Roteiro Homilético – III Domingo do Advento

RITOS INICIAIS

Filip 4, 4.5

ANTÍFONA DE ENTRADA: Alegrai-vos sempre no Senhor. Exultai de alegria: o Senhor está perto.

Não se diz o Glória.

Introdução ao espírito da Celebração

A Igreja, pela sua Liturgia – «o exercício da função sacerdotal de Cristo» (SC, nº 7) – estabeleceu um programa para o Advento. Ajudando-nos a preparar, em cada Celebração, a vinda do Redentor.

Convida-nos hoje a interiorizar na vida a mensagem da alegria, como virtude indispensável nesta caminhada para o Natal. Ao fazê-lo, repete-nos as palavras de S. Paulo na Carta aos fiéis da Igreja de Éfeso: «Alegrai-vos sempre no Senhor!»

ACTO PENITENCIAL

Procuremos o Senhor, desde o início desta Celebração da Eucaristia, como única fonte da verdadeira alegria.

Peçamos-Lhe humildemente que nos perdoe os pecados cometidos, e afaste de nós as sombras das resistências às graças que nos envia.

E prometamos, com a Sua ajuda paterna, a emenda contínua da nossa vida.

(Tempo de silêncio. Apresentamos, como alternativa, elementos para o esquema C)

•   Senhor: temos corrido atrás de muitas falsas alegrias

da vaidade, da sensualidade e da ostentação dos bens.

Senhor, misericórdia!

Senhor, misericórdia!

•   Cristo: Causamos muitas vezes a tristeza nos outros

com a nossa dureza, indiferença e recusa de ajuda.

Cristo, misericórdia!

Cristo, misericórdia!

•   Senhor: Deixamo-nos abater facilmente pela tristeza,

esquecendo, na prática, de que somos Vossos filhos.

Senhor, misericórdia!

Senhor, misericórdia!

Deus todo poderoso tenha compaixão de nós,

perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna.

ORAÇÃO COLECTA: Deus de infinita bondade, que vedes o vosso povo esperar fielmente o Natal do Senhor, fazei-nos chegar às solenidades da nossa salvação e celebrá-las com renovada alegria. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

LITURGIA DA PALAVRA

Primeira Leitura

Monição: Isaías profetiza sobre a exaltação de Jerusalém e apresenta o Servo de Deus como arauto da Boa Nova, e proclamando a missão que o Senhor lhe confiou.

Na distância dos tempos compreendemos que será esta a missão do Senhor do Senhor: semear a paz e a alegria nos corações dos homens.

 

Isaías 61, 1-2a.10-11

1O espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu e me enviou a anunciar a boa nova aos pobres, a curar os corações atribulados, a proclamar a redenção aos cativos e a liberdade aos prisioneiros, 2aa promulgar o ano da graça do Senhor. 10Exulto de alegria no Senhor, a minha alma rejubila no meu Deus, que me revestiu com as vestes da salvação e me envolveu num manto de justiça, como noivo que cinge a fronte com o diadema e a noiva que se adorna com as suas jóias. 11Como a terra faz brotar os germes e o jardim germinar as sementes, assim o Senhor Deus fará brotar a justiça e o louvor diante de todas as nações.

O texto da leitura é tirado daquilo que poderíamos chamar o cerne do Terceiro Isaías (Is 60, 1 – 64, 11): no centro de Is 56 – 66 situa-se o anúncio da salvação para todas as nações a partir da nova Jerusalém (Sião) ideal (símbolo de uma nova ordem universal: cf. Apoc 21, 1 – 22, 5). E é em Is 61 que está o cume deste esplendoroso anúncio: o capítulo começa com os primeiros versículos que integram a leitura de hoje, em que aparece a falar, num denso monólogo, o mensageiro da boa nova libertadora. Por um lado, estes dois vv. têm grande afinidade com os poemas messiânicos do Servo de Yahwéh (cf. Is 49, 1-6 e 42, 1) e, por outro lado, o sentido profético destas palavras aparece realçado na parafraseada tradução aramaica (Targum), de que Jesus se teria servido na sinagoga de Nazaré. Com efeito, esta acrescentava no início deste texto: «Assim diz o profeta»; deste modo, o texto na boca de Jesus adquiria uma força surpreendente, ao pôr em evidência que Ele era o profeta-mensageirode que falava Isaías – «hoje cumpriu-se esta Escritura…» (Lc 4, 21) – e o próprio Messias, isto é, o Ungido (Cristo) pelo Senhor.

«Anunciar a boa nova aos pobres». Estes pobres – em hebraico, anavim, um termo técnico do A. T. – não são propriamente os que sofrem de miséria material ou moral, mas os que vivem numa piedosa atitude de indigência e humildade diante de Deus, isto é, os que confiam na bondade e misericórdia de Deus e não nos seus próprios bens ou merecimentos. «Um ano de graça» encerra uma alusão ao ano sabático (cf. Ex 21, 2-11; Jer 34, 14; Ez 46, 17), ou antes ao ano jubilar, cada ano cinquenta, em que os escravos eram restituídos à liberdade e a propriedade regressava aos seus antigos donos (cf. Lv 25).

10-11 «Exulto de alegria»… O texto adapta-se bem ao tema tradicional da alegria para este «Domingo Gaudete». A alegria a que se refere – uma alegria comparável à dos noivos na sua festa nupcial e à do lavrador em face duma boa colheita – corresponde à maravilhosa restauração de Jerusalém; é a alegria messiânica, pois o horizonte do oráculo é claramente escatológico, isto é, o de uma intervenção de Deus em ordem à salvação definitiva. É, pois, coerente que a Liturgia veja nesta alegria a da Igreja pelo nascimento de Cristo.

Salmo Responsorial

Lc 1, 46-48.49-50.53-54 (R. Is 61, 10b)

Monição: O cântico evangélico do Magnificat, entoado por Nossa Senhora na visitação a santa Isabel, é um hino cheio de alegria e de optimismo. Estes sentimentos não têm origem numa vida sem problemas ou dificuldades, mas numa confiança ilimitada no Senhor.

Também nisto podemos imitar a Mãe de Jesus e nossa Mãe, cantando-o e vivendo-o.

Refrão: EXULTO DE ALEGRIA NO SENHOR.

Ou:                A MINHA ALMA EXULTA NO SENHOR.

A minha alma glorifica o Senhor

e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador,

porque pôs os olhos na humildade da sua serva:

de hoje em diante me chamarão bem-aventurada

todas as gerações.


 

O Todo-poderoso fez em mim maravilhas:

Santo é o seu nome.

A sua misericórdia se estende de geração em geração

sobre aqueles que O temem.


 

Aos famintos encheu de bens

e aos ricos despediu-os de mãos vazias.

Acolheu a Israel, seu servo,

lembrado da sua misericórdia.


Segunda Leitura

Monição: S. Paulo recomenda-nos a virtude da alegria na primeira carta aos fiéis da comunidade eclesial de Tessalónica.

Para o conseguirmos, devemos permanecer em oração de acção de graças quando tudo corre de acordo com o nosso gosto ou contra ele, e docilidade ao Espírito Santo. È um apropriado programa para este Advento.

Tessalonicenses 5, 16-24

Irmãos: 16Vivei sempre alegres, 17orai sem cessar, 18dai graças em todas as circunstâncias, pois é esta a vontade de Deus a vosso respeito em Cristo Jesus. 19Não apagueis o Espírito, 20não desprezeis os dons proféticos; 21mas avaliai tudo, conservando o que for bom. 22Afastai-vos de toda a espécie de mal. 23O Deus da paz vos santifique totalmente, para que todo o vosso ser espírito, alma e corpo se conserve irrepreensível para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo. 24É fiel Aquele que vos chama e cumprirá as suas promessas.

A leitura contém em parte recomendações finais da Carta. Entre os conselhos, S. Paulo insiste na alegria – «Vivei sempre alegres» – (v. 16), que é uma virtude profundamente cristã, consequência lógica da nossa condição de filhos de Deus. Daqui os apelos constantes do N. T. a viver a alegria: Filp 2, 18; 3, 1; 4, 4; 2 Cor 2, 11; 7, 4; Col 1, 24; Mt 5, 12; Jo 15, 11; 16, 22.24. 17, 13.

18 «É esta a vontade de Deus»: que estejamos sempre alegres, rezemos sem cessar e demos acções de graças sempre; e isto «em Cristo Jesus», pois a vontade de Deus comunicada a nós pela palavra e exemplos de Jesus torna-se coisa praticável mediante a obra redentora do Senhor que nos dá forças para tanto com a sua graça.

19-21 «Não apagueis o Espírito… mas avaliai tudo, conservando o que é bom». Há aqui uma referência aos dons carismáticos – atribuídos ao Espírito Santo –, dons concedidos aos fiéis para o bem espiritual dos outros, concretamente ao dom da profecia; mais do que para adivinhar, este servia para «edificar, exortar e consolar» (cf. 1Cor 14, 1-15). Parece que esta exortação vai dirigida aos chefes da comunidade, para que não se oponham sistematicamente aos carismas suscitados por Deus nos fiéis, uma recomendação fortemente expressiva, pois o Espírito Santo é por excelência luzfogo. Não é a Hierarquia quem programa a acção do Espírito Santo, «que sopra onde quer» (Jo 3, 8), mas ela tem a missão de avaliar e discernir a genuinidade dos carismas (cf. Lumen Gentium, n.º 12).

23 «O Deus da paz vos santifique totalmente, para que todo o vosso ser, espírito, alma e corpo se conserve irrepreensível». A totalidade do ser da pessoa a tornar-se santa é expressa segundo uma concepção tricotómica do ser humano, como sendo composto de três princípios, à maneira da filosofia grega, a saber, o espírito, ou o princípio superior de vida intelectual (nous, que Filon substituiu por pneuma, a mesma designação que também Paulo adoptou), a alma, ou o princípio de vida sensitiva(psykhê), e o corpo, o elemento puramente material (sôma). Não é de excluir que aqui S. Paulo se tenha servido do modelo antropológico grego tripartido, mas fá-lo sem se comprometer com este modelo, pois não é um filósofo especulativo; o que lhe importa é utilizar a linguagem corrente, para se fazer entender; é assim que ele utiliza diversos modelos antropológicos, gregos ou semíticos, ao correr da pena.

24 «É fiel Aquele que vos chama». Aqui está o firme garantia da perseverança na graça e na vocação cristã. S. Paulo, na linha da doutrina já revelada no A. T., insiste frequentemente na fidelidade divina: 1 Cor 1, 9; 10, 13; 2 Cor 1, 18; Filp 1, 6; 2 Tes 3, 3; 2 Tim 1, 12…

Aclamação ao Evangelho

Is 61, 1

Monição: O Senhor chamou-nos à ida e à Igreja, para sermos na terra mensageiros da alegria, como consequência da nossa filiação divina.

Agradeçamos esta felicidade e aclamemos o Evangelho que proclama esta verdade para todos nós.

ALELUIA

O Espírito do Senhor está sobre mim: enviou-me a anunciar a boa nova aos pobres.

Evangelho

São João 1, 6-8.19-28

6Apareceu um homem enviado por Deus, chamado João. 7Veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele. 8Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. 19Foi este o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram, de Jerusalém, sacerdotes e levitas, para lhe perguntarem: «Quem és tu?» 20Ele confessou a verdade e não negou; ele confessou: «Eu não sou o Messias». 21Eles perguntaram-lhe: «Então, quem és tu? És Elias?», «Não sou», respondeu ele. «És o Profeta?». Ele respondeu: «Não». 22Disseram-lhe então: «Quem és tu? Para podermos dar uma resposta àqueles que nos enviaram, que dizes de ti mesmo?» 23Ele declarou: «Eu sou a voz do que clama no deserto: ‘Endireitai o caminho do Senhor’, como disse o profeta Isaías». 24Entre os enviados havia fariseus 25que lhe perguntaram: «Então, porque baptizas, se não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?» 26João respondeu-lhes: «Eu baptizo em água, mas no meio de vós está Alguém que não conheceis: 27Aquele que vem depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias». 28Tudo isto se passou em Betânia, além Jordão, onde João estava a baptizar.

O texto evangélico é extraído das referências a João Baptista que aparecem no Prólogo do IV Evangelho e do início da narrativa joanina.

6-8 «Um homem… chamado João» O único João de que se fala no IV Evangelho é o Baptista, sem nunca contar a sua vida e pregação (como os Sinópticos: cf. Lc 3, 1-22 par.); apenas se refere o seu testemunho a favor de Jesus (1, 15.19-35; 3,27-30; 5,33), a fim de que todos acreditassem.

19-28 Nesta secção deixa-se ver o prestígio excepcional do Baptista e a sua humildade, bem como o ambiente de expectativa messiânica. É interessante notar como o IV Evangelho abre com o testemunho de João (Baptista), e termina com o do Evangelista (João), ambos apontando Cristo como o Cordeiro de Deus imolado: 19, 35-36.

A propósito de Elias, ver Mal 3, 23; Sir 48, 10-11; Mt 11, 14; 17, 19; e de o Profeta, ver Dt 18, 15; Jo 6, 14; Act 3, 22.

19 «Os judeus». S. João costuma designar assim os chefes judaicos, e geralmente com uma conotação de inimigos de Jesus. Isto explica-se por escrever para cristãos vindos da gentilidade e a muitos anos de distância dos acontecimentos (estamos perto do ano 100), por isso não implica anti-judaísmo. Os «levitas» pertencentes à tribo sacerdotal de Levi; eram os auxiliares dos sacerdotes, e não podiam oferecer os sacrifícios.

20 «Ele confessou a verdade e não negou. Confessou…» Esta insistência do Evangelista põe em evidência a hombridade e rectidão do Baptista, assim como a especial força do seu testemunho. É também de supor que esta insistência tenha por objectivo animar os fiéis a confessarem a sua fé em Cristo, apesar do furor das perseguições.

21 «Elias… o profeta». Segundo a crença popular, Elias, elevado ao céu sem morrer (cf. 2 Re 2, 11-12), deveria regressar no fim dos tempos: Mal 3, 23 (4, 5); Sir 48, 10; Mt 17, 10-13. Note-se que não perguntam a João se ele é um profeta, mas o profeta. Com efeito, os judeus esperavam um profeta distinto do Messias para introduzir os tempos messiânicos, apoiados em Dt 18, 15. Também a Regra da Comunidade, daquela época, achada nas grutas do Mar Morto, fala da chegada de um novo profeta que acompanhará os dois Messias esperados pelos essénios: um, sacerdote, da tribo de Levi, e outro, rei, da tribo de Judá.

26 «Eu baptizo em água». Baptizar era mergulhar na água. Tratava-se dum banho ritual que significava a purificação legal de alguma impureza prevista pela Torá escrita ou oral. Na época, existia também o baptismo dos prosélitos, para incorporar um gentio no judaísmo, e ainda o baptismo dos essénios, um rito de iniciação e purificação dos adeptos que entravam na seita de Qumrã. O baptismo de João não era um rito de incorporação ou de iniciação, mas de conversão interior; as palavras de exortação do Baptista e o reconhecimento público e humilde dos pecados dispunham o penitente para vir a receber a graça de Cristo, que já vivia entre o povo, mas que o povo não conhecia na sua qualidade de Messias. Os profetas tinham anunciado uma purificação com a água nos tempos messiânicos: Zac 13, 1; Jer 4, 14; Ez 36, 25; 37, 23. O baptismo de João dispunha para a limpeza da alma, mas o Baptismo de Jesus concede eficazmente o perdão dos pecados (cf. Mt 3, 11; Mc 1, 4). Dadas as circunstâncias da época, o simbolismo do rito de baptizar era então muito mais evidente do que nos nossos dias, mas a eficácia do Baptismo de Jesus só se pode captar pela fé.

28 «Em Betânia, além Jordão», em frente de Jericó, na margem esquerda do rio (cf. Jo 10, 39-40), é diferente da terra de Lázaro (cf. Jo 11, 1.18), a uns três quilómetros a leste de Jerusalém.

Sugestões para a homilia

• A verdadeira alegria

A fonte da verdadeira alegria

Mensageiros da alegria

Para ser alegre, servir

• O caminho da alegria

Humildade

Penitência

Crescer na fé e no amor

1. A verdadeira alegria.

A alegria é para nós indispensável, como a luz do sol para a vida. Talvez por isso, procuramo-la instintivamente sem descanso.

a) A fonte da verdadeira alegria. «O espírito do Senhor está sobre mim.» Acontece, porém, que muitos jovens e adultos procuram hoje a alegria em fontes envenenadas. São elas, entre outras:

• A agitação e o ruído (nas discotecas, nas aparelhagens dos carros e de casa, nos grandes aglomerados de pessoas, etc.). Sentimos medo ao silêncio que nos confronta com o vazio da nossa vida e nos pede para renunciar a muitas coisas e ao sacrifício para seguir a voz de Deus.

• A sensualidade e a gula, que nos mergulha na embriagues dos sentidos, mas deixa o espírito cada vez mais faminto, vazio e inquieto. Quando não se acorda a tempo desta ilusão, pode levar ao desespero, fruto da desilusão.

• A ostentação orgulhosa. Gasta-se tempo, dinheiro e trabalho a representar no grande palco da vida, ostentando o que não se é. Vivemos na civilização do “faz-de-conta”. Quando deixamos de ter plateia que nos aplaude, a vida aparece despida de qualquer sentido.

A verdadeira fonte da alegria encontra-se em Deus e buscamo-la quando procuramos ser fiéis ao que Ele nos pede.

b) Mensageiros da alegria. «O Senhor me ungiu e me enviou […]» A verdadeira alegria não se encontra numa exclusiva atitude de receber, mas de dar e dar-se.

Quando Deus envia o Seu Servo para a missão, anunciada por Isaías – modelo de que há-de ser todo o cristão – não o faz para que ele olhe exclusivamente para si. Se assim fosse, não teria sentido o envio.

Cada um de nós está no mundo também para servir. Somos uma comunidade de serviço mútuo, com dependência uns dos outros. Deste modo começamos a vida em comunhão na terra para a continuar eternamente no Céu.

Os que se dobram sobre si próprios, sempre à procura de serem servidos, sem ajudar quem quer que seja, são infelizes e acabam por perturbar a alegria dos outros.

Por isso, alguém dizia que

O primeiro serviço que o Senhor nos pede é tornar o mundo à nossa volta mais alegre, mais humano e mais optimista.

Esta alegria não pode ser fruto de uma vivência néscia, ignorando as dificuldades reais da vida, mas alicerçada na nossa filiação divina.

c) Para ser alegre, servir. «[…] me enviou a anunciar a boa nova aos pobres […]». Ao mesmo tempo que nos convida a uma alegria perene, o Senhor indica-nos o caminho a percorrer para a possuir.

O Senhor ungiu e enviou o Seu Servo e a cada um de nós, para instaurar uma nova ordem no mundo:

• «a anunciar a boa nova aos pobres». Anunciar aos humildes, aos que não se apoiam nos poderes humanos, mas apenas confiança que depositam no Senhor a sua esperança. São estes que acolhem de braços abertos a boa nova da salvação.

• «a curar os corações atribulados». Muitos corações sangram pelas injustiças, incompreensões, preocupações da vida. Temos de ajudá-los a procurar no Senhor a solução dos seus problemas. O Senhor convida-nos: «Vinde a Mim todos os que andais sobrecarregados, e Eu vos aliviarei».

• «a proclamar a redenção aos cativos». Encontramos muitas pessoas que perderam a liberdade, porque se deixaram apanhar nas malhas do álcool, da droga, da sensualidade, do apoderamento dos bens alheios, e de tantas outras formas de escravidão. Precisam da nossa ajuda.

• «e a liberdade aos prisioneiros». Há pessoas cativas da prepotência e injustiça dos mais fortes, do seu orgulho que não lhes deixa espaço para terem paz e de tantas outras formas de prisão.

• «a promulgar o ano da graça do Senhor.» No Ano Sabático de Israel as dívidas eram perdoadas e os bens imóveis voltavam à posse das pessoas. Propriamente era um ano de misericórdia em que tudo era perdoado.

Deixou-nos o Senhor na Sua Igreja o acesso a esta misericórdia no Sacramento da reconciliação e Penitência. Que belo programa para este Advento, ajudar as pessoas a reencontrar a alegria de viver numa reconciliação sincera com Deus!

2. O caminho da alegria.

Na sua pregação no deserto da Judeia, S. João Baptista – pelas suas palavras e atitudes – ensina-nos como nos havemos de preparar para caminharmos ao encontro de Jesus que nos vem visitar.

a) Humildade. «Ele confessou a verdade e não negou; ele confessou: Eu não sou o Messias». Além desta proclamação de humildade, o Precursor tem outras: não é um profeta, mas apenas «a voz do que clama no deserto». Recusa-se, num primeiro momento, a baptizar Jesus e manifesta-se indigno de lhe desatar as correias das sandálias.

Se tentarmos descobrir as causas da nossa tristeza que, por vezes, nos invade, verificaremos que, a maior parte delas ela brota da ferida do orgulho: porque não nos deram a importância e valor que julgávamos ter; porque tentámos viver como se fôssemos donos incondicionais da nossa vida; porque desejamos brilhar – colocarmo-nos no centro do mundo – e não o conseguimos, e cobrimos a nossa nudez com o que não nos pertence. João Baptista despe-se corajosamente do que não lhe pertence.

Aceitemos que somos pequenos, embora com a grandeza infinita de filhos muito amados do nosso Pai do Céu.

b) Penitência. «Endireitai o caminho do Senhor.» Passamos a vida a fugir do que nos custa e, no final, sentimo-nos amargurados.

Se usássemos este critério em relação à nossa saúde corporal, em breve lhe sentiríamos os efeitos negativos. Aceitamos dietas, abstinências, caminhadas para garantir um mínimo de qualidade de vida.

Podemos, pelo menos, aceitar com alegria e generosidade, as limitações que a nossa pouca saúde, estreiteza económica, enquadramento na vida com as outras pessoas, em vez de embatermos teimosamente contra elas.

Hoje fala-se de crise económica, há restrições impostas pela idade e, possivelmente, crises de saúde. Em vez de cairmos numa lamentação doentia, procuremos ultrapassar estes obstáculos, mas vivamos em paz e alegria. Mais que sejamos voluntários do Amor, do que encarar a vida continuamente contrariados.

c) Crescer na fé e no amor. «É fiel Aquele que vos chama e cumprirá as suas promessas.» A fé e o amor são inseparáveis na vida cristã.

Para conseguirmos este crescimento, temos necessidade de frequentar a escola da verdadeira alegria que é a Missa Dominical. O Senhor prepara para nós em cada Domingo duas mesas: a da Palavra, na qual alimenta a nossa fé, e a da Eucaristia, onde robustece o nosso Amor.

Daqui partimos alegres, enviados por Deus, para viver este mesmo Amor, no trabalho, na família e na convivência com os amigos e proclamar para todos que O Senhor nos ama com loucura e nos ajuda a ser felizes já nesta vida e, principalmente, na que nos aguarda no Céu.

Maria Santíssima é modelo desta alegria que se fundamenta na fé e A leva ao Amor. Quando canta o Magnificat em casa de Isabel, a sua vida não é um mar de rosas. Tem pela frente muitas complicações humanamente difíceis: está grávida, tendo concebido virginalmente. Como vai explicar este mistério a S. José? Além disso, o chamamento à maternidade não estava nos seus planos, como confidencia ao Arcanjo.

E, no entanto, unicamente fundada na confiança no Senhor, canta o hino mais alegre de toda a Sagrada Escritura.

Com Ela aprenderemos a pôr em prática o conselho de S. Paulo: «Irmãos: Vivei sempre alegres, orai sem cessar, dai graças em todas as circunstâncias…»

Fala o Santo Padre

«A liturgia convida-nos a ter uma espera vigilante e alegre, porque o Senhor não tardará: Ele vem libertar o seu povo do pecado.»

Depois de ter celebrado a solenidade da Imaculada Conceição de Maria, nestes dias entramos no clima sugestivo da iminente preparação para o Santo Natal, e aqui já vemos a árvore erigida. Na hodierna sociedade consumista, infelizmente este período sofre uma espécie de «poluição» comercial, que corre o risco de alterar o seu espírito autêntico, caracterizado pelo recolhimento, pela sobriedade e por uma alegria não exterior, mas íntima. Por conseguinte, é providencial que, quase como uma porta de entrada para o Natal, haja a festa daquela que é a Mãe de Jesus, e que melhor do que qualquer outro pode levar-nos a conhecer, amar e adorar o Filho de Deus que se fez homem. Portanto, deixemos que Ela nos acompanhe; que os seus sentimentos nos animem, para que nos predisponhamos com sinceridade de coração e abertura de espírito a reconhecer no Menino de Belém o Filho de Deus que veio à terra para a nossa redenção. Caminhemos juntamente com Ela na oração, e acolhamos o reiterado convite que a liturgia do Advento nos dirige, a permanecer à espera, uma espera vigilante e alegre, porque o Senhor não tardará: Ele vem libertar o seu povo do pecado.

Em muitas famílias, segundo uma bela e consolidada tradição, imediatamente depois da festa da Imaculada, começa-se a preparar o Presépio, como que para reviver juntamente com Maria aqueles dias repletos de trepidação, que precederam o nascimento de Jesus. Preparar um Presépio em casa pode revelar-se um modo simples, mas eficaz, de apresentar a fé para a transmitir aos próprios filhos. O Presépio ajuda-nos a contemplar o mistério do amor de Deus, que se revelou na pobreza e na simplicidade da gruta de Belém. […] Com efeito, o Presépio pode ajudar-nos a compreender o segredo do verdadeiro Natal, porque fala da humildade e da bondade misericordiosa de Cristo que, «embora fosse rico, se tornou pobre» (2 Cor 8, 9) por nós. A sua pobreza enriquece quem a abraça e o Natal traz alegria e paz àqueles que, como os pastores em Belém, acolhem as palavras do Anjo: «Isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido, envolto em faixas e deitado numa manjedoura» (Lc 2, 12).

Este permanece o sinal, também para nós, homens e mulheres do século XXI. Não há outro Natal. […]

Bento XVI, Angelus, 11 de Dezembro de 2005

LITURGIA EUCARÍSTICA

Introdução à Liturgia Eucarística

Depois de nos ter enriquecido e acariciado com a luz da Sua Doutrina, Jesus Cristo vai agora renovar na nossa presença o mistério do Sacrifício do Calvário, misteriosamente antecipado no Cenáculo, na noite de Quinta-Feira Santa.

Peçamos-Lhe que aumente a nossa fé, para vivermos, como os Apóstolos, este momento ditoso.

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS: Fazei, Senhor, que a oblação deste sacrifício se renove sempre na vossa Igreja, de modo que a celebração do mistério por Vós instituído realize em nós plenamente a obra da salvação. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Prefácio do Advento I: p. 453 [586-698] ou II p. 455 [588-700]

SANTO

Saudação da Paz

Quando não estamos em paz, reconciliados com os irmãos, sentimos que a tristeza nos domina.

Para que a nossa alegria seja plena, aceitemos perdoar e ser perdoados das mútuas ofensas.

Com este propósito,

Saudai-vos na paz de Cristo!

Monição da Comunhão

A Santíssima Eucaristia na qual recebemos e veneramos o Corpo, Sangue, Alma e Divindade do Senhor, enche a nossa mente de graça e é penhor da futura glória no Céu.

Adoremos o Senhor presente sobre o altar e preparemo-nos para O recebermos com as necessárias disposições.

Is 35, 4

ANTÍFONA DA COMUNHÃO: Dizei aos desanimados: Tende coragem e não temais. Eis o nosso Deus que vem salvar-nos.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO: Concedei, Senhor, pela vossa bondade, que este divino sacramento nos livre do pecado e nos prepare para as festas que se aproximam. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

RITOS FINAIS

Monição final

Levamos connosco, para mais uma semana de trabalho, a luz da Verdade e a fortaleza que nos dá o Corpo e Sangue do Senhor.

Sejamos, durante a semana, nos diversos meios em que vamos actuar, arautos da verdadeira alegria.

HOMILIAS FERIAIS

3ª SEMANA

2ª Feira, 15-XII: A luz de Cristo e da Igreja.

Num 24, 2-7. 15-17 / Mt 21, 23-27

(Balaão): Eu vejo, mas não para já, e avisto, mas não de perto: um Astro sai de Jacob e um ceptro se ergue de Israel.

Balaão, inspirado pelo Espírito de Deus, anuncia o aparecimento de um Astro (cf Leit), que é a estrela vista pelos Magos e que os conduziu até Jesus (cf CIC, 528).

Quando foi apresentado no Templo, Jesus foi reconhecido como o Messias esperado, a ‘luz das nações’ e ‘glória de Israel’. Esta luz está agora reflectida na Igreja: «A Igreja não tem outra luz senão a de Cristo. Ela é, segundo uma imagem cara aos Padres da Igreja, comparável à Lua, cuja luz é toda reflexo do Sol» (CIC, 748).

3ª Feira, 16-XII:Aceitar e confiar plenamente em Deus.

Sof 3, 1-2. 0-13 / Mt 21, 28-32

Ai da cidade rebelde e impura! Não escutou nenhum apelo, nem aceitou qualquer aviso. Não teve confiança no Senhor.

O profeta Sofonias faz-nos chegar esta lamentação de Deus: não é escutado nem têm confiança n’Ele (cf Leit). Aconteceu o mesmo com os sacerdotes e anciãos do povo, que não deram crédito a João Baptista. Pelo contrário, os publicanos e mulheres de má vida receberam o baptismo de penitência (cf Ev).

Jesus aproximou-se de nós. Como o vamos receber: aceitamos a sua palavra? Procuremos o arrependimento (a conversão) e as obras (cf parábola Ev).

4ª Feira, 17-XII: O nome de Jesus.

Gen 49, 2. 8-10 / Mt 1, 1-7

(Jacob): O ceptro não há-de fugir a Judá, até que venha aquele que lhe tem direito e a quem os povos hão-de obedecer.

Jacob anuncia aos seus filhos a vinda do Messias (cf Leit). E é precisamente da sua descendência que foi gerado, muitos séculos depois, José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus (Ev).

nome de Jesus quer dizer ‘Deus salva’. E este nome está no centro da oração cristã: todas as orações concluem com a fórmula ‘por nosso Senhor Jesus Cristo’; na Ave-Maria recorda-se o ‘bendito fruto do vosso ventre Jesus’. Que o seu nome esteja sempre nas nossas acções e orações.

5ª Feira, 18-XII: O nome de José.

Jer 23, 5-8 / Mt 1, 18-24

Dias virão em que farei surgir para David um rebento justo. Será um verdadeiro rei e agirá com justiça.

O profeta Jeremias anuncia a vinda do Salvador, como descendente messiânico de David (cf Leit e CIC, 437).

É José, filho de David, que receberá a mensagem do Anjo, que lhe comunica o nascimento de Jesus (cf Ev). «O anjo disse assim a José: ‘Dar-lhe-ás o nome de Jesus, porque Ele salvará o seu povo dos pecados’ (Ev)» (CIC, 1846). O nome de José significa em hebreu ‘Deus acrescentará’, isto é, aquele que cumpre a vontade do Senhor. E José fez como lhe ordenara o Anjo do Senhor (Ev).

6ª Feira, 19-XII: Programa de preparação para o Natal.

Jz 13, 2-7. 24-25 / Lc 1, 5-25

O Anjo do Senhor apareceu a essa mulher e disse-lhe: És estéril e não tens tido filhos, mas hás-de conceber e terás um filho.

Uma mulher estéril, esposa de Manoá, recebe a visita do Anjo do Senhor, que lhe anuncia o nascimento de um filho, Sansão (cf Leit). O mesmo acontecerá com Isabel, esposa de Zacarias, que deu à luz João Baptista (cf Ev).

João Baptista foi enviado a fim de preparar os caminhos do Senhor: «A assembleia deve preparar-se para o encontro com o seu Senhor, ser ‘um povo bem disposto’ (Ev). A graça do Espírito Santo procura despertar a fé, a conversão do coração e a adesão à vontade do Pai» (CIC, 1098). Aqui temos um possível programa de preparação para o Natal.

Sábado, 20-XII: O consentimento de Nossa Senhora.

Is 7, 10-14 / Lc 1, 26-38

Há-de a Virgem conceber e dar à luz um filho, a quem porá o nome de ‘Emanuel’.

Esta profecia de Isaías vai cumprir-se em Maria (cf Ev).

No consentimento de Nossa Senhora descobrimos a necessidade da graça. Por isso o Anjo Gabriel a saúda como ‘cheia de graça’. Além disso, Ela responde também com a ‘obediência da fé’, com a certeza de que para Deus ‘nada é impossível’. Procuremos pedir sempre a ajuda de Deus para podermos levar a cabo as obras que Deus nos pede. Obedeçamos com fé, não digamos ‘não’ a Deus.

Celebração e Homilia:          FERNANDO SILVA

Nota Exegética:                     GERALDO MORUJÃO

Homilias Feriais:                   NUNO ROMÃO

Sugestão Musical:                 DUARTE NUNO ROCHA

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