Roteiro Homilético – I Domingo da Quaresma – Ano A

RITOS INICIAIS

Salmo 90, 15-16

ANTÍFONA DE ENTRADA: Quando me invocar, hei-de atendê-lo; hei-de libertá-lo e dar-lhe glória. Favorecê-lo-ei com longa vida e lhe mostrarei a minha salvação.

 

Não se diz o Glória.

Introdução ao espírito da Celebração

O tempo da Quaresma pretende, sobretudo através da recordação do Baptismo e pela Penitência, preparar os fiéis para a celebração do mistério pascal. São quarenta dias de oração mais intensa e de penitência. Ouviremos com mais frequência a Palavra de Deus que implicará em cada um de nós uma mudança para melhor.

Que cheguemos todos à alegria da Páscoa com «maior compreensão do mistério de Cristo e a nossa vida seja um digno testemunho» (Colecta).

ORAÇÃO COLECTA: Concedei-nos, Deus omnipotente, que, pela observância quaresmal, alcancemos maior compreensão do mistério de Cristo e a nossa vida seja um digno testemunho. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

LITURGIA DA PALAVRA

Primeira Leitura

Monição: O livro do Génesis conta-nos a primeira tentação da história da humanidade e a queda dos nossos primeiros pais. Por eles entrou o pecado no mundo, pecado que irá manchar todos os seus descendentes.

Génesis 2, 7-9; 3, 1-7

7O Senhor Deus formou o homem do pó da terra, insuflou em suas narinas um sopro de vida, e o homem tornou-se um ser vivo. 8Depois, o Senhor Deus plantou um jardim no Éden, a oriente, e nele colocou o homem que tinha formado. 9Fez nascer na terra toda a espécie de árvores, de frutos agradáveis à vista e bons para comer, entre as quais a árvore da vida, no meio do jardim, e a árvore da ciência do bem e do mal. 1Ora, a serpente era o mais astucioso de todos os animais dos campos que o Senhor Deus tinha feito. Ela disse à mulher: «É verdade que Deus vos disse: ‘Não podeis comer o fruto de nenhuma árvore do jardim’?» 2A mulher respondeu: «Podemos comer o fruto das árvores do jardim; 3mas, quanto ao fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus avisou-nos: ‘Não podeis comer dele nem tocar-lhe, senão morrereis’». 4A serpente replicou à mulher: «De maneira nenhuma! Não morrereis. 5Mas Deus sabe que, no dia em que o comerdes, abrir-se-ão os vossos olhos e sereis como deuses, ficando a conhecer o bem e o mal». 6A mulher viu então que o fruto da árvore era bom para comer e agradável à vista, e precioso para esclarecer a inteligência. Colheu o fruto e comeu-o; depois deu-o ao marido, que estava junto dela, e ele também comeu. 7Abriram-se então os seus olhos e compreenderam que estavam despidos. Por isso, entrelaçaram folhas de figueira e cingiram os rins com elas.

O «relato» bíblico das origens, de que hoje se lêem alguns vv., não pode ser lido ingenuamente como um relato histórico daquilo que sucedeu no início do Universo e do ser humano, «porque, não se trata de saber quando e como surgiu materialmente o cosmos, nem quando é que apareceu o homem; mas, sobretudo, de descobrir qual o sentido de tal origem: se foi determinada pelo acaso, por um destino cego ou uma fatalidade anónima, ou, antes, por um Ser transcendente, inteligente e bom, que é Deus. E, se o mundo provém da sabedoria e da bondade de Deus, qual a razão do mal? De onde vem o mal? Quem é responsável pelo mal? E será que existe uma libertação do mesmo?» (Catecismo da Igreja Católica, nº 284).

7 «Pó da terra… sopro de vida»: a narrativa tem como ponto de referência não só o facto de que, pela sua corporeidade, o homem pertence à terra e, ao morrer, se reduz a pó, mas também o facto de que, na língua hebraica, «homem» (adam) se diz com o mesmo vocábulo com que se designa a terra avermelhada (adamáh); mas, ao mesmo tempo, o homem está animado por um princípio («sopro») de vida, que não vem da terra. A representação de Deus como «oleiro», independentemente das notáveis semelhanças com outros relatos extra-bíblicos, parece sugerir que o homem está nas mãos de Deus como o barro nas mãos do oleiro (cf. Is 29, 16; Jer 18, 6; Rom 9, 20-21; Job 34, 14-15).

2, 8-9 Um jardim. Nos LXX lê-se «parádeisos»; daqui a habitual designação de «paraíso (terrestre)». O jardim de «delícias» (éden) permite que o leitor pense, mais que num lugar geográfico, num estado de felicidade original e de comunhão com Deus; a «árvore da vida» simboliza a vida em plenitude e a imortalidade (cf. Gn 3, 22); «a árvore da ciência do bem e do mal» é o símbolo da fonte do recto actuar moral, o projecto do Criador, que o homem não pode manipular nem alterar a seu bel-prazer sem cavar a sua ruína.

3, 1-7 Num relato simbólico, numa linguagem cheia de imagens muito expressivas, seja qual for a origem literária destas figuras, deixa-se ver que os males de que o ser humano padece não procedem de Deus, mas do pecado, que, desde a origem, destruiu a harmonia do homem com Deus, consigo próprio e com a criação, com consequências desastrosas que afectam toda a humanidade (cf. a 2ª leitura de hoje: Rom 5, 12-19). Note-se, porém, que uma interpretação literal fundamentalista desta narrativa corre o perigo de levar ao absurdo de considerar a lei moral como algo caprichoso e extrínseco à natureza humana.

1 «A serpente», um símbolo do demónio, cf. Apoc 12, 9, onde se fala da «serpente antiga», o inimigo de Deus e dos amigos de Deus, que aqui aparece também como «caluniador» (este é o significado do seu nome grego, «diábolos»), ao apresentar a ordem divina como má, uma prepotência da parte de Deus (v. 5). Note-se a profunda observação psicológica posta na encenação do processo da tentação: estão aqui representadas as tentações de sempre; primeiro, uma insinuação inocente – «é verdade que Deus vos proibiu…», a que se segue o efeito de começar a prestar atenção àquele a quem não se pode dar ouvidos; finalmente, uma vez aberto o diálogo, no momento preciso, o tentador entra a matar, mentindo descaradamente (cf. Jo 8, 44) – «de maneira nenhuma! Não morrereis! Mas Deus sabe que…» (v. 5). A Escritura e a Tradição da Igreja vêem no demónio, satanás, ou diabo, um anjo criado bom por Deus, mas que se tornou mau.

5 «Sereis como deuses, ficando a conhecer o bem e o mal»: Isto não significa alcançar a omnisciência divina, nem adquirir o poder de discernir o bem do mal. Este «conhecer o bem e o mal» corresponde a decidir por si o que é bem e o que é mal; trata-se, portanto, de encenar uma tentação de soberba pela qual a criatura não se conforma com a sua condição de criatura, e não aceita o supremo domínio de Deus.

6 «Fruto… para esclarecer a inteligência». Sendo-nos desconhecido em que consistiu o pecado das origens, porque Deus não no-lo revelou, alguns exegetas procuram então averiguar qual é o tipo de pecado que o hagiógrafo aqui descreve, e vêem nesta linguagem um colorido de magia e feitiçaria (um conhecimento oculto), ou até mesmo uma alusão ao culto das serpentes para a fertilidade, de que o hagiógrafo pretenderia afastar os seus contemporâneos tão atreitos a estes desvios religiosos.

7 «Compreenderam que estavam despidos». Note-se a fina ironia latente no contraste com a promessa sedutora: «abrir-se-ão os vossos olhos» (v. 6); os olhos abrem-se, sim, mas para contemplarem a própria nudez. Assim fica simbolizado o desgosto e a frustração que se segue ao gosto do pecado, e também a noção teológica da ruptura da harmonia primordial, nomeadamente entre o homem e a mulher (cf. 2, 25).

Salmo Responsorial    Sl 50 (51), 3-4.5-6a.12-13.14.17 (R. cf. 3a)

Monição: O Salmo 50 é um dos mais belos salmos de David. Após o pecado gravíssimo de adultério e homicídio David chora as suas culpas cheio de arrependimento. Reconheçamos também nós que somos pecadores.

Refrão:         PECÁMOS, SENHOR: TENDE COMPAIXÃO DE NÓS

OU:         TENDE COMPAIXÃO DE NÓS, SENHOR, PORQUE SOMOS PECADORES.

Compadecei-Vos de mim, ó Deus, pela vossa bondade,

pela vossa grande misericórdia, apagai os meus pecados.

Lavai-me de toda a iniquidade

e purificai-me de todas as faltas

Porque eu reconheço os meus pecados

e tenho sempre diante de mim as minhas culpas.

Pequei contra Vós, só contra Vós,

e fiz o mal diante dos vossos olhos.

Criai em mim, ó Deus, um coração puro

e fazei nascer dentro de mim um espírito firme.

Não queirais repelir-me da vossa presença

e não retireis de mim o vosso espírito de santidade.

Dai-me de novo a alegria da vossa salvação

e sustentai-me com espírito generoso.

Abri, Senhor, os meus lábios

e a minha boca cantará o vosso louvor.

Segunda Leitura *

Monição: São Paulo fala-nos do pecado original. Em Adão todos pecámos. E pelo pecado entrou a morte no mundo. Em Cristo, novo Adão, fomos restituídos à vida. Com Cristo surgiu uma nova humanidade, como uma nova criação.

Nota de rodapé

* O texto entre parêntesis pertence à forma longa e pode ser omitido.

Forma longa: Romanos 5, 12-19;         forma breveRomanos 5, 12.17-19

Irmãos: 12Assim como por um só homem entrou o pecado no mundo e pelo pecado a morte, assim também a morte atingiu todos os homens, porque todos pecaram. [13De facto, até à Lei, existia o pecado no mundo. Mas o pecado não é levado em conta, se não houver lei. 14Entretanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, mesmo para aqueles que não tinham pecado por uma transgressão à semelhança de Adão, que é figura d’Aquele que havia de vir. 15Mas o dom gratuito não é como a falta. Se pelo pecado de um só pereceram muitos, com muito mais razão a graça de Deus, dom contido na graça de um só homem, Jesus Cristo, se concedeu com abundância a muitos homens. 16E esse dom não é como o pecado de um só: o julgamento que resultou desse único pecado levou à condenação, ao passo que o dom gratuito, que veio depois de muitas faltas, leva à justificação.] 17Se a morte reinou pelo pecado de um só homem, com muito mais razão, aqueles que recebem com abundância a graça e o dom da justiça, reinarão na vida por meio de um só, Jesus Cristo. 18Porque, assim como pelo pecado de um só, veio para todos os homens a condenação, assim também, pela obra de justiça de um só, virá para todos a justificação que dá a vida. 19De facto, como pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, pela obediência de um só, muitos se tornarão justos.

 

Estamos diante dum texto da máxima importância para a Teologia e para a vida cristã. As controvérsias doutrinais contribuíram para que o ponto central das afirmações de Paulo se tenha feito deslocar da justificação pela graça para o pecado, e da obra salvadora de Cristo para a obra demolidora de Adão. É certo que não faria sentido falar da libertação por Cristo do pecado, da condenação e da morte, sem que estes males tivessem entrado de forma poderosa no mundo. Mas Adão não passa duma figura, por antítese, de Cristo, em virtude duma argumentação a fortiori de tipo rabínico (o chamado qal wa-hómer). Mas, ainda que, como pensam muitos exegetas, Paulo não trate directa e expressamente do tema do pecado original (só indirectamente), este texto não deixa de oferecer uma base legítima e sólida para a doutrina proposta pelo Magistério da Igreja, assim resumida no Catecismo da Igreja Católica, nº 403: «Depois de S. Paulo, a Igreja sempre ensinou que a imensa miséria que oprime os homens, e a sua inclinação para o mal e para a morte não se compreendem sem a ligação com o pecado de Adão e o facto de ele nos transmitir um pecado de que todos nascemos infectados e que é a ‘morte da alma’. A partir desta certeza de fé, a Igreja confessa o Baptismo para a remissão dos pecados, mesmo às crianças que não cometeram qualquer pecado pessoal».

Aclamação ao Evangelho

Mt 4, 4b

Monição: Aclamemos o Senhor Jesus, vitorioso sobre as tentações.

Nem só de pão vive o homem,  mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.

Evangelho

São Mateus 4, 1-11

1Naquele tempo, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, a fim de ser tentado pelo Demónio. 2Jejuou quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome. 3O tentador aproximou-se e disse-lhe: «Se és Filho de Deus, diz a estas pedras que se transformem em pães». 4Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: ‘Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus’». 5Então o Demónio conduziu-O à cidade santa, levou-Oao pináculo do templo e disse-Lhe: 6«Se és Filho de Deus, lança-Te daqui abaixo, pois está escrito: ‘Deus mandará aos seus Anjos que te recebam nas suas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’». 7Respondeu-lhe Jesus: «Também está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’». 8De novo o Demónio O levou consigo a um monte muito alto, mostrou-Lhe todos os reinos do mundo e a sua glória, 9e disse-Lhe: «Tudo isto Te darei, se, prostrado, me adorares». 10Respondeu-lhe Jesus: «Vai-te, Satanás, porque está escrito: ‘Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele prestarás culto’». 11Então o Demónio deixou-O e logo os Anjos se aproximaram e serviram Jesus.

 

 

Antes de mais, convém advertir que as tentações de Jesus não aparecem como uma tentação ocasional qualquer, nem sequer um ataque mais violento, mas como um duelo mortal e decisivo entre dois inimigos irredutíveis. Com efeito, não se trata de umas tentações dirigidas a fazer com que Jesus caia em meras faltas pessoais (gula, orgulho, avareza), mas têm o carácter de um ataque frontal para desvirtuar toda a obra de Jesus, desviando-a da vontade do Pai. Com efeito, «as tentações acompanham todo o caminho de Jesus, e a narração das tentações apresenta-se… uma antecipação, na qual se condensa a luta de todo o caminho. […] Os 40 dias de jejum abrangem o drama da história, que Jesus assume em Si mesmo e suporta até ao fundo». (BENTO XVI, Jesus de Nazaré, pp. 57.60).

Uma consideração superficial desta passagem evangélica poderia levar-nos a encarar estas tentações até como ridículas, absurdas ou míticas. Vale pena ver o belo e profundo comentário do Papa na referida obra. Mas vejamos brevemente o enorme alcance de cada uma das três tentações:

3-4 Na primeira tentação, trata-se de fazer enveredar a Jesus pelo caminho das esperanças materialistas do povo que esperava um Messias que lhe trouxesse bem-estar, riqueza, prosperidade, fertilidade, pão e prazer.

5-7 Na segunda tentação, aquele «lança-te daqui abaixo», constitui um apelo à esperança judaica num messias a descer espectacularmente do céu, à vista do povo. Mas Jesus renuncia decididamente à fácil tentação de ser um messias milagreiro e espectacular, dizendo um decidido não a um actuar à base do triunfo pessoal, do êxito humano.

8-10 Na terceira tentação, aparece diante de Jesus a sedução de se mover na linha da esperança popular num messianismo político, vitorioso, dominador dos Romanos e do mundo inteiro, a tentação de reduzir a instauração do Reino de Deus à instauração dum reino temporal.

Ninguém foi testemunha destas tentações, mas Jesus, ao falar aos Apóstolos do Reino de Deus, não deixa de os prevenir contra umas tentações que haveriam de vir a sentir também os seus discípulos ao longo da história. Também assim Jesus «se tornava em tudo semelhante aos seus irmãos, para se tornar um Sumo Sacerdote misericordioso» (Hebr 2, 17). E Jesus aparece a ensinar-nos a resistir, sem dar ouvidos, como Eva, aos enganos do mafarrico, sem entrar em diálogo com ele, mas apoiando-nos sempre na certeza e na luz da Palavra de Deus e na sua graça, que Jesus ensinou a pedir no «Pai-Nosso»: «não nos deixeis cair em tentação» e «livrai-nos do Maligno» (Mt 6, 13).

Sugestões para a homilia

1. As tentações de Jesus.

2. O que é a tentação.

3. Como vencer a tentação.

1. As tentações de Jesus.

«Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, a fim de ser tentado pelo Demónio» (Ev.).

O Evangelho fala-nos de um tempo de solidão e recolhimento que Jesus passou no deserto, imediatamente após ter sido baptizado por João Baptista no rio Jordão. Passado esse tempo – quarenta dias e quarenta noites – o demónio tentou-O por três vezes, procurando pôr em causa a sua atitude filial para com Deus; Jesus repele esses ataques que recapitulam as tentações de Adão no paraíso e do povo de Israel no deserto.

Jesus é o novo Adão que se mantém fiel naquilo em que o primeiro sucumbiu. A vitória de Jesus sobre o tentador antecipa a vitória da Paixão, como suprema obediência do seu amor filial ao Pai. A vitória de Jesus sobre as tentações manifesta a maneira própria de o Filho de Deus ser Messias e Salvador, ao contrário do que Lhe propõe Satanás.

Jesus, vencendo as tentações, é para nós exemplo encorajador: «Nós não temos um Sumo-Sacerdote incapaz de se compadecer das nossas fraquezas; temos um que possui a experiência de todas as provações, tal como nós, com excepção do pecado» (Hebr 4, 15).

Neste tempo da Quaresma, a Igreja une-se ao mistério de Cristo no deserto e recorda aos seus filhos que «através de toda a história humana se trava uma dura batalha contra o poder das trevas que, iniciada nas origens do mundo, durará…até ao dia final. Envolvido nesta peleja, o homem tem que lutar continuamente para manter-se no bem» (G. Spes, n. 37).

2. O que é a tentação.

A tentação é uma prova, é um convite e solicitação para pecar: «Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e alicia; depois a concupiscência, quando concebe, dá à luz o pecado; e o pecado, quando tiver sido consumado, gera a morte» (Tgo 1, 14-15). A tentação, se não for vencida, conduz ao pecado e à morte. Aparentemente, o seu objecto é «bom, agradável à vista, preciosos» (Gen. 3,6), mas, na realidade, o seu fruto é a morte.

Peçamos ao Senhor que não nos deixe cair na tentação, «mas que nos livre do mal» (Pai Nosso). A vitória sobre a tentação só é possível pela oração. Foi pela oração e pela força da Palavra de Deus que Jesus venceu o tentador. «Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo» (Rom.10, 13).

3. Como vencer a tentação.

O Catecismo da Igreja Católica, no n. 397, lembra-nos que o homem, tentado pelo demónio, deixou morrer no seu coração a confiança no seu Criador e na sua Bondade, preferindo-se a si próprio em vez de Deus; por isso, desprezou a Deus e confiou mais na palavra enganadora do demónio. «Dali em diante, todo o pecado será sempre uma desobediência a Deus e uma falta de confiança na sua bondade». Por isso, juntamente com a oração, é necessária uma contínua vigilância e uma confiança absoluta em Deus e na sua Palavra, para não cairmos na tentação. «Vigiai e orai para que não entreis em tentação» (Mt. 14, 38). «Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados acima das vossas forças» (1 Cor. 10, 13).

Deixemos que a Palavra de Deus encha o nosso coração e a nossa mente e veremos a força e o poder que ela nos dá diante das maiores tentações.

Há também que fugir das ocasiões de pecado e das más companhias e pedir ajuda, sendo sincero com quem dirige a nossa alma: «tentação descoberta, tentação vencida».

A Confissão frequente dar-nos á graça e fortaleza para lutar contra as más inclinações e resisitir à investidas do tentador. Na Eucaristia «torna-se presente de novo a vitória e o triunfo de Cristo sobre o demónio, sobre o mal e sobre a morte»; por isso, comunhão frequente.

Não esquecer o que nos diz o Salmo 90: «Ele mandou aos seus Anjos que te guardem em todos os teus caminhos».

Outra arma para vencer as tentações que jamais devemos descurar: a devoção filial a Nossa Senhora: «Antes, só, não podias…Agora, recorreste à Senhora, e, com Ela, que fácil» (Cam. 513).

Fala o Santo Padre

«O combate interior vence-se com as armas da penitência.»

2. Na quarta-feira passada, com o rito das Cinzas, demos início à Quaresma, tempo litúrgico que todos os anos nos recorda uma verdade fundamental: não se entra na vida eterna sem carregar a nossa cruz, em união com Cristo. Não se alcança a felicidade e a paz, sem enfrentar o combate interior com coragem. Trata-se de um combate que se vence com as armas da penitência: a oração, o jejum e as obras de misericórdia. Tudo isto deve realizar-se no segredo, sem hipocrisia, em espírito de amor sincero a Deus e aos irmãos.

3. […] Maria Santíssima, que no meio das ocupações quotidianas conservava a mente e o coração sempre dirigidos para o mistério do seu Filho, nos leve a realizar um frutuoso itinerário quaresmal.

João Paulo II, Angelus, 13 de Fevereiro de 2005

LITURGIA EUCARÍSTICA

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS: Fazei que a nossa vida, Senhor, corresponda à oferta das nossas mãos, com a qual damos início à celebração do tempo santo da Quaresma. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Prefácio

 

As tentações do Senhor

V. O Senhor esteja convosco.

R. Ele está no meio de nós.

V. Corações ao alto.

R. O nosso coração está em Deus.

V. Dêmos graças ao Senhor nosso Deus.

R. É nosso dever, é nossa salvação.

Senhor, Pai santo, Deus eterno e omnipotente, é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação dar-Vos graças, sempre e em toda a parte, por Cristo nosso Senhor.

Jejuando durante quarenta dias, Ele santificou a observância quaresmal e, triunfando das insídias da antiga serpente, ensinou-nos a vencer as tentações do pecado, para que, celebrando dignamente o mistério pascal, passemos um dia à Páscoa eterna.

Por isso, com os Anjos e os Santos, proclamamos a vossa glória, cantando numa só voz:

SANCTUS.

Monição da Comunhão

A graça santificante diviniza o cristão e converte-o em filho de Deus e templo da Santíssima Trindade. Receber Jesus Cristo na Comunhão faz-nos crescer nesta vida divina e afasta-nos do pecado, tornando-nos fortes contra as tentações.

Recebamos o Senhor com a mesma pureza, piedade e devoção com que O receberam a sua Santíssima Mãe, S. José, seu esposo e S. João Baptista. Que Jesus aumente em nós a alegria e a paz.

Mt 4, 4

ANTÍFONA DA COMUNHÃO: Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que vem da boca de Deus.

ou

 

Salmo 90, 4

O Senhor te cobrirá com as suas penas, debaixo das suas asas encontrarás abrigo.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO: Saciados com o pão do Céu, que alimenta a fé, confirma a esperança e fortalece a caridade, nós Vos pedimos, Senhor: ensinai-nos a ter fome de Cristo, o verdadeiro pão da vida, e a alimentar-nos de toda a palavra que da vossa boca nos vem. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

RITOS FINAIS

Monição final

Alimentados com o pão celestial e com a Palavra de Deus, sejamos em toda a parte imagens vivas de Cristo. A Eucaristia, como mistério de amor, enche-nos de alegria pela sua presença no meio de nós. Sejamos testemunhas desta alegria junto de todos os nossos familiares e amigos. Perseveremos na prática do bem e evitemos todo o pecado. A ajuda de Deus não nos faltará.

Celebração e Homilia:             NUNO WESTWOOD

Nota Exegética:                      GERALDO MORUJÃO

Homilia Ferial:                          NUNO ROMÃO

Fonte: Celebração  Litúrgica

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