Roteiro Homilético – II Domingo de Páscoa – Ano A

RITOS INICIAIS

Pedro 2, 2

ANTÍFONA DE ENTRADA: Como crianças recém-nascidas, desejai o leite espiritual, que vos fará crescer e progredir no caminho da salvação. Aleluia.

Ou:

Es 2, 36–37

Exultai de alegria, cantai hinos de glória. Dai graças a Deus, que vos chamou ao reino eterno. Aleluia.

Diz–se o Glória.

Introdução ao espírito da Celebração

Celebramos em cada domingo a Páscoa do Senhor, a Sua Morte e Ressurreição.

Jesus quis aparecer aos Apóstolos no domingo de Páscoa e no de Pascoela, marcando o ritmo da celebração pascal para os discípulos e para os cristãos de todos os tempos.

Alegremo-nos, porque o Senhor ressuscitado está aqui no meio de nós como esteve no Cenáculo.

Irmãos, peçamos perdão dos nossos pecados, pois são os que dEle nos separam.

ORAÇÃO COLECTA: Deus de eterna misericórdia, que reanimais a fé do vosso povo na celebração anual das festas pascais, aumentai em nós os dons da vossa graça, para compreendermos melhor as riquezas inesgotáveis do Baptismo com que fomos purificados, do Espírito em que fomos renovados e do Sangue com que fomos redimidos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

LITURGIA DA PALAVRA

Primeira Leitura

Monição: O livro dos Actos dos Apóstolos conta-nos neste trecho a vida dos primeiros cristãos de Jerusalém. São exemplo para todos fixarmos e imitarmos.

Actos 2, 42–47

42Os irmãos eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fracção do pão e às orações. 43Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, toda a gente se enchia de temor.44Todos os que haviam abraçado a fé viviam unidos e tinham tudo em comum. 45Vendiam propriedades e bens e distribuíam o dinheiro por todos, conforme as necessidades de cada um. 46Todos os dias frequentavam o templo, como se tivessem uma só alma, e partiam o pão em suas casas; tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração, 47louvando a Deus e gozando da simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava todos os dias o número dos que deviam salvar–se.

Esta é a primeira das três maiores «descrições sumárias» de Actos da primitiva comunidade cristã de Jerusalém. As outras duas mais desenvolvidas estão em Act 4, 32-35; e 5, 12-16. Nestas descrições focam-se três aspectos da vida dos primeiros cristãos de Jerusalém: a sua vida religiosa, o cuidado dos pobres e os prodígios realizados pelos Apóstolos, insistindo-se ora num, ora noutro aspecto; aqui insiste-se na vida religiosa. Os relatos sumários são breves resumos da vida da Igreja, que não se reduzem a estes três relatos maiores. Os críticos vêem nalguns deles uma descrição um tanto idealizada, pois é feito um juízo global a partir de casos concretos, como quando se diz que ninguém tinha nada seu (4, 42), ou que todos eram curados (5, 16), etc. A credibilidade do conteúdo destes sumários é no entanto confirmada pelo facto de que a clara visão idílica de alguns elementos não leva o autor a deformar a realidade, pois não esconde acontecimentos que podiam embaciar essa visão tão optimista (por ex., o caso de Ananias e de Safira, em Act 5, 1-11).

42 «O ensino dos Apóstolos». Os Apóstolos não se limitavam a pregar o primeiro anúncio (kérigma), em ordem à conversão inicial e ao Baptismo (cf. Act 2, 14-41); dedicavam-se também a uma instrução catequética dos que já tinham a fé.

«A comunhão fraterna», isto é, havia uma grande unidade de espíritos e de corações («um só coração e urna só alma» Act 4, 32); a tradução latina da Vulgata interpretou a expressão no sentido da comunhão eucarística («comunhão da fracção do pão»), uma vez que, de facto, este Sacramento é o fundamento da união de todos os cristãos entre si: 1 Cor 10, 17.

«Fracção do pão»: partir do pão era o nome primitivo dado à celebração da Eucaristia, um nome tirado do gesto de Jesus de partir o pão na Última Ceia. Com toda a probabilidade, temos aqui uma referência à celebração eucarística, designada desta maneira em 1 Cor 10, 16-17 e Act 20, 7.

44 «Tinham tudo em comum». Esta atitude extraordinariamente generosa ficou para sempre como um luminoso exemplo de como «compartilhar com os outros é uma atitude cristã fundamental… Os primeiros cristãos puseram em prática espontaneamente o princípio segundo o qual os bens deste mundo são destinados pelo Criador à satisfação das necessidades de todos sem excepção» (Paulo VI). Esta atitude cristã nada tem que ver com a colectivizarão de toda a propriedade privada imposta por um estado totalitário, pois aqui era respeitada a liberdade individual, podendo não se pôr tudo em comum, por isso em Actos se louva o gesto de Barnabé (Act 4, 36-37) e se censura a fraude de Ananias (Act 5, 4). Daqui se conclui que o «todos» do texto é uma generalização.

46 No princípio, os cristãos de Jerusalém continuavam a participar nos actos de culto judaico, acrescentando a essas práticas um novo rito que celebravam nas casas particulares: a Eucaristia, que, como é óbvio, não podiam celebrar no Templo. O original grego sugere mesmo que esta se celebrava, ora numa casa, ora noutra. Pode-se perguntar se a celebrariam diariamente. Não é certo, mas a sua celebração no «primeiro dia da semana» consta-nos de Act 20, 7.11; 1 Cor 16, 2; cf. Didaquê, 14, 1, dia que já na época apostólica se começa a chamar «dia do Senhor», isto é, Domingo (cf. Apoc 1, 10).

«Com alegria». S. Lucas sublinha frequentemente esta alegria dos primeiros cristãos: (Act 5, 41; 8, 8.39; 13, 48-52; 15, 3; 16, 34), bem como o tom de louvor que havia na sua vida de oração (v. 47; cf. 3, 8.9; 4, 21; 10, 46; 11, 18; 13, 48; 19, 17; 21, 20).

Salmo Responsorial Sl 117 (118), 2–4.13–15.22–24 (R. 1)

Monição: O salmo 117 convida-nos a encher-nos da alegria pascal, a viver o dia que o Senhor fez, a celebrar a vitória de Jesus.

Refrão: DAI GRAÇAS AO SENHOR, PORQUE ELE É BOM, PORQUE É ETERNA A SUA MISERICÓRDIA.

Ou:                ACLAMAI O SENHOR, PORQUE ELE É BOM:  O SEU AMOR É PARA SEMPRE.

Ou:               ALELUIA.

Diga a casa de Israel:

é eterna a sua misericórdia.

Diga a casa de Aarão:

é eterna a sua misericórdia.

Digam os que temem o Senhor:

é eterna a sua misericórdia.

 

Empurraram–me para cair,

mas o Senhor me amparou.

O Senhor é a minha fortaleza e a minha glória,

foi Ele o meu Salvador.

Gritos de júbilo e de vitória nas tendas dos justos:

a mão do Senhor fez prodígios.

 

A pedra que os construtores rejeitaram

tornou–se pedra angular.

Tudo isto veio do Senhor:

é admirável aos nossos olhos.

Este é o dia que o Senhor fez:

exultemos e cantemos de alegria.

Segunda Leitura

Monição: S.Pedro lembra-nos que a fé nos enche de alegria já neste mundo, mesmo no meio das provações.

São Pedro 1, 3–9

3Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, na sua grande misericórdia, nos fez renascer, pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos, 4para uma esperança viva, para uma herança que não se corrompe, nem se mancha, nem desaparece, reservada nos Céus para vós 5que pelo poder de Deus sois guardados, mediante a fé, para a salvação que se vai revelar nos últimos tempos. 6Isto vos enche de alegria, embora vos seja preciso ainda, por pouco tempo, passar por diversas provações, 7para que a prova a que é submetida a vossa fé – muito mais preciosa que o ouro perecível, que se prova pelo fogo – seja digna de louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo Se manifestar. 8Sem O terdes visto, vós O amais; sem O ver ainda, acreditais n’Ele. E isto é para vós fonte de uma alegria inefável e gloriosa, 9porque conseguis o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas.

Em todos os domingos pascais deste ano A vamos ter como 2ª leitura um trecho da 1ª Carta de Pedro. Estes vv. têm um certo aspecto de hino trinitário de sabor baptismal (v. 3): dão-se graças ao Pai (v. 3-5; cf. Ef 2, 4; Col 1, 12), pela obra salvadora do Filho (v. 6-9); a referência ao Espírito Santo é deixada fora da leitura de hoje (vv. 10-12).

3-4 «Nos fez renascer pela Ressurreição». A Ressurreição de Jesus, facto realmente sucedido «ao terceiro dia», tem uma dimensão existencial que nos afecta «hoje, agora»: pela união a Cristo ressuscitado, também nós ressuscitamos para uma vida nova (cf. Rom 6, 4-11), «renascemos para uma esperança viva» (cf. Jo 1, 13; 3, 5-7; Gal 6, 15; Tit 3, 5); é assim a esperança cristã, não uma mera utopia: o seu objecto material é a verdadeira vida, a vida eterna: «uma herança que não se corrompe… herança reservada nos Céus para vós» (vv. 3-4).

6 «Isto vos enche de alegria». A esperança na «herança» e «salvação» eternas é fonte de alegria no meio das «diversas provações» pelas que «é preciso passar». Isto não tem nada de alienante, uma vez que o objecto da esperança, o Céu, tem existência real e está ao nosso alcance: a certeza da esperança é firmíssima e não nos deixa confundidos, uma vez que Deus é «omnipotente, infinitamente misericordioso e fidelíssimo às suas promessas», havendo apenas a recear de nós próprios, que podemos vir a ser infiéis a Deus e a seu plano salvador. Esta esperança no Céu é algo que responsabiliza os cristãos mais fortemente do que os demais cidadãos, uma vez que eles sabem que não podam chegar ao Céu se não se preocupam pelo bem dos seus semelhantes, incluindo o que respeita ao bem-estar material (cf. Mt 25, 34-46).

«Sem O verdes ainda, acreditais n’Ele». É fácil descobrir nestas palavras uma alusão ao que, na Missa de hoje, Jesus diz a Tomé: «felizes os que acreditam sem terem visto».

A vida cristã, vida de ressuscitados com Cristo, é uma vida teologal, vida de fé, esperança e amor, a qual nos leva a estar «cheios de alegria inefável», já agora.

Aclamação ao Evangelho

Jo 20, 29

Monição: O Apóstolo João conta as aparições de Jesus ressuscitado no dia de Páscoa e no de Pascoela. Como então, Jesus está vivo no meio de nós. Aclamemo-Lo com alegria.

ALELUIA

Disse o Senhor a Tomé:

«Porque Me viste, acreditaste;

felizes os que acreditam sem terem visto.

Evangelho

São João 20, 19–31

19Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, colocou–Se no meio deles e disse–lhes: «A paz esteja convosco». 20Dito isto, mostrou–lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. 21Jesus disse–lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». 22Dito isto, soprou sobre eles e disse–lhes: «Recebei o Espírito Santo: 23àqueles a quem perdoardes os pecados ser–lhes–ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes serão retidos». 24Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. 25Disseram–lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu–lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». 26Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou–Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». 27Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete–a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». 28Tomé respondeu–Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!» 29Disse–lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». 30Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. 31Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.

Neste breve relato pode ver-se como Jesus cumpriu a suas promessas que constam dos discursos de despedida: voltarei a vós (14, 18) – pôs-se no meio deles (v. 19); um pouco mais e ver-Me-eis (16, 16) –encheram-se de alegria por verem o Senhor (v. 20); Eu vos enviarei o Paráclito (16, 7) – recebei o Espírito Santo (v. 22); ver também Jo 14, 12 e 20, 17.

19 «A paz esteja convosco!» Não se trata de uma mera saudação, a mais corrente entre os Judeus, mesmo ainda hoje. A insistência joanina nestas palavras do Senhor ressuscitado (vv. 19.21.26) – que, embora habituais, nunca são registadas nos Evangelhos! – é grandemente expressiva. De facto, com a sua Morte e Ressurreição Jesus acabava de nos garantir a paz, a paz com Deus, origem e alicerce de toda a verdadeira paz (cf. Jo 14, 27; Rom 5, 1; Ef 2, 14; Col 1, 20).

20 O mostrar das mãos e do peito acentua a continuidade entre o Jesus crucificado e o Senhor glorioso (cf. Hebr 2, 18); a sua presença, que transcende a dimensão espácio-temporal (cf. vv. 19.26), é uma realidade que os enche de paz (vv. 19.21.26; cf. Jo 14, 27; 16, 33; Rom 5, 1; Col 1, 20) e de alegria (v. 20; cf. Jo 15, 11; 16, 20-24; 17, 13). «Ficaram cheios de alegria» é uma observação que confere ao relato uma grande credibilidade; com efeito, naqueles discípulos espavoridos (v. 19), desiludidos e estonteados, surge uma vivíssima reacção de alegria, ao verem o Senhor; ao contrário do que era de esperar, não se verifica aqui o esquema habitual das visões divinas, as teofanias do A. T., em que sempre há uma reacção de temor e de perturbação. A grande alegria dos Apóstolos procede da certeza da vitória de Jesus sobre a morte e também de verem como Jesus reatava com eles a intimidade anterior, sem recriminar a fraqueza da sua fé e a vergonha da sua deslealdade.

22 «Soprou sobre eles… Recebei o Espírito Santo». Este soprar de Jesus não é ainda «o vento impetuoso» do dia de Pentecostes; é um sinal visível do dom invisível do Espírito (em grego é a mesma palavra que também significa sopro). Esta efusão do Espírito Santo não aparece como a mesma que se dá 50 dias depois, na festa do Pentecostes. Aqui, tem por efeito conferir-lhes o poder de perdoar os pecados, poder dado só aos Apóstolos (e seus sucessores no sacerdócio da Nova Aliança), ao passo que no dia do Pentecostes é dado o Espírito Santo também a outros discípulos reunidos com Maria no Cenáculo, iluminando-os e fortalecendo-os com carismas extraordinários em ordem ao cumprimento da missão de que já estavam incumbidos.

23 «A quem perdoardes os pecados…»: não se trata de um mero preceito da pregação do perdão dos pecados que Deus concede a quem confia nesse perdão (interpretação protestante); é uma das poucas passagens da Escritura cujo sentido foi solenemente definido como verdade de fé: estas palavras «devem entender-se do poder de perdoar e reter os pecados no Sacramento da Penitência» (DzS 913); o mesmo Concílio de Trento também se baseia nestas palavras para falar da necessidade de confessar todos os pecados graves depois do Baptismo, uma doutrina que tem vindo a ser reafirmada pelo Magistério: «a doutrina do Concílio de Trento deve ser firmemente mantida e aplicada fielmente na prática»; por isso, os fiéis que, em perigo de morte ou em caso de grave necessidade, tenham recebido legitimamente a absolvição comunitária ou colectiva de pecados graves ficam com a grave obrigação de os confessar dentro de um ano (Normas Pastorais da Congregação para a Doutrina da Fé, 16-VI-1972); cf. Motu proprio de João Paulo IIMisericordia Dei (7.4.2002) e Código D. C., nº 960.

«Ser-lhes-ão perdoados»: esta expressão é muito forte, pois temos aqui o chamado passivum divinum, isto é, o uso judaico da voz passiva para evitar pronunciar o nome inefável de Deus; sendo assim, a expressão corresponde a «Deus lhes perdoará», e «serão retidos» equivale a «serão retidos por Deus», isto é, Deus não perdoará.

24 «Tomé», nome aramaico Tomá significa «gémeo»; em grego, dídymos.

29 «Felizes os que acreditam sem terem visto». Para a generalidade dos fiéis, a fé (dom de Deus) não tem mais apoio humano verificável do que o testemunho grandemente crível da pregação apostólica e da Igreja através dos séculos (cf. Jo 17, 20). Para crer não precisamos de milagres, basta a graça, que Deus nunca nega a quem busca a verdade com humildade e sinceridade de coração. O facto de as coisas da fé não serem evidentes, nem uma mera descoberta da razão, só confere mérito à atitude do crente, que crê porque Deus, que revela, não se engana nem pode enganar-nos. Por isso, Jesus proclama-nos «felizes», ao submetermos o nosso pensamento e a nossa vontade a Deus na entrega que o acto de fé implica. Tanto Tomé, naquela ocasião, como nós, agora, temos garantias de credibilidade suficientes para aceitar a Boa Nova de Jesus: as nossas escusas para não crer são escusas culpáveis, escusas de mau pagador. Também as estrelas não deixam de existir pelo facto de os cegos não as verem.

30-31 Temos aqui a primeira conclusão do Evangelho de S. João que nos deixa ver o objectivo que o Evangelista se propôs. Este Evangelho foi escrito para crermos que «Jesus é o Messias, o Filho de Deus».Note-se que a fé não é uma mera disposição interior de busca ou caminhada sem uma base doutrinal, um conteúdo de ensino (cf. Rom 6, 17), pois exige que se aceitem «verdades» como esta, a saber, que Jesus é o Filho de Deus, e Filho, não num sentido genérico, humano ou messiânico, mas o «Filho Unigénito que está no seio do Pai» (Jo 1, 18), verdadeiro Deus, segundo a confissão de S. Tomé: «Meu Senhor e meu Deus»(v. 28; cf. Jo 1, 1; Rom 9, 5). Há quem veja o Evangelho segundo S. João contido dentro de uma grande inclusão, que põe em evidência a divindade de Cristo: Jo 1, 1 (O Verbo era Deus) e Jo 20, 28 (meu Senhor e meu Deus), tendo como centro e clímax a afirmação de Jesus: Eu e o Pai somos Um (10, 30).

Sugestões para a homilia

Meu Senhor e meu Deus

Fé mais preciosa que o ouro

Assíduos ao ensino dos Apóstolos

1) Meu Senhor e meu Deus

S. João conta-nos como Jesus apareceu aos Apóstolos no domingo de Páscoa e, depois, no de Pascoela, que hoje recordamos. E como tiveram dificuldade em acreditar na ressurreição do Mestre.

«Bem aventurados os que não viram e acreditaram» – diz-lhes. Não vemos a Jesus, mas sabemos que está vivo aqui connosco, porque Ele o disse.

As dúvidas de Tomé, permitidas por Deus, reforçam a nossa fé. Vemos que não eram crédulos nem se deixaram levar por fantasias.

Ao tocar nas chagas, o apóstolo faz um acto de fé muito belo na divindade de Jesus. É uma oração muito bonita que podemos repetir muitas vezes, durante a Santa Missa, saboreando-a no íntimo da nossa alma: Meu Senhor e meu Deus!

Muitos hoje não querem acreditar naquilo que Jesus ensinou mas vão para a bruxa, para os astrólogos e para as seitas que os iludem e exploram.

Temos de procurar conhecer sempre melhor o que Deus nos revelou e continua a ensinar-nos pela Sua Igreja. Não basta dizer que acreditamos.

Temos de tomar a sério o que Jesus nos disse, sem discutir o que não agrada. O pecado de heresia está em negar alguma verdade revelada ou pô-la em dúvida. O papa João Paulo I ensinava numa das suas catequeses: «A minha mãe dizia-me quando já era crescido: Em pequeno estiveste muito doente; tive de levar-te de um médico para outro e velar noites inteiras; acreditas no que te digo? Como poderia eu dizer: – mãe, não creio? Mas sim: creio. Creio o que me dizes, mas creio-te sobretudo a ti. Assim acontece com a fé. Não se trata só de crer no que Deus revelou, mas sim a Ele, que merece a nossa fé, que nos amou tanto e tanto fez por nosso amor» (Aloc.13-IX-78)

2) Fé mais preciosa que o ouro

Que sejamos homens e mulheres de fé grande. Ela é dom maravilhoso que temos de estimar e guardar e comunicar aos outros. S. Pedro dizia-nos que é «muito mais preciosa que o ouro». Mesmo no meio das perseguições e provações «é para vós fonte de alegria inefável e gloriosa» (2ª leit.).

Amamos a Cristo sem O ver como Ele é, acreditamos nEle, vivemos com Ele cá na terra, participando já da Sua Ressurreição gloriosa pela vida nova que nos comunicou no Baptismo. E temos, pela esperança viva, a certeza de alcançar essa herança que não se corrompe, a felicidade eterna no Céu.

Só há uma coisa que pode tirar-nos a alegria. É o pecado, porque nos afasta de Deus, que é a própria felicidade.

Para vencer o pecado Jesus deixou, no dia de Páscoa o Sacramento do perdão. Ele é por excelência o Sacramento da alegria, que temos de agradecer a Jesus. É a Sua prenda de pascal para a Igreja.

É o sacramento da misericórdia de Deus. Santa Faustina Kowalska, religiosa polaca, difundiu no mundo a devoção à Divina Misericórdia e pediu a instituição da sua festa precisamente neste Domingo de Pascoela. Foi o que fez o papa João Paulo II, seu conterrâneo. O Senhor quis chamá-lo para Si na vigília deste dia depois da celebração, no seu quarto, da Santa Missa.

A misericórdia de Deus manifesta-se de modo especial no Sacramento do Perdão. Por Jesus e através dos sacerdotes Ele perdoa os pecados dos homens, sem excluir ninguém. Ele é o pai da parábola à espera do filho pródigo que se afastou da casa paterna, que o recebe de braços abertos e o cobre de beijos.

Com o Seu amor misericordioso anima-nos a regressar através do arrependimento e por uma acusação humilde dos nossos pecados.

Jesus aparece aos Apóstolos com o Seu corpo glorificado, mas conserva as chagas. Elas são o sinal do amor infinito que tem aos pecadores de todos os tempos.

Explicavam a um miudito a história de Judas, o seu remorso e como foi enforcar-se numa figueira.

– Tu se tivesses a desgraça de atraiçoar a Jesus farias como Judas?

– Faria sim!

– Irias dependurar-te como ele?

– Sim…Só que em vez de dependurar-me numa árvore, iria dependurar-me no pescoço de Jesus, pedindo-Lhe que me perdoasse.

3) Assíduos ao ensino dos Apóstolos

Os primeiros cristãos são modelo sempre actual para os de hoje.

A primeira leitura resume a sua vida de discípulos de Cristo, que viviam a sério a sua fé. «Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fracção do pão e às orações».

Estavam atentos aos ensinamentos dos Apóstolos, arranjavam tempo para escutar a sua pregação. E eram perseverantes, assíduos. Empregavam os meios para conhecerem melhor a sua fé. Não iam atrás de qualquer vendedor da banha da cobra, mas daqueles que o Senhor pôs à frente da Sua Igreja.

No Credo professamos a nossa fé e dizemos: Creio na remissão dos pecados. Essa remissão dá-se no Baptismo e no Sacramento da Penitência. Hoje temos de estar mais atentos àquilo que o Sucessor de Pedro nos ensina sobre a confissão. João Paulo II tantas vezes lembrou a necessidade de acudir a este sacramento da misericórdia.

Na festa da Divina misericórdia de 2002 (7 de Abril) publicou um Motu próprio chamando a atenção para alguns pontos importantes:

«Na incessante praxe da Igreja ao longo da história, o ‘ministério da reconciliação’ (2 Cor 5,18), actuada mediante os sacramentos do Baptismo e da Penitência, revelou-se sempre um empenho pastoral vivamente prezado, realizado segundo o mandato de Jesus como parte essencial do ministério sacerdotal. A celebração do sacramento da Penitência conheceu, ao longo dos séculos, uma evolução com diversas formas expressivas, mas sempre conservando a mesma estrutura fundamental que compreende necessariamente, além da participação do ministro – só um Bispo ou um presbítero, que julga e absolve, cura e sara em nome de Cristo –, os actos do penitente: a contrição, a confissão e a satisfação.

Na Carta Apostólica Novo millennio ineunte, escrevi: «Solicito ainda uma renovada coragem pastoral para, na pedagogia quotidiana das comunidades cristãs, se propor de forma persuasiva e eficaz a prática do Sacramento da Reconciliação. Em 1984, como recordareis, intervim sobre este tema através da Exortação pós-sinodal Reconciliatio et paenitentia, na qual foram recolhidos os frutos da reflexão da Assembleia Geraldo Sínodo dos Bispos dedicada a esta problemática. Lá convidava a que se fizesse todo o esforço para superar a crise do ‘sentido do pecado’. […] Quando o referido Sínodo se debruçou sobre o tema, estava à vista de todos a crise deste Sacramento, sobretudo nalgumas regiões do mundo. E os motivos que a originaram, não desapareceram neste breve espaço de tempo. Mas o Ano Jubilar, que foi caracterizado particularmente pelo recurso à Penitência sacramental, ofereceu-nos uma estimulante mensagem que não deve ser perdida: se tantos fiéis – jovens muitos deles – se aproximaram frutuosamente deste Sacramento, provavelmente é necessário que os Pastores se armem de maior confiança, criatividade e perseverança para o apresentarem e o fazerem valorizar». (nº 37)

Com estas palavras, quis e quero encorajar e, ao mesmo tempo, dirigir um forte convite aos meus irmãos Bispos – e, através deles, a todos os presbíteros – para um solícito relançamento do sacramento da Reconciliação, inclusive como exigência de autêntica caridade e de verdadeira justiça pastoral, (CDC can.213 e 843) lembrando-lhes que cada fiel, com as devidas disposições interiores, tem o direito de receber pessoalmente o dom sacramental…

Nas actuais circunstâncias pastorais, para atender aos pedidos apreensivos de numerosos Irmãos no Episcopado, considero conveniente recordar algumas leis canónicas em vigor sobre a celebração deste sacramento, especificando certos aspectos para, em espírito de comunhão com a responsabilidade que é própria de todo o Episcopado, (LG 23, 27) favorecer uma melhor administração daquele. Trata-se de tornar efectiva e de tutelar uma celebração cada vez mais fiel, e portanto sempre mais proveitosa, do dom confiado à Igreja pelo Senhor Jesus depois da ressurreição (cf. Jo 20, 19-23). Isto revela-se especialmente necessário quando se observa em certas regiões a tendência ao abandono da confissão pessoal, juntamente a um recurso abusivo à «absolvição geral» ou «colectiva», de modo que esta deixa de ser vista como meio extraordinário em situações totalmente excepcionais. Partindo de um alargamento arbitrário do requisito da grave necessidade (CDC, can.961), perde-se de vista praticamente a fidelidade à configuração divina do sacramento, e concretamente a necessidade da confissão individual, com graves danos para a vida espiritual dos fiéis e para a santidade da Igreja».

E o papa lembra concretamente:

«a) ‘A confissão individual e íntegra e a absolvição constituem o único modo ordinário pelo qual o fiel, consciente de pecado grave, se reconcilia com Deus e com a Igreja; somente a impossibilidade física ou moral o escusa desta forma de confissão, podendo neste caso obter-se a reconciliação também por outros meios’. (Ib.can.960)

b) Por isso, ‘todo aquele que, em razão do ofício, tem cura de almas, está obrigado a providenciar para que sejam ouvidas as confissões dos fiéis que lhe estão confiados e que de modo razoável peçam para se confessar, a fim de que aos mesmos se ofereça a oportunidade de se confessarem individualmente em dias e horas que lhes sejam convenientes’. (Ib.c.986)

Além disso, todos os sacerdotes com faculdade de administrar o sacramento da Penitência, mostrem-se sempre e plenamente dispostos a administrá-lo todas as vezes que os fiéis o peçam razoavelmente. (Cf.PO, 13) A falta de disponibilidade para acolher as ovelhas feridas, mais, para ir ao seu encontro e reconduzi-las ao aprisco, seria um doloroso sinal de carência de sentido pastoral em quem, pela Ordenação sacerdotal, deve reproduzir em si mesmo a imagem do Bom Pastor.

2. Os Ordinários do lugar, bem como os párocos e os reitores de igrejas e santuários, devem verificar periodicamente se existem efectivamente as maiores facilidades possíveis para as confissões dos fiéis. De modo particular, recomenda-se a presença visível dos confessores nos lugares de culto durante os horários previstos, a acomodação destes horários à situação real dos penitentes, e uma especial disponibilidade para confessar antes das Missas e mesmo para ir de encontro à necessidade dos fiéis durante a celebração da Eucaristia, se houver outros sacerdotes disponíveis. (C.Culto Divino)

3. Visto que ‘o fiel tem obrigação de confessar, na sua espécie e número, todos os pecados graves de que se lembrar após diligente exame de consciência, cometidos depois do baptismo e ainda não directamente perdoados pelo poder das chaves da Igreja nem acusados em confissão individual’, (CDC, can.988) seja reprovado qualquer costume que limite a confissão a uma acusação genérica ou somente de um ou mais pecados considerados significativos. Por outro lado, levando-se em conta a chamada de todos os fiéis à santidade, recomenda-se-lhes que confessem também os pecados veniais» (Ib.). (Motu próprio Misericordia Dei).

Bento XVI tem lembrado esta doutrina uma e outra vez. Na Exortação Sacramento da Caridade recorda «o dever pastoral do Bispo…de favorecer entre os fiéis a confissão frequente» (21)

Peçamos à Virgem que saibamos imitar os primeiros cristãos nesta escuta atenta dos ensinamentos do Magistério da Igreja.

Fala o Santo Padre

«A Paz é o dom que Cristo deixou aos seus amigos»

 

Estimados irmãos e irmãs

A todos vós renovo os bons votos de feliz Páscoa, no Domingo que encerra a Oitava e é tradicionalmente chamado Domingo «in Albis». […]

Este Domingo conclui a semana ou, mais propriamente, a «Oitava» de Páscoa, que a liturgia considera como um único dia: «O dia que fez o Senhor» (Sl 117, 24). Não é um tempo cronológico, mas espiritual, que Deus inaugurou no tecido dos dias, quando ressuscitou Cristo de entre os mortos. Infundindo a vida nova e eterna no corpo sepultado de Jesus de Nazaré, o Espírito Criador completou a obra da criação, dando origem às «primícias»: primícias de uma renovada humanidade que, ao mesmo tempo, é primícias de um novo mundo e de uma nova época.

Esta renovação do mundo pode resumir-se com uma palavra: a mesma que Jesus ressuscitado pronunciou como saudação, e sobretudo como anúncio da sua vitória aos discípulos: «A paz esteja convosco!» (Jo 20, 19.21.26). A Paz é o dom que Cristo deixou aos seus amigos (cf. Jo 14, 27), como bênção destinada a todos os homens e a todos os povos. Não a paz segundo a mentalidade do «mundo», como equilíbrio de forças, mas uma nova realidade, fruto do Amor de Deus, da sua Misericórdia. É a paz que Jesus Cristo adquiriu com o preço do seu Sangue e que comunica a quantos nele confiam. «Jesus, em Vós confio!»: nestas palavras resume-se a fé do cristão, que é fé na omnipotência do Amor misericordioso de Deus.

Papa Bento XVI, Regina Caeli, 15 de Abril de 2007

LITURGIA EUCARÍSTICA

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS: Aceitai benignamente, Senhor, as ofertas do vosso povo [e dos vossos novos filhos], de modo que, renovados pela profissão da fé e pelo Baptismo, mereçamos alcançar a bem-aventurança eterna. Por Nosso Senhor.

Prefácio pascal I [mas com maior solenidade neste dia]: p. 469 [602–714]

No Cânone Romano dizem-se o Communicantes (Em comunhão com toda a Igreja) e o Hanc igitur (Aceitai benignamente, Senhor) próprios. Nas Orações Eucarísticas II e III fazem-se também as comemorações próprias.

SANTO

Monição da Comunhão

Pela comunhão não tocamos apenas no Corpo de Jesus, como Tomé. Temo-Lo em nós como alimento divino. Digamos uma e muitas vezes, cheios de fé e amor: Meu Senhor e meu Deus.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO: Disse Jesus a Tomé: Com a tua mão reconhece o lugar dos cravos. Não sejas incrédulo, mas fiel. Aleluia.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO: Concedei, Deus todo–poderoso, que a força do sacramento pascal que recebemos permaneça sempre em nossas almas. Por Nosso Senhor.

RITOS FINAIS

Monição final

A nossa fé vivida a sério é o segredo da alegria. E leva-nos a estar atentos aos ensinamentos do Papa, sucessor de Pedro e a viver a oração e a comunhão fraterna.

Celebração e Homilia:           CELESTINO FERREIRA CORREIA

Nota Exegética:                    GERALDO MORUJÃO

Fonte: Celebração  Litúrgica

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