Há algo diabólico no aborto
Santos Inocentes, festa – C – 1 Jo 1,5-2,2; Sl 123; Mt 2,13-18
Herodes era um perigo para a vida de Jesus recém-nascido. Fortalecidos pela revelação interior e pela fé, os magos começam a ser, naquele momento, os guardiões de Cristo pela defesa, não pelo ataque. O perigo é enorme, a tal ponto que todo mundo achará que o melhor é fugir. Não somente os magos fogem de Herodes, mas também Maria e José devem fugir também (Mt 2,13). Mesmo tendo consigo a bênção do Menino bendito, os magos fogem, não enfrentam o perigo de frente. Mesmo tendo com eles o próprio menino bendito, José e Maria devem fugir, principalmente porque devem custodiar o dom de Deus, que é Jesus Cristo.
Herodes, por sua parte, parece ter, em algum momento, um desejo da verdade, porém insatisfeito. Uma tal insatisfação o levou a fúria e a fúria o levou até a matança de crianças. Contudo, apesar de tudo que aconteceu, tudo isso nos mostra que o coração humano deseja verdade, ainda que nem sempre seja verdadeiro em suas palavras e ações. Muitas vezes as pessoas pedem a verdade dos outros, mas não a verdade; gostam de enganar, porém nunca de serem enganados. Se o desejo insatisfeito de verdade e de poder, leva um homem à fúria e ao infanticídio, a mais loucuras o levaria a mentira declarada. O diabo “é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8,44), Deus é verdadeiro e amigo dos que amam a verdade, ou seja, dos que o amam.
A fúria de Herodes era tão grande que parece que só começaria a aplacar-se matando criancinhas. O que dizer sobre a falta de autocontrole unida ao poder? Que o resultado é simplesmente sanguinário, pois Herodes mandou matar “todos os meninos de dois anos para baixo” (Mt 2,16). A fúria pode cegar a razão, como tudo o que é do apetite irascível e do apetite concupiscível. A virtude nos ajuda precisamente a colocar ordem nos nossos apetites, educando-os segundo a ordem da razão. Mas, pelo que parece, Herodes não estava muito preocupado com a virtude! E há muitas pessoas por aí que parecem não estarem nada ocupadas em serem virtuosos, muito pelo contrário, assemelham-se a ímpios desejosos de aumentarem seus vícios. Uma grande pena, contudo, é o castigo do caminho da morte: o inferno.
Herodes mandou matar “todos os meninos de dois anos para baixo” (Mt 2,16). A perseguição às crianças de dois anos para baixo não era perseguição a elas, mas a Jesus Cristo. O objetivo de Herodes era o Cristo de Deus. De maneira semelhante, quando o Faraó mandou matar as crianças no Egito, o objetivo era acabar com um povo que crescia e que seria, na visão dele, um perigo para os egípcios (Ex 1,8-17). Se no caso de Herodes visa-se um menino, Jesus Cristo; no caso do Faraó, visa-se o povo de Israel, que é figura da Igreja. Herodes e o Faraó são figuras de Satanás, o qual queria a morte de Cristo e a inexistência da Igreja. Visto desde outro ponto de vista, Jesus e Maria são os focos dos ataques de Satanás. Os demônios quereriam destruir Jesus e Maria, mas, como não podem, vêem, com fúria, fazer guerra contra os descendentes da Mulher, “os que observam os mandamentos de Deus e mantêm o testemunho de Jesus” (Ap 12,17), ou seja, contra a Igreja. Não há de que duvidar: a atual luta contra a vida e contra a pessoa é movida por Satanás e seus anjos. Há algo sobrenaturalmente diabólico por trás do aborto e de outros problemas contra a natureza que estamos a enfrentar.
Padre Françoá Costa
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