Roteiro Homilético – III Domingo do Tempo Comum – Ano B

RITOS INICIAIS

Salmo 95, 1.6

ANTÍFONA DE ENTRADA: Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor, terra inteira. Glória e poder na sua presença, esplendor e majestade no seu templo.

Introdução ao espírito da Celebração

Neste Domingo em que celebramos também a «Conversão de São Paulo» a proposta de Deus passa pelo convite à conversão.

Ser Profeta na tarefa de apelar à mudança de vida, de mentalidade, de nova e responsável relação com Deus e com os irmãos.

Ser ouvinte deixando penetrar os apelos da Palavra em atitude de verdade e humildade.

Ser responsável sulcando de nós um maior empenho em vivermos de acordo com o projecto de Jesus Cristo.

Ser cristão de razão, acção e paixão

ORAÇÃO COLECTA: Deus todo-poderoso e eterno, dirigi a nossa vida segundo a vossa vontade, para que mereçamos produzir abundantes frutos de boas obras, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

LITURGIA DA PALAVRA

Primeira Leitura

Monição: «Levanta-te, vai à grande cidade…». Pelo baptismo todo fomos constituídos em Cristo Profeta.

A nossa vida tem de ser fidelidade à voz de Deus, e um erguer-se constante para realizar o que manda.

«Senhor, faz-me sair do comodismo da insensibilidade e ser voz de apelo à conversão a um mundo que vive sem Ti».

 

Jonas 3, 1-5.10

1A palavra do Senhor foi dirigida a Jonas nos seguintes termos: 2«Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive e apregoa nela a mensagem que Eu te direi». 3Jonas levantou-se e foi a Nínive, conforme a palavra do Senhor. Nínive era uma grande cidade aos olhos de Deus; levava três dias a atravessar. 4Jonas entrou na cidade, caminhou durante um dia e começou a pregar nestes termos: «Daqui a quarenta dias, Nínive será destruída». 5Os habitantes de Nínive acreditaram em Deus, proclamaram um jejum e revestiram-se de saco, desde o maior ao mais pequeno. 10Quando Deus viu as suas obras e como se convertiam do seu mau caminho, desistiu do castigo com que os ameaçara e não o executou.

O pequeno livro de Jonas é uma grande parábola em acção para mostrar como Deus quer usar de misericórdia para com todo e qualquer pecador, mesmo estranho ao povo judeu, com a condição de que este se arrependa; para grandes males, grandes remédios, como é o caso do recurso a ameaças, que são uma pedagogia divina:«Daqui a quarenta dias, Nínive será destruída» (v. 10). É deveras curioso, singular e significativo que um livro situado no cânone dos Profetas não registe mais do que esta frase da pregação de Jonas. A verdade é que o ensinamento da obra não reside em palavras pregadas, mas nos factos relatados. A grande lição do livro está aqui: Deus tem misericórdia de todos os pecadores e quer que todos se salvem (cf. 1 Tim 2, 4), mesmo os mais afastados e rebeldes, de quem Nínive, a capital da antiga Assíria, ficou como uma figura emblemática. Este Jonas faz a figura do «filho bom» – mas realmente o mau – da parábola do filho pródigo.

Tudo leva a crer que este livro é uma fina sátira contra a personagem central, um fictício profeta Jonas, que nada tem a ver com a figura histórica do profeta deste nome no séc. VIII (cf. 2 Re 14, 25-27). O facto de haver uma coincidência no nome – Jonas, filho de Amitai – levou a que a tradição judaica viesse a colocar a obra no grupo dos escritos proféticos. A verdade é que não se considera como uma obra histórica, mas sapiencial, como já S. Jerónimo gostava de imaginar. O Jonas deste livro inspirado materializa a mentalidade da dita habdaláh («separação»), que se difundiu após a reforma de Esdras e Neemias, uma mentalidade fechada e hostil a todo o estrangeiro. Esta maneira de pensar nacionalista e exclusivista é posta a ridículo na figura de Jonas; a obra tem, pois, um carácter de sátira. Com efeito, na primeira parte do livro (Jon 1 – 2) ele nega-se a ir a Nínive (não vá ela converter-se!) e na segunda (Jon 3 – 4), quando, após a sua pregação, a cidade se converte, ele entra em furor contra Deus, porque Ele se mostrou misericordioso perdoando à cidade arrependida.

Salmo Responsorial

Salmo 24 (25), 4bc-5ab.6-7bc.8-9 (R. 4a)

Monição: Louvemos o nosso Deus misericordioso e bom. Louvemo-l’O com uma vida palmilhada nos seus caminhos.

Refrão: ENSINAI-ME, SENHOR, OS VOSSOS CAMINHOS.

Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos,

ensinai-me as vossas veredas.

Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me,

porque Vós sois Deus, meu Salvador.

Lembrai-Vos, Senhor, das vossas misericórdias

e das vossas graças, que são eternas.

Lembrai-Vos de mim segundo a vossa clemência,

por causa da vossa bondade, Senhor.

O Senhor é bom e recto,

ensina o caminho aos pecadores.

Orienta os humildes na justiça

e dá-lhes a conhecer os seus caminhos.

Segunda Leitura

Monição: Paulo convida à sabedoria do Espírito Santo que nos leva a relativizar tudo em relação a Cristo Jesus.

Coríntios 7, 29-31

29O que tenho a dizer-vos, irmãos, é que o tempo é breve. Doravante, os que têm esposas procedam como se as não tivessem; 30os que choram, como se não chorassem; os que andam alegres, como se não andassem; os que compram, como se não possuíssem; 31os que utilizam este mundo, como se realmente não o utilizassem. De facto, o cenário deste mundo é passageiro.

O Apóstolo, no capítulo 7 da 1ª Coríntios, responde à pergunta que lhe tinha sido feita sobre a virgindade e o celibato. Pensa-se que a pergunta provinha de alguns que consideravam as relações matrimoniais como algo mau ou impróprio para um cristão. S. Paulo, depois de expor a doutrina sobre a legitimidade e indissolubilidade do matrimónio (vv. 1-16), recomenda que cada um siga a vocação a que foi chamado (vv. 17-24), passando a fazer a apologia do celibato e a dar razões da excelência da virgindade (vv. 25-38). Desta parte é que são extraídos os 3 versículos da leitura. S. Paulo tira partido da consideração da brevidade desta vida – «o tempo é breve!» –, para que, na hora de se tomar uma decisão, ninguém se deixe levar pelo apego às coisas passageiras e efémeras. Outras motivações são apresentadas a seguir e que pertencem à leitura do próximo Domingo.

Aclamação ao Evangelho

Mc 1, 15

Monição: «Arrendei-vos e acreditai no Evangelho». A conversão está essencialmente unida ao anúncio do Evangelho.

Depois de escutar a voz de Deus, no instrumento da sua Palavra, que conversão surge em mim?

ALELUIA

Está próximo o reino de Deus;

arrependei-vos e acreditai no Evangelho.

Evangelho

São Marcos 1, 14-20

14Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia e começou a proclamar o Evangelho de Deus, dizendo: 15«Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho». 16Caminhando junto ao mar da Galileia, viu Simão e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores. 17Disse-lhes Jesus: «Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens». 18Eles deixaram logo as redes e seguiram-n’O. 19Um pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, que estavam no barco a consertar as redes; 20e chamou-os. Eles deixaram logo seu pai Zebedeu no barco com os assalariados e seguiram Jesus.

Começamos neste Domingo a leitura seguida e respigada do Evangelista do Ano B, S. Marcos. E tudo começa com o início da pregação de Jesus na «Galileia», a zona norte da Palestina, politicamente separada da Judeia, onde Jesus tinha mais liberdade de movimentos para a sua pregação, por estar mais ao abrigo da oposição das autoridades judaicas de Jerusalém (cf. Jo 4, 1-3).

14-15 «Depois de João ter sido preso», à letra, «entregue». Mais do que uma nota cronológica, parece que S. Marcos visa uma precisão teológica; com efeito, abre-se agora uma nova etapa da história da salvação. Às promessas de salvação vai seguir-se agora o seu cumprimento em Jesus – «cumpriu-se o tempo» anunciado. O v. 15 é como uma espécie de sumário ou síntese, diríamos, o «programa», do Evangelho de Jesus: o «Reino de Deus» está a chegar, e isto exige uma conversão interior, ametánoia, isto é, uma renovação do entendimento e da vontade – «arrependei-vos» – e uma atitude de fé – «acreditai no Evangelho».

16-20 Embora socialmente Jesus apareça a pregar em público com um mestre entre tantos outros que então havia, Marcos, desde o início, quer deixar bem claro que Jesus não é mais um rabi, em cuja escola qualquer candidato que o deseje se pode inscrever como discípulo, mas que, pelo contrario, é Jesus quem escolhe quem quer, chamando com autoridade; por isso a resposta é pronta, o que merece ser bem sublinhado: «e eles deixaram logo…» – tudo, as redes, o barco, o pai… – «e seguiram Jesus».

Sugestões para a homilia

Evangelho e Conversão.

Reino de Deus está próximo.

Serei eu um seduzido por Jesus Cristo?

São Paulo: «Ai de mim se não evangelizar».

Evangelho e conversão.

Da Palavra de Deus para este Domingo ressoa permanente o convite à conversão.

A conversão é mudança de vida, de atitudes, de mentalidade. É um deixar radical de uma vida onde Deus não diz absolutamente nada. E se parece dizer é só mera aparência. Aceitar a conversão é entrar na própria verdade da pessoa. É não fugir de Deus. É reconhecer-se pecador, frágil, débil. É também grandeza de tornar-se mais pessoa, mais próximo de Deus e dos outros. É reconhecer a força da graça de Deus.

O convite à conversão é manifestação da misericórdia e bondade de Deus que quer fazer surgir no homem e na sociedade a força da esperança e da paz. Isto torna-se possível quando se retiram as atitudes de pecado.

Se a palavra de Deus não leva à conversão é porque não foi anunciada como Deus o deseja ou não foi ouvida na docilidade do Espírito Santo e na verdade.

Pelo baptismo, o cristão, constituído em profeta, deve ser convertido e instrumento de conversão. No mundo, seu espaço e ambiente, o cristão deve saber anunciar o projecto de Deus e denunciar todos os esquemas de egoísmo, de mentira e de morte.

O nosso tempo necessita de Profetas que se levantem e que percorram todas as áreas da sociedade, e sem medo e com ousadia, digam, em vida e linguagem coerente, qual é o projecto de Deus. Talvez, por essa verdade e coerência, os espaços da sociedade se abram à dimensão de Deus e modifiquem muitas das suas atitudes.

O evangelho propõe a disponibilidade de vida em serviço a todos os homens. Se a tarefa dos que foram convidados estiver centralizada na paixão pelo Reino, no amor incondicional a Jesus Cristo, dá-se necessariamente a construção de uma cidade justa, fraterna e verdadeiramente feliz.

A conversão de São Paulo permitiu um dinamismo incrível na missão evangelizadora. A experiência da sua conversão, sincera, coerente e de graça, arrastou imensas vidas em pesca abundante.

Nossa Senhora, na mensagem de Fátima, recorda-nos a força renovadora da conversão. Só mudando a pessoa no seu interior se pode construir a cidade da paz.

O Reino de Deus está próximo.

Jesus Cristo não definiu o Reino de Deus. Ajudou a compreendê-lo através de imagens e de parábolas. Mas esse Reino está próximo. Esse reino faz-se próximo em Jesus Cristo.

Acolher Jesus Cristo e o seu projecto é deixar-se persuadir pela presença admirável do «Rosto de Deus», ser tocado pela nova revelação do mistério de Deus, sintonizar com o sentido das bem-aventuranças, fazer-se doação, como Jesus Cristo, para todos os homens e mulheres.

A proposta da palavra de Deus é fazer as pessoas acreditar que esse reino não é utópico, mas real, presente e próximo. E que cada um deve possuir a sabedoria de se comprometer com o projecto de Jesus Cristo. Cada um deve ser suficientemente sábio para apostar naquilo que é fundamental. Fundamental é o conhecimento de Jesus Cristo Filho de Deus, proposta para a realização e construção de uma nova sociedade.

Cada um deve fazer, em cada dia, na família, no trabalho, na escola e em todos os ambientes a experiência do Reino, bem presente, real e próximo.

Serei eu um seduzido por Jesus Cristo?

« … e chamou-os. Eles deixaram logo…e seguiram Jesus».

Deus convida homens e mulheres concretas ao seu serviço. Serviço de libertação dos irmãos, mudanças radical de esquemas de morte e de pecado.

É feliz todo aquele que aceita tal proposta. Assim foi com o profeta Jonas. Deus fez o apelo a Jonas, e embora a tarefa fosse árdua e ele não quisesse, por fim aceita. E sobretudo, nos novos tempos, Jesus Cristo, Filho de Deus, convida pessoal e directamente todos os que na simplicidade, na humildade e na graça aceitam construir com Ele um mundo novo: um reino de paz, verdade, amor e vida.

Serei eu um seduzido por Jesus Cristo? Vivo a sabedoria dos apóstolos, de São Paulo: tudo deixaram para se entregar de «alma e coração» a Jesus Cristo?

Será que Cristo marca na realidade a minha vida? A opção por Jesus Cristo assinala verdadeiramente a minha vida e as suas opções? Quem manda e comanda a minha vida?

No dia em que os cristãos assumirem a «paixão», o amor incondicional por Jesus Cristo, a cidade transforma-se radicalmente.

O primeiro grande testemunho é o da sincera e coerente conversão. O meu estilo de vida bebe no desafio da conversão como consequência da aceitação do Evangelho, e depois, como instrumento simples, dócil e responsável realiza a faina do Reino de Deus.

São Paulo: «Ai de mim se não evangelizar».

A vida e a missão de São Paulo ilustra de forma especial a Palavra de Deus deste domingo.

Chamado por graça de Deus. Este apóstolo foi forjado numa família de cultura e de amor a Deus. Foi temperado pelas convicções da palavra e por uma vida de acérrima vivência do judaísmo. Foi confrontado com o testemunho dos cristãos. Foi tocado pela doação de Estêvão.

Foi sobretudo confrontado com Cristo, Luz resplandecente de vida, amor, santidade, presente e vivo nos seus discípulos, os cristãos.

Vocacionado pela graça de Deus para ser Apóstolo recebeu experiências fortes de Deus que lhe deram um fogo devorador de amor total a Jesus Cristo. E em Nome de Jesus Cristo anuncia com a palavra e sobretudo com a vida o Evangelho.

Apóstolo de areópagos percorre cidades com a feliz boa-nova. Propõe Jesus Cristo em todos os espaços e a todas as culturas. Forjador de comunidades pela paixão à Igreja de Cristo.

Apóstolo da comunhão eclesial estrutura as comunidades com conteúdo teológico e com preparados colaboradores.

Sempre aberto ao Espírito Santo faz sulcar a Igreja pela abertura, renovação, pela descoberta de dons e carismas, pela vitalidade intrínseca do reino de Deus.

LITURGIA EUCARÍSTICA

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS: Aceitai benignamente, Senhor, e santificai os nossos dons, a fim de que se tornem para nós fonte de salvação. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

SANTO

Monição da Comunhão

Senhor, que eu tenha a coragem da conversão! Que eu tenha a sabedoria da Tua sedução! Que eu tenha a generosidade do Teu Espírito que me faça responsável na construção do Reino.

Maria, Mestra e Discípula, aceita-me na escola do Evangelho onde a tua vida é lição de confiança, de oração, de comunhão com Deus e os irmãos e de total doação aos projectos de Teu Filho, e Filho de Deus.

Salmo 33, 6

ANTÍFONA DA COMUNHÃO: Voltai-vos para o Senhor e sereis iluminados, o vosso rosto não será confundido.

Ou

Jo 8, 12

Eu sou a luz do mundo, diz o Senhor. Quem Me segue não anda nas trevas, mas terá a luz da vida.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO: Deus omnipotente, nós Vos pedimos que, tendo sido vivificados pela vossa graça, nos alegremos sempre nestes dons sagrados. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

RITOS FINAIS

Monição final

Tendo celebrado o amor de Deus, que as palavras e gestos de salvação que Deus operou sejam eficazes na minha vida de Cristão.

Deus quer contar comigo para percorrer a cidade e propor o projecto de Deus, o Evangelho do Reino.

Celebração e Homilia:          ARMANDO RODRIGUES DIAS

Nota Exegética:                     GERALDO MORUJÃO

Sugestão Musical:                 DUARTE NUNO ROCHA

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