Roteiro Homilético – IV Domingo da Quaresma – Ano A

RITOS INICIAIS

Is 66, 10-11

ANTÍFONA DE ENTRADA: Alegra-te, Jerusalém; rejubilai, todos os seus amigos. Exultai de alegria, todos vós que participastes no seu luto e podereis beber e saciar-vos na abundância das suas consolações.

Não se diz o Glória.

Introdução ao espírito da Celebração

A Liturgia propõe-nos, durante a Quaresma, uma verdadeira renovação doutrinal, como preparação para a Páscoa da Ressurreição do Senhor. Em cada Domingo é-nos dado um tema, para que o aprofundemos, no estudo e na oração.

Neste 4º Domingo da Quaresma, chamado liturgicamente o Domingo da alegria, a Liturgia da Palavra convida-nos a uma reflexão profunda sobre a fé.

Não existe incompatibilidade entre uma Quaresma bem vivida e a virtude da alegria, e o melhor caminho para uma alegria crescente é o aprofundamento da virtude da fé.

Acto penitencial

Iluminados pelo Espírito Santo, entremos no interior sagrado da nossa consciência, para descobrirmos tudo o que em nossa vida tem desagradado ao Senhor. Prestemos especial atenção aos pecados que se relacionam com a virtude da fé.

Reconheçamos os nossos pecados e infidelidades, peçamos perdão e prometamos, com a ajuda do Senhor, emenda de vida.

(Tempo de silêncio. Apresentamos, como alternativa, elementos para o esquema C)

•   Senhor: temos sido, por vezes, muito descuidados e preguiçosos

em aprofundar e viver as verdades da fé que a Igreja nos ensina.

Senhor, tende piedade de nós!

Senhor, tende piedade de nós!

•   Cristo: falta-nos coerência de vida entre a fé que professamos

e a vida de família, de trabalho, de actuação social e convivência.

Cristo, tende piedade de nós!

Cristo, tende piedade de nós!

•   Senhor: temos escondido, por vezes, a luz da fé recebida no Baptismo,

em vez de darmos corajoso testemunho dela diante das outras pessoas.

Senhor, tende piedade de nós!

Senhor, tende piedade de nós!

Deus todo poderoso tenha compaixão de nós,

perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna.

ORAÇÃO COLECTA: Deus de misericórdia, que, pelo vosso Filho, realizais admiravelmente a reconciliação do género humano, concedei ao povo cristão fé viva e espírito generoso, a fim de caminhar alegremente para as próximas solenidades pascais. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

LITURGIA DA PALAVRA

Primeira Leitura

Monição: O profeta Samuel é secretamente enviado por Deus a Belém, a casa de Jessé, para escolher um rei, em substituição de Saúl. Deixa-se impressionar pelo aspecto físico dos irmãos de David, mas o Senhor observa-lhe: «Deus no vê como o homem; o homem olha às aparências, o Senhor vê o coração

1 Samuel 16, 1b.6-7.10-13ª

1bNaqueles dias, o Senhor disse a Samuel: «Enche o corno de óleo e parte. Vou enviar-te a Jessé de Belém, pois escolhi um rei entre os seus filhos». 6Quando chegou, Samuel viu Eliab e pensou consigo: «Certamente é este o ungido do Senhor». 7Mas o Senhor disse a Samuel: «Não te impressiones com o seu belo aspecto, nem com a sua elevada estatura, pois não foi esse que Eu escolhi. Deus não vê como o homem; o homem olha às aparências, o Senhor vê o coração». 10Jessé fez passar os sete filhos diante de Samuel, mas Samuel declarou-lhe: «O Senhor não escolheu nenhum destes». 11E perguntou a Jessé: «Estão aqui todos os teus filhos?» Jessérespondeu-lhe: «Falta ainda o mais novo, que anda a guardar o rebanho». Samuel ordenou: «Manda-o chamar, porque não nos sentaremos à mesa, enquanto ele não chegar». 12Então Jessé mandou-o chamar: era loiro, de belos olhos e agradável presença. O Senhor disse a Samuel: «Levanta-te e unge-o, porque é este mesmo». 13Samuel pegou no corno do óleo e ungiu-o no meio dos irmãos. Daquele dia em diante, o Espírito do Senhorapoderou-Se de David.

 

A leitura é tirada do início da última parte do 1º livro de Samuel, que deixa ver o progressivo declínio do rei Saúl até à sua morte. A ascensão de David ao trono de Israel não aparece apenas como obra do seu génio e sagacidade, mas como uma providência divina com a intervenção de Samuel.

1 «Jessé», grafia usada na Vulgata para o pai de David, chamado Isaí, no texto hebraico (nos LXX, Iesai).

6-7 Tanto o profeta Samuel como Isaí estavam de acordo em sagrar rei o primogénito Eliab. Porém Deus, nos seus desígnios vocacionais, não olha a critérios humanos (ser o mais velho, o mais belo, o mais forte, o mais sábio): «o homem olha às aparências, o Senhor vê o coração». A escolha divina é gratuita, não partindo dos méritos do escolhido, mas da benevolência divina que torna o homem capaz de cumprir a missão a que o chama.

12 «Ungiu-o no meio dos seus irmãos», isto é, em família, sem qualquer espécie de publicidade para evitar as iras e represálias do rei Saúl.

Salmo Responsorial    Sl 22 (23), 1-3a.3b-4.5.6 (R. 1)

Monição: O salmo 23 é um cântico cheio de confiança filial no Senhor que no momento exacto está junto de nós para nos ajudar.

Este salmo adquire pleno significado quando Jesus Se nos apresenta como o Bom Pastor.

Refrão:         O SENHOR É MEU PASTOR: NADA ME FALTARÁ.

Ou:                O SENHOR ME CONDUZ: NADA ME FALTARÁ.

O Senhor é meu pastor: nada me falta.

Leva-me a descansar em verdes prados,

conduz-me às águas refrescantes

e reconforta a minha alma.

Ele me guia por sendas direitas por amor do seu nome.

Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos,

não temerei nenhum mal, porque Vós estais comigo:

o vosso cajado e o vosso báculo me enchem de confiança.

Para mim preparais a mesa

à vista dos meus adversários;

com óleo me perfumais a cabeça

e meu cálice transborda.

A bondade e a graça hão-de acompanhar-me

todos os dias da minha vida,

e habitarei na casa do Senhor

para todo o sempre.

Segunda Leitura

Monição: S. Paulo anima os fiéis da Igreja de Éfeso a colaborar activamente na vida da mesma, sobretudo na difusão do Evangelho.

Cada um de nós recebeu, pelo Baptismo, uma missão em favor de toda a comunidade dos homens.

Efésios 5, 8-14

Irmãos: 8Outrora vós éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei como filhos da luz, 9porque o fruto da luz é a bondade, a justiça e a verdade. 10Procurai sempre o que mais agrada ao Senhor. 11Não tomeis parte nas obras das trevas, que são inúteis; tratai antes de condená-las abertamente, 12porque o que eles fazem em segredo até é vergonhoso dizê-lo. 13Mas, todas as coisas que são condenadas são postas a descoberto pela luz, e tudo o que assim se manifesta torna-se luz. 14É por isso que se diz: «Desperta, tu que dormes; levanta-te do meio dos mortos e Cristo brilhará sobre ti».

 

A leitura é tirada da segunda parte de epístola, com exortações morais, correspondentes a uma vida nova em Cristo.

2 «Outrora», isto é, antes da conversão, «éreis trevas», pois viviam na ignorância, no erro, no pecado, afastados de Cristo, Luz do mundo, «mas agora sois luz no Senhor», pela fé e pela graça que têm pela sua união ao Senhor (cf. Jo 12, 35-36). «Filhos da luz» (cf. Lc 16, 8; Jo 12, 36) é um semitismo que corresponde ao adjectivo: iluminados (pela verdade de Cristo, «Luz verdadeira que a todo o homem ilumina» – Jo 1, 9.4-5).

10 «Procurai sempre o que mais agrada ao Senhor». Para nos comportarmos como filhos da luz, temos de ter essa sobrenatural ponderação e discernimento de quem busca a todo o momento, em tudo o que diz e faz, a vontade de Deus.

13 «Tudo o que assim se manifesta torna-se luz». Toda a maldade que se denuncia é um projectar de luz sobre os ambientes tenebrosos do pecado. Estas palavras podiam adaptar-se à denúncia da nossa própria maldade, que levamos dentro de nós. Essa denúncia mais sincera e eficaz é a que se faz quando, no Sacramento da Penitência, acusamos sincera e contritamente os nossos pecados: então a nossa vida torna-se clara e luminosa, é luz. (A leitura presta-se, pois, a falar da Confissão Quaresmal).

Aclamação ao Evangelho

Jo 8, 12

Monição: Jesus Cristo é a Luz que ilumina a nossa vida e lhe dá sentido. Sem ela não somos capazes de descobrir os verdadeiros valores da vida nem de nos reconhecermos como irmãos.

Aclamemos o Evangelho que nos alegra com esta mensagem.

Eu sou a luz do mundo, diz o Senhor:  quem Me segue terá a luz da vida.

Evangelho *

* O texto entre parêntesis pertence à forma longa e pode ser omitido.

Forma longa: São João 9, 1-41; forma breve: São João 9, 1.6-9.13-17.34-38

1Naquele tempo, Jesus encontrou no seu caminho um cego de nascença. [2Os discípulos perguntaram-Lhe: «Mestre, quem é que pecou para ele nascer cego? Ele ou os seus pais?» 3Jesus respondeu-lhes: «Isso não tem nada que ver com os pecados dele ou dos pais; mas aconteceu assim para se manifestarem nele as obras de Deus. 4É preciso trabalhar, enquanto é dia, nas obras d’Aquele que Me enviou. Vai chegar a noite, em que ninguém pode trabalhar. 5Enquanto Eu estou no mundo, sou a luz do mundo». 6Dito isto,] cuspiu em terra, fez com a saliva um pouco de lodo e ungiu os olhos do cego. Depois disse-lhe: 7«Vai lavar-te à piscina de Siloé»; Siloéquer dizer «Enviado». Ele foi, lavou-se e ficou a ver. 8Entretanto, perguntavam os vizinhos e os que antes o viam a mendigar: «Não é este o que costumava estar sentado a pedir esmola?» 9Uns diziam: «É ele». Outros afirmavam: «Não é. É parecido com ele». Mas ele próprio dizia: «Sou eu». [10Perguntaram-lhe então: «Como foi que se abriram os teus olhos?» 11Ele respondeu: «Esse homem, que se chama Jesus, fez um pouco de lodo, ungiu-me os olhos e disse-me: ‘Vai lavar-te à piscina de Siloé’. Eu fui, lavei-me e comecei a ver». 12Perguntaram-lhe ainda: «Onde está Ele?» O homem respondeu: «Não sei».] 13Levaram aos fariseus o que tinha sido cego.14Era sábado esse dia em que Jesus fizera lodo e lhe tinha aberto os olhos. 15Por isso, os fariseus perguntaram ao homem como tinha recuperado a vista. Ele declarou-lhes: «Jesus pôs-me lodo nos olhos; depois fui lavar-me e agora vejo». 16Diziam alguns dos fariseus: «Esse homem não vem de Deus, porque não guarda o sábado». Outros observavam: «Como pode um pecador fazer tais milagres?» E havia desacordo entre eles. 17Perguntaram então novamente ao cego: «Tu que dizes d’Aquele que te deu a vista?» O homem respondeu: «É um profeta». [18Os judeus não quiseram acreditar que ele tinha sido cego e começara a ver. 19Chamaram então os pais dele e perguntaram-lhes: «É este o vosso filho? É verdade que nasceu cego? Como é que ele agora vê?» 20Os pais responderam: «Sabemos que este é o nosso filho e que nasceu cego; 21mas não sabemos como é que ele agora vê, nem sabemos quem lhe abriu os olhos. Ele já tem idade para responder; perguntai-lho vós». 22Foi por medo que eles deram esta resposta, porque os judeus tinham decidido expulsar da sinagoga quem reconhecesse que Jesus era o Messias. 23Por isso é que disseram: «Ele já tem idade para responder; perguntai-lho vós». 24Os judeus chamaram outra vez o que tinha sido curado e disseram-lhe: «Dá glória a Deus. Nós sabemos que esse homem é pecador». 25Ele respondeu: «Se é pecador, não sei. O que sei é que eu era cego e agora vejo». 26Perguntaram-lhe então: «Que te fez Ele? Como te abriu os olhos?» 27O homem replicou: «Já vos disse e não destes ouvidos. Porque desejais ouvi-lo novamente? Também quereis fazer-vos seus discípulos?» 28Então insultaram-no e disseram-lhe: «Tu é que és seu discípulo; nós somos discípulos de Moisés; 29mas este, nem sabemos de onde é». 30O homem respondeu-lhes: «Isto é realmente estranho: não sabeis de onde Ele é, mas a verdade é que Ele me deu a vista. 31Ora, nós sabemos que Deus não escuta os pecadores, mas escuta aqueles que O adoram e fazem a sua vontade. 32Nunca se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. 33Se Ele não viesse de Deus, nada podia fazer».] 34Replicaram-lhe então eles: «Tu nasceste inteiramente em pecado e pretendes ensinar-nos?» E expulsaram-no. 35Jesus soube que o tinham expulsado e, encontrando-o, disse-lhe: «Tu acreditas no Filho do homem?» 36Ele respondeu-Lhe: «Senhor, quem é Ele, para que eu acredite?» 37Disse-lhe Jesus: «Já O viste: é Quem está a falar contigo». 38O homem prostrou-se diante de Jesus e exclamou: «Eu creio, Senhor». [39Então Jesus disse-lhe: «Eu vim para exercer um juízo: os que não vêem ficarão a ver; os que vêem ficarão cegos». 40Alguns fariseus que estavam com Ele, ouvindo isto, perguntaram-Lhe: «Nós também somos cegos?» 41Respondeu-lhes Jesus: «Se fôsseis cegos, não teríeis pecado. Mas como agora dizeis: ‘Nós vemos’, o vosso pecado permanece».]

Este longo trecho apresenta-se como uma encantadora peça dramática, cheia de vigor e naturalidade, que se pode considerar estruturada em quatro actos: 1º – A abertura (vv. 1-5), onde aparece o tema, Jesus,Luz do mundo, em face da cegueira, não apenas física do doente, mas moral, de que participam os próprios discípulos, obcecados pela mentalidade «retribuicionista» (cf. Job 4, 7-8; 2 Mac 7, 18; Tob 3, 3); eles, em face da desgraça alheia, põem-se a indagar quem pecou e não quem a pode remediar. 2º – A cura do cego (vv. 6-7). 3º – A longa investigação acerca da cura (vv. 8-34), primeiro pelos vizinhos (vv. 8-12) e depois pelos fariseus que montam como que um processo judicial com sucessivos interrogatórios e que termina numa sentença de excomunhão (vv. 13-34). 4º – O desfecho do drama (vv. 35-41), com o acto de fé do cego e a obstinação na cegueira espiritual dos que não querem crer.

Sem prejuízo para o valor histórico da narração, esta reveste-se dum grande poder evocativo e dramático, em que sobressai, evocando o itinerário dum catecúmeno, a progressão do cego para a fé plena, o qual começa por se confessar beneficiário da misericórdia do homem Jesus (v. 11), passando a reconhecê-lo como um profeta (v. 17), depois a atestar que Ele vem de Deus (v. 33), e, por fim, a professar a fé explícita em Jesus como Senhor, à maneira de quem responde às perguntas rituais do último escrutínio catecumenal (v 35-38). A alusão ao Baptismo é bastante clara através da unção e do banho: «lavei-me e fiquei a ver» (vv. 11.15), pois na primitiva Igreja este Sacramento era chamado iluminação (cf. Hebr 6, 4; 10, 32; Ef 5, 14; Rom 6, 4). Por outro lado, o decreto de exclusão punitiva da sinagoga (v. 34) não vai apenas contra o cego, mas visa Jesus e os próprios cristãos, os quais no sínodo de Yámnia (pelo ano 80) se viram excomungados pelo farisaísmo que sobreviveu à destruição de Jerusalém (v. 22; cf. Jo 12, 42; 16, 2).

6-7 «Ungiu…» O milagre não se realiza nem pela virtude do «lodo», nem pela eficácia medicinal da água, água comum. O prodígio é consequência do simples querer de Jesus. Como em Mc 7, 33 e 8, 23, com este gesto, Jesus quis pôr à prova e estimular a fé do doente, mas, neste caso, também se quis apresentar como «Senhor do Sábado», pois os rabinos consideravam a preparação do lodo e a unção como um trabalho proibido aos sábados (cf. v. 16). A «Piscina de Siloé» era alimentada pela água da fonte de Gihon (a fonte de Maria), que ali chegava através do canal de Ezequias (rei contemporâneo do profeta Isaías), canal subterrâneo e cavado na rocha com cerca de meio quilómetro de comprido.

Sugestões para a homilia

– O dom da fé

A ausência da fé

A riqueza da fé

A alegria da fé

– Jesus Cristo, nossa luz

Procurar o Senhor.

A fé, dom sobrenatural.

Colaboremos com o Senhor.

Introdução

Jesus Cristo é a Luz que veio ao mundo para nos iluminar, dando sentido à nossa vida.

A experiência mostra-nos que quando as pessoas rejeitam a Luz de Deus, da fé, não conseguem descobrir os verdadeiros valores e correm atrás de quimeras que as destroem: a droga, a impureza e o dinheiro arvorado e valor supremo.

Além disso, no se reconhecem como irmãos da mesma família e, como consequência, reina a insegurança a todos os níveis: da vida (pelo aborto, terrorismo, assassínios, etc.) e dos bens.

1. O dom da fé

Para melhor compreendermos o tesouro da fé, vale a pena atentar de que são capazes os homens sem ela.

a) A ausência da fé. «Não te impressiones com o seu belo aspecto, nem com a sua elevada estatura.» Sem a luz da fé, vemos apenas as aparências, ao olhar para as pessoas, para os acontecimentos, e mesmo para a nossa vida. Por isso, caímos em ilusões e enganos, no pessimismo e no desânimo.

Assim aconteceu ao profeta Samuel, quando foi enviado por Deus, em segredo, a Belém, a casa de Jessé, para escolher e ungir um dos seus filhos para rei de Israel, em substituição de Saúl, caído em desgraça.

Quando viu Eliab, o filho mais velho, julgou que estava na presença do eleito do Senhor, mas logo foi dissuadido da sua convicção.

Antes de tomarmos uma decisão na vida, devemos pedir a luz do Senhor, para que aumente a nossa fé e a escolha seja acertada: na escolha da vocação, ou numa atitude a tomar com certa responsabilidade.

b) A riqueza da fé. «O Senhor disse a Samuel: ‘Levanta-te e unge-o, porque é este mesmo.’» A luz da fé aparece-nos na Sagrada Escritura e na doutrina da Igreja como um dom de Deus. Leva-nos a ver as pessoas, as coisas e os acontecimentos como Deus as vê.

E, por isso, a visão é sempre acertada. Ninguém, como os santos, viram com toda a clareza os problemas e tomaram decisões no momento próprio, mesmo quando encontravam a oposição dos outros.

A fé é uma virtude, uma capacidade para agir, mas tem de ser alimentada, para dar frutos.

Alimentamo-la com a doutrina. O Senhor revelou-nos as verdades e ensina-no-las na Igreja. Ela fala-nos nas Celebrações, nas boas leituras de livros, especialmente a Sagrada Escritura e nas pregações.

Uma das razões pelas quais a Igreja insiste com os seus fieis na necessidade de participar na Santa Missa nos Domingos e outros dias festivos é a necessidade de alimentarmos a fé recebida no Baptismo. Muitos cristãos vivem como se no o fossem, por causa da ignorância religiosa.

A Quaresma é um tempo litúrgico de intensa formação doutrinal. É um catecumenado resumido em cada ano. Somos instados a formar propósitos para concretizar na vida as verdades aprendidas.

Também de cada Celebração da Eucaristia devemos sair com propósitos de vida: viemos aprender para praticar.

c) A alegria da fé. «Daquele dia em diante, o Espírito do Senhor apoderou-se de David.» Depois da descoberta daquele que Deus escolhera para rei, Samuel ungiu-o, cheio de alegria. A unção com o óleo significa a abundância dos dons de Deus.

Também David, mantendo o segredo da escolha de Deus sobre ele, procurou, muitas vezes libertar Saúl da tristeza que o dominava, com as suas canções e bom humor.

A fé enche de esperança a nossa vida, porque nos faz ver as maravilhas que estão ao nosso alcance e nos ajuda a viver numa esperança alegre, como nos ensina Bento XVI, na Encíclica Salvos na Esperança.

À luz da fé, encontramos respostas para todas as nossas dúvidas, o nosso caminhar enche-se de ânimo, porque acabaram as nossas hesitações, e conseguimos ver nos acontecimentos mais sombrios a mensagem alegre do amor de Deus.

2. Jesus Cristo, nossa luz

a) Procurar o Senhor. «É preciso trabalhar, enquanto é dia, nas obras d’Aquele que Me enviou.» Nascemos cegos. Recebemos a virtude da fé no Baptismo, como dom gratuito de Deus. Mas depois temos de procurar desenvolvê-la. Fé que no se vive, é luz que se apaga.

Se no fora o encontro deste cego de nascença com Jesus, certamente viveria e morreria cego. O encontro deste homem com o Divino Mestre mudou completamente o rumo da sua vida.

Por vezes, as pessoas fogem dos meios de formação, de aprofundar a sua fé, para fugir a responsabilidades, para no terem que mudar hábitos de vida. Aquele que fecha os olhos à luz, que evita oportunidades de aprofundar a fé peca contra a luz, fechando propositadamente os olhos para no ver.

Outras vezes, esta atitude apresenta-se com aparências de bondade: não se evita o esclarecimento das verdades, mas procura-se escutar apenas quem fala de encontro aos nossos gostos e no nos pede mudanças de vida. Em vez de prestar atenção ao que ensina o Santo Padre, os Bispos em comunhão com ele e os sacerdotes que lhes servem de eco, agarram-se a uma opinião errada para continuar com os mesmos passos em falso.

Havemos de procurar a luz do Senhor com toda a lealdade e rectidão, movidos pelo desejo de fazer tudo e só o que for da Sua vontade.

b) A fé, dom sobrenatural. «Isto é realmente estranho: no sabeis de onde é, mas a verdade é que Ele me deu a vista

Não podemos adquirir a fé pelo nosso esforço. Foi-nos oferecida gratuitamente no nosso Baptismo. Deve ser alimentada pela formação doutrinal, crescer pelo nosso esforço em pô-la em prática, celebrá-la da Liturgia e proclamá-la no apostolado, especialmente com o nosso exemplo.

Mas não podemos fazer nada disto, se Deus não vier em nosso auxílio. Grandes inteligências da história da Igreja caíram em grandes erros. Como contraste, almas humildes, com uma formação intelectual escassa, penetraram nos mistérios da fé com mais profundidade do que muitos teólogos.

É com esta atitude de humildade que havemos de pedir ao Senhor que aumente a nossa fé, à semelhança dos cegos que Jesus encontrava na vida pública e Lhe pediam: «Mestre: que eu veja

c) Colaboremos com o Senhor. «Vai lavar à piscina de Siloé […] Ele foi, lavou-se, e ficou a ver.» Este homem colabora activamente com o Senhor, caminhando até à piscina indicada, e lavando-se. Só então experimentou a alegria de ver.

Se queremos crescer na fé – ver de cada vez melhor – é indispensável este esforço para ir pondo em prática aquilo que o Senhor nos vai ensinando, pouco a pouco. Há pessoas, antes bons cristãos, que agora se queixam: «Perdi a fé!» De facto, perderam-na, porque ninguém lha roubou. E a perda começou no momento em que, arrastados pelas paixões, deixaram de pôr em prática aquilo que o Senhor lhes ia mostrando como necessário.

Temos necessidade de testemunhar a fé, como este homem corajoso do Evangelho e tantos outros. A fé apresenta-se como um dom tão precioso, que muitos deram a vida para a defender.

A Eucaristia é o mistério da nossa fé, como proclama o celebrante, no final da Consagração. Ela é também alimento que a fortalece e transforma em alegria.

Também na virtude da fé Nossa Senhora é modelo. Santa Isabel elogia-A. «Bendita és tu, porque acreditaste em tudo quanto te foi dito da parte do Senhor.» Que Ela nos ajude nesta caminhada pela vida.

LITURGIA EUCARÍSTICA

Introdução à Liturgia Eucarística

A Eucaristia é a renovação do mistério pascal de Cristo, e a Celebração principal da nossa fé.

Profundamente agradecidos ao Senhor, pelas luzes que acaba de nos conceder, preparemo-nos agora, com um profundo recolhimento, para vivermos e saborearmos este dom de Deus.

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS: Ao apresentarmos com alegria estes dons de vida eterna, humildemente Vos pedimos, Senhor, a graça de os celebrar com verdadeira fé e de os oferecer dignamente pela salvação do mundo. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Prefácio

 

O cego de nascença

V. O Senhor esteja convosco.

R. Ele está no meio de nós.

V. Corações ao alto.

R. O nosso coração está em Deus.

V. Dêmos graças ao Senhor nosso Deus.

R. É nosso dever, é nossa salvação.

Senhor, Pai santo, Deus eterno e omnipotente, é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação dar-Vos graças, sempre e em toda a parte, por Cristo nosso Senhor.

Pelo mistério da Encarnação, iluminou o género humano que vivia nas trevas para o reconduzir à luz da fé e pela regeneração do Baptismo libertou os que nasciam na escravidão do antigo pecado para os tornar seus filhos adoptivos.

Por isso o céu e a terra Vos adoram, cantando um cântico novo, e também, com os Anjos e os Santos, proclamamos a vossa glória, cantando numa só voz:

SANTO

Saudação da Paz

A luz da fé leva-nos a ver em cada pessoa um irmão que devemos amar, ajudando-o nesta caminhada para a vida eterna.

Com o desejo de vivermos todas as exigências da caridade fraterna, perdoando as ofensas e aceitando sermos perdoados,

Saudai-vos na paz de Cristo!

Monição da Comunhão

A fé ensina-nos que, sob as aparências do pão e do vinho que levámos ao altar, está verdadeira, real e substancialmente presente o verdadeiro Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus.

Conscientes de que nos vamos encontrar com Ele, numa íntima comunhão, preparemo-nos com fé, humildade e contrição dos nossos pecados, para O recebermos frutuosamente.

Jo 9, 11

 

ANTÍFONA DA COMUNHÃO: O Senhor ungiu os meus olhos. Eu fui lavar-me, comecei a ver e acreditei em Deus.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO: Senhor nosso Deus, luz de todo o homem que vem a este mundo, iluminai os nossos corações com o esplendor da vossa graça, para que pensemos sempre no que Vos é agradável e Vos amemos de todo o coração. Por Nosso Senhor.

RITOS FINAIS

Monição final

Ajudemos todas as pessoas que na vida caminham connosco – na família, no trabalho, nos momentos de descanso – a compreender que a fé recebida no Baptismo deve ser vivida no dia a dia por cada um de nós e proclamada pelas nossas vidas.

HOMILIAS FERIAIS

4ª SEMANA

2ª feira, 3-III: Renovação da criação.

Is 65, 17-21 / Jo 4, 43-54

Olhai que vou criar novos céus e nova terra… lá não se hão-de ouvir nem mais vozes de pranto nem gritos de angústia.

Esta é uma grande promessa: os novos céus e a nova terra (cf. Leit), onde não haverá coisas velhas, como as lágrimas, as aflições, a morte. Jesus também procura cumprir essa promessa, ressuscitando o filho do funcionário real (cf. Ev)

Deus quer renovar todas as coisas e já está a agir para renovar o mundo. Esta renovação consiste em sair do pecado e das suas consequências em que se encontra a humanidade. A Quaresma é um bom tempo para levarmos a cabo a nossa renovação pessoal e contribuirmos para melhorar as condições de vida da sociedade.

 

3ª feira, 4-III: A água viva e o rio da vida.

Ez 47, 1-9. 12 / Jo 5, 1-3. 5-16

É que, aonde chegar, a água tornará tudo são, e haverá vida em todo o lugar que o rio atingir.

Do Templo (cf. Leit) e do trono de Deus e do Cordeiro corre o Rio da vida, que cura as nossas enfermidades espirituais, como aconteceu na piscina de Betsatá (cf. Ev).

A água passa a ser uma nova criatura no Baptismo de Jesus: «O Espírito pairava sobre as águas da primeira criação, desce então sobre Cristo, como prelúdio da nova criação» (CIC, 1224). E passa a ser a água viva, com a Paixão e morte de Cristo: «O sangue e a água que manaram do lado aberto do Crucificado são tipos do Baptismo e da Eucaristia, sacramentos de vida nova» (CIC, 1225).

4ª feira, 5-III: Meios de comunicação da vida.

Is 49, 8-15 / Jo 5, 17-30

Tal como o Pai ressuscita os mortos e os faz viver, assim o Filho faz viver aqueles que entende.

Deus amou de tal modo o mundo, que lhe entregou o seu Filho único, para que tivéssemos vida sobrenatural. E o seu amor por nós é mais forte do que o de uma mãe para com os seus filhos (cf. Leit).

Para nos conceder a vida sobrenatural dá-nos o alimento, que é a palavra de Deus. «Quem ouve a minha palavra…tem a vida eterna» (Ev). Comunica-nos igualmente a sua vida, especialmente através dos sacramentos. Cuidemos muito bem todos estes meios pelos quais o Senhor nos concede uma nova vida.

5ª feira, 6-III: A intercessão de Moisés e de Jesus

Ex 32, 7-14 / Jo 5, 31-47

(Moisés): Deixai cair a vossa ardente indignação, renunciai ao castigo que quereis dar ao vosso povo.

Depois do terrível acto de idolatria, a adoração do bezerro de ouro (cf. Leit), Moisés tornou-se um poderoso intercessor diante de Deus, para salvar o povo que o Senhor lhe tinha confiado.

Continuamos a portar-nos mal mas, agora, é o próprio Filho de Deus que se oferece ao Pai como vítima para apaziguar a sua indignação: «Não penseis que vou acusar-vos ao Pai» (Ev). Através do sacrifício da Missa e do sacramento da reconciliação recebemos a remissão dos nossos pecados.

6ª feira, 7-III: Associados à paixão de Cristo.

Sab 2, 1. 12-22 / Jo 7, 1-2. 10. 25-30

Se esse justo é filho de Deus… condenemo-lo a morte infamante, pois ele diz que será socorrido.

Este pensamento dos ímpios (cf. Leit), narrado no livro da Sabedoria, repete-se no tempo de Cristo: «os judeus procuravam dar-lhe a morte» (Ev).

Jesus aceitou livremente a sua paixão e morte, por amor do Pai e dos homens, a quem o Pai quer salvar. E, como pela Encarnação, está de certo modo unido a cada homem, a todos dá a possibilidade de se associarem a Ele: «De facto, quer associar ao seu sacrifício redentor aqueles mesmos que são os principais beneficiários» (CIC, 618).

Sábado, 8-III: O servo sofredor e o Cordeiro pascal.

Jer 11, 18-20 / Jo 7, 40-53

Eu era como dócil cordeiro levado ao matadouro, sem saber da conjura contra mim.

O profeta Jeremias repete a imagem do servo sofredor de Isaías (53, 7). E esta missão é inaugurada no momento do seu baptismo: «O seu baptismo é a aceitação e inauguração da sua missão de servo sofredor… É já o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo e antecipa já o baptismo da sua morte sangrenta» (CIC, 536).

Jesus é pois simultaneamente o servo sofredor, que é levado ao matadouro (cf. Leit), carregando os pecados das multidões, e o Cordeiro pascal, símbolo da Redenção (cf. CIC, 606).

Celebração e Homilia:             NUNO WESTWOOD

Nota Exegética:                      GERALDO MORUJÃO

Homilia Ferial:                          NUNO ROMÃO

Fonte: Celebração  Litúrgica

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