Roteiro Homilético – IV Domingo do Advento (Ano A)

RITOS INICIAIS

Is 45, 8

Antífona de entrada: Desça o orvalho do alto dos Céus e as nuvens chovam o Justo. Abra-se a terra e germine o Salvador.

Não se diz o Glória.

Introdução ao espírito da Celebração

O Natal está à porta. Dentro de algumas horas vamos ouvir a Boa Nova trazida pelo anjo do Senhor: anuncio-vos uma grande alegria que será para todo o povo – nasceu o Salvador (Lc 2,10). Intensifica-se a preparação para essa festa, preparação feita de conversão, de fidelidade ao Senhor.

Preparar o Natal é purificar as nossas alianças, é romper com os falsos Deuses que nos solicitam, é abrirmo-nos ao Deus de Jesus Cristo que nos trouxe a Salvação.

A quem estamos nós ligados? Onde está o nosso tesouro e portanto o nosso coração?

Oração colecta: Infundi, Senhor, a vossa graça em nossas almas, para que nós, que pela anunciação do Anjo conhecemos a encarnação de Cristo vosso Filho, pela sua paixão e morte na cruz alcancemos a glória da ressurreição. Por Nosso Senhor…

Liturgia da Palavra

Primeira Leitura

Monição: A Virgem conceberá e dará à luz um filho. Esta profecia realizou-se em Maria. A Igreja sempre professou a Virgindade real e perpétua de Maria. O nascimento de Cristo não diminuiu, antes consagrou a Virgindade da sua Mãe (LG 57).

Isaías 7, 10-14

Naqueles dias, 10o Senhor mandou ao rei Acaz a seguinte mensagem: 11«Pede um sinal ao Senhor teu Deus, quer nas profundezas do abismo, quer lá em cima nas alturas». 12Acaz respondeu: «Não pedirei, não porei o Senhor à prova». Então Isaías disse: 13«Escutai, casa de David: Não vos basta que andeis a molestar os homens para quererdes também molestar o meu Deus? 14Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: a virgem conceberá e dará à luz um filho e o seu nome será Emanuel».

O contexto histórico deste oráculo isaiano é o da conjura dos reis de Israel e de Damasco para destronarem Acaz, o rei de Judá.

10-12 Como prova de que o rei Acaz não virá a ser destronado e substituído pelo filho de Tabel, estranho à linhagem davídica, o profeta Isaías propõe ao rei que peça um sinal divino, o mais extraordinário que seja (cf. v. 11). O rei, com hipócrita religiosidade, nega-se a pedir esse sinal, porque não acredita em sinais, em coisas sobrenaturais. Foi por esta ocasião – o que não quer dizer exactamente no mesmo momento – que o Profeta, dirigindo-se à linhagem (casa) de David, anunciou que o Senhor dará um sinal verdadeiramente extraordinário e que o trono de David se consolidará eternamente (cf. 1 Sam 7, 16).

14 Esse «sinal» é «a virgem que concebe». Muito se tem discutido e escrito sobre este sinal. Uma coisa é certa, é que o crente não pode prescindir de algum sentido messiânico (directo ou indirecto) desta célebre passagem isaiana. De facto, a própria exegese bíblica mostra que estamos no chamado «Livro do Imanuel» (Is 7 – 12), uma secção de carácter vincadamente messiânico por apontar para um descendente de David em quem se concentram as promessas da salvação de Deus, o Imanuel (o Deus connosco); embora, em primeiro plano, possa ser visado o próprio filho do rei Acaz, Ezequias, ele é considerado uma figura ou tipo do Messias. A tradução grega dos LXX (inspirada por Deus?) utilizou um termo específico para designar a virgindade desta mãe, chamando-a parthénos, quando o termo hebraico original não designa mais que a sua idade juvenil: ‘almáh. A célebre tradução grega em que se apoiavam os primeiros apologistas cristãos para demonstrarem aos judeus que Jesus é o Messias prometido, veio a ser rejeitada pelos judeus, que a substituíram por outras versões (ou antes adaptações gregas: Áquila, Símaco e Teodocião) e o dia festivo para comemorar a tradução dos LXX passou a ser um dia de luto. A interpretação mais tradicional defende o sentido literal (não se contentando com o sentido chamado típico ou pleno, suficientes para se garantir o sentido messiânico da passagem) e faz finca-pé em que Deus tinha oferecido pelo Profeta um sinal prodigioso, e eis que o dá; ora esse sinal só é prodigioso se a concepção e o nascimento do Menino acontece sem destruir a virgindade da Mãe; aliás é ela a pôr o nome ao filho, coisa que pertence sempre ao pai (que aqui não aparece). O próprio nome do filho insinua a sua divindade, «Deus connosco»: é a mesma personagem extraordinária anunciado em Is 9, 5-6: «Deus forte, príncipe da paz…». Mt 1, 23 (o Evangelho de hoje) e toda a tradição cristã e o próprio magistério da Igreja levam a ver nesta passagem uma referência «ao parto virginal da Mãe de Deus e ao verdadeiro Emanuel, Cristo Senhor» (Pio VI). Não é, porém, agora aqui o lugar para entrar em mais discussões exegéticas de pormenor.

Salmo Responsorial Salmo 23 (24), 1-2.3-4ab.5-6 (R. 7c e 10b)

Monição: Neste salmo celebramos já o Messias cujo nascimento vamos comemorar. Para celebrar o Natal precisamos de ter um coração puro e mãos inocentes.

Refrão: Venha o Senhor: é Ele o rei glorioso.

 

Ou: O Senhor virá: Ele é o rei da glória.

Do Senhor é a terra e o que nela existe,

o mundo e quantos nele habitam.

Ele a fundou sobre os mares

e a consolidou sobre as águas.

Quem poderá subir à montanha do Senhor?

Quem habitará no seu santuário?

O que tem as mãos inocentes e o coração puro,

que não invocou o seu nome em vão nem jurou falso.

Este será abençoado pelo Senhor

e recompensado por Deus, seu Salvador.

Esta é a geração dos que O procuram,

que procuram a face do Deus de Jacob.

Segunda Leitura

Monição: S. Paulo, ao apresentar Jesus Cristo e a sua obra, sintetiza o plano salvador de Deus. Afirma que Jesus, Filho de Deus, tinha sido «prometido pelos profetas nas sagradas Escrituras».

Romanos 1, 1-7

1Paulo, servo de Jesus Cristo, apóstolo por chamamento divino, escolhido para o Evangelho 2que Deus tinha de antemão prometido pelos profetas nas Sagradas Escrituras,3acerca de seu Filho, nascido da descendência de David, segundo a carne, 4mas, pelo Espírito que santifica, constituído Filho de Deus em todo o seu poder pela sua ressurreição de entre os mortos: Ele é Jesus Cristo, Nosso Senhor. 5Por Ele recebemos a graça e a missão de apóstolo, a fim de levarmos todos os gentios a obedecerem à fé, para honra do seu nome, 6dos quais fazeis parte também vós, chamados por Jesus Cristo. 7A todos os que habitam em Roma, amados por Deus e chamados a serem santos, a graça e a paz de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo.

A leitura corresponde à saudação inicial da Carta aos Romanos, em que Paulo se apresenta aos cristãos residentes em Roma a quem pretende visitar (cf. vv. 10-15). Apresenta-se na sua qualidade de «Apóstolo por chamamento divino, escolhido» por Deus para pregar aos gentios o Evangelho de Jesus Cristo, deixando claro desde o início (v. 4) a natureza humana do Filho de Deus, «da descendência de David segundo a carne (katà sárka)» e a sua natureza divina, «constituído Filho de Deus em todo o seu poder pela sua ressurreição». Convém ter presente que não foi a ressurreição que O tornou Filho de Deus, mas foi esta que lhe garantiu o pleno exercício de «todo o seu poder» que lhe compete como Filho de Deus e que manifestou o que Ele é, Filho de Deus «segundo o Espírito (katà pneûma) de santificação», isto é, «quanto ao seu ser animado pelo Espírito da santidade divina», uma forma de aludir à sua condição divina (e não ao Espírito Santo, a Terceira Pessoa Trinitária), como fica claro pela contraposição: «segundo a carne» (katà sárka) – «segundo o Espírito» (katà pneûma). Ainda que se possa ver nestas formulações da fé o reflexo de uma cristologia primitiva, dita «baixa», e ainda não suficientemente desenvolvida, mais existencial do que essencial, a verdade é que os títulos com que Jesus Cristo é aqui designado – «Filho» e «Senhor» – são suficientemente expressivos da fé na natureza divina de Jesus possuída antes da ressurreição (cf. Rom 8, 3; Gal 4, 4-5; Filp 2, 6; Col 1, 15).

Aclamação ao Evangelho

Mt 1, 23

Monição: O Evangelho conduz-nos de novo a Maria, ás circunstâncias que ela viveu nos dias que precederam o nascimento do Senhor. Saudemos Aquele que ela trouxe no seu seio.

Aleluia

A Virgem conceberá e dará à luz um Filho, que será chamado Emanuel, Deus connosco.

Evangelho

São Mateus 1, 18-24

18O nascimento de Jesus deu-se do seguinte modo: Maria, sua Mãe, noiva de José, antes de terem vivido em comum, encontrara-se grávida por virtude do Espírito Santo. 19Mas José, seu esposo, que era justo e não queria difamá-la, resolveu repudiá-la em segredo. 20Tinha ele assim pensado, quando lhe apareceu num sonho o Anjo do Senhor, que lhe disse: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que nela se gerou é fruto do Espírito Santo. 21Ela dará à luz um Filho e tu pôr-Lhe-ás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados». 22Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor anunciara por meio do Profeta, que diz: 23«A Virgem conceberá e dará à luz um Filho, que será chamado ‘Emanuel’, que quer dizer ‘Deus connosco’». 24Quando despertou do sono, José fez como o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu sua esposa.

S. Mateus centra o seu relato do nascimento de Jesus na figura de S. José (S. Lucas na de Maria), com uma clara intencionalidade teológica de apresentar Jesus como o Messias, anunciado como descendente de David. Isto é posto em evidência logo de início: «Genealogia de Jesus Cristo (=Messias), Filho de David» (v. 1). Como a linha genealógica passava pelo marido, é a de José que é apresentada. Os elos são seleccionados para que apareçam três séries de 14 nomes, obedecendo a uma técnica rabínica, chamada gematriáh, ou recurso ao valor alfabético dos números; assim o número 14, reforçado pela sua tripla repetição – «catorze gerações» – (no v. 17),sugere o nome de David, que em hebraico se escreve com três consoantes (em hebraico não se escrevem as vogais) que dão o número catorze ([D=4]+[V=6]+[D=4]=14). A concepção virginal antes de ser explicada e justificada pelo cumprimento das Escrituras (vv. 18-25), é logo anunciada na genealogia, que precede imediatamente a leitura de hoje, pois para todos os seus elos se diz «gerou», quando para o último elo não se diz que «gerou», mas: «José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus» (v. 16, à letra «da qual foi gerado – entenda-se, por Deus – Jesus»).

18 «Antes de terem vivido em comum»: Maria e José já tinham celebrado os esponsais (erusim), que tinham valor jurídico de um matrimónio, mas ainda não tinham feito as bodas solenes (nissuim ou liqquhim), em que o noivo trazia festivamente a noiva para sua casa, o que costumava ser cerca de um ano depois.

«Encontrava-se grávida por virtude do Espírito Santo»: isto conta-se em pormenor no Evangelho de S. Lucas (1, 26-38), lido na festa da Imaculada Conceição (ver comentário então feito). Ao dizer-se «por virtude do Espírito Santo», não se quer dizer que o Espírito Santo desempenhou o papel de pai, pois Ele é puro espírito. Também isto nada tem que ver com os relatos mitológicos dos semideuses, filhos dum deus e duma mulher. Além do mais, é evidente o carácter semítico e o substrato judaico e vétero-testamentário das narrativas da infância de Jesus em Mateus e Lucas; ora, nas línguas semíticas a palavra «espírito» (rúah) não é masculina, mas sim feminina. Isto chegava para fazer afastar toda a suspeita de dependência do relato relativamente aos mitos pagãos. Por outro lado, na Sagrada Escritura, Deus nunca intervém na geração à maneira humana, pois é espiritual e transcendente: Deus não gera criaturas, Deus cria-as. As narrativas de Mateus e Lucas têm tal originalidade que excluem qualquer dependência dos mitos.

19 «Mas José, seu esposo…». Partindo do facto real e indiscutível da concepção virginal de Jesus, aqui apresentamos uma das muitas explicações dadas para o que se passou. A verdade é que não dispomos da crónica dos factos, pois a intenção do Evangelista era primordialmente teológica, embora sem inventar histórias, pois em face dos dados das suas fontes nem sequer disso precisava. Do texto parece depreender-se que Maria nada tinha revelado a José do mistério que nela se passava. José vem a saber da gravidez de Maria por si mesmo ou pelas felicitações do paraninfo (o «amigo do esposo»), e o que devia ser para José uma grande alegria tornou-se o mais cruel tormento. Em circunstâncias idênticas, qualquer outro homem teria actuado drasticamente, denunciando a noiva ao tribunal como adúltera. Mas José era um santo, «justo», por isso, não condenava ninguém sem ter as provas evidentes da culpa. E aqui não as tinha e, conhecendo a santidade singular de Maria, não admite a mais leve suspeita, mas pressente que está perante o sobrenatural, já sentido por Isabel… (ou não teria tido alguma iluminação divina acerca da profecia de Isaías 7, 14). Então só lhe restava deixar Maria, para não se intrometer num mistério em que julga não lhe competir ter parte alguma. É assim que «resolveu repudiá-la em segredo», evitando, assim, «difamá-la» (colocá-la numa situação infamante) ou simplesmente «tornar público» («deigmatísai») o mistério messiânico. Mas podemos perguntar: porque não interrogava antes Maria para ser ela esclarecer o assunto? É que pedir uma explicação já seria mostrar dúvida, ofendendo Maria; a sua delicadeza extrema levá-lo-ia a não a humilhar ou deixar embaraçada. E porque razão é que Maria não falou, se José tinha direito de saber do sucedido? Mas como é que Maria podia falar de coisas tão colossalmente extraordinárias e inauditas?! Como podia provar a José a Anunciação do Anjo? Maria calava, sofria e punha nas mãos de Deus a sua honra e as angústias por que José iria passar por sua causa; e Deus, que tinha revelado já a Isabel o mistério da sua concepção, podia igualmente vir a revelá-lo a José. De tudo isto fica para nós o exemplo de Maria e de José: não admitir suspeitas temerárias e confiar sempre em Deus.

20 «Não temas receber Maria, tua esposa». O Anjo não diz: «não desconfies», mas: «não temas». Segundo a explicação anterior, José deveria andar amedrontado com algo de divino e misterioso que pressentia: julga-se indigno de Maria e decide não se imiscuir num mistério que o transcende. Como explica S. Bernardo, S. José «foi tomado dum assombro sagrado perante a novidade de tão grande milagre, perante a proximidade de tão grande mistério, que a quis deixar ocultamente… José tinha-se, por indigno…». Segundo alguns exegetas modernos (Zerwick), o texto sagrado poderia mesmo traduzir-se: «embora o que nela foi gerado seja do Espírito Santo, Ela dar(-te-)á à luz um filho ao qual porás o nome de Jesus, exercendo assim para Ele a missão de pai». Assim, o Anjo não só elucida José, como também lhe diz que ele tem uma missão a cumprir no mistério da Incarnação, a missão e a dignidade de pai do Salvador. Comenta Santo Agostinho: «A José não só se lhe deve o nome de pai, mas este é-lhe devido mais do que a qualquer outro. Como era pai? Tanto mais profundamente pai, quanto mais casta foi a sua paternidade… O Senhor não nasceu do germe de José. Mas à piedade e amor de José nasceu um filho da Virgem Maria, que era Filho de Deus».

23 «Será chamado Emanuel». No original hebraico de Isaías 7, 14, temos o verbo no singular (forma aramaica para a 3ª pessoa do singular feminino: weqara’t referido a virgem, que é a que põe o nome = «e ela chamará»). Mateus, porém, usa o plural, que não aparece na tradução litúrgica, (kai kalésousin: «e chamarão»), um plural de generalização, a fim de que o texto possa ser aplicado a S. José, para pôr em evidência a missão de S. José, como pai «legal» de Jesus (notar que a célebre profecia isaiana, ao dizer que seria a virgem a pôr o nome ao seu filho até parece prestar-se a significar que este não nasceria de germe paterno). Mateus, em face do papel providencial desempenhado por S. José, não receia adaptar o texto à realidade maravilhosa muito mais rica do que a letra do anúncio profético. Contudo, esta técnica do Evangelista para «actualizar» um texto antigo (chamada deraxe) não é arbitrária, pois baseia-se na regra hermenêutica rabínica chamada al-tiqrey («não leias»), a qual consiste em não ler um texto consonântico com umas vogais, mas com outras (o hebraico escrevia-se sem vogais). Neste caso, trata-se de «não ler» as consoantes do verbo (wqrt) com as vogais que correspondem à forma feminina (tanto da 3ª pessoa do singular na forma aramaica, como da 2ª pessoa do singular da tradução dos LXX:weqara’t «e tu chamarás»), mas de ler com as vogais que correspondem à 2ª pessoa do singular masculino (weqara’ta «e tu chamarás» – em hebraico há diferentes formas masculina e feminina para as 2ª e 3ª pessoas dos verbos). Como pensa Alexandre Díez Macho, «com este deraxe oculto, mas real, Mateus confirma as palavras do anjo do Senhor no v. 21: «e (tu, José) o chamarás».

Eis, a propósito, o maravilhoso comentário de S. João Crisóstomo, apresentando Deus a falar a José: «Não penses que, por ser a concepção de Cristo obra do Espírito Santo, tu és alheio ao serviço desta divina economia; porque, se é certo que não tens nenhuma parte na geração e a Virgem permanece intacta, não obstante, tudo o que pertence ao ofício de pai, sem atentar contra a dignidade da virgindade, tudo to entrego a ti, o pôr o nome ao filho. (…) Tu lhe farás as vezes de pai, por isso, começando pela imposição do nome, Eu te uno intimamente com Aquele que vai nascer» (Homil. in Mt, 4).

25 «E não a tinha conhecido…». S. Mateus pretende realçar que Jesus nasceu sem prévias relações conjugais, mas por um milagre de Deus. Quanto à posterior virgindade o Evangelista não só não a nega, como até a parece insinuar no original grego, ao usar o imperfeito de duração («não a conhecia») em vez do chamado aoristo complexivo como seria de esperar, caso quisesse abranger apenas o tempo até ao parto (Zerwick). Uma tradução mais à letra seria «até que Ela deu à luz», em vez de: «quando Ela deu à luz». De qualquer modo, esta afirmação não significa que depois já não se verificasse o que até este momento acontecera, como é o caso de Jo 9, 18.

Sugestões para a homilia

Isaías revela o mistério da Incarnação

Domingo de Maria

Preparar o Belém no nosso coração

Isaías revela o mistério da Incarnação

São deveras notáveis as palavras do profeta Isaías a Acab quando lhe foi falar da parte de Deus. Para o tirar da sua incredibilidade diz-lhe: Pede o sinal que quiseres. Este recusa-se a pedir tal, alegando o pretexto de não tentar a Deus, para não se ver obrigado a deixar a sua impiedade. Isaías lança-lhe à cara a sua cobardia: Assim mostras não ter fé, não saber que Deus é todo poderoso e pode livrar-te do perigo.

Também nós adoptamos ás vezes essa atitude tão absurda para um crente: Tituviar, temer, oscilar. Atitudes destas não se compreendem em quem se sabe filho de Deus Pai que nos ama infinitamente. Os sinais visíveis da sua misericórdia e o milagre da nossa conversão não nos faltarão sempre que, arrependidos, ouvimos a sua palavra e, contritos, observamos os seus mandamentos.

É curioso que foi precisamente este o momento escolhido por Deus para revelar a Incarnação, mistério central da nossa fé. Infelizmente vivemos num tempo caracterizado pela rejeição da Incarnação. É como se Jesus já não encontrasse lugar num mundo cada vez mais secularizado, lamenta o Papa. Cristo é relegado para um passado remoto ou para um céu longínquo.

Quando se nega Cristo desaparece o sentido e o valor da vida; a esperança dá lugar ao desespero e a alegria à depressão. Não se ama correctamente o corpo nem a sexualidade humana, nem sequer se valoriza a natureza, a própria criação.

É preciso pôr Deus no seu lugar, repetia há anos Pai Américo, no Coliseu do Porto, cheio de espectadores que assistiam à festa dos seus gaiatos, apontando o remédio para que a justiça e a paz seja uma presença viva no seio da humanidade. Hoje repetiria o mesmo repto, mas em tom maior do que então.

Domingo de Maria

O Advento é tempo de espera do salvador–que os profetas anunciaram e a Virgem Mãe esperou com inefável amor (2.º prefácio do Advento).

O Evangelho que acabámos de ouvir refere a concepção de Maria, Mãe de Jesus, aceitação por José e o nascimento do Salvador. Desde toda a eternidade, Deus escolheu, para ser a Mãe do seu Filho uma filha de Israel, uma jovem judia de Nazaré, Virgem que era noiva de um homem da casa de David (CIC n.º 488).

Todo o Advento está referido a Maria. No seu seio o Espírito Santo formou a carne do Redentor, tornando assim possível que o Verbo nela encarnasse e assim pudesse realizar a salvação mediante a sua morte e ressurreição. Só Maria conhece o segredo da Vida que se esconde no seu seio. Como tantas mães, ela esperou com alegria o momento de dar à luz o filho que Deus Pai havia formado no seu ventre. Só Maria é a mulher que traz nas suas entranhas o Salvador.

O centro da história é Cristo como vamos professar no próximo dia de Natal. Mas quando se quer contemplar o Sol, a Aurora é o presságio gozoso do desfrute da luz, o Salvador. Por isso hoje, prestes a dar à luz o Messias esperado, Maria e Belém enchem a nossa contemplação. O Natal aproxima-se.

Preparar Belém no nosso coração

Deus connosco. Quem não se sente como que mais perto de Deus nestes dias? Quem não se encontra mais aligeirado de preocupações, com uma verdadeira paz? Quem não experimenta uma grande alegria?

Temos que nos dispor a acolher o Salvador, limpar o coração. Estes dias dão-nos a oportunidade de nos aproximarmos do sacramento da alegria, a confissão.

Havemos de partilhar a nossa alegria com os mais pobres, os doentes, os abandonados. Estamos alegres porque temos Jesus no Sacrário, porque Deus está ao nosso alcance na oração, porque temos por mãe, a Mãe do Senhor. Vamos repartir com os outros qualquer coisa do que temos. Quando mais não seja, mais amizade, mais perdão, mais alegria. Assim, sim, será Natal.

Fala o Santo Padre

«O Natal é ocasião para saborear a alegria de nos doarmos aos irmãos.»

1. A festa do Natal, talvez a mais querida à tradição popular, é extremamente rica de símbolos, ligados às diferentes culturas. Entre todos, o mais importante é, sem dúvida, o presépio.

2. Ao lado do presépio, como nesta Praça de São Pedro, encontramos a tradicional «árvore de Natal». Também esta é uma antiga tradição, que exalta o valor da vida porque na estação invernal, a árvore sempre verde se torna um sinal da vida que não perece. Geralmente, na árvore adornada e aos pés da mesma são colocados os dons de Natal. Assim, o símbolo torna-se eloquente também em sentido tipicamente cristão: evoca à mente a «árvore da vida» (cf. Gn 2, 9), figura de Cristo, supremo dom de Deus à humanidade.

3. Por conseguinte, a mensagem da árvore de Natal é que a vida permanece «sempre verde», se se torna dom: não tanto de coisas materiais, mas de si mesmo: na amizade e no carinho sincero, na ajuda fraterna e no perdão, no tempo compartilhado e na escuta recíproca.

Que Maria nos ajude a viver o Natal como uma ocasião para saborear a alegria de nos doarmos a nós mesmos aos irmãos, especialmente aos mais necessitados.

João Paulo II, Angelus, 19 de Dezembro de 2004

Liturgia Eucarística

Oração sobre as oblatas: Aceitai, Senhor, os dons que trazemos ao vosso altar e santificai-os com o mesmo Espírito que, pelo poder da sua graça, fecundou o seio da Virgem Santa Maria. Por Nosso Senhor….

Prefácio do Advento II: p. 455 [588-700]

Santo: «Da Missa de festa», Az. Oliveira, NRMS 50-51

Monição da Comunhão Pelo sim de Maria Deus fez-Se nossa luz, nossa vida, nosso alimento. Peçamos-lhe que reparta connosco as suas disposições para menos indignadamente comungarmos a Jesus que está ansioso de descer ao nosso coração, o autêntico presépio que Ele procura.

Antífona da comunhão: A Virgem conceberá e dará à luz um filho. O seu nome será Emanuel, Deus-connosco.

Oração depois da comunhão: Tendo recebido neste sacramento o penhor da redenção eterna, nós Vos pedimos, Senhor: quanto mais se aproxima a festa da nossa salvação, tanto mais cresça em nós o fervor para celebrarmos dignamente o mistério do Natal do vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Ritos Finais

Monição final: Maria é nosso perfeito modelo da expectação do Salvador de espírito humilde e puro. É a arca viva da Aliança que traz Jesus. A Salvação chega até nós pela carne de Maria, pela fé de Maria.

Homilia Ferial

4ª SEMANA

2ª feira, 24-XII:A identificação com Cristo.

Sam 7, 1-5. 8-12 / Lc 1, 67-79

Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e libertou o seu povo e nos fez surgir poderosa salvação na família do seu servo David.

O profeta Natã comunica a David que a sua casa e a sua realeza permanecerão para sempre (cf. Leit). E o mesmo faz Zacarias, recordando o juramento feito por Deus a Abraão (cf. Ev).

Deus tinha prometido a Abraão uma descendência, em que o próprio Filho assumiria a imagem e restauraria a semelhança com o Pai (cf. CIC, 705). Os sacramentos, a vida de oração e a leitura do Evangelho vão imprimindo em nós, cada vez mais intensamente a imagem de Cristo.

Celebração e Homilia: Armando Barreto Marques

Nota Exegética: Geraldo Morujão

Homilia Ferial: Nuno Romão

Sugestão Musical: Duarte Nuno Rocha

Fonte: Celebração  Litúrgica

Facebook
Twitter
LinkedIn

Biblioteca Presbíteros