos sempre começar uma vida nova e ser nova criatura, de que falava S.Paulo.

Temos de animar os sacerdotes para este ministério tão importante, hoje que se vêem tão absorvidos por muitos trabalhos. João Paulo II, no seu livro Dom e mistério, por ocasião dos seus cinquenta anos de sacerdote, conta a sua visita a Ars, em França, quando era jovem sacerdote, em fins de 1947.Emocionou-se ao visitar a igreja onde o santo Cura d’Ars confessara: «S.João Maria Vianney impressiona – refere o papa – sobretudo porque nele se revela a força da graça que age na pobreza de meios humanos. Tocava-me profundamente, de modo particular, o seu heróico serviço no confessionário. Aquele humilde sacerdote, que confessava mais de dez horas por dia, alimentando-se pouco e dedicando ao descanso apenas umas horas, tinha conseguido num período histórico difícil, suscitar uma espécie de revolução espiritual em França e não só. Milhares de pessoas passavam por Ars e ajoelhavam-se no seu confessionário

…Do encontro com a sua figura nasceu-me a convicção de que o sacerdote realiza uma parte essencial da sua missão através do confessionário, através daquele fazer-se «prisioneiro do confessionário» (Dom e mistério(Lisboa 1996) p.66).

Na cena da mulher adúltera que escutámos, o Senhor perdoa-lhe mas lembra: Vai e não tornes a pecar. Um elemento próprio do arrependimento e uma das suas manifestações é o propósito de emenda. Embora saibamos que podemos voltar a cair estamos dispostos a lutar seriamente para evitar todo o pecado.

Temos de pedir ao Senhor a graça duma verdadeira contrição com o propósito decidido de evitar o pecado. Pode ser a forma de fazermos melhor a nossa confissão nesta Quaresma.

É importante a acusação dos pecados e a Igreja continua a chamar a atenção para os abusos das absolvições colectivas que vão aparecendo aqui e além.

Mas o mais importante dos actos do penitente é a contrição ou dor de amor. Ao menos a contrição imperfeita, arrepender-se pela fealdade do pecado, perda do paraíso ou temor do castigo do inferno.

2) Continuo a correr

O melhor sinal de arrependimento e propósito de emenda é o desejo sério de sermos santos, sem ficar nas meias tintas. Ouvíamos como S. Paulo exclamava: «Não que eu tenha já chegado à meta ou já tenha atingido a perfeição. Mas continuo a correr, para ver se a alcanço…Só penso numa coisa: esquecendo o que fica para trás lançar-me para a frente, continuar a correr para a meta «

O mal de muitos cristãos é ter medo de serem bons demais. Por vezes até criticam os que pretendem viver o cristianismo com todas as suas consequências. Chamam-lhes radicais, fundamentalistas, etc. Muitos santos foram incompreendidos e perseguidos por gente boa, por viverem a sério a sua vocação cristã.

Não nos assustemos. Animemo-nos a amar ao Senhor sempre mais, pois a medida para amar a Deus é amá-Lo sem medida

Foi assim que o Senhor nos amou. «Fui alcançado por Jesus Cristo» – dizia o Apóstolo. E noutro lugar exclamava: «Ele amou-me e entregou-se à morte por mim». A Igreja põe-nos nestes dias diante dos olhos a Paixão e Morte de Cristo. Olhemos para Jesus crucificado. É livro aberto que nos fala do amor sem limites que nos tem.

Neste tempo santo o Senhor bate à nossa porta, convidando-nos a lutar mais a valer pela santidade, a empregar os meios que põe à nossa disposição.

A Igreja convida-nos a viver melhor a Eucaristia, alimentando-nos do Corpo de Cristo. Mas não basta comungar. É preciso confessar-se também. A confissão frequente é a melhor forma de nos prepararmos para a comunhão. Quem recebe uma visita ilustre em sua casa procura prepará-la, vestir a melhor roupa. E Jesus que vem a nós pela comunhão é o Senhor do Céu e da terra. A Igreja insiste, neste tempo da Quaresma, na confissão e na comunhão.

Lembra-nos o nosso baptismo pelo qual morremos e ressuscitámos com Cristo, essa vida nova de filhos de Deus e convida-nos a deixar o velho fermento do pecado, para ser homens novos em Cristo.

3) Considerei tudo como lixo

S. Paulo ensina-nos a viver o radicalismo cristão, que é sinónimo desta luta pela santidade». Considerei tudo como lixo para ganhar a Cristo e nEle me encontrar». Este há-de levar-nos a crescer sempre mais na fé e no amor, vivido nas situações concretas do dia a dia, sem regatear nada ao Senhor.

«Estas crises mundiais são crises de santos» (JOSEMARIA ESCRIVA, Caminho 301). Um dos meios para alcançar a santidade é a confissão frequente. João Paulo II lembrou-o muitas vezes. Na Exort. Reconciliação e Penitência, que vale a pena voltar a ler, o Papa diz: «É necessário continuar a atribuir grande valor ao Sacramento da Penitência e educar os fiéis a recorrerem a ele, mesmo só para os pecados veniais, como atestam a tradição doutrinal e a prática já seculares» (nº 32)

E mais abaixo: «A celebração deste Sacramento torna-se para todos os cristãos «ocasião e estímulo a conformarem-se mais intimamente com Cristo e a tornarem-se mais dóceis à voz do Espírito». Sobretudo deve frisar-se bem o facto de a graça própria da celebração sacramental ter grande eficácia terapêutica e contribuir para arrancar as próprias raízes do pecado» (nº 32).

E aos sacerdotes lembrava: «Quero dirigir instante apelo a todos os sacerdotes do mundo, especialmente aos meus Irmãos no Episcopado e aos Párocos, para que favoreçam com toda a solicitude a frequência dos fiéis a este Sacramento, ponham em prática todos os meios possíveis e convenientes e tentem todos os meios para fazer chegar ao maior número de irmãos nossos a «graça que nos foi dada», mediante a Penitência, para a reconciliação de cada alma e de todo o mundo com Deus em Cristo» (nº 31).

O mesmo tem feito Bento XVI. Ao proclamar o Ano sacerdotal, nos 150 anos do Santo Cura d’Ars, quis pôr-nos diante dos olhos trabalho heróico deste humilde apóstolo do confessionário.

Vale a pena redescobrir a maravilha deste sacramento. Mesmo humanamente.

Os sacerdotes receberam este poder de Jesus no dia de Páscoa. É a prenda de Jesus ressuscitado à Sua Igreja. Por isso, a confissão é, dum modo especial, o sacramento da alegria.

Que Nossa Senhora, que viveu sem mancha de pecado, nos ensine a crescer no horror ao pecado e em amor ao sacramento que nos lava e nos dá forças para vencê-lo e que tanto nos ajuda no caminho da santidade.

 

Fala o Santo Padre

 

«O evangelho ajuda-nos a compreender que somente o amor de Deus

pode mudar a partir de dentro a existência do homem.»

 […] A Palavra de Deus que acabamos de ouvir, neste V Domingo de Quaresma, chamado também Domingo da Paixão, e que ressoa com eloquência singular no nosso coração durante este tempo quaresmal, recorda-nos que a nossa peregrinação terrena está repleta de dificuldades e de provações, como o caminho do povo eleito no deserto, antes de chegar à terra prometida. Mas a intervenção divina, assegura Isaías na primeira Leitura, pode facilitá-lo, transformando as estepes numa terra confortável e rica de águas (cf. 43, 19-20). Ao profeta faz eco o Salmo responsorial: enquanto evoca a alegria do regresso do exílio babilónico, invoca o Senhor para que intervenha a favor dos «prisioneiros» que, quando partem vão a chorar, mas quando regressam ficam cheios de júbilo porque Deus está presente e, como no passado, realizará também no futuro «grandes coisas por nós».

[…] No sulco daquilo que a liturgia nos propôs no domingo passado, a página evangélica deste dia ajuda-nos a compreender que somente o amor de Deus pode mudar a partir de dentro a existência do homem e, consequentemente, de toda a sociedade, porque só o seu amor infinito o liberta do pecado, que é a raiz de todo o mal. Se é verdade que Deus é justiça, não podemos esquecer que Ele é sobretudo amor: se odeia o pecado, é porque ama infinitamente cada pessoa humana. Ama cada um de nós, e a sua fidelidade é tão profunda que não se deixa desanimar nem sequer pela nossa rejeição. Em particular, hoje Jesus exorta-nos à conversão interior: explica-nos o motivo pelo qual nos perdoa e ensina-nos a fazer do perdão recebido e oferecido aos irmãos o «pão quotidiano» da nossa existência.

O trecho evangélico narra o episódio da mulher adúltera, em duas cenas sugestivas: na primeira, assistimos a uma disputa entre Jesus, os escribas e os fariseus, a propósito de uma mulher surpreendida em adultério flagrante e, segundo a prescrição contida no Livro do Levítico (cf. 20, 10), condenada à lapidação. Na segunda cena, descreve-se um breve e comovedor diálogo entre Jesus e a pecadora. Citando a lei de Moisés, os impiedosos acusadores da mulher provocam Jesus chamando-lhe «mestre» (Didáskale) e perguntam-lhe se é justo lapidá-la. Eles conhecem a sua misericórdia e o seu amor pelos pecadores, e estão curiosos de ver como reagirá num caso como este, que segundo a lei mosaica não deixava espaço a dúvidas. Todavia, Jesus coloca-se imediatamente a favor da mulher; em primeiro lugar, escrevendo no chão palavras misteriosas, que o evangelista não revela, mas fica impressionado, e depois pronunciando aquela frase que se tornou famosa: «Quem de vós estiver sem pecado (usa o termo anamártetos, que no Novo Testamento só é utilizado aqui), seja o primeiro a lançar-lhe uma pedra» (Jo 8, 7) e dê início à lapidação. Ao comentar o Evangelho de João, Santo Agostinho observa que, «respondendo, o Senhor respeita a lei e não abandona a sua mansidão». Depois, acrescenta que com estas suas palavras obriga os acusadores a entrarem em si mesmos e, reflectindo sobre si próprios, a descobrirem-se também eles pecadores. Por isso, «atingidos por estas palavras como por uma flecha tão grande como uma trave, um por um foram-se embora» (In Io. Ev. tract. 33, 5).

Portanto, um após outro, os acusadores que queriam provocar Jesus vão-se embora «a começar pelos mais velhos, até aos últimos». Quando todos se foram, o Mestre divino permanece a sós com a mulher. O comentário de Santo Agostinho é conciso e eficaz: «Relicti sunt duo: misera et misericordia, só permanecem as duas: a miserável e a misericórdia» (Ibidem). Dilectos irmãos e irmãs, detenhamo-nos a contemplar esta cena, em que se encontram confrontadas a miséria do homem e a misericórdia divina, uma mulher acusada de um grande pecado e Aquele que, embora fosse sem pecado, assumiu os nossos pecados, os pecados do mundo inteiro. Ele, que permaneceu inclinado a escrever no pó, agora eleva o seu olhar e encontra o da mulher. E não é irónico, quando lhe pergunta: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?» (Jo 8, 10). E responde-lhe de modo surpreendente: «Nem Eu te condeno. Vai, e doravante não tornes a pecar» (8, 11). No seu comentário, Santo Agostinho comenta ainda: «O Senhor condena o pecado, não o pecador. Com efeito, se tivesse tolerado o pecado, teria dito: Nem Eu te condeno. Vai, e vive como quiseres… por maiores que sejam os teus pecados, Eu libertar-te-ei de toda a pena e de todo o sofrimento. Todavia, Ele não disse isto» (In Io. Ev. tract. 33, 6). Mas disse: «Vai, e doravante não tornes a pecar».

Caros amigos, da palavra de Deus que ouvimos sobressaem indicações concretas para a nossa vida. Jesus não começa com os seus interlocutores um debate teórico sobre o trecho da lei de Moisés: não lhe interessa vencer uma disputa académica a propósito de uma interpretação da lei mosaica, mas a sua finalidade consiste em salvar uma alma e revelar que a salvação só se encontra no amor de Deus. Foi por isso que veio à terra, por isso há-de morrer na cruz e o Pai ressuscitá-lo-á no terceiro dia. Jesus veio para nos dizer que nos quer a todos no Paraíso, e que o inferno, do qual se fala pouco nesta nossa época, existe e é eterno para quantos fecham o coração ao seu amor. Portanto, também neste episódio compreendemos que o nosso verdadeiro inimigo é o apego ao pecado, que pode levar-nos ao fracasso da nossa existência. Jesus despede-se da mulher adúltera com esta exortação: Vai, e doravante não tornes a pecar». Concede-lhe o perdão, a fim de que «doravante» não volte a pecar. Num episódio análogo, o da pecadora arrependida, que encontramos no Evangelho de Lucas (cf. 7, 36-50), Ele recebe e manda em paz uma mulher que se arrependeu. Aqui, ao contrário, a mulher adúltera simplesmente recebe o perdão de maneira incondicionada. Em ambos os casos para a pecadora arrependida e para a mulher adúltera a mensagem é uma só. Num caso, sublinha-se o facto de que não há perdão sem arrependimento, sem desejo do perdão, sem abertura do coração ao perdão; aqui, põe-se em evidência o facto de que o perdão divino e o seu amor recebido com coração aberto e sincero nos incutem a força de resistir ao mal e de «não tornarmos a pecar», de nos deixarmos arrebatar pelo amor de Deus, que se torna a nossa força. A atitude de Jesus torna-se, deste modo, um modelo a seguir para cada comunidade, chamada a fazer do amor e do perdão o coração palpitante da sua vida.

Estimados irmãos e irmãs, no caminho quaresmal que estamos a percorrer e que se aproxima rapidamente da sua conclusão, sejamos acompanhados pela certeza de que Deus nunca nos abandona, e que o seu amor é nascente de alegria e de paz; é força que nos impele poderosamente ao longo do caminho da santidade. […]

 

Papa Bento XVI, Paróquia de Sta. Felicidade e Filhos Mártires, Domingo, 25 de Março de 2007

 

LITURGIA EUCARÍSTICA

 

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS: Ouvi-nos, Senhor Deus omnipotente, e, pela virtude deste sacrifício, purificai os vossos servos que iluminastes com os ensinamentos da fé. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

SANTO

 

Monição da Comunhão

 

Como o centurião do Evangelho, avivemos a consciência da nossa indignidade e também o desejo de preparar bem a nossa alma para O receber.

 

Jo 8, 10-11

ANTÍFONA DA COMUNHÃO: Mulher, ninguém te condenou? Ninguém, Senhor. Nem Eu te condeno. Vai em paz e não tornes a pecar.

 

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO: Deus omnipotente, concedei-nos a graça de sermos sempre contados entre os membros de Cristo, nós que comungámos o seu Corpo e Sangue. Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

 

RITOS FINAIS

 

Monição final

 

Vamos partir jubilosos por termos estado com Jesus e com o desejo de O amarmos sem nada regatear, como Ele nos amou e levar-Lhe também os nossos amigos.

 

 

 

Celebração e Homilia:         CELESTINO C. FERREIRA

Nota Exegética:                    GERALDO MORUJÃO

Homilias Feriais:                  NUNO ROMÃO

Sugestão Musical:                DUARTE NUNO ROCHA

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