João Batista é Elias?
Sábado da segunda semana do Advento – C
Leituras: Eclo 48,1-11; Sl 79; Mt 17,10-13
O profeta Malaquias já havia falado sobre o retorno de Elias: “Eis que vos enviarei Elias, o profeta, antes que chegue o dia do Senhor, grande e terrível” (Ml 3,23). O elogio que o Eclesiástico faz de Elias é simplesmente grandioso: “Elias surgiu como fogo, sua palavra queimava como tocha” (Eclo 48,1) e, ao terminar de cantar a glória de Elias dá a entender que Elias não morreu e que aqueles que o caminho do profeta viverão também: “Felizes os que te virem e os que adormecerão no amor, porque nós também possuiremos a vida” (Eclo 48,11).
Elias foi arrebatado em um turbilhão de fogo (2 Re 2,1-18). Esse arrebatamento fez crer que Elias não morreu e que retornaria. Contudo, o texto diz que Elias foi arrebatado, não diz que Elias não morreu. Contudo, mesmo quando São Paulo falou do nosso arrebatamento em uma linguagem altamente misteriosa, deixou igualmente claro que “É necessário que este ser corruptível revista a incorruptibilidade” (1 Cor 15,53). Um pouco antes estabelecera que “A carne e o sangue não podem herdar o Reino de Deus” (1 Cor 15,50).
Temos que concluir, portanto, que os textos bíblicos que falam do arrebatamento de Elias não querem dizer que ele não morreu, a tal ponto que ele deveria retornar em carne mortal. Contudo, assim como a linguagem serve para expressar a grandiosidade de Elias que é arrebatado em um carro de fogo, serve igualmente para expressar que haverá um profeta semelhante a Elias, isto é, João Batista. Evidentemente, nada disso tem a ver com reencarnação, pois a Escritura está utilizando uma linguagem análoga àquela que se referia a Moisés: assim como Deus prometeu suscitar um profeta semelhante a Moisés (Dt 18,15-18), que é Jesus, superior a Moisés (Hb 3,1-6), assim também enviaria outro profeta semelhante a Elias, isto é, João Batista (Mt 17,11-13).
Mais ainda, Moisés e Elias são os dois grandes profetas da história sagrada que preparam, com suas vidas e palavras, a vinda de Jesus Cristo. Eles, Moisés e Elias aparecem na grande visão da transfiguração (Mt 17,1-8) são as duas testemunhas dos finais dos tempos (Ap 11,1-13), os quais tem a ver com a vida que é Jesus Cristo e que ele promete: eles recebem de novo o sopro da vida (Ap 11,11). Encontramo-nos, portanto, na misteriosa linguagem das profecias, as quais devem ser entendidas em complementaridade com vários outros acontecimentos. Que essa compreensão sirva também para que não vejamos nossa vida como se fossem fatos isolados, mas na sua real complementaridade. Então sim, tudo faz sentido.
Padre Françoá Costa
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